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Contornos geográficos e demográficos de Angola

No documento TCHIKUMBI: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA (páginas 51-56)

Angola é um país situado no Sudeste da então região ocidental da África Austral, no continente africano, fazendo parte dos países membros da SADC22, na África. Subdivida em dezoitos província do ponto de vista administrativo (Figura 1.), nomeadamente: Cabinda, Zaire, Uíge, Bengo, Luanda (capital do país), Kwanza Norte e Kwanza-Sul, Malanje, Lunda-Norte e Lunda-Sul, Benguela, Huambo, Moxico, Kuando-Kubango, Huíla, Namibe, Bié e Cunene (MASSANGA, 2014, P.77). Tem como capital a cidade de Luanda.

Fonte:https://www.google.com/search?q=mapa+angola&oq=mapa+angola&aqs

O território estende-se em um litoral de cerca de 1600 quilômetros de fronteiras terrestres, limitando-se a norte com a República do Congo e a República Democrática do

22 Site pra consulta: https://www.sadc.int/ “Trata-se da Comunidade de Desenvolvimento dos Países do Sul da África. dos quais fazem parte Angola, Moçambique, Namíbia, Zimbabwe, Madagáscar, Zâmbia, Lesoto e a Suazilândia (Souther Africa Development Community). Uma outra organização também africana similar ao SADC, na semelhança do Mercosul ou Nafta se chama COMESA” (CACUTO, 2001, p, 22).

Figura 1 - Mapa Geopolítico de Angola

50 Congo, a Leste com a República da Zâmbia, ao sul com a República da Namíbia, e ao oeste, Angola tem uma costa de 1.650 Km banhada pelo Oceano Atlântico (CACUTO, 2001, p. 23).

Uma breve referência sobre os símbolos do país, a saber: a Bandeira, a Insígnia Nacional, o Hino Nacional “Angola Avante” e a Moeda Nacional “o Kwanza”. Estes constituem os mais fáceis de identificar e, por isso, logo que entramos em contato com estes símbolos imediatamente percebemos se tratar de Angola (MASSANGA, 2014, p. 73);

Figura 2 - Bandeira Nacional de Angola

Figura 3 - Insígnia Nacional de Angola

Diferente do Brasil, Angola é um Estado unitário organizado territorialmente, para fins administrativos, em províncias e estas em municípios, podendo ainda se estruturar em comunas e em entes territoriais equivalentes, conforme o artigo 5º da Constituição de 2010. Apesar deste diploma legal prever a realização de eleições autárquicas, tem sido o Presidente da República (PR) a nomear e exonerar os governadores e vice-governadores provinciais, que lhe

51 prestam contas diretamente. Há uma centralização econômica e administrativa das províncias, municípios e comunas ao Governo Central liderado pelo PR (TELO, 2019, p. 35).

O país tem como língua oficial o português em função de ter sido uma das colônias portuguesas em África. Além do português, Angola possui mais de 150 línguas das quais são conhecidas como línguas nacionais, diversas etnias, nomeadamente o Kimbundo, Umbundo;

Kikongo, Cokue, Ngangela, Ibinda ou Fiote entre outras, representando os principais reinos de Angola (MAWÉZE, 2007, p. 9).

As línguas nacionais: Umbundu, Kimbundu, Kikongo, Ibinda, Tchokwe, Nganguela, Kwanhama e Nhaneka-Humbe, faladas em Angola, são fruto da distribuição étnica do país, muito embora desde o início da colonização se tenha imposto o português como a língua oficial do país em detrimento destas línguas nacionais (NGULUVE, 2006; NZAU, 2011apud MASSANGA, 2014, p. 85).

1.1.1 Breve contextualização histórica de Angola

A contextualização histórica de Angola é importante para compreender a temática em estudo. A história da região da qual faz parte Angola é antiga. Na época conhecida como a

“Idade Média”, entre os séculos XII e XIII, a região dos Grandes Lagos sofreu uma grande explosão demográfica, pelos povos que vieram a chamar-se os Bantu23. Provavelmente a partir deste período, ocorreu o êxodo dessas populações que em seguida habitaram esta região que hoje chamamos de Angola (SANTA, 2014, p. 2). Asúa Altuna (1993) nos traz outra data da possível chegada dos povos Bantu no sul da África, isto é, no século XVI e XVII.

Para Wheeler e Pélissier (2019), os bosquímanos aparecem sendo os primeiros habitantes de Angola, antepassado dos poucos bosquímanos que ainda hoje habitam o sul de Angola. Os autores defendem que, devido à ausência de vestígios fósseis na região de Luanda, no leste de Angola, torna-se difícil de determinar a “verdadeira identidade” do homem angolano primitivo.

De acordo com BASTOS (2017), “em 1482, quando os portugueses chegaram ao

23 “A formação étnica de Angola iniciou-se a partir da migração dos povos Bantu. Este povo, cujo termo significa pessoa ou homem, utilizava a língua bantu, comum na África Oriental, Central e Meridional” (Delgado, 1948 apud

BASTOS, 2017, p. 12).

52 estuário do Congo, os Bantu já se encontravam organizados em reinos. Nesse período, Angola viria a ser uma colónia portuguesa, por cerca de 500 anos” (VANSINA 1985 apud BASTOS, 2017, p. 13).

A chegada dos portugueses no final do século XIV foi um acontecimento que mudaria para sempre o destino de vários povos em Angola. Assim como os povos Bantu24 entraram tarde na história, o mesmo acontece também com a historiografia pré-europeia de Angola.

Segundo Wheeler e Pélissier (2019), é uma das menos conhecidas25 da África tropical, orientada para uma investigação que privilegiou o conhecimento da história colonial do território. O mesmo acontece com a história de Cabinda.

A colonização efetiva no interior do país teve o seu início no século XIX, após a independência do Brasil em 1822, e do o fim do tráfico de escravos em 1836, ainda que não se tratasse do fim da escravatura (SANTA, 2014, p. 3). A presença portuguesa, neste espaço territorial, foi feita a partir do estuário do Congo, através do estabelecimento de relações comerciais e mais tarde passado à evangelização. Estas duas atividades serviram de móbil para a evolução da política de ocupação e conquista dos territórios que são hoje o atual espaço territorial angolano. Apesar de na época, grande parte do território ser dominado pelos Bacongos, a falta de união entre reinos levou a que Portugal explorasse essas divisões permitindo-lhe a conquista dos territórios. (BASTOS, 2017, p. 13).

O desejo de obter a liberdade criou o sentimento nacionalista nos angolanos e se desenrolou na materialização desse sentimento em luta de libertação, uma vez que “antes da década de sessenta vários exilados das colônias portuguesas na Europa e de outros países na África começaram a preparar-se para a luta armada para o caso de Portugal se recusar a conceder-lhes a independência” (PINTO, 2008 apud NETO 2000).

A luta armada com vista à libertação nacional contra o regime colonial português teve início em 1961. Foram 13 anos de luta contra a colonização portuguesa, onde muitas vidas

24 “A história das migrações bantu e o estabelecimento dos estados bantu em Angola constituem o pano de fundo para a chegada dos portugueses em finais do século XIV. Os povos bantu, que hoje habitam cerca de um terço do continente africano, têm demonstrado, historicamente, uma capacidade de expansão explosiva> “(WHEELER &

PÉLISSIER, 2019, p. 50).

25 “Tal fato não poderá deixar de constituir uma surpresa e uma frustração para qualquer historiador de visita a Angola a quem seja dado observar o acervo de dados de história antiga existente no país” (WHEELER &

PÉLISSIER, 2019).

53 foram sacrificadas. De acordo com Da Silva (2018) Portugal foi o último país europeu a resistir contra o colonialismo, sob o governo do ditador Salazar (entre 1932 e 1968) e cujo regime só se dissolveu pelo movimento de 25 de abril de 1974.

Com novo regime que prezava pela democracia portuguesa, que reconheceu de imediato o direito à independência de Angola, foram convocados os três movimentos de libertação nacional de Angola para as assinaturas dos Acordos de Alvor de janeiro de 1975- MPLA, FNLA e a UNITA- para uma cimeira que teve lugar no Hotel Penina, na vila do Alvor em Portugal. O encontro teve como objetivo formalizar e reconhecer o direito da independência da então colônia portuguesa de Angola, proclamada a 11 de novembro de 1975. Este acordo definiu, igualmente, a situação do enclave de Cabinda26, tornando-o numa província angolana (BASTOS, 2017, p. 26). Ainda em 1975 nas celebrações dos Acordos de Alvor, Portugal alegou ter como objetivo também a promoção de um entendimento entre os três movimentos rivais, uma vez que cada um controlava diferentes parcelas do território angolano, e com apoios de bases distintas.

Depois da independência de Portugal em 1975, Angola foi um dos países africanos que passou por longo período de guerra durante a década de 1990. A paz chegou em Angola a 4 de abril de 2002, com o Acordo de Paz de Luena que colocou “o fim definitivo da guerra civil”

em Angola e permitiu também ao país realizar uma transição e reconstrução da paz de forma pacífica (TCHINHAMA, 2021, p.29). Com a “chegada da paz” em 2002, a esperança voltou e Angola encontra-se hoje a braços com a enorme tarefa de reconciliação e reconstrução do país, que lhe permita encontrar o caminho do desenvolvimento (PINTO, 2008, p. 12).

A vitória do governo do MPLA, mesmo tendo um reconhecimento internacional, não garantiu o pleno controle do país recém independente, nem a sua “paz” plena. Após a independência e com o fim dos conflitos da guerra civil em 2002, o país ainda se depara com a questão do enclave de Cabinda, visto como a continuação da guerra civil, com a resistência e reivindicação da independência desse território por parte do Movimento Independentista da FLEC. “Se de um lado pode-se falar em paz e estabilidade em Angola, do outro nota-se que os benefícios da paz são superficiais para os cabindenses porque o país ainda se encontra dividido

26 Com os Acordos de Alvor, que materializam a independência de Angola, Cabinda não foi reconhecida como Estado independente, tendo os movimentos separatistas ficado de fora das negociações que conduziram à integração desta região no novo Estado de Angola (Gonçalves & Victor Oliveira, 2009). A FLEC passou então à ação armada, sob liderança de Nzita Tiago. (BASTOS, 2017, p. 23).

54 e o poder centralizado no Executivo em detrimento da falta de autonomia das províncias”

TCHINHAMA, 2021, p. 33).

No documento TCHIKUMBI: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA (páginas 51-56)