• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO –

MOMENTO DO CONTROLO E FISCALIZAÇÃO DOS DINHEIROS PÚBLICOS O Tribunal de Contas, enquanto autoridade em matéria do controlo externo

1.8. MODALIDADES DA FISCALIZAÇÃO E CONTROLO JURISDICIONAL 1 Considerações gerais

1.8.4. Controlo Jurisdicional ou de Julgamento das Contas do Estado

O Tribunal de Contas tem poderes especiais de controlo jurisdicional de todas as entidades sob a sua jurisdição, com base nas fontes que lhe são fornecidas pelos conteúdos dos resultados dos relatórios de auditorias.

Este poder radica-se no julgamento da imputação financeira, podendo ser classificado em fiscalização concomitante e sucessiva, já que a fiscalização prévia é considerada como fiscalização não jurisdicional.

Por seu turno, GUILHERME D´OLIVEIRA MARTINS define a jurisdição “como o poder complexo de julgar as contas e demandar judicialmente os respectivos responsáveis”284. No controlo jurisdicional, o Tribunal de Contas leva a cabo um

conjunto de providências e diligências que possibilitam tornar efectiva a responsabilidade financeira que se concretiza por vias de um processo.

Os processos, como é sabido, consistem num conjunto de providências para a composição de litígios. Entretanto, este é, pois, um processo de jurisdição especial em matéria financeira, ou seja, o seu substrato consiste da violação dos comandos da Lei substantiva financeira, com realce para a LQOGE ou da Lei da Probidade Administrativa e da Lei do Gestor Público.

Assim sendo, para dirimir o conflito concreto de interesse particular do gestor público, ou gestor do erário público, e o interesse público (ou aquele interesse potencial difuso ou colectivo dos contribuintes ou ainda o interesse sectorial)285, o Estado criou mecanismos adjectivos para realizar a plena justiça

material que se reputa no Direito Processual de efectivação da responsabilidade financeira.

284 Cfr. AAVV, MARTINS, GUILHERME D´OLIVEIRA – Responsabilidade Financeira do Gestor da Coisa

Pública, Estudo em Homenagem ao Professor Doutor PAULO DE PITTA E CUNHA, Vol. II, Economia,

Finanças Públicas, 2010, Pág. 244.

285 O interesse sectorial, gestores ministeriais, órgãos de soberania, associações públicas, governos

provinciais, consulares que constituem o sector de agentes públicos gastadores, políticos burocratas ou tecnocratas, mais desenvolvimento Cfr. FRANCO, SOUSA – Dinheiros Públicos,

Francisco Mário – O Controlo Jurisdicional dos Dinheiros Públicos em Angola

139 Todavia, o Direito Processual Financeiro, por assim dizer, comporta certas espécies de processo, nos termos desenhados pela Lei Processual da jurisdição financeira, e que seguem sob forma especial, sumária e sumaríssima, como regra o Art.º 52º, nº 1, da LOPTC. São elas as seguintes:

1 – Processo de efectivação da responsabilidade reintegratória;

2 – Processo de fixação, por omissão de contas, de débitos aos responsáveis; 3 – Processo autónomo de multas.

Portanto, o julgamento das Contas do Estado, enunciado nas competências do Tribunal de Contas, consiste na competência de julgar processos especiais da parcela de jurisdição financeira acima elencada (Cfr. Art.º 52º da LOPTC), a requerimento do Ministério Público, nos termos do Art.º 28º e 55º, da LOPTC, não podendo julgar os processos de jurisdição penal (do Direito Penal Primário), processos cíveis ou outros de jurisdição comum ou específica, por estar destituída de competência e poder invadir a parcela de competências não prescritas pelo legislador ordinário.

1.8.4.1. Fiscalização Concomitante e Sucessivo

A Fiscalização Concomitante consiste na fiscalização e controlo financeiro da actividade financeira externa jurisdicional, realizada pelo Tribunal de Contas através da 2ª Câmara. Esta visa fiscalizar os instrumentos da dívida pública, auditorias e inquéritos às entidades ou organismos sujeitos à sua jurisdição com o fim de apreciar a legalidade e a regularidade da arrecadação de receitas e da realização de despesas. Como destaca PAULO NOGUEIRA DA COSTA, a fiscalização concomitante justifica-se, em grande medida, pela necessidade de fiscalizar os contratos não sujeitos a fiscalização prévia e os contratos que foram visados, de modo a garantir que a sua execução respeita os termos subjacentes à concessão do visto ou que a mesma traduz o acolhimento das recomendações feitas pelo Tribunal de Contas286.

O Tribunal de Contas exerce o poder de controlo financeiro sucessivo ou a posteriori através da verificação de contas; da avaliação dos respectivos sistemas

Francisco Mário – O Controlo Jurisdicional dos Dinheiros Públicos em Angola

140 de controlo interno; da apreciação da legalidade, economia, eficiência e eficácia da gestão financeira (Cfr. Art.º 9º; 72º e 79º, da LOPTC), de modo que, assim, poder- se-á dizer que o Tribunal de Contas é um verdadeiro observatório da administração de dinheiros e valores públicos287.

No âmbito do controlo da dívida pública directa do Estado, o Tribunal de Contas verifica, designadamente, se foram observados os limites de endividamento e demais condições gerais estabelecidas pela Assembleia Nacional, em cada exercício orçamental, nos termos do Art.º 27º, do Regime Jurídico da Emissão da Dívida Pública do Estado, Art.º 9º, nº 5, da LOPTC.

O controlo financeiro sucessivo materializa-se na aprovação de relatórios de auditoria e de verificação externa de contas e, ainda, pela homologação das contas sujeitas à verificação interna.

Compete ao Tribunal de Contas, no exercício dos poderes de controlo financeiro sucessivo, verificar se os actos, os contratos sujeitos a fiscalização prévia e as despesas correspondentes foram realizadas com base no estipulado na altura do visto prévio (Art.º 9º, nº 2, da LOPTC).

No controlo sucessivo, o Tribunal de Contas julga e efectiva a responsabilidade financeira através dos mecanismos processuais especiais de jurisdição da 2ª Câmara (Art.º 14º, da LOPTC):

a) Controlo concomitante 1 – Emitir instruções;

2 – Mandar realizar inquéritos; 3 – Aplicar as multas.

b) Controlo sucessivo

1 – Julgar as Contas dos organismos e serviços do Estado e outras entidades sob a sua jurisdição;

2 – Julgar os processos de fixação de débitos dos responsáveis, no caso de emissão de contas;

3 – Julgar as infracções financeiras e efectivar a sua responsabilização;

287 Cfr. TAVARES, JOSÉ F.F. – Estudos de Administração e Finanças Públicas, Almedina, 2ª edição,

Francisco Mário – O Controlo Jurisdicional dos Dinheiros Públicos em Angola

141 4 – Julgar todos os recursos;

5 – Declarar a impossibilidade do julgamento.

O controlo sucessivo e concomitante constituem modalidades de fiscalização e de controlo de dinheiros públicos, realizados através dos mecanismos estabelecidos na Lei que permitem considerar o Tribunal de Contas como um observatório de administração dos dinheiros e valores públicos.