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Natureza e Regime Jurídica do Visto do Tribunal de Contas de Angola Relativamente ao controlo jurisdicional de dinheiros públicos pelo mundo

CAPÍTULO –

MOMENTO DO CONTROLO E FISCALIZAÇÃO DOS DINHEIROS PÚBLICOS O Tribunal de Contas, enquanto autoridade em matéria do controlo externo

1.8. MODALIDADES DA FISCALIZAÇÃO E CONTROLO JURISDICIONAL 1 Considerações gerais

1.8.3. Modalidades de Fiscalização Prévia

1.8.3.6. Natureza e Regime Jurídica do Visto do Tribunal de Contas de Angola Relativamente ao controlo jurisdicional de dinheiros públicos pelo mundo

fora e, em particular, na Lusofonia, tem sido debatida a questão da natureza jurídica do visto prévio em função da exigência dos contribuintes que, pede um apertado controlo das despesas públicas e, por outro, a desburocratização da Administração Pública para, em tempo útil, satisfazer as necessidades prementes da sociedade.

Neste conjunto de ideias, que nós consideramos até serem legítimas e de nota, abre-se a discussão de dois problemas:

Francisco Mário – O Controlo Jurisdicional dos Dinheiros Públicos em Angola

136 1 – O primeiro problema está relacionado com o alargamento e simplificação do visto ou extinção do visto prévio;

2 – O segundo problema está, efectivamente, relacionado com a natureza jurídica do visto – administrativo ou jurisdicional.

Estes dois problemas têm equacionado algumas posições opostas na doutrina nacional Portuguesa por incidirem sobre a legalidade administrativa, legalidade financeira, mérito, economicidade, eficiência, análise do custo/benefício e, de algum modo, na transparência e boa governação278.

Esta crise do Visto do Tribunal de Contas na doutrina Portuguesa é contagiante do ponto de vista da conservação, ou na perspectiva da evolução no plano de simplificação ou de extinção do visto prévio, daí abraçar, de algum modo, a opinião do nosso distinto Prof. PAZ FERREIRA, que entende que “no essencial o visto prévio do Tribunal de Contas deixou ser polémica e, abre largamente portas à inutilidade”279.

Para tanto, vamos desde logo examinar os argumentos da doutrina a que tivemos acesso, começando pelo sector da doutrina que defende a natureza do visto prévio do Tribunal de Contas como um acto administrativo e outros como acto jurisdicional.

Assim sendo, uma corrente da doutrina do século XX, de MARCELLO CAETANO, TEIXEIRA RIBEIRO, SOARES MARTINEZ, MARCELO REBELO DE SOUSA, entre outros, defendia, em síntese, que o visto do Tribunal de Contas tem natureza administrativa, de jurisdição graciosa sem carácter jurisdicional, uma vez que fiscaliza a legalidade administrativa dos contratos, no caso de recusa, podendo ser

278 O Tribunal de Contas na fiscalização preventiva, à luz da análise do custo/benefício, do Princípio

da Transparência e da Boa Governação, ao examinar certo contrato ou acto celebrado pela Administração deve verificar, necessariamente, se existe um nexo de adequação entre a receita e a despesa, de modo a que o cidadão contribuinte se sinta satisfeito pela contribuição que realizou em função da despesa a realizar e que onere razoavelmente o seu bolso. Ou seja, para não ser obrigado a fazer um maior sacrifício e pagar mais impostos para obter bens e serviços que estão disponíveis no mercado a um menor preço, por incúria dos órgãos de fiscalização prévia interna/externa. Isto porque a fiscalização prévia encerra um conjunto de poderes que é hoje relacionado com as noções de economicidade, eficácia e eficiência administrativa e financeira, porquanto na fiscalização prévia o Tribunal vai buscar examinar através do seu juízo o equilíbrio dos dois vectores financeiros: (i) de minimizar os dispêndios públicos e (ii) optimização das receitas. Ora, isto significa que se devem pautar pela operacionalização com o menor custo possível, ou seja, é mister investigar se não há para aquele mesmo gasto uma solução alternativa mais barata e igualmente eficaz.

279 Cfr. FERREIRA, EDUARDO PAZ – Ensinar Finanças Públicas Numa Faculdade de Direito, Almedina,

Francisco Mário – O Controlo Jurisdicional dos Dinheiros Públicos em Angola

137 sindicado o acto junto do Conselho de Ministro ou de recurso ordinário de anulação280.

Por seu turno, outra doutrina, seguida pelo Prof. SOUSA FRANCO281, sustenta

que o visto do Tribunal de Contas tem natureza jurisdicional, devido ao facto de se integrar nas funções jurisdicionais, na medida em que, embora não vise dirimir qualquer litígio das partes, estabelece e define, através de fiscalização prévia, a adequação de determinados actos ou contratos da Administração Pública à Lei, em termos de independência e imparcialidade típica da jurisdição financeira.

Como ensinava o Prof. ALBERTO DOS REIS e GIUREPPE CHIOVENDA, nas lições de Processo Civil “ao classificarem as sentenças admitem várias espécies de decisões jurisdicionais do ponto de vista da doutrina da natureza e da sua incidência. Tais como as sentenças negatórias, e de condenação, as sentenças de mérito, as que tomam apenas providências conservatórias, as que não passam de um mero adaptação aos imperativos da Lei”282.

Mais recentemente, o Prof. PAZ FERREIRA entende que a posição que era assumida por um certo sector da doutrina, na altura da vigência da Constituição de 1933, considerava fortemente o visto como sendo um acto administrativo. No entanto, hoje em dia, crescentemente a doutrina dominante de SOUSA FRANCO, GOMES CANOTILHO, VITAL MOREIRA, OLIVEIRA MARTINS, JOSE FARINHA TAVARES, entre outros, à luz da legislação vigente, afirmam a natureza jurisdicional do visto, com um carácter mais flexível e pedagógico, defendendo este autor no final que o visto do Tribunal de Contas se torna, realmente, um procedimento que inevitavelmente perde força, com tendências de vias de extinção283.

280 Apud, TAVARES, JOSÉ F.F. – O Visto do Tribunal de Contas, Pág. 159 e seguintes, neste sentido

Prof. PAZ FERREIRA, deu razão à corrente doutrinária que sustentava a actividade de fiscalização prévia como uma actividade administrativa do Tribunal de Contas, porquanto os antecedentes do Tribunal de Contas mostram-nos no âmbito da Constituição de 1933, que se impossibilitava a consideração da natureza jurisdicional de um órgão que não gozava das necessárias garantias de independência. Cfr. Separata, Estudo em Homenagem ao Professor Doutor, INOCÊNCIO GALVÃO

TELLES, VOL. I, O Visto Prévio do Tribunal de Contas, Pág. 847.

281 Ibidem, Pág. 169. 282 Ibidem, Pág. 170.

Francisco Mário – O Controlo Jurisdicional dos Dinheiros Públicos em Angola

138 Entretanto, no figurino angolano, o visto do Tribunal de Contas na panorâmica de fiscalização preventiva é entendido, sem vacilar, como sendo um acto jurisdicional, conforme o Art.º 8º, nº 2, da LOPTC.