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CAPÍTULO –

MOMENTO DO CONTROLO E FISCALIZAÇÃO DOS DINHEIROS PÚBLICOS O Tribunal de Contas, enquanto autoridade em matéria do controlo externo

1.5.3. Princípio do Contraditório e Defesa

Historicamente, o célebre DEMÓSTENES, em Atenas, já recomendava aos atenienses o seguinte: “ (…) atendeis com benevolência aos dois antagonistas, senão que deixei a cada um em sua defesa a ordem e disposição, que elegeu e concretizou”221.

Entre nós, o Princípio do Contraditório, no constitucionalismo Angolano, vem desde da Constituição de 1911, pois foi a que consagrou, pela primeira vez, de forma implícita, a garantia de defesa no que é respeitante aos processos de matéria penal.

O princípio do contraditório é, pois, um corolário do Princípio Constitucional dos direitos de liberdades e garantias e do Princípio da Inocência, previsto no n.º 2, do Art.º 67º, da CRA. Neste enunciado normativo o legislador visou prescrever as garantias do contraditório e de defesa, aliás, este princípio decorre já da Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948, Art.º 11º, da DUDH, para garantir o processo equitativo e justo e para evitar decisões surpresa.

220 Mais desenvolvimento, Cfr. CANOTILHO, J.J. GOMES – Direito Constitucional e Teoria da

Constituição, Almedina, 7ª edição, 8ª reimpressão, 2003, Pág. 664 e 665.

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101 Como garantia do contraditório, este Princípio é uma decorrência daquele outro Princípio da Igualdade, estabelecido no Art.º 3º, do CPC. Contudo, este é multifacetado, porque atribui à parte não só o direito ao conhecimento de que contra ele foi proposta uma acção ou requerida uma providência e, portanto, um direito à audição, obviamente, antes de ser tomada qualquer decisão, ex vi, Art.º 17º, da LOPTC, mas também tem um direito de conhecer todas condutas assumidas pela contraparte e a tomar posições sobre elas.

No processo das partes, diz-se que todos os interessados devem participar activamente no pleito, para que se tenha uma decisão fundamentada, pelo que as intervenções dos sujeitos no processo devem ser plenas, de modo a permitir uma decisão fundamentada.

Numa primeira observação, encontramos algumas manifestações deste Princípio no Direito Civil – citações, notificações, para posteriormente o citado ou notificado formular a sua resposta de impugnar, na fase dos articulados (Contestação ou Replicar e Treplicar Cfr. Art.º 486º e seguintes, 502º, do CPC), a presença da manifestação deste Princípio ocorre no exercício do direito de recurso222 (Cfr. Art.º 676º, do CPC e Art.º 100º, da LOPTC).

Contudo, o notificado, ou citado, terá sempre que assumir uma conduta que se filia no ónus jurídico, sob pena de ver as posições no processo em desvantagem. Por conseguinte, ser considerado confessado e daí ser condenado no pedido formulado, mas no processo especial jurisdicional financeiro, o ónus jurídico a não exercido não desencadeia as consequências de confissão, ou seja, a falta de contestação no processo financeiros não dá a confissão dos factos do demandado e, consequentemente, a sua condenação no pedido, ex vi lege, Art.º 90º, nº 3, da LOPTC.

Entretanto, como documenta o Prof. JOÃO DE CASTRO MENDES, o Princípio do Contraditório deriva do Princípio da Igualdade das partes no processo, igualdade das armas, de tratamento e de oportunidade de expor as suas razões para convencer o tribunal a decidir o litígio a seu favor. No entanto, deste

222 O Recurso pode ser definido como meio processual destinado a provocar a reapreciação da

sentença, de forma a corrigir certas imperfeições que, pela sua importância, não consentem uma forma de remédio menos solene, Cfr. HENRIQUES, MANUEL DE OLIVEIRA LEAL, Recursos Em

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102 Princípio, de algum modo resulta, necessariamente, a imparcialidade do órgão incumbido de compor o litígio. Porquanto que esta dialéctica está na recíproca fiscalização da verdade e da justiça223.

O direito de ser ouvido, de contradizer o que está articulado e formulado pelo requerente do processo, a outra parte tem o direito de ser dado conhecimento do que perante o tribunal foi dito, e dar-lhe a oportunidade para preparar a sua defesa para contradizer, ou não, regra geral, no Processo Civil, nos termos do Art.º 3º, nº 1, in fine, e nº 2, 194º, e seguintes, 228º, 486º e 517º, do CPC) no Processo Efectivação de Responsabilidade Financeira (vide Art.º 17º, nº 1, 56º e 57º, 89º e 90º e seguintes, da LOPTC), bem como Contencioso Administrativo e Processo Tributário (vide, Art.º 47º, CPA, Art.º 93º, 94º, do CGT) e Processo Penal (Cfr. Art.º 63º. da CRA e 398º, do CPP), como facilmente se compreende, visam efectivamente garantir a defesa dos interesses do suposto sujeito que está em crise com a Lei até o caso transitar em julgado.

Portanto, o direito à defesa é uma garantia constitucional a ser observada pelo Tribunal de Contas, para fazer jus ao Princípio do Contraditório, isto é, do “Gestor”, constituído arguido no processo de efectivação de responsabilidade financeira, de poder defender-se por si ou através do seu mandatário judicial (Advogado), nos termos do Art.º 67º, da CRA, e do nº 2, do Art.º 17º e 90º, da LOPTC.

Contudo, o Princípio do Contraditório e de Defesa encerra excepções, o que significa dizer, pelo menos no processo comum, que esta excepção decorre do Princípio da Legalidade, como orienta a Lei Substantiva Civil sobre as excepções (Art.º 11º, do C.C.), podendo ser afastado por um imperativo legal, e não de livre arbítrio das partes, assim indicando o Art.º 3º, nº 2, do CPC.

Em última análise, no controlo jurisdicional dos dinheiros públicos em Angola está formalmente assegurado um dos direitos fundamentais de liberdade e garantias, através do Princípio do Contraditório e da defesa dos visados, nos termos da Constituição e da Lei.

223 Cfr. MENDES, JOÃO DE CASTRO – Direito Processual Civil, Vol.I, AAFDL 2012, Pág. 132., no

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103 1.5.4. Os Princípios da Fundamentação, da Obrigatoriedade e da Prevalência

das suas Decisões

O Princípio da Fundamentação das Decisões, bem como a Obrigatoriedade e Prevalência das suas decisões, encontra recortados no Direito Civil e Direito Administrativo adjectivo, por via disso, é requerido ao juiz a obrigatoriedade de fundamentar com exactidão material e legal as suas decisões que constituem os comandos judiciais224, no exercício da função jurisdicional, emanadas nos

argumentos de facto e de Direito, como nos reporta subsidiariamente o Art.º 668º, do CPC.

A fundamentação das decisões representa o predomínio de uma exigência constitucional, prevista no Art.º 177º, da CRA, que postula os seguintes termos:

a) Dever de fundamentação das suas decisões, ou seja, obrigatoriedade do juiz de argumentar como última palavra, como vem descrito no Art.º 97º, LOPTC;

b) Obrigatoriedade de cumprimento das suas decisões, isto é, as decisões do Tribunal de Contas, quando julgam os processos de prestação de contas, é de cumprimento obrigatório tanto pelas entidades públicas ou privadas (Art.º 177º, nº 2, da CRA, e Art.º 33º, nº 1; 97º e 98º, da LOPTC);

c) Prevalência das suas decisões, no sentido em que nas decisões do Tribunal de Contas, o juiz providencia, mesmo oficiosamente, pelo suprimento da falta de pressupostos processuais susceptíveis de sanação, determinando a realização dos actos necessários para que o processo de fiscalização e controlo alcance aquela justiça de mérito (Cfr. Art.º 266º, da CPC). Além de ser de cumprimento obrigatório, prevalecem sobre as de quaisquer outras autoridades (Art.º 177º, nº 2, in fine da CRA).

224 Diz-nos o Prof. JOSÉ ABERTO DOS REIS, que a decisão judicial é, pois, “um comando”, sendo

“declarativo, condenatório ou constitutivo, assim (…), produz o efeito correspondente”, consistindo o seu “grau máximo”, isto é, “a qualidade mais forte (…), na formação do caso julgado”, que “imprime aos efeitos da sentença a característica da imutabilidade”, Código do Processo Civil Anotado, Vol. V, Pág. 2 – apud, LEAL-HENRIQUES, MANUEL – Recursos Em Processo Civil, Rei dos Livros Editora, 2ª edição, Lisboa, 1992, Pág. 20.

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104 1.5.5. O Princípio da Publicidade

O Princípio da Publicidade identifica-se com a publicidade de todos os actos praticados pelo Tribunal de Contas, como corolário do Princípio da Transparência.

A publicidade está subjacente aos Princípios dos Direitos Fundamentais do Estado de Direito, como meio de combater o arbítrio e assegurar a verdade e a justiça das decisões judiciais a serem proferidas pelo Tribunal de Contas.

Desde logo, constitui uma importante garantia numa dupla dimensão: em relação ao Ministério Público (instância da acusação), que representa o Estado, e o gestor (arguido representado pela instâncias da defesa), assegura a possibilidade de controlo popular sobre as decisões que afectam directamente; já na outra dimensão, a publicidade combate a desconfiança na administração pública, através da opinião pública, como é evidente.

Para obviar os actos do controlo jurisdicional dos dinheiros públicos, exige-se a publicação na 1.ª Série do Diário da República, das decisões do Tribunal de Contas que versem sobre: Acórdãos de Fixação de Jurisprudência e outras decisões que a Lei determinar, nos termos do Art.º 69º, nº 1, da LOPTC; e, por conseguinte, são publicados na 2.ª Série do Diário da República os actos referentes a Pareceres da Conta Geral do Estado, síntese dos relatórios anuais de actividades, instruções e Acórdãos que o Tribunal de Contas entender publicar (Art.º 69º, nº 2, da LOPTC).

1.5.6. O Princípio de Cooperação e do Direito à Coadjuvação das outras