• Nenhum resultado encontrado

A Convenção das Nações Unidas contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas de

2.4 Contexto histórico da tipificação da lavagem de dinheiro

2.4.3 A normativa internacional sobre lavagem de dinheiro e a definição dos crimes antecedentes

2.4.3.3 Hard law: convenções internacionais

2.4.3.3.1 A Convenção das Nações Unidas contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas de

Aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 20 de dezembro de 1988, a Convenção das Nações Unidas contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas, conhecida como Convenção de Viena de 1988, é considerada a primeira convenção de alcance global a abranger os dois aspectos essenciais do combate ao moderno tráfico internacional de entorpecentes: a criminalização da lavagem de dinheiro e o estabelecimento do confisco dos proveitos do tráfico (GILMORE, 1999, p. 51).

Especificamente sobre a lavagem de dinheiro, objeto deste trabalho, e embora sem utilizar essa denominação77, o artigo 3 (1) (b) da Convenção de Viena estabeleceu, para cada uma das suas partes, a obrigação de adotar as medidas necessárias para caracterizar como delitos penais em seu direito interno, quando cometidos intencionalmente: i) a conversão ou a transferência de bens, com conhecimento de que tais bens são procedentes de algum ou alguns dos delitos estabelecidos no seu artigo 3 (1) (a), ou da participação no delito ou delitos em questão, com o objetivo de ocultar ou encobrir a origem ilícita dos bens, ou de ajudar a qualquer pessoa que participe na prática do delito ou delitos em questão, para fugir das consequências jurídicas de seus atos; e ii) a ocultação ou o encobrimento, da natureza, origem, localização, destino, movimentação ou propriedade verdadeira dos bens, sabendo que procedem de algum ou alguns dos delitos mencionados no artigo 3 (1) (a) ou de participação no delito ou delitos em questão.

Os delitos mencionados no artigo 3 (1) (a)78 da Convenção de Viena são apenas aqueles relacionados ao tráfico de drogas, daí que, nos termos desse instrumento, apenas esses crimes foram considerados antecedentes da lavagem de dinheiro.

77

Segundo Gilmore (1999, p. 52), tal decorreu da novidade da expressão e por questões de tradução.

78“i) a produção, a fabricação, a extração, a preparação, a oferta para venda, a distribuição, a venda, a entrega em quaisquer condições, a corretagem, o envio, o envio em trânsito, o transporte, a importação ou a exportação de qualquer entorpecente ou substância psicotrópica, contra o disposto na Convenção de 1961 em sua forma emendada, ou na Convenção de 1971; ii) o cultivo de sementes de ópio, do arbusto da coca ou da planta de cannabis, com o objetivo de produzir entorpecentes, contra o disposto na Convenção de 1961 em sua forma emendada; iii) a posse ou aquisição de qualquer entorpecente ou substância psicotrópica com o objetivo de

Ainda especificamente em relação à lavagem de dinheiro, a Convenção de Viena estabeleceu, em seu artigo 3 (1) (c), que as partes poderiam, de acordo com seus princípios constitucionais e com os conceitos fundamentais de seu ordenamento jurídico, adotar as medidas necessárias para caracterizar como delitos penais em seu direito interno, quando cometidos intencionalmente: a) a aquisição, posse ou utilização de bens, tendo conhecimento, no momento em que os recebe, de que tais bens procedem de algum ou alguns delitos de tráfico de entorpecentes definidos na Convenção ou de ato de participação no delito ou delitos em questão; b) a instigação ou induzimento público de outrem, por qualquer meio, a cometer alguns dos delitos mencionados no artigo em questão, incluindo, pois, a lavagem de dinheiro; e c) a participação em qualquer desses delitos, a associação e a confabulação para cometê-los, a tentativa de cometê-los e a assistência, a incitação, a facilitação ou o assessoramento para a prática do delito.

Já o parágrafo (3) do mesmo artigo 3 da Convenção de Viena dispôs que o “conhecimento, a intenção ou o propósito como elementos necessários de qualquer delito estabelecido no parágrafo 1 deste Artigo poderão ser inferidos das circunstâncias objetivas de cada caso”.

Quanto às penas, estabeleceu a Convenção79 que cada uma das partes deveria dispor no sentido da aplicação de sanções proporcionais à gravidade dos delitos, tais como a pena de prisão, ou outras formas de privação de liberdade, sanções pecuniárias, e, ainda, o confisco, pela prática dos delitos estabelecidos no seu artigo 3 (1).

Gilmore (1999, p. 52-53) destaca a importância da criminalização da lavagem de dinheiro relacionada ao tráfico de drogas e do seu tratamento como delito grave na Convenção de Viena para a cooperação internacional no que diz respeito ao confisco, à assistência legal mútua e à extradição.

No caso específico da extradição, o artigo 3 (10) da Convenção de Viena estabeleceu que os delitos ali estabelecidos não poderiam ser considerados como politicamente motivados, sem prejuízo das limitações constitucionais e dos princípios fundamentais do direito interno das partes, o que teve a importância de restringir a invocação dessa espécie de limitação à cooperação internacional, bastante frequente nos casos de crimes de caráter político e de delitos fiscais (GILMORE, 1999, p. 53).

realizar qualquer uma das atividades enumeradas no item i) acima; iv) a fabricação, o transporte ou a distribuição de equipamento, material ou das substâncias enumeradas no Quadro I e no Quadro II, sabendo que serão utilizados para o cultivo, a produção ou a fabricação ilícita de entorpecentes ou substâncias psicotrópicas; v) a organização, a gestão ou o financiamento de um dos delitos enumerados nos itens i), ii), iii) ou iv).” 79

Além disso, como, à época da aprovação da Convenção de Viena, ainda não era comum a tipificação da lavagem de dinheiro, tal impedia a extradição de criminosos envolvidos com a lavagem de proveitos do tráfico de drogas, em razão do princípio da dupla incriminação, pelo qual o fato deve ser definido como crime em ambas as jurisdições, de maneira que, com a imposição às partes da incriminação de tal conduta, mais essa limitação à extradição ficaria restringida (GILMORE, 1999, p. 53).

2.4.3.3.2 A Convenção do Conselho da Europa sobre Lavagem de Dinheiro, Busca,

Outline

Documentos relacionados