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Ao partir da atitude fenomenológica, o primeiro contato da pesquisa, referente à estrutura da pessoa humana, é aquilo com que se interage e se constrói a experiência vivida com o outro, por meio da nossa corporeidade. Neste encontro, o outro indivíduo é diferente de si, é um estranho que fala, em um primeiro instante, o observa e o descreve no seu aspecto físico, a sua estatura, a sua cor, todas as características próprias de cada coisa material. O que quer dizer que o ser humano, na sua constituição corpórea, pode ser considerado como “coisa material” como as outras coisas, inserido no âmbito da natureza material (STEIN, 2000b). Stein (2000b) refere Husserl apresentava que se tem um corpo baseando-se na análise dos atos registrados por si, isto é, das sensações corpóreas que se registra. E, juntamente às qualidades sensíveis apreendidas na forma material identificada, vê também que o ser humano possui pontos de percepção através dos quais capta a realidade que está diante de si e, simultaneamente, uma capacidade de se mover,

ou seja, responder de modo motor àqueles estímulos que o tocam, configurando-se como “ser sensível” e “ser animado”. Esta capacidade sensível se liga ainda a processos reconhecidos e a estados atuais nas pessoas, no qual esta capacidade de mover-se está influenciada inicialmente pelos impulsos internos.

Deve se levar em conta que o corpo não é somente uma massa corpórea (Körper), porém um corpo vivente próprio (Lieb) (STEIN, 2000b). Quer dizer, que o percebe não somente quando algo o toca, mas também como percebe e sente este algo dentro de si, e se apresenta na sua temporalidade e espacialidade, o que faz com que identifique a sua existência, de modo que não pode existir um corpo próprio sem sujeito. A autora acrescenta que a pessoa ao realizar atos de fantasia e recordação não precisa utilizar o seu corpo.

É a forma interior que qualifica o todo do indivíduo, é algo qualitativamente determinado: uma espécie, do mesmo modo que é a força vital que possibilita atribuir a forma. Essa dá a forma material a uma matéria. Tudo isto que se percebe no mundo é a matéria formada, e se diferencia dos organismos das outras coisas materiais (coisas “mortas”) que a formação é um processo vital. A forma vivente começa a agir a partir de uma matéria já formada, por meio desta recebe vida, que é destinada a organizar-se por si mesma, novo material para formar-se e estruturar- se progressivamente o organismo. Isso depende das condições materiais que a forma20 do indivíduo possa reagir de maneira pura e sem obstáculos, no modo de

conduzir o organismo. É necessário mencionar que a força vital é limitada e se deteriora com o tempo. A forma vital, a “alma”, faz do corpo humano um organismo (STEIN, 2000b).

A alma não “habita” no corpo vivente como em uma casa, não indossa-o e retira como um vestido, e se os filósofos gregos definiram como “prisão” ou “tumba” da alma, foi para exprimir com isto uma ligação forte e dolorosa, mais para sempre uma “ligação” (STEIN, 2000b, p. 56).

Então, o ser humano, como ser vivente, tem um núcleo que anima e vivifica a corporeidade, dando uma direção própria ao seu processo de desenvolvimento até a falência dor órgãos ou o fim da vida. A corporeidade pode se manifestar de modo

20 Forma: morphé, determinante. Determinação do ser, o que faz que ele seja isto ou aquilo. Ex: alma,

mesa, mar. Forma interior do corpo ou alma ou entelechia ou força vital – que dá forma à matéria. Causa ou razão de ser de uma coisa, pela qual a coisa é o que é. Princípio e fim de seu devir. Há uma única forma em cada ser. São Tomás (I, 118, 2, ad.2.) Informação verbal fornecido por Marina Massimi e Miguel Mahfoud), no Curso na FFCL - USP, em Ribeirão Preto.

impessoal, através das sensações advindas dos sentidos não despertando na pessoa nenhuma apreensão de significado, ou seja, não toca o eu espiritual do indivíduo; ou de maneira pessoal, assumido cada movimento livre e intencionalmente, constituindo atos pessoais em referência ao próprio corpo, vivenciados como instrumentos da pessoa. Deste modo, o eu humano não é apenas um eu puro, nem unicamente um eu espiritual, mas também um eu corporal. (STEIN, 2000b, p.383). O corpo ao fazer movimento parte de seu centro, que tem leis próprias e outras que foram adquiridas pelas leis externas. É próprio do ser vivo a possibilidade de mover- se. O organismo é um constante movimento, partindo de dentro e dirigindo para fora. Então, o fenômeno se move conforme a relação com as suas próprias leis orgânicas, com a sua forma interior. O ser humano, portanto, é um corpo material, vivo, próprio, e diverso do outro.

A discussão dessa temática entre o corpo e alma ocorre há séculos. O corpo humano deve ser visto como uma substância material autônoma e não pode ser refletida sem a alma. É impossível pensar uma matéria interior ao corpo que não seja conectada com a alma; e do mesmo modo não se deve entender que um evento somente espiritual possa evocar um evento corporal, porém o processo espiritual se for processo psíquico é sempre um processo psicofísico que deve materialmente desenvolver-se num modo físico. Stein (2000b) enfatiza que se deve está atento como ocorrem os diferentes modos dos processos no ser humano, podendo ser causados pelo mundo espiritual ou material, mas a experiência apresenta o que ocorre no corpo e afeta o psíquico, e vice-versa, por exemplo: cessação do rendimento espiritual no caso de forte cansaço ou nutrição insuficiente, incremento das atividades da fantasia com o aumento da temperatura córporea ou sobre o efeito de estimulantes.

Stein (2000b, p.155) menciona os erros principais que poderiam estar entre ambas as teorias metafísicas:

1) Essas colocam a “matéria” e o “espírito” como realidades independentes e unitárias, enquanto se deveria considerar como reais as partes dos indivíduos;

2) Esse conhece apenas o dualismo “matéria” (o “corpo”) e espírito, e essas teorias não percebem os estádios intermediários constituídos pelo mundo orgânico e animal;

Então, esclarecendo, a alma pertence ao mundo espiritual, e a partir deste vem qualquer coisa que penetra o corpo vivente (que é uma matéria organizada) e coloca-a em movimento. Sendo assim, não somente a matéria torna-se corpo

vivente permeado pelo espírito, mas também o espírito torna-se espírito materializado e organizado.