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4.2 A Contribuição de Edith Stein para o Conhecimento da Pessoa Humana

4.2.1 Itinerário Intelectual de Edith Stein

Apresentamos sinteticamente o percurso intelectual de Edith Stein, bastante conhecida na Europa e que, no Brasil, vem sendo divulgada em muitas Universidades, contando com a contribuição da Profa. Ales Bello. Gradativamente vem crescendo o número de produções científicas sobre Stein no país (ALES BELLO, 1998, 2000, 2004a, 2006a; COELHO JR., 2006; GARCIA, 1988, 1998; MAFHOUD, 2005; 2007).

De origem judaica, Edith Stein nasceu em Breslavia, em 12 de outubro de 1891 e morreu em Auschwitz na câmara de gás, em 9 de agosto de 1942. Em 1911 frequentou a Universidade de Breslavia estudando cultura alemã, cursou quatro semestres de psicologia e se graduou em filosofia, onde conheceu as obras de Husserl. Transferiu-se para Göttingen para seguir os cursos do mestre e, em 1916, discutiu a sua tese de Doutorado “Zum Problem der Einfublung” (O problema da empatia), com orientador Husserl e, em seguida, tornou-se sua assistente voluntária na Universidade de Friburgo para onde se mudou. Garcia (1998) refere Husserl, na discussão da sua tese, deixa escrito um documento dizendo que o mérito maior de Stein, foi a sua tentativa de elaborar uma fenomenologia da empatia, e esclarecer a origem fenomenológica dos conceitos de corpo próprio, alma, indivíduo, personalidade espiritual, comunidade social e estrutura social.

Garcia (1998) fez um levantamento das publicações de Stein no Jahrbuch für

Philolosophie um phänomenologische Forschung (Anuário publicado pelo grupo de

philosophischen Begründung der Psychologie und der Geisteswissenschaften

(Contribuições para a fundamentação filosófica da psicologia e das ciências do espírito). Descreve o processo da consciência, como observa o fenomenólogo, os atos dos diversos processos mentais (estímulo-resposta), a alma, a motivação e a relação entre indivíduo e comunidade.

A jovem adulta abandona a fé judaica e se considera ateia, buscando, porém, a verdade nos estudos. O ambiente dos filósofos fenomenólogos lhe abre uma perspectiva nova, diante do fenômeno religioso e, partindo de sua própria experiência, gradativamente, se converte ao catolicismo, quando realiza a leitura da autobiografia de Santa Teresa de Ávila.

Em 1925 publica, na mesma revista, o estudo Über den Staat (Uma pesquisa sobre o Estado) que trata das ideologias totalitárias que se percebiam no mundo, na sociedade, e aí identificou os limites do poder civil e estabeleceu uma fronteira entre o individualismo exagerado e o estado absoluto.

No período de 1922 a 1930, trabalhou como Professora no Instituto das Domenicanas, em Speyer, na Alemanha. Começou a fazer conferências em diversos países europeus. Em 1929, inicia a tradução das Quaestiones Disputatae de Veritate de Tomás de Aquino e publica o ensaio Husserls Phänomenologie und die

Philosophie des Hl. Thomas von Aquin (A fenomenologia de Husserl e a filosofia de

Santo Tomás de Aquino), na mesma revista.

Em 1931, se transferiu para Münster como livre-docente no Instituto Superior de Ciência Pedagógica. Já em 1933, foi obrigada a deixar a Universidade por um Decreto oficial do governo alemão lhe proibindo de exercer qualquer atividade no meio público, pelo motivo de ser judia. Nesse mesmo ano entra no Convento das Carmelitas, em Colônia, tornando-se religiosa. Continuou os seus escritos filosóficos, escreveu a obra Endliches und Ewiges Sein (Ser finito e Ser eterno), que foi publicada após sua morte, em 1951. A obra trata do significado do ser e busca aproximar a filosofia moderna com as formas da tradição filosófica, e fala também da sua formação fenomenológica. Trata-se de uma ontologia em Stein.

A filósofa parte do fato indiscutível de sua própria existência, em contraposição, com a qual, coloca, como segundo fato irrecusável, o ser essencial. Destas duas premissas, a análise chega à idéia do Ser divino que é uma necessidade ontológica (GARCIA, 1998, p. 20).

Stein (1999c), ao fazer análise da existência do ser como fonte de conhecimento do eu, chegou à conclusão de que a vivência do ser humano parte da sua existência concreta, e esta representa o ponto de partida para a investigação fenomenológica, mas não estabelecendo esta como medida da verdade.

Em 1938, foi transferida para o Carmelo de Echt, na Holanda, fugindo da perseguição nazista na Alemanha. Em Echt escreveu sua última obra,

Kreuzeswissenschaft (Ciência da Cruz, 2002), homenagem a São João da Cruz. Em

1942, foi presa antes de finalizar o livro, levada para Auschwitz - Birkenaw (Polônia), onde foi morta com apenas 51 anos e, em seu último escrito, fez um bilhete à sua Comunidade:

Eu estou contente com tudo. Só se pode adquirir uma Ciência da Cruz, quando se sente no íntimo o peso da cruz sobre os ombros. Disso eu estava convencida desde o primeiro instante e, de mim, disse: Salve, Cruz, esperança única... (Campo de Concentração de Westerbork - Barraca 36, agosto de 1942) apud Garcia (1988).

Em 1987, em Colônia, foi beatificada pelo Papa João Paulo II, e em 1988 foi declarada Santa Teresa Benedita da Cruz - Edith Stein, em Roma, pelo mesmo Papa.

A concepção de Stein sobre a pessoa humana faz uma relação da filosofia com a religião, ou seja, uma filosofia cristã. Alguns autores referem que não se trata apenas de reunir filosofia e teologia para constituir uma metafísica, mas de proporcionar uma abertura à totalidade, aceitando questões teológicas para serem avaliadas filosoficamente (MAHFOUD, 2005). A análise de Stein do processo de formação da pessoa se fundamenta principalmente na ação do sujeito que se abre ao que lhe é doado, a ser examinado e favoravelmente assimilado, e nesse processo assimilar o próprio Deus para sua obra e para a participação mais plena na história.