• Nenhum resultado encontrado

Ser Pessoa Humana e sua Constituição Estrutural

4.2 A Contribuição de Edith Stein para o Conhecimento da Pessoa Humana

4.2.3 Ser Pessoa Humana e sua Constituição Estrutural

Stein (1999a; 2000b) indagou as dificuldades na questão do homem e suas respostas, abrangendo a totalidade. A pergunta “o que é o ser humano” é o tema central em todos seus escritos, e apresenta características descritivas da estrutura da pessoa com a contribuição de uma fundamentação filosófica para as ciências empíricas como a psicologia, a antropologia e a pedagogia. Frente a isso, Stein criticou a psicologia moderna, contrariamente ao pensamento escolástico, que negou as categorias da alma e as faculdades psíquicas em nome da ciência da natureza, reconhecendo somente os fenômenos psíquicos como fatores da consciência. Sendo que estes não são isolados do corpo, ao contrário, são ligados ao corpo, o que falta é o elemento da consciência.

Foi somente a partir desta busca da fenomenologia pela psicologia que se puderam perceber suas falhas, e fez nascer na psicologia uma visão filosófica – antropológica e fenomenológica na concretude.

A finalidade das análises fenomenológicas visa não somente a uma descrição da interioridade do ser humano, e indagação sobre a estrutura, mas também para aqueles tipos de pesquisa que até o momento eram os únicos modelos metodológicos de ciência, o positivismo. Esse impulso empreendido pelas ciências humanas vem de Husserl e Stein pela exigência naquele período de fazer algo voltado para a subjetividade (ALES BELLO, 2004a).

Trata-se de uma questão epistemológica que se divide em três momentos: que é estabelecer o que é a psicologia, a ciência do espírito e o relacionamento existente entre estas disciplinas. A primeira justifica a investigação sobre a psique, tomando posição nos confrontos com outros grandes estudiosos do seu tempo, e diferenciando uma psicologia empírica de uma psicologia pura. Esta última utiliza a descrição essencial para individuar a estrutura fundamental da psique, que emerge sobre o vivido, e é indispensável para a compreensão do que é o psíquico. Toda pesquisa empírica apresenta casos particulares com uma concepção determinada que parte da estrutura fundamental de seu objeto, para mostrar cada vez o que se percebe. É papel da fundamentação filosófica das ciências empíricas mencionarem suas ideias predominantes (STEIN, 1999b).

A autora menciona que as análises do comportamento não são somente uma psicologia a priori, e chama a psicologia como ciência do espírito. Para compreender melhor esta definição, é preciso retomar o termo “alma” que indica uma realidade

formada mais com a psique do que com o espírito e, ao contrário, a vida psíquica resulta da ação combinada entre força psíquica e espiritual. Então, uma psicologia pura cujo interesse é o psíquico não poderia deixar de pensar que o ser humano é uma realidade complexa, e deve-se dar atenção sobre o espiritual, pois é neste plano que se elabora a teoria e, consequentemente, a análise aqui conduzida se apresenta por meio da dimensão corpórea.

A motivação racional é característica própria do espírito, a descrição parte de uma reflexão teórica que se apropria da intuição da essência. Se a ciência do espírito observa as singulares expressões humanas no sentido espiritual, e aí se recortam indagações referentes às áreas específicas - como a ciência social, a história, o direito, aqui se trata de uma pesquisa filosófica-fenomenológica, que vai à profundidade, e pressupõe sempre uma atividade espiritual. Stein (1999b) apreende as estruturas apriorísticas do espírito, e junto está presente o pressuposto antropológico que abrange a totalidade do ser humano, e fazendo assim, ela chama de “psicologia como ciência do espírito”. Mas, é importante perceber que a psicologia não deve ser confundida com a ciência do espírito, como já foi sublinhado anteriormente.

A filósofa refere que nos resultados obtidos na relação com o outro, depois de serem refletidos, não se esgotaria o conhecimento sobre a pessoa. Esta afirmação é fundamental na corrente fenomenológica que consegue contestar a possibilidade de uma dedução transcendental da ideia de uma psicologia como ciência de todas as leis relativas do âmbito da psique.

Stein (2000b) busca compreender o ser humano na sua essencialidade, seja na sua universalidade, seja na sua singularidade, o que o torna pessoa. É necessário fazer uma reflexão sobre o que significa “humano” e avaliar as diferenças e as afinidades com os outros seres viventes, como as plantas e os animais. Mais adiante será mencionada a questão da diferença do gênero, entre o feminino e o masculino, não somente como questão sociológica e biológica, mas como elemento estrutural e essencial do ser humano (ALES BELLO, 2007).

Stein, ao analisar fenomenologicamente os atos que caracterizam o ser humano, procura inicialmente colocar entre parênteses o que a tradição havia ensinado, mas não negando estes valores. Ao indagar a essência das vivências do ser humano, constatou diferentes gêneros de experiências que dirigiam os aspectos distintos da pessoa: corporeidade, psique e o espírito (STEIN, 1999b; 2000b). Estas análises foram primeiramente feitas por Husserl e, depois, apropriadas por Stein e interpretadas por Ales Bello (2000a; 2005, 2006a). O conjunto destes aspectos

presentes no indivíduo permitiu reconhecer que todo ser humano é microcosmo, no intuito de integrar os elementos estruturais típicos com os seres do reino animal e vegetal (STEIN, 2000b).

Stein (1999b, 2000b) adotou o termo “pessoa” a partir de seus estudos na filosofia medieval, sendo que todo conhecimento produzido nessa época era visto apenas como filosofia e teologia. Ela estudou São Tomás, e foi assim que chegou à filosofia aristotélica para compreender melhor a filosofia da natureza. Foi, ao estudar o ser humano, a natureza que estabeleceu uma relação entre a leitura aristotélico-tomista e a interpretação que os fenomenólogos (Husserl e Conrad - Martius) haviam proposto. Serão apresentados mais adiante os conceitos e termos apropriados por Stein dos escolásticos que expressaram com precisão a “unidade da pessoa”, assim como ela também havia reconhecido nos resultados obtidos de sua pesquisa pelo método fenomenológico.

A concepção de Stein (1999b, 2000b) sobre o indivíduo é ele ser uma dimensão corporal, psíquica e espiritual; e nesta unidade, as dimensões são externamente independentes delas, e internamente completam-se num organismo que se ordena e subordina por uma natureza própria. Concluindo, a alma humana é o centro do ser que precisa de um tripé: espiritual, psíquica e física. Serão descritos separadamente esses elementos estruturais da pessoa humana. Assim, se analisa a constituição estrutural da pessoa: