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Ser Homem e Ser Mulher: Dualidade do Ser Humano

D. Unidade da pessoa humana

4.2.4 Ser Homem e Ser Mulher: Dualidade do Ser Humano

Stein (1999b) descreve o que é o ser humano e como é constituída a sua estrutura, já apresentada, na trilogia dimensional, sendo que se podem perceber

algumas afinidades do ser humano com a vida vegetal e animal, como, por exemplo, as características de um ser vivente, sensível, que tem um corpo material e psíquico, na sua constituição interna orgânica. Já a estrutura da pessoa humana tem seu diferencial das outras espécies, pela sua complexidade, partindo da sua universalidade, que não é somente corpo, mas tem a dimensão psíquica e espiritual, e assim chegando às singularidades específicas, seja mulher ou homem, oferecendo os fundamentos necessários para o reconhecimento destas características.

A autora, em sua busca interior, se indagava filosoficamente onde melhor se encontrava a verdade do ser humano; como pesquisadora, professora, se centrava no problema da formação educacional das mulheres. O resultado de suas longas pesquisas sobre o “feminino” foi escrito no livro intitulado A mulher: sua missão

segundo a natureza e a graça (1999a), não parte de uma contraposição do

pensamento masculino, mas sim reivindica um papel público e uma posição social, pois a mulher, até o início dos Novecentos era desprezada e sem privilégio nenhum. A primeira característica que Stein (1999a) trata é que entre o homem e a mulher existe uma diversidade estrutural e cultural, ou seja, tem uma alteridade, mas não subordinação da mulher. Ainda se vê na sociedade a mulher como o sexo frágil e desprotegido, não sendo possível, para ela, fazer uma racionalização inteligente e coerente sobre o mundo. Stein (1999a) apresenta um novo feminismo, sem negar a essência do fenômeno mulher. Inicia pela ontologia fazendo distinção entre os sexos, o que é diferente de muitas outras feministas que contribuíram com suas reflexões filosóficas e indagações fenomenológicas, que tentavam criar algo inovador, não partindo de algo já existente, mas queriam criar a estrutura de um pensamento original, mas acabaram eliminando a essencialidade da mulher; ao tentar destruir a filosofia tradicional, apresentaram em uma prospectiva machista, um prejuízo para a filosofia, como, por exemplo, as filósofas: Luce Irigaray, Simone Beauvouir, assim como outras filósofas sobre o feminino na contemporaneidade apresentadas por Ales Bello (2004b) no livro Sul feminile: scritti di antropologia e

religione. Pode-se observar que nos dias de hoje essas ideias se fazem importantes

serem conhecidas e difundidas no meio acadêmico e profissional, pois aqui apresenta uma visão de ser humano na sua estrutura; com uma antropologia que atribui uma unidade de viver simultaneamente na mesma pessoa características masculinas e femininas, e favorecendo um equilíbrio na estrutura dessa pessoa de poder autogovernar seus sentimentos e ações.

Portanto, para conhecer melhor estas características especificamente femininas, e masculinas, Stein (1999a, p. 188) faz um apanhado epistemológico de quatro diferentes métodos de análise para identificar como são observadas e descritas. Ela pergunta: “de que teoria se podem tirar critérios para os seus elementos essenciais para uma base sólida? Que caminho temos disponível para chegar ao conhecimento e tomar posição diante de uma análise presente?” É preciso verificar qual foi o objetivo desta análise, qual o caminho escolhido, e se neste foi possível alcançá-lo.

- Método das ciências exatas: refere à psicologia científica ou elementar que descreve características femininas e masculinas de modo isolado e estatístico; também realizado pela fisiologia na compreensão das funções do corpo (STEIN, 1999a);

- Método das ciências humanas (psicologia individual): refere à psicologia individual, compreensiva ou estrutural que busca um conhecimento geral da psique masculina e feminina, por meio de uma análise de conteúdo psiquiátrico, literário, prático-pedagógico e também de material biográfico de vivências pessoais (STEIN, 1999a);

- Método filosófico: se refere à análise dos conteúdos universais da espécie humana, de sua especificidade do homem e da mulher, e sua singularidade. Supõe- se como evidente que a experiência individual inclui algum conhecimento genérico. Daí aparece para o filósofo a tarefa de destacar essa função geral de conhecimento que se mostra em cada experiência, e depois treiná-la até chegar ao rigor de método científico (STEIN, 1999a);

- Método teológico: se refere à filosofia cristã, fala da salvação do homem, da Revelação divina e possibilita uma visão mais ampla do que é ser homem e mulher, diz respeito à essência da natureza, e da missão de cada um no mundo. É aqui que se podem responder as perguntas essenciais que a vida coloca, como por exemplo: que coisa esperamos ao fim da vida? Que coisa se deve fazer para ir ao paraíso? (STEIN, 1999a).

Para Ales Bello (1998), é somente pela integração de diversas informações dos métodos e de outras ciências que se podem apreender melhor as particularidades do ser feminino e ser masculino. A autora traz sua discussão fundamentada no método filosófico, apoiada no referencial fenomenológico; e no método teológico descreve a natureza do homem e da mulher, os compara e os diferencia na sua essencialidade, sendo que as características diferentes são

avaliadas pelo âmbito do conhecimento, dos aspectos afetivos, e das relações intersubjetivas.

Stein (1999a) faz uma comparação entre a filosofia e a teologia para explicar o que poderia contribuir e ampliar o horizonte da sua compreensão, e diz que somente por meio da fé integra o fundamento teórico entre estas teorias. “Teremos como ponto de partida aquilo que a fé nos propõe como finalidade do ser humano, valendo-nos da reflexão filosófica, apenas quando é apropriada para elaborar intelectualmente o conteúdo da fé ou para complementar aquilo que a fé deixa aberto” (STEIN, 1999a, p.212).

O ponto central de sua contribuição é a antropologia dual, ela faz a comparação da diferença essencial entre as características de ser mulher e ser homem em sua concretude. Leva em conta que tanto o homem como a mulher são seres humanos e têm seus direitos e deveres, mas ao mesmo tempo são diferentes. Não somente o corpo é estruturado de maneira diferente, não somente diversas são algumas funções fisiológicas particulares, mas também a vida do corpo é diferente, o relacionamento da alma com o corpo não é o mesmo. É diferente o relacionamento do espírito com a sensibilidade, como interação da potência espiritual entre eles (ALES BELLO, 2004a).

A diferença dos gêneros consiste em questionar de que maneira a vida de um e de outro surge, e consequentemente intervir do ponto de vista pedagógico. Apresenta algumas particularidades fundamentais da distinção: “à espécie feminina corresponde unidade, integridade de toda a personalidade psíquica-física, o desenvolvimento harmônico das forças (potência); e a espécie viril se destaca pela potencialização máxima de forças isoladas” (STEIN, 1999a, p.206).

Tanto a mulher como o homem apresentam traços estruturais humanos, mas é diferente o modo de se comunicarem e se colocarem em relação ao outro e ao mundo cultural. Cada um, na sua interioridade, no seu modo de ser deixará uma marca peculiar na construção de si mesmo e da realidade, pois na essência, têm os mesmos potenciais humanos, o que os diferencia é a relação que cada gênero estabelece em relação à alma com o corpo e com o espírito, porque cada um tem sua constituição diversa e, consequentemente, terá um modo peculiar de lidar com sua corporeidade, e eles terão características estruturais diversas que poderão ser atualizadas em cada pessoa individualmente. O homem tem o impulso de conhecer, e se apossar desse objeto que deseja até que possa realizá-lo. Sem pausa e moderação, cultiva apenas uma tarefa a fundo, e assim abandona as outras, podendo levar a uma atitude de tirania, ou seja, domínio brutal (sobre todas as

criaturas, mas, especificamente sobre a mulher); e a mulher por ter uma tendência de ser disponível, e se doar no cuidado do outro, pode também acabar se degenerando em uma escravidão ao homem, e no afundamento do espírito na vida do corpo e dos sentidos (STEIN, 1999a, p. 209; ALES BELLO, 2007, p.93).

Ao fazer a análise da dualidade, é preciso retornar o olhar ao contexto histórico, social e particular de cada pessoa, conhecer o seu núcleo profundo e irrepetível. Assim, se pode chegar à alma espiritual (STEIN, 1999a).

Qual seria o destino do homem e da mulher no contexto social? O que deve ser levado em consideração é que ambos foram criados para se complementarem e ajudarem na realização de si mesmos, e tentar lidar com os obstáculos que surgirem no caminho devido a suas diferenças, pois tanto um como outro têm responsabilidade diante da alteridade (STEIN, 1999a). Como se pode ver que ambos têm diversidades ao caracterizar corpo, psique e espírito, mas que a origem destes contrastes, e, entretanto, a solução do problema, pode ser encontrada no terreno ético-religioso, em particular na tradição hebraico-cristã. Há possibilidade de conhecer a correspondência humana experimentada na relação com o Filho de Deus que passou a fazer parte concreta da história como homem, de maneira tal que sua presença plasme o íntimo de ambas as almas e, percorrendo toda a pessoa, na sua atividade espiritual, e na relação social, favorecendo a constituir uma cultura marcada por certa correspondência com o humano que só algo divino pode proporcionar (MAHFOUD, 2005).

Ao tratar de comunidade familiar, não se fala de domínio do homem sobre a mulher, mas de viverem em companhia, e que possam auxiliar de modo harmônico, a completude e a reciprocidade no desenvolvimento de suas características psicofísicas e espirituais para constituição de uma natureza íntegra. É necessário também que ambos sejam apoiados em uma ética aberta à dimensão religiosa.

Muitos dos problemas surgidos na vida da comunidade, que chamamos de enfermidade, de anormalidade e de problema educacional advêm do pecado original, sendo esta a chave interpretativa onde inicia a desordem do mundo, e nascem outros conflitos, mesmo aqueles entre “irmãos e irmãs” (STEIN, 1999a, p.209; ALES BELLO, 2007, p.97). Então, o pecado obscurece a comunidade em viver em paz um com o outro, pois predomina o desejo de domínio de um sexo sobre o outro. Por isso, o trabalho de formação necessita abranger a meta sobrenatural.