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Correição Parcial

No documento Apostila RECURSOS (páginas 67-71)

7.3 RECURSOS EM ESPÉCIE

7.3.9 Correição Parcial

7.3.9.1 História

A correição parcial surge no Brasil com o Decreto nº 9.623, de 1911, que tratava da organização judiciária no Distrito Federal. O art. 142 rezava que, se vier ao conhecimento do Conselho Supremo ou da Procuradoria-Geral "fato grave que exija correição parcial em qualquer ofício da justiça, deverá aquele

efetuá-Ia imediatamente, qualquer que seja a época do ano".

A citada norma esclarecia que a correição era destinada a corrigir "omissão de deveres

atribuída aos juízes e funcionários da justiça, ou para emenda de erros, ou abusos, contra a inversão tumultuária dos atos e fórmulas da ordem legal dos processos, em prejuízo do direito das partes".

O Decreto-lei nº 2.726, de 31/10/1940, determinou ao Corregedor-Geral do Tribunal de Justiça da Capital da República a competência para o julgamento das "correições parciais em autos, para a emenda

de erros, ou abusos, que importem na inversão tumultuária dos atos e fórmulas da ordem legal do processo, quando para o caso não haja recurso".

O inciso II do art. 5º da Lei nº 1.533/51 exclui a possibilidade de mandado de segurança se for possível a apresentação de correição.

68 O art. 127 da Lei Complementar n2 35/79 menciona funções disciplinares e de correição. O art. 129 da mesma norma faz referência ao fato de que se o magistrado estiver no exercício de correição, não terá direito a nenhuma vantagem pecuniária.

Na CLT, encontra-se a correição parcial nos arts. 682, XI, 678, I, d, 2, e 709, II. Prevê a alínea b, do inciso I do art. 96 da Constituição que compete privativamente aos tribunais organizar suas secretarias e serviços e os dos juízos que lhes forem vinculados, velando pelo exercício da atividade correicional respectiva.

7.3.9.2 Denominação

São empregadas as seguintes denominações: correição parcial (art. 682, XI, da CLT, art. 52, II, da Lei n2 1.533/51) ou reclamação correicional (art. 709, II, da CLT). Moniz de Aragão (1949, t. V: 236) chega a utilizar a expressão recurso clandestino, por não estar previsto em lei. Entendem outros autores que se trata de recurso censório, dada a característica ditatorial da medida.

Correição provém do latim correctio, que significa corrigir, reformar, eliminar erros.

A correição parcial não é prevista em lei, apenas são feitas menções na lei a sua existência, normalmente quanto à competência para julgá-Ia. O inciso II do art. 709 da CL T informa que é de competência do Ministro Corregedor o julgamento da reclamação correicional.

O inciso XI do art. 682 da CLT declara a competência do juiz presidente do tribunal regional para decidir correição parcial. Não se dará mandado de segurança quando o despacho ou decisão judicial possa ser modificado pela via da correição (art. 52, II, da Lei nº 1.533/51).

Na prática, usam-se as expressões correição parcial e reclamação correicional, com maior prevalência da primeira expressão.

7.3.9.3 Conceito

A correição parcial é o remédio processual destinado a provocar a intervenção de uma autoridade judiciária superior em face de atos tumultuários do procedimento praticados no processo por autoridade judiciária inferior.

Ato tumultuário da boa ordem processual é o que não observa as regras legais previstas para o processo, como, por exemplo, retirar a contestação do processo, quando ela já foi apresentada e já se encontra juntada aos autos.

Há que se ressaltar que o juiz tem ampla liberdade na direção do processo, podendo determinar qualquer diligência que julgar necessária ao esclarecimento do feito (art. 765 da CLT). O ato tumultuário não pode, porém, ser confundido com a hipótese descrita no art. 765 da CLT, que permite ao juiz determinar qualquer diligência que julgar necessária, de modo que a correição parcial vai ocorrer em poucos casos.

7.3.9.4 Natureza jurídica

Melhor estudando o assunto, entendo que a natureza jurídica da correição parcial não é de recurso.

O art. 893 da CLT que trata dos recursos não a enumera como recurso, além do que, se fosse recurso, o prazo seria de oito dias para sua interposição. O art. 496 do CPC também não a indica como recurso.

69 O TST já entendeu que "a correição parcial não é recurso, não visa a corrigir erro de julgamento

e não pode ser exercida quando existe para a hipótese, recurso previsto em lei" (TST AG RC 7595/90.6, Ac.

SDI 1280/90.1,j. 04/12/90, ReI. Min. Orlando Teixeira da Costa, in LTr 55/8-964).

Inexiste preparo na correição, quer seja de pagamento de custas, quer de depósito recursal, nem mesmo existem contrarrazões.

A natureza da correição parcial é de incidente processual e não de recurso, de uma providência de ordem disciplinar, inclusive no que diz respeito aos procedimentos atinentes a impedir atos tumultuários existentes no processo.

Trata-se mais de um procedimento administrativo, previsto nos regimentos internos dos tribunais, que não se presta a modificar situações às quais já se operou a preclusão. Tem mais importância o comportamento do juiz no processo do que o ato jurisdicional praticado. Não é julgada por um colegiado, mas de forma unipessoal, pelo corregedor. Não pode interferir na independência do juiz, além de ser incabível quando haja recurso específico.

A correição parcial diz respeito a ato do juiz e não do tribunal. Não servirá a correição como meio preventivo de futuros erros, mas como meio corretivo.

A correição pode ser classificada em:

a) geral ou ordinária, que é realizada uma vez por ano nas Varas ou nos Tribunais Regionais;

b) extraordinária, que é feita quando necessário;

c) parcial, em que o corregedor toma conhecimento de uma situação particular, d) denunciada pela pessoa interessada, indicando erro de procedimento do juiz.

7.3.9.5 Requisitos

Três são os requisitos para a admissão da correição parcial: a) o ato deve ser atentatório da boa ordem processual; b) inexista recurso contra esse ato;

c) que haja prejuízo processual à parte decorrente do referido ato. lnexistindo prejuízo processual, não há que se falar em correição.

7.3.9.6 Competência

O inciso II do art. 709 da CL T estatui que o Ministro Corregedor do TST decidirá reclamações contra atos atentatórios da boa ordem processual praticados pelos Tribunais Regionais e seus Presidentes, caso não haja recurso específico.

O inciso XI do art. 682 da CLT estabelece a competência dos Presidentes dos Tribunais Regionais para exercer correição, pelo menos uma vez por ano, sobre as Varas, ou parcialmente sempre que for necessário. Nos tribunais regionais maiores, divididos em turmas, há um corregedor, sendo que este irá, então, decidir a correição parcial contra os juízes das Varas e exercer a correição periodicamente nas Varas, pelo menos uma vez por ano.

O inciso I do art. 678 da CLT prevê a competência do Tribunal Pleno, quando o Tribunal Regional não for dividido em turmas, para julgar em única ou última instância as reclamações contra atos administrativos de seu Presidente ou de qualquer de seus membros, assim como dos juízes de primeira instância e de seus funcionários (d, 2). O STF decidiu que as correições parciais dirigidas contra os juízes de direito, no exercício da jurisdição trabalhista, serão julgadas pelos Tribunais de Justiça, se a falta for

70 disciplinar. Se a questão for relativa à ordem processual, a competência será do corregedor do tribunal trabalhista em cuja área estiver judicando aquele magistrado.

7.3.9.7 Cabimento

A correição parcial é normalmente utilizada para corrigir erros, abusos e atos contrários à boa ordem processual e que importem em atentado a fórmulas legais do processo, na hipótese da inexistência de recurso ou outro meio processual específico. É cabível contra vícios de atividade (errores in procedendo) e não contra vícios ou erros do juízo (errores in iudicando).

Seria muito mais fácil enumerar os casos em que a correição não é cabível do que falar das hipóteses de cabimento, justamente por não haver previsão na lei e diante do art. 765 da CLT. Entretanto, a correição parcial ficará muito mais no âmbito do juízo subjetivo do corregedor, dada a inexistência de disposição expressa na lei.

Pode também ser utilizada quando o juiz não julga o processo, ficando adiado sine die ou não se toma nenhuma providência nesse sentido.

Não será cabível a correição quando do ato couber recurso. Em se tratando de decisão interlocutória, também não caberá correição parcial, pois da decisão definitiva poderá a parte apresentar recurso se o desejar. Da mesma forma, não caberá correição contra sentença, principalmente contra decisão com trânsito em julgado.

Se o ato praticado ferir direito líquido e certo, caberá mandado de segurança e não correição parcial.

Os atos praticados deverão ser do juiz, em qualquer fase processual, do juiz de direito no exercício da competência trabalhista e dos tribunais ou seus juízes.

A correição parcial prevista nos regimentos internos dos tribunais é inconstitucional, pois o inciso I do art. 22 da Constituição dispõe que cabe à União legislar sobre processo e não os regimentos internos dos tribunais.

7.3.9.8 Prazo

A maioria dos tribunais fixa em seus regimentos internos o prazo de cinco dias para a interposição de correição parcial, pois não há previsão na lei nesse sentido, nem sequer quanto à correição. O prazo de cinco dias começa a contar a partir da publicação do ato ou despacho no órgão oficial, ou da ciência inequívoca pela parte dos fatos relativos à impugnação.

7.3.9.9 Procedimento

A petição inicial deverá conter:

a) a designação da autoridade, que será o juiz corregedor, ou juiz presidente do Tribunal Regional ou Ministro Corregedor do TST;

b) a qualificação do autor e a indicação da autoridade a que se refere a impugnação; c) o fato e os fundamentos jurídicos do pedido;

d) o pedido, com suas especificações;

e) a indicação das provas necessárias à instrução dos fatos alegados; f) data e assinatura do autor, ou seu representante.

71 A petição inicial e os documentos que a acompanham deverão ser apresentados em tantas vias quantas necessárias ao processamento e à instrução da reclamação.

Se o corrigente tiver advogado, deverá ser juntada procuração, com poderes específicos, conforme orientação do regimento interno do TST. Não havendo poderes específicos para a apresentação da correição, ela não pode ser conhecida.

O pedido de reconsideração do despacho não irá suspender o prazo para correição. A apresentação da correição não suspende o curso do processo principal.

O juiz de primeiro grau, quando recebe a correição parcial, não poderá negar seguimento a tal remédio, mesmo que esteja fora do prazo.

Autuada a correição, será enviada a cópia da inicial e dos documentos ao corrigido para que a autoridade em dez dias se manifeste sobre o pedido, prestando as informações necessárias. As informações serão também enviadas por ofício.

A inicial será indeferida se não for o caso de correição parcial ou se for inepta, não presentando causa de pedir, fundamento para a correição.

O corregedor deverá decidir no prazo de dez dias. O julgamento é feito pelo próprio corregedor e não por órgão colegiado. Trata-se de julgamento realizado por juízo monocrático. Nos tribunais regionais, será feito pelo corregedor ou pelo juiz presidente do tribunal (nos tribunais não divididos em turmas).

Das decisões do Ministro Corregedor-geral caberá agravo regimental (§ 1 º do art. 709 da CLT) no prazo de cinco dias, destinado às seções especializadas ou ao Pleno do TST. Nos Tribunais Regionais da decisão do corregedor ou do juiz presidente no exercício da corregedoria, caberá agravo regimental para o pleno, seção ou grupo de turmas, conforme o caso, geralmente também no prazo de cinco dias. Dessa decisão não cabe nenhum recurso, segundo o TST, pois já houve o duplo grau de jurisdição.

A parte que não participou da relação correicional terá direito de apresentar recurso da decisão quando da sentença final.

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