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Embargos protelatórios

No documento Apostila RECURSOS (páginas 76-79)

7.3 RECURSOS EM ESPÉCIE

22.19.11 Embargos protelatórios

Antigamente, os embargos protelatórios nos tribunais eram sancionados com a pena de 1% sobre o valor da causa (parágrafo único do art. 538 do CPC). Havia dúvida sobre a aplicação do referido preceito no primeiro grau. Nós sempre o aplicamos, pois, se eram protelatórios, havia nítida intenção de atrapalhar a celeridade do processo, devendo o juiz reprimir qualquer ato contrário à dignidade da justiça (art. 125, III, do CPC).

77 A Lei nº 8.950 trouxe justamente essa modificação, dando nova redação ao parágrafo único do art. 538 do CPC, no sentido de que, "quando manifestamente protelatórios os embargos, o juiz ou o tribunal, declarando que o são, condenará o embargante a pagar ao embargado multa não excedente de um por cento sobre o valor da causa". Ao se empregar a palavra juiz, quis referir-se o legislador ordinário ao juiz de primeiro grau. Assim, a multa, quanto aos embargos protelatórios, deve ser aplicada tanto na Vara como nos tribunais.

Manifesto vem do latim manifestu, com o significado de patente, claro, evidente, notório, flagrante.

Protelar é retardar, impedir o andamento normal do processo.

Havendo mais de uma ré no pólo passivo e ambas apresentando os embargos, cada uma fica obrigada a pagar a multa de 1 % e não apenas uma delas, pois cada embargante incidiu em embargos protelatórios.

. O parágrafo único do art. 538 do CPC foi mais além ao especificar que, "na reiteração de

embargos protelatórios, a multa é elevada até dez por cento, ficando condicionada a interposição de qualquer outro recurso ao depósito do valor respectivo". A primeira observação é de que são cabíveis

embargos de declaração de embargos de declaração, desde que os segundos versem sobre ponto que não foi examinado em relação ao primeiro, mas em que haja pedido nesse sentido.

Se os embargos dos embargos forem protelatórios, a multa de 1% sobre o valor da causa é elevada até 10%, podendo ser fixada tanto em 2% como até 10%, mas não 11%. Esse preceito se aplica, porém, apenas na reiteração de embargos protelatórios na segunda decisão de embargos declaratórios e não em função da primeira, pois a lei emprega a expressão na reiteração. Logo, na primeira decisão, a elevação da multa não se aplica e será de apenas 1 %.

A apresentação de embargos de declaração no tribunal não implica que houve reiteração de embargos, se estes já foram apresentados na primeira instância. Os embargos apresentados no tribunal não seriam reiteração de embargos protelatórios, pois ainda não tinham sido apresentados naquela corte. Logo, não é possível aplicar a multa de 10%, mas de 1%.

Aquele que apresenta os embargos dos embargos, se os últimos forem protelatórios, deverá depositar o valor da multa fixada pelo juiz em até 10% para poder recorrer. Trata-se de um pressuposto objetivo de admissibilidade de recurso interposto após os embargos de declaração, que não pode deixar de ser cumprido, sob pena de ser negado seguimento ao apelo. Não fere tal orientação o inciso LV, do art. 5º, da Constituição, pois a ampla defesa é exercida de acordo com os meios e recursos a ela inerentes, dependendo da disposição da legislação ordinária sobre o tema.

Tem duas partes o parágrafo único do art. 538 do CPC, A primeira parte trata dos embargos protelatórios, em que, se o tribunal declarar que o são, aplicará ao embargante a multa de 1 % sobre o valor da causa. Não trata a primeira parte do artigo de que, para se conhecer do recurso, é preciso o depósito do referido valor, que corresponderia a pressuposto recursal.

A segunda parte da redação do artigo em análise declara que, se houver a reiteração de embargos protelatórios, ou o que se chama de embargos dos embargos, a multa será elevada a até 10%, ficando apenas nesse caso condicionada a interposição de qualquer outro recurso ao depósito do valor respectivo. A segunda parte do parágrafo único, no que diz respeito ao pressuposto recursal para recorrer, não se refere ao depósito da multa de 1%, mas apenas ao depósito da multa de até 10%.

Se inexistisse ponto dividindo as duas orações, poder-se-ia entender que o depósito deveria ser feito em relação a qualquer das duas multas. Isto, porém, não é o caso, pois o depósito só pode ser feito em relação à elevação da multa e não quanto à primeira, visto que o artigo nada menciona nesse aspecto.

A palavra respectivo contida no final do referido parágrafo refere-se apenas à reiteração dos embargos protelatórios e não à multa de 1%, pois está inserida na segunda oração do parágrafo, não fazendo referência à primeira parte do parágrafo. A expressão o valor respectivo diz respeito ao

78 condicionamento à interposição de qualquer outro recurso, porém apenas em relação à multa de 10% e não à de 1 %. Assim, não é preciso depositar a multa de 1 % para poder recorrer.

É, portanto, desnecessário o depósito da multa de loio em embargos protelatórios para a apreciação de recurso. O depósito da multa de 10% é, porém, imprescindível para o conhecimento do recurso, por se tratar de pressuposto objetivo do recurso.

Não deveria a lei dizer que a multa na segunda vez é de até 10%, posto que se a multa é protelatória não deve haver gradação e o porcentual deve ser o máximo de 10%.

Caso os embargos de declaração sejam acolhidos parcialmente, não pode ser aplicada a multa, ainda que a parte não acolhida tenha natureza protelatória, pois uma parte do tema não tem.

O depósito da multa de 10% deve ser comprovado com o recurso, no respectivo prazo, sob pena de deserção.

As multas referidas no parágrafo único do art. 538 do CPC são aplicáveis tanto ao reclamado, quanto ao reclamante, desde que os embargos sejam protelatórios. O reclamante não gozará da isenção da referida multa, pois o art. 3º da Lei nº 1.060/50 a ela não se refere, mas a honorários de advogado (inciso V). Pode-se entender que o reclamante à primeira vista não teria interesse em procrastinar o andamento do feito, porém, se a questão já foi decidida e deve ser objeto de recurso, os embargos apresentados para discutir o que já está sacramentado na decisão serão protelatórios e deverão ser apenados com a referida multa.

Em todo caso, a multa prevista no parágrafo único do art. 538 do CPC deve ser aplicada sobre o valor da causa devidamente corrigido, sob pena de ser inócua. Incide multa sobre o valor da causa e não sobre o valor da condenação ou o valor arbitrado na sentença.

Será possível a aplicação cumulativa da multa do art. 601 do CPC e da por litigância de má-fé com a de embargos protelatórios? Entendo que não, pois seria bis in idem. Deveria ser aplicada apenas a multa prevista para embargos protelatórios, por ser específica e não as demais.

Parece que, mesmo que os embargos sejam protelatórios, seja na oposição pela primeira vez seja em sua reiteração, o prazo continuará interrompido, recomeçando a correr da nova intimação da decisão, pois o art. 538 do CPC menciona que sua interposição interrompe o prazo para outros recursos, inclusive para a outra parte. No sistema do CPC de 1939, o § 5º do art. 862 do referido código rezava que os embargos protelatórios não suspenderiam o prazo para o recurso subsequente. A lei hoje nada dispôs nesse sentido.

Isso quer dizer que mesmo que forem protelatórios os embargos de declaração irão interromper o prazo para o recurso seguinte, pois não foi repetida no CPC de 1973 a disposição do CPC de 1939. Não serão, contudo, protelatórios os embargos para efeito de pré-questionamento (RTJ 130/401). Os embargos de declaração manifestados com notório propósito de pré-questionamento não têm caráter protelatório (S. 98 do STJ). Os embargos opostos a destempo não interromperão, porém, o prazo para outros recursos.

22.19.12 Processamento

O processamento dos embargos não é de recurso, mas de mero incidente processual.

Os embargos serão apresentados por petição, como menciona o art. 536 do CPC, dirigida ao juiz ou relator (no segundo grau), em que se irá indicar o ponto obscuro, contraditório ou omisso. Não se conhece de embargos de declaração que forem opostos mediante simples cota lançada nos autos (RJTJESP 109/320).

A parte contrária não é intimada da interposição dos embargos, nem tem direito de oferecer contrarrazões.

79 Os embargos de declaração serão julgados pelo juiz que proferiu a decisão.

O julgamento dos embargos de declaração na primeira instância deverá ser feito na primeira audiência após sua apresentação. Melhor seria dizer no primeiro dia útil seguinte.

Nos tribunais, os embargos serão julgados na primeira sessão subsequente à sua apresentação. A decisão ou acórdão que for lavrado passará a fazer parte integrante da sentença ou acórdão embargado.

O art. 554 do CPC dispõe que nos tribunais os embargos de declaração não comportam sustentação oral.

No documento Apostila RECURSOS (páginas 76-79)