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Embargos de Declaração

No documento Apostila RECURSOS (páginas 71-74)

7.3 RECURSOS EM ESPÉCIE

7.3.10 Embargos de Declaração

7.3.10.1 História

Os embargos de declaração não são oriundos do direito romano, mas já eram previstos nas Ordenações Afonsinas (1446), Manuelinas (1512) e Filipinas (1603). Havia a possibilidade de o juiz declarar a sentença definitiva, quando houvesse dúvida ou palavras "escuras ou intrincadas".

O Regulamento 737, de 1850, já previa em nosso ordenamento jurídico os embargos de declaração nos casos de obscuridade, ambiguidade, contradição ou omissão da sentença.

Alguns códigos de processo regionais também estipulavam os embargos de declaração, como os de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, em decorrência de a Constituição de 1891 dar competência para o legislador estadual sobre direito processual civil.

O Código de Processo Civil de 1939 admitia os embargos em razão de obscuridade, omissão ou contradição da sentença, tanto em primeiro grau como em grau superior.

Na CLT somente com a Lei nº 2.244, de 23/06/54, é que foi possível a oposição de embargos declaratórios contra acórdãos do Pleno ou das Turmas do TST.

O CPC de 1973 tratava dos embargos nos arts. 464, em primeiro grau, e 535 a 538, em segundo grau. Atualmente, a matéria é versada nos arts. 535 a 538 do CPC, A CLT versa sobre o tema no art. 897-A.

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7.3.10.2 Denominação

Embargar provém do latim imbaricare, de barra. A palavra embargos é derivada de embargar. No aspecto processual, é opor obstáculo, podendo ser de declaração, do devedor, de terceiros etc.

7.3.10.3 Natureza jurídica

No caso dos embargos de declaração estes vêm a ser um impedimento à decisão judicial, visando sanar omissão, obscuridade ou contradição existente na decisão ou tendo por objetivo pré- questionar determinada matéria que irá ser renovada na instância seguinte.

O inciso IV do art. 496 do CPC dispõe que os embargos de declaração são espécie do gênero recurso. O art. 893 da CLT não prevê, porém, os embargos de declaração como espécie de recurso. No entanto, os embargos de declaração vêm apenas corrigir certos aspectos da sentença, mas não a reformulá-la ou modificar seu conteúdo, nem devolvem o conhecimento da matéria versada no processo. De outro lado, se tivessem natureza recursal haveria contrarrazões, assim como pagamento do depósito recursal e custas, o que inocorre.

Não visam os embargos de declaração a alterar o julgado. Trata-se apenas de meio de correção e integração, de um aperfeiçoamento da sentença, sem possibilidade de alterar o seu conteúdo, porém não para retratação. O juiz não vai redecidir, mas vai tornar a se exprimir sobre algo que não ficou claro.

Assim, entendemos que os embargos de declaração correspondem a incidente processual e não propriamente a recurso, tendo por objetivo o aperfeiçoamento da decisão.

Os embargos de declaração são forma de integração da decisão e não de substituí-Ia por outra.

7.3.10.4 Cabimento no processo do trabalho

O art. 893 da CLT menciona quais os recursos cabíveis no processo do trabalho, mas nada explicita sobre embargos de declaração. A CLT faz menção sobre a competência para julgá-los, como a do Tribunal Pleno do TST (art. 702, II, e), das Turmas do TST (art. 702, § 2º, d). A Lei nº 7.701/88 revogou os artigos referidos, especificando os embargos para o TST em relação à Seção de Dissídios Coletivos (art. 2º, II, d), da Seção de Dissídios Individuais (art. 3º, III, d) e para as Turmas (art. 5º, d). O art. 897-A da CLT passa a tratar de embargos de declaração.

7.3.10.5 Cabimento

O juiz, ao publicar a sentença, cumpre e esgota seu ofício jurisdicional, só podendo modificá-la em caso de embargos de declaração (art. 463, II, do CPC), ou de erros evidentes (art. 833 da CLT).

Os arts. 464 e 465 do CPC foram revogados pela Lei nº 8.950, de 13/12/94, o que poderia levar a crer que os embargos não são cabíveis no primeiro grau. Entretanto, vários artigos do CPC com nova redação determinada pela Lei nº 8.950/94 apontam em sentido contrário.

O inciso II do art. 535 do CPC menciona que os embargos são cabíveis quanto a ponto omitido pelo juiz ou tribunal. O art. 536 do CPC esclarece que a petição é dirigida ao juiz ou relator. O art. 537 reza que o juiz julgará os embargos em certo prazo e nos tribunais o relator os colocará em mesa. O parágrafo único do art. 538 esclarece que, em embargos protelatórios, o juiz ou o tribunal devem declarar tal fato.

Assim, verifica-se que, quando o legislador quis referir-se ao juiz, estava querendo dizer do cabimento no primeiro grau e, quando empregou as expressões tribunal ou relatar estava tratando dos embargos nos tribunais, em qualquer instância, até no STF. O art. 897-A da CLT menciona que os embargos de declaração caberão da sentença ou acórdão. Sentença é a decisão do primeiro grau. Acórdão é o julgamento feito pelos tribunais.

73 Assim, verifica-se que os embargos são cabíveis tanto no primeiro grau (na Vara do Trabalho) como nos tribunais (TRT, TST, STF). Não há, portanto, modificação na forma da sistemática anterior, apenas quanto a questões procedimentais, inexistindo os artigos do CPC que tratavam dos embargos em primeiro grau, como ocorria com os revogados arts. 464 e 465 do CPC. Sob o aspecto de sistematização, o CPC trata apenas dos embargos de declaração, tanto em primeiro grau, como nos tribunais, nos arts. 535 a 538, do Capítulo V do CPC, que versa sobre embargos de declaração.

Qualquer decisão poderá, portanto, ser atacada por meio de embargos de declaração, desde que se trate de sentença ou acórdão e não de mero despacho, como se verifica do inciso I do art. 535 do CPC, tanto nas Varas como nos Tribunais, em qualquer fase, mesmo na execução. Para tanto, haverá necessidade de o juiz ter proferido uma sentença ou acórdão. Do próprio voto não caberá embargos de declaração se não constar do acórdão.

O art. 897-A da CLT faz referência a sentença ou acórdão. Quando menciona "decisão" na parte final, refere-se à sentença ou acórdão e não a qualquer decisão, como nos despachos.

Cabem os embargos de declaração tanto nos dissídios individuais, como nos coletivos.

7.3.10.6 Hipóteses

Com a Lei nº 8.950/94, houve modificação nas hipóteses dos embargos de declaração, pois antes se admitiam as seguintes situações: obscuridade, dúvida, contradição ou omissão da decisão, como se verificava da redação dos antigos arts. 464 e 535 do CPC.

O art. 535 do CPC estabelece que os embargos são cabíveis quando: a) a sentença ou acórdão contenha obscuridade ou contradição;

b) for omitido ponto sobre o qual devia pronunciar-se o juiz ou tribunal. O art. 897-A da CLT não regula o tema, sendo aplicável o CPC.

Caberão os embargos de declaração de sentença ou acórdão, em que se extingue o processo com ou sem julgamento do mérito. De mero despacho não caberão os embargos de declaração, pois não têm aqueles natureza de sentença.

A Orientação Jurisprudencial nº 74 da SDI-II do TST entende que cabem embargos de declaração de despacho monocrático, que, porém, não é sentença ou acórdão. Podemos resumir as hipóteses dos embargos de declaração em apenas três: obscuridade, contradição e omissão. Não mais se fala em dúvida como hipótese de embargos de declaração, a nosso ver com razão, pois aquela inexistia na sentença, mas, no intérprete dela, que não a compreendia perfeitamente, seja quanto à validade, seja quanto à realidade de uma questão.

A dúvida, portanto, era subjetiva, pois a sentença não pode ser entendida como um diálogo entre o juiz e a parte. Voltamos ao sistema do art. 862 do CPC de 1939, que tratava de embargos de declaração apenas quando houvesse ponto obscuro, omisso ou contraditório na sentença.

Obscuridade vem do latim obscuritas, tendo o sentido de falta de clareza nas ideias e nas expressões.

Há obscuridade quando falta clareza na exposição da sentença, de modo a torná-la ininteligível. A obscuridade tem aspecto subjetivo. O que é obscuro para uma pessoa pode não ser para outra.

Existe contradição quando se afirma uma coisa, e ao mesmo tempo, a mesma coisa é negada na decisão. Inexiste contradição, contudo, se o juiz examina a prova dos autos com base no depoimento de certa testemunha, que julgou ser a mais convincente, e não adotou o depoimento de outra, como forma de decidir. No caso, a matéria não é de embargos, mas de recurso.

74 Contradição existirá se o juiz determinar o pagamento de horas extras e depois disser que elas são indevidas, pois o autor não trabalhou além da oitava hora diária. Não será possível a interposição de embargos de declaração da ementa do acórdão, pois a ementa tem caráter meramente informativo da decisão ou até mesmo didático.

Entretanto, se a ementa estiver em contradição com o acórdão, serão possíveis os embargos, porém prevalecerão a fundamentação e o dispositivo do julgado. A ementa é uma síntese do julgado, podendo conter ensinamento doutrinário e jurisprudencial que poderá sobejar, em princípio, o próprio âmbito do decisum. A contradição, entretanto, deve dizer respeito à fundamentação e ao dispositivo, mas da própria sentença ou acórdão e não destes com outro acórdão ou sentença.

Haverá, ainda, contradição entre proposições da parte decisória, desde que conflitantes entre si; entre os fundamentos e o dispositivo; entre o teor do acórdão e o verdadeiro resultado do julgamento.

Controvérsia é polêmica, debate, discussão, disputa. Não se confunde com contradição, que é incoerência, incongruência. Controvérsia não é matéria de embargos de declaração, pois não tem previsão no art. 535 do CPC,

Dá-se a omissão quando o juiz ou o tribunal deixa de se pronunciar sobre certo ponto sobre o qual deveria pronunciar-se, inclusive de ofício. Exemplo: o autor pediu horas extras, mas as integrações são autorizadas apenas nas férias e 13º salário, esquecendo-se o juiz de incluí-las nos DSR's. Essa parte da decisão terá por objeto os embargos de declaração, em função do pedido. Em relação à omissão é que pode haver pré-questionamento sobre determinado tema que se pretenda discutir na instância superior.

Os embargos não poderão ser utilizados como meio de reexame da causa, ou como forma de consulta ou questionário quanto a procedimentos futuros. O juiz não é obrigado a rebater todos os argumentos trazidos pela parte, bastando apenas decidir fundamentadamente, ainda que se utilize apenas de um fundamento jurídico. O mesmo ocorre em relação a questões novas que anteriormente não foram ventiladas.

Não tem o juiz obrigação de responder um a um os argumentos da parte, principalmente quando já apresentou e fundamentou sua decisão. Ao ser feito o julgamento, automaticamente foram excluídas outras questões, que lhe são contrárias. A decisão não é um diálogo entre o juiz e as partes ou seus advogados. Se o juiz fundamentou sua decisão, esclarecendo os motivos que lhe levaram a firmar seu convencimento, o seu raciocínio lógico, a prestação jurisdicional foi devidamente concedida às partes. Se os fundamentos estão certos ou errados, a matéria não é de embargos de declaração, mas do recurso próprio. A Constituição exige fundamentação e não fundamentação correta ou que atenda à tese da parte. Os embargos de declaração não têm por objetivo que o processo seja julgado duas vezes em relação à mesma matéria, nem têm efeito infringente, de tomar a examinar a matéria já julgada. Revisão da decisão somente pode ser feita por intermédio do recurso próprio.

Há, também, a possibilidade da interposição de embargos de declaração de sentença de embargos de declaração; os novos embargos terão por limite a decisão proferida nos embargos de declaração e não a decisão primitiva.

É claro que o juiz poderá prestar esclarecimentos por meio de embargos, se assim entender, que servirá para o completo entendimento da decisão.

No documento Apostila RECURSOS (páginas 71-74)