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URBANO-INDUSTRIAL CAMPINENSE – 1960/

CRESCIMENTO PERCENTUAL

DO NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS NÚMERO DE EMPREGOS CRESCIMENTO PERCENTUAL DO EMPREGO 1980 390 - 7.824 - 1985 726 86,1 10.280 31,4 1992 931 28,2 13.964 35,8

Fonte: (PMCG) Perfil do Município 1984 e Campina Grande em Dados – 1985/92.

Segundo dados da prefeitura municipal, existiam, em 1980, 390 estabelecimentos industriais no município; cinco anos depois, havia 726 estabelecimentos industriais em Campina Grande, um crescimento de 86% no número de estabelecimentos e de 31% no número de empregos. Se seconsiderar que o municí- pio apresentava, na primeira metade da década, um número de estabelecimentos inferior à década de 1970 e à segunda metade da década de 198047, é possível acreditar que o crescimento

industrial desse período ocorreu a partir de 1985.

No período de expansão industrial ocorrido na segunda metade da década de 1980, pode-se constatar um pequeno cres- cimento da economia a partir de 1987, que implicou declínio do número de trabalhadores empregados na indústria campi- nense. Mas esse declínio não afetou o nível de emprego geral do município, porque os demais setores da economia tiveram um incremento positivo, anulando o negativo da indústria. Utilizando os dados da Relação Anual das Informações Sociais (RAIS), pode-se evidenciar a configuração da estrutura indus- trial do município de Campina Grande.

47Esta afirmação é correta, quando se comparam os dados da PMCG – que apresenta

para 1982 e 1984 existência de 334 e 340 estabelecimentos industriais respectiva- mente – com os dados do cadastro industrial da Paraíba. Evidentemente, podem

TABELA 3.13 – Participação do Emprego Formal segundo setores

de atividade econômica em Campina Grande –1985/1989.

1985 1986 1987 1988 1989 INDÚSTRIA 33,7 35,2 31,2 32,3 31,3 SERVIÇOS + AGRICULTURA 66,3 64,8 68,8 67,7 68,7 TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 Fonte: RAIS.

Os dados evidenciam crescimento na participação da indústria no emprego formal total entre os anos 1985 e 1986. Nos últimos anos, a participação estabiliza-se em aproximada- mente 31%. Essa evolução deve-se às taxas de crescimento da indústria que, no período, oscilaram entre positivo e negativo, enquanto o setor de serviços cresceu nos quatro anos.

TABELA 3.14 – Taxa de crescimento anual do emprego nos setores

de atividade Econômica em Campina Grande.

SETORES 1985 1986 1987 1988 1989

SERVIÇOS E AGRICULTURA 5,7 16,7 2,4 0,7 3,6 INDÚSTRIA 13,0 -2,8 7,8 -3,9 3,4 EMPREGO TOTAL 8,2 9,8 4,1 -0,8 3,5

Fonte: RAIS.

Similar a inúmeras cidades pequenas, a administração pública direta e a autarquia ocupam significativo número de trabalhadores em Campina Grande, 17,6%, em 1989. Em seguida, vem o comércio varejista, com 14.3%, e os serviços de alojamento, alimentação, reparação, manutenção etc., com 9.5%. Esses três subsetores da economia eram responsáveis por 41,4% do emprego formal no município ao fim da década de 1980. Na indústria, o principal segmento é o da borracha, fumo, couros, peles, simila- res e diversas (5,1%) e o de produtos alimentícios, bebidas e álcool

etílico (5.1%), que respondiam, em conjunto, por pouco mais de 10% do emprego formal na economia campinense, ou 3570 postos de trabalhos em números absolutos. Essas duas indústrias empre- gavam, assim, 32.4% dos trabalhadores do setor industrial.

O fim dos anos 1980 mostra, pelas taxas de crescimento anual do emprego, uma direção declinante, que, aparentemen- te, começa a ser revertida em 1989, mas que somente é possível refutar ou confirmar, com uma análise dos anos seguintes, ou seja, para a década de 1990. O Gráfico 3.1 mostra bem essa tendência ao declínio (ver Tabelas 3.B; 3.C; 3.D e 3.E no apêndice).

GRÁFICO 3.1 – Evolução das taxas de crescimento do emprego formal,

segundo setores da economia de Campina Grande – 1986/1989.

Fonte: RAIS/MTE.

No que se refere ao número de estabelecimentos, o muni- cípio encerrou a década de 1980 com 443 a mais do que existia em 1985, representando um aumento de 25,9%. A maior parte dos 2152 estabelecimentos existentes no município era vincu- lada ao comércio varejista (35,9%), seguida pelos serviços de alojamento, alimentação, reparação etc., com 10,2%. No setor industrial, a construção (5.3%) e a indústria de produtos alimen- tícios, bebidas e álcool etílico (3.9%) apresentavam as maiores participações (ver Quadros E e F, no anexo).

Esse período de retomada do crescimento foi interrom- pido pelo processo recessivo e de reestruturação produtiva que se acentua na primeira metade da década de 1990. No entanto, os anos 1990 representam para o município a consolida- ção de uma nova inserção econômica e um novo papel na econômica da Paraíba.

Essa nova inserção econômica, reflexo das transfor- mações sociopolítica e econômica do município frente às transformações maiores na economia nordestina e brasileira, reforçou sua importância na microrregião da Borborema, embora venha ocorrendo uma redução significativa de sua importância econômica na região. Pereira (1998) já mostrou que, até os anos 1960, a relevância econômica e, principalmente, a comercial48 extrapolavam os limites da Paraíba. No entanto,

dos anos 1970 em diante, essa influência vem se reduzindo, embora ainda seja muito forte na microrregião da Borborema, que comporta mais de cinquenta municípios. O Mapa Temático 3.1 mostra a área de proeminência do município, que, embora ainda extrapole o círculo em verde escuro, o faz sem muita força econômica.

Atualmente, pode-se dizer que Campina Grande é, hoje, uma cidade industrial, comercial e, principalmente, de serviços, funcionando como polo de educação e saúde para todo o interior da Paraíba. Além disso, também é um polo difusor de conhecimentos, o seu raio de atuação ultrapassa os limites do próprio estado, com as suas duas universidades, uma federal

48Nos anos 1950, segundo Pereira (1998), Campina Grande era responsável por

4,8% de todas as vendas realizadas pelo comércio atacadista do Nordeste. Além de ser um entreposto atacadista, se constituiu como umas das princi- pais cidades industriais do interior, assumindo também função importante como centro educacional e de saúde.

e outra estadual, e várias faculdades particulares, recebendo alunos de outros estados do Nordeste, como Maranhão, Ceará e Rio Grande do Norte (IPEA, 2001).

MAPA TEMÁTICO 3.1 – Áreas de influência econômica de Campina

Grande – PB*.

* Círculo em linha pontilhada corresponde à área de maior e em linha contínua, a de menor influência. Vale ressaltar que as influências além desses círculos diminuem significativamente.

Fonte: <http://www.transportes.gov.br/bit/estados/port/pb.htm>. Acesso em: 20 mar. 2007.

3.7 À guisa de conclusão

A análise indica que a rápida urbanização de Campina Grande, ainda no início do século XX, encontrava-se vincu- lada ao comércio e à indústria algodoeira. A indústria que se

desenvolveu em Campina Grande assumia contornos signifi- cativamente tradicionais em sua formação (65,0% em 1969), que foram atenuados na década de 1970. Independentemente disso, não se pode deixar de constatar a diversificação do setor industrial, ocorrida principalmente após a citada década. A modificação da estrutura industrial campinense foi substan- cialmente determinada pelos investimentos realizados sob incentivo dos órgãos governamentais de fomento à industriali- zação, em especial, a SUDENE, via sistema 34/18. Assim, pode-se concluir que o dinamismo que atingiu a indústria de Campina Grande deve-se tanto a esse determinante externo, como a fatores de crescimento interno do município que se correla- cionaram sempre com a demanda externa, seja do algodão, do sisal, do vestuário ou do segmento metal-mecânico. Seu contínuo desenvolvimento econômico consolidou, no terceiro quarto do século passado, um setor industrial, primordialmen- te, vinculado às atividades têxtil e metal-mecânica.

Com o crescimento da população campinense, outras atividades econômicas não diretamente vinculadas à produção apresentaram rápido crescimento, possibilitando diversificação da economia. Os serviços educacionais e de saúde absorveram grande contingente de mão-de-obra de boa qualificação e possi- bilitaram ao município tornar-se fornecedor desses serviços aos municípios circunvizinhos. Campina Grande estabeleceu-se na microrregião da Borborema como um centro educacional e de saúde, pois, nesses setores, têm ocorrido substanciais aumentos da oferta de serviços nos últimos anos.

A pujança econômica do município desenvolveu-se até os anos 1970, quando passou a haver diminuição relativa do cres- cimento econômico, implicando a perda da posição hegemônica na formação da renda estadual para a capital do estado ao fim

da primeira metade dos anos 1970. Outrora detentora de parti- cipação elevada (quase 30%, nos anos 1950) na formação das rendas estaduais, o município reduziu tal participação a pouco mais de 20%, representando perda relativa de 50%, enquanto João Pessoa elevava sua participação em mais de 50%.

Mesmo apresentando perdas relativas em sua participa- ção na formação da renda estadual, o município manteve-se hegemônico no que se refere à importância (participação) de sua indústria na Paraíba. Nos anos 1970, o número de indústrias e o número de empregos somente cresceram, sempre tendo a liderança do segmento metal-mecânico e têxtil. A débâcle industrial do município iniciou-se em 1979 e durou quase uma década. A retomada do crescimento econômico e industrial deu-se na segunda metade dos anos 1980, de forma gradual e fundada em outras atividades, das quais se destacam as indús- trias calçadista, química e da borracha, como será visto mais detalhadamente no capítulo seguinte.

Diversas foram as causas da perda de dinamismo econô- mico do município, das quais se ressalta a crise econômica internacional, que repercutiu sobre a indústria municipal. A reforma tributária do fim dos anos 1960 e o sucateamento da SUDENE, que reduziu significativamente o volume de incentivos fiscais para implementação e ampliação de novos estabele- cimentos industriais, são fatores a ser também destacados. A expansão das estradas e o desenvolvimento dos transportes e das comunicações arrefeceram a importância do município como polo centro-atacadista. Além desses fatores, acrescente-se a seca do início dos anos 1980, que expulsou grande quantidade de trabalhadores rurais para a cidade, tendo Campina Grande absorvido significativa parcela desse contingente de imigrantes.

O declínio da atividade industrial campinense pode ser percebido pela redução relativa do consumo de energia, que se manteve abaixo dos níveis de 1976 durante os oito anos seguin- tes. Enquanto isso, o consumo residencial somente crescia, duplicando o consumo no período citado. Esse fato contrasta a redução relativa da indústria e dos empregos industriais, frente a um crescimento demográfico, reflexo da atração que o município vinha gerando sobre os imigrantes das cidades circunvizinhas, quiçá dos demais estados nordestinos.

Mesmo com o declínio relativo de sua participação econô- mica, o município ainda apresentava significativa importância para a indústria paraibana e nordestina. No entanto, na segunda metade da década de 1980, o setor industrial campinense passou por transformações importantes, reflexo da reestruturação produtiva do capital que se acentuava no Brasil. Nesse período, a indústria manteve-se, e ainda se mantém, responsável por aproximadamente 30% de todo o emprego formal no município.

Campina Grande sempre teve posição hegemônica na economia paraibana desde sua constituição como município até a contemporaneidade. O dinamismo econômico e a base industrial, criada na primeira metade do século XX, aliada à política de incentivos fiscais e para-fiscais concedidos pelo Estado nos anos 1960, favoreceram a continuidade do cresci- mento econômico e urbano até os anos 1970. Posteriormente à crise capitalista mundial, as secas e a crise fiscal do Estado impactaram negativamente, reduzindo bruscamente o cresci- mento econômico nos anos 1980, sem atingir necessariamente sua expansão urbana, que continuou a ocorrer. A reestrutu- ração produtiva que se acentuou nos anos 1990 abriu espaço para que as políticas de estímulo à relocalização de empresas emergissem em todas as unidades da federação brasileira,

consubstanciando-se em verdadeira guerra fiscal. O município também entra nessa guerra, enfatizando também aspectos do lugar, “da capital do trabalho” e do “maior São João do mundo”, visando atrair capitais para retomar o crescimento econômico. Essa retomada ocorreu efetivamente na segunda metade dos anos 1990, embora, no fim dos anos 1980, já se percebesse um leve crescimento no número de estabelecimentos e de emprego na economia do município.

Considerando-se as condições históricas e políticas, as estruturas produtivas existentes, o novo contexto de reestru- turação produtiva e, principalmente, as políticas pró-capital e do capital no Brasil, emerge um ambiente próprio para a descentralização da indústria trabalho-intensiva, no qual alguns estados e municípios do Nordeste e do Brasil bem souberam aproveitar. Campina Grande, contando com uma tradição histórico-produtiva e, principalmente, com os incen- tivos fiscais e para-fiscais concedidos pelos governos federal e estadual, ampliou significativamente os segmentos couro-cal- çadista e tecnológico. A reestruturação produtiva dos anos 1990 consolidou as transformações iniciadas na década anterior, em particular, a importância da indústria para o município, como também do município para o contexto produtivo regional em segmentos específicos, como será visto no próximo capítulo.

A CONFIGURAÇÃO INDUSTRIAL E