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A REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA DO CAPITAL NO BRASIL

2.4 A reestruturação produtiva no Nordeste

A região Nordeste beneficiou-se com a desconcentra- ção industrial, ocorrida nos anos 1970 e 1985, que atingiu, principalmente, os estados de São Paulo e Rio de Janeiro, mas, particularmente, as áreas metropolitanas desses estados, embora essa desconcentração tenha sido mais influenciada pela política econômica dos governos militares do que pela reestruturação

produtiva. Nos anos que se seguiram ao de 1985, o Nordeste não se beneficiou tanto quanto no período anterior, mas ganhou ou atraiu um significativo número de empresas para a região. Esse ganho/atração teve um custo superior ao do primeiro período e se deveu mais à reestruturação produtiva do capital, do que à política econômica do governo, que passava por um período de ausência total, no que se refere ao intuito desenvolvimentista. Esse custo mais elevado deveu-se à mudança na forma de inter- venção do Estado na economia e, consequentemente, no espaço. Desde a fundação da SUDENE, até final dos anos 1970, a atuação do Estado na região Nordeste caracterizou-se por ser influenciadora nas decisões de investimentos dos setores produtivos, principalmente do industrial, por entender que a industrialização promoveria efeitos encadeadores à montante e à jusante do processo estimulado ou subsidiado (HIRSCHMAN, 1981). Assim, na fase desenvolvimentista do Estado brasileiro, em especial dos anos 1960 aos anos 1980, o Estado intervia dire- tamente, seja produzindo infraestrutura básica para o capital, seja fornecendo subsídios e incentivos, ou mesmo produzindo diretamente via empresas estatais.

Nos anos seguintes, principalmente após a década “perdida” de 1980, o Estado retirou-se das intervenções diretas, promovendo intensa privatização de suas propriedades produtivas; reduziu o investimento infraestrutural a níveis de manutenção, ou deixou deteriorar tal estrutura, e cancelou os subsídios e incentivos ao capital. No entanto, a saída da União provocou uma guerra fiscal entre os estados, com o intuito de gerar fatores atrativos ao capital que se reestruturava e que buscava novos espaços via relocaliza- ção de plantas e novos investimentos.

Embora alguns autores acreditem que a busca por aprovei- tamento de potencialidades regionais para o desenvolvimento

da indústria de base local seja a determinante das novas loca- lizações, crê-se que os incentivos fiscais e financeiros ainda se constituíram no principal atrativo para as empresas que se relocalizaram (OLIVEIRA, 1990).

A região ganhou, mas não se constituiu em uma região ganhadora nos termos de Benko e Lipietz (1994), devido ao custo que a sociedade arcou, via incentivos fiscais-financei- ros concedidos pelos estados e municípios. Ferreira e Lemos (2000) demonstram, por meio dos dados do IBGE e Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA, que, na distribuição do PIB industrial (indústria da transformação), o Nordeste ampliou de 8,6% para 10% sua participação entre os anos de 1985 e 1996. Considerando que, no período 1970 a 1985, o incremento foi de 50,9% (de 5,7% para 8,6%) e que, no período de 1985 a 1996, o incremento foi de 28%, pode-se concluir que, no segundo período, o crescimento na participação, quando comparado com o período anterior, não foi desprezível.

TABELA 2.1 – Nordeste – Produto Interno Bruto a preços constan-

tes. R$ Mil (ano 2000).

ESTADOS 1990 2002 2002/1990 Alagoas 5.991.470 7.406.906 23,6 Bahia 38.105.190 52.468.471 37,7 Ceará 13.731.540 20.449.042 48,9 Maranhão 6.766.107 9.648.325 42,6 Paraíba 7.167.621 9.829.126 37,1 Pernambuco 22.547.677 30.845.915 36,8 Piauí 3.798.032 5.209.420 37,2 Rio Grande do Norte 6.090.357 9.828.281 61,4 Sergipe 4.875.158 8.022.810 64,6

Os estados nordestinos, similarmente aos demais estados da federação, participaram ativamente da guerra fiscal que se estabeleceu nos anos 1990. Algumas unidades da federação foram mais eficientes na promoção de estímulos ao capital e na atração por capitais extra-regionais. Quando se observa o crescimento no Produto Interno Bruto a preços constantes, entre os anos 1990 e 2002, constata-se que o estado do Sergipe apresentou maior evolução (64,6%), seguido pelo Rio Grande do Norte, com 61,4%. Porém, como esses estados apresentam uma pequena economia dentro do conjunto das economias nordesti- nas, os estados da Bahia, de Pernambuco e do Ceará apresentam crescimento absoluto maior, mesmo que a taxa de crescimento seja inferior aos estados mencionados (ver Tabela 2.1).

Nas Tabelas 2.1 e 2.2, pode-se verificar que os estados da Bahia, de Pernambuco e do Ceará apresentam-se como os principais PIB da região. Como mostra a Tabela 2.1, a Bahia apresentou, na década de 1990, o maior crescimento absoluto do PIB. Esse fato se deve, em grande parte, à contribuição do segmento industrial, que apresentou significativo crescimento a partir de 1995 (ver Tabela 2.3).

TABELA 2.2 – Nordeste – Produto Interno Bruto a preços constantes. R$

mil de 2010. Estado 1990 1994 1998 Alagoas 15.487.584 16.844.795 17.842.011 Bahia 70.009.716 87.963.004 102.200.140 Ceará 32.558.210 43.159.882 50.468.956 Maranhão 22.660.644 24.940.338 25.840.266 Paraíba 16.456.710 18.069.073 19.426.409 Pernambuco 50.886.814 58.072.338 61.538.923 Piauí 10.733.696 12.426.026 13.280.317 Rio G. do Norte 10.615.672 18.545.072 21.508.205 Sergipe 12.752.439 13.729.473 15.351.413

Estado 2002 2004 2006 2007 Alagoas 18.303.592 19.022.843 20.802.615 21.653.416 Bahia 109.081.630 122.158.608 131.479.024 138.412.475 Ceará 54.267.720 57.903.058 64.306.577 66.452.414 Maranhão 29.019.478 33.010.895 37.195.271 40.580.469 Paraíba 22.014.331 23.822.544 26.429.318 27.013.465 Pernambuco 68.381.957 70.737.673 77.462.625 81.666.670 Piauí 14.461.689 16.200.761 17.958.480 18.325.145 Rio G. do Norte 24.700.284 25.926.469 28.261.660 28.996.319 Sergipe 16.577.005 18.147.442 19.962.748 21.207.212 Fonte: IPEADATA (2007).

A contribuição do valor do Produto da indústria foi importante para a consolidação do aumento do PIB, mesmo que o emprego formal não tenha crescido, conjuntamente, com a produção no período, como se pode deduzir a partir dos trabalhos de Moutinho e Porsse (1999) e de Pereira (2006). Esse fenômeno de crescimento da produção sem o concomitante crescimento do emprego constitui-se influência da inovação tecnológica, fruto da reestruturação produtiva no período, pelo menos para as grandes empresas.

TABELA 2.3 – Nordeste – Valor da Produção Industrial, por estado –

R$ (2000). Estado 1990 1994 1998 Alagoas 1.505.469,24 2.109.509,43 1.989.375,23 Bahia 15.097.282,29 15.968.560,25 15.933.171,66 Ceará 5.350.781,21 6.754.875,68 8.238.785,89 Maranhão 1.428.237,94 1.839.613,30 1.833.621,15 Paraíba 1.875.437,63 2.282.390,58 2.388.187,59 Pernambuco 8.288.684,22 8.829.166,93 8.632.960,86 Piauí 869.369,29 1.122.269,11 1.331.499,33 Rio G. do Norte 2.300.083,06 2.706.667,46 2.540.889,67 Sergipe 2.262.201,25 2.340.280,69 1.979.789,11

Estado 2002 2006 2007 Alagoas 1.910.110,94 2.176.304,54 2.195.605,33 Bahia 12.597.316,16 15.010.488,49 15.024.152,32 Ceará 4.778.144,49 5.667.942,32 5.836.870,05 Maranhão 1.963.930,55 2.987.174,33 2.836.753,96 Paraíba 2.182.410,27 2.333.609,49 2.503.062,50 Pernambuco 5.501.708,18 6.117.597,13 6.562.028,50 Piauí 850.338,25 1.145.024,37 1.196.772,25 Rio G. do Norte 2.233.774,31 2.728.244,72 2.730.389,14 Sergipe 2.237.902,86 2.512.838,86 2.602.059,31 Fonte: IPEADATA (2007).

Embora, como já foi mencionado, os estados de Sergipe e do Rio Grande do Norte tenham apresentado as maiores taxas de crescimento no PIB, essas taxas não se devem à contribuição das indústrias dos respectivos estados. Na Tabela 2.4, pode-se constatar que o aumento da participação do valor da trans- formação industrial desses estados, no período de análise, foi inexpressivo. Os estados que apresentaram maior contribuição para a formação do PIB por meio da transformação industrial foram Alagoas (87,7%), Maranhão (78,9%), Paraíba (57,2%), Bahia (54,5%) e Piauí (23%). Os demais Estados apresentaram cresci- mento inexpressivo, ou declínio.

TABELA 2.4 – Nordeste – Valor da Transformação industrial, por

estado – R$ Mil (2000). ESTADO 1990 2002 2002/1990 Alagoas 837.693,86 1.571.997,78 87,7 Bahia 8.827.125,53 13.636.802,10 54,5 Ceará 3.140.408,17 3.393.117,65 8,0 Maranhão 840.087,18 1.503.327,71 78,9 Paraíba 1.130.947,16 1.777.727,04 57,2 Pernambuco 5.506.356,44 5.024.984,10 -8,7 Piauí 515.831,19 634.511,52 23,0

ESTADO 1990 2002 2002/1990

Rio Grande do Norte 984.790,14 985.516,73 0,1 Sergipe 1.112.599,21 1.072.406,55 -3,6

Fonte: IPEADATA (2007).

2.5 O estado e a intervenção urbano-industrial