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Fatores que contribuíram para arrefecer o crescimento econômico de Campina Grande

URBANO-INDUSTRIAL CAMPINENSE – 1960/

SUBSETORES DE ATIVIDADE ECONÔMICA

N. EMP OPER EMP OPER EMP OPER.

3.5 Fatores que contribuíram para arrefecer o crescimento econômico de Campina Grande

O crescimento municipal encontrou barreiras crescentes a partir do fim dos anos 1960, o que parece contraditório devido ao fato de que, nesse período, o milagre econômico estava em plena realização. O milagre possibilitou uma acentuação do crescimento, em especial, no Sudeste brasileiro, acima do das demais regiões. As barreiras que se apresentavam para o muni- cípio foram as mesmas que afetaram o Nordeste, privilegiando o Sudeste. Dessas, deve-se destacar a reforma tributária de 1967, a seca de 1970 e o sucateamento da SUDENE.

A reforma tributária fragilizou o poder de inversão dos municípios. A concentração dos recursos na União ocorreu de forma gradual a partir da reforma tributária. Inicialmente, os estados e municípios perderam, paulatinamente, a capacida- de de investimento. Posteriormente, os órgãos de fomento ao desenvolvimento também foram afetados pela falta de recursos para investimento. O principal órgão de fomento ao desenvol- vimento regional nordestino – a SUDENE – teve parte de seus recursos financeiros desviados para outros fins40.

A reforma tributária de 1966/67 implementou um novo sistema que concentrou os recursos públicos no âmbito da União, fragilizando as possibilidades de promoção de políticas municipais de infraestrutura socioeconômica que mantivessem as indústrias no município. Segundo Lima (1996, p. 82),

40Entre os programas que receberam recursos pertencentes a SUDENE, os que

mais contribuíram para o declínio destes foram o Programa de Integração Nacional, que absorveu 30% dos recursos vinculados ao 34/18, e o PROTERRA, que absorveu outros 20%.

dois dados espelham, com propriedade, a situação: Já no primeiro ano de vigência da reforma (1967), a arrecadação municipal caía de forma assustadora e a lenta recupera- ção nos seis anos seguintes, de modo algum, compensou a perda de receita nesse período. Observa-se, por exemplo, que somente seis anos após a vigência da reforma tributária (1972), a receita própria do Município atingiu o mesmo nível de arrecadação de 1966, a valores constantes e; b) à capacida- de de investimento da municipalidade, que antes da reforma era de 34% (trinta e quatro por cento) da receita total (excluí- dos empréstimos e convênios), caiu, após a reforma, para 16% (dezesseis por cento) aproximadamente.

A perda da principal fonte de renda – o Imposto da Indústria e Profissão – afetou profundamente os investimentos municipais. Em contrapartida à perda de sua principal fonte de renda, foi concedida aos municípios uma irrisória participa- ção no recém-criado Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICM), que não supria as necessidades de gastos dos municípios, embora subordinasse as políticas municipais ao interesse da política da União.

Após a reforma tributária, as cidades do interior foram relativamente marginalizadas, no que se refere à destinação das contas do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), pois receberam menos recursos do FPM do que as capitais. Essa maior participação do FPM, destinada às capitais, conso- lidou o processo de expansão da economia da capital paraibana acima da dos demais municípios. Além desse fator, a existên- cia de um conflito entre as oligarquias políticas impulsionou a disparidade no ritmo de crescimento entre as capitais e as cidades do interior (LIMA, 1996).

A seca de 1970 constituiu-se elemento que favoreceu não apenas o debate sobre as atividades da SUDENE, como também serviu de explicação para a série de medidas que visavam ao esfacelamento dessa superintendência. Quando ocorreu a referida seca, que atingiu extensa região nordestina, os governantes em nível municipal e estadual clamaram por medidas urgentes e necessárias, principalmente pela instalação de frente de trabalho em inúmeras áreas. Porém, a SUDENE instalou poucas frentes de trabalho e não liberou os recursos de emergência solicitados por esses políticos para os progra- mas de obras públicas emergenciais. A decisão do órgão de encarar a seca como uma estiagem prolongada e de não ceder aos insistentes pedidos dos políticos por frentes de emergên- cia provocou, em um primeiro momento, um conflito entre os governadores dos estados atingidos pela seca e a direção da instituição. Essa situação levou os governadores a apelarem diretamente ao governo federal, criando, assim, um impasse entre a SUDENE e os estados nordestinos (PEREIRA, 1998).

Inadvertidamente, a SUDENE favoreceu seu próprio sucateamento, pois, em um regime ditatorial, opor-se politica- mente aos governadores biônicos seria o mesmo que entrar em conflito com o próprio governo federal. Assim, com o crescente flagelo da seca despertando a comoção nacional, por meio da intensa divulgação fornecida pelos meios de comunicação da época, denegriu-se, crescentemente, a atuação da SUDENE. Esse embate entre a instituição pública e os governadores, quanto à necessidade de intervenção federal via frente de emergên- cia, provocou a visita do presidente Médici ao Nordeste, como também, consecutivamente, chamou a atenção para duas importantes questões, com implicações político-econômicas diferentes e definidoras para o futuro do Nordeste:

a) as medidas de emergência contra as secas; b) a reformulação da política de

desenvolvimento regional.

Essas duas questões deram margem de atuação aos críticos da SUDENE e ao consecutivo sucateamento do órgão de desenvolvimento regional. Com base nelas, surgiram vários programas e políticas dirigidas, principalmente, para o desen- volvimento da região.

A concentração de poder e, em especial, de recursos (via tributação, favorecida pela reforma tributária) no âmbito federal visava à aquisição máxima de recursos financeiros para patrocinar e fomentar a acumulação de capitais exis- tentes naquele momento. Os governos militares, no projeto de continuar o processo crescente de desenvolvimento do país, implantaram uma série de políticas agrícolas como política de desenvolvimento regional (no Nordeste), promovendo muito mais o crescimento da riqueza individual das oligarquias agrárias, por meio da valorização das terras destas oligarquias e da extensa linha de crédito, do que o desenvolvimento da região via desenvolvimento dos pequenos e médios agriculto- res. Ademais, esses programas, vindos “de cima para baixo”, com características paternalistas, visavam sucatear a SUDENE com a retirada de seus recursos e alocação destes para os programas de desenvolvimento regional.

No processo de diversificação da política regional de desenvolvimento, deflagrado a partir da seca de 1970, gera- ram-se diversos programas de desenvolvimento regional controlado pela União. Dos inúmeros objetivos pretendidos por esses programas, podem-se citar alguns que se encontram presentes nos programas de desenvolvimento regional:

a) atenuar a concentração de terras;

b) diminuir as disparidades existentes entre as regiões; c) atenuar o êxodo rural;

d) solucionar os demais problemas pertinentes ao Nordeste (BRUM, 1997).

Embora as intenções dessas políticas regionais tenham sido as apresentadas acima, os resultados mostraram-se total- mente divergentes das propostas inicialmente propugnadas.

O Programa de Integração Nacional se constituiu em um dos primeiros programas que retiravam recursos da SUDENE, pois era financiado com recursos orçamentários da União, empréstimos internos, internacionais e pela apropriação de 30% dos recursos que estavam vinculados ao 34/18 e eram dirigidos por essa superintendência, para seus projetos de desenvolvimen- to regional. Esse esvaziamento político e financeiro da SUDENE comprometeu seriamente a política do órgão frente à sociedade civil e aos pretensos objetivos desenvolvimentistas propugnados pela SUDENE (GOODMANN; ALBUQUERQUE, 1974).

O Programa de Integração Nacional (PIN) visava a resolver o problema do excedente de mão-de-obra no Nordeste, mediante a realocação deste excedente, na Amazônia, onde o grande problema enfrentado era a escassez de mão de obra.

O programa de redistribuição de terras, denomina- do PROTERRA, também contribuiu para o sucateamento da SUDENE, por meio da realocação de 20% de recursos dos fundos do 34/18 para a aquisição de terras e posterior assentamento de trabalhadores. Porém, esses recursos eram mal emprega- dos, diminuíam as possibilidades de inversões da SUDENE em projetos de desenvolvimento regional e não promoviam seu real objetivo: distribuir terras (SORJ, 1986).

Pode-se notar que o processo de concentração de poder, na esfera da União, possibilitou a crescente acumula- ção de capital, como também a disseminação por todo o país, do processo de concentração e centralização de capital. As regiões eram vistas apenas como instrumentos espaciais de favorecimento da acumulação de capital, principalmente a região nordestina.

O Estado autoritário criou polos definidos por seus técnicos e fundamentados na concepção de Perroux (1975). Esses polos deveriam desenvolver-se mais que outros lugares e se tornar forne- cedores de alimentos para os grandes centros urbanos. Com esse intuito e com esses novos projetos, os militares opunham-se aos planos diretores da SUDENE, desestruturando-a em prol de uma outra política de desenvolvimento regional. Bursztyn (1985, p. 110) afirma que tal fato “só pode ser concebido em um regime autori- tário” e ser visto “dentro da evolução das estratégias do capital internacional no que se diz respeito ao alinhamento das regiões atrasadas na expansão e na reprodução do capital internacional” (BURSZTYN, 1985, p. 111). As regiões atrasadas servem como apoio para a reprodução ampliada do capital, ao mesmo tempo em que são barreiras crescentes ao processo de acumulação de capital.

Independentemente do fato de esses programas retirarem recursos da SUDENE, contribuindo para o declínio do incentivo a projetos na região Nordeste e, consequentemente, diminuin- do as taxas de decrescimento econômico da região, não se pode pensar em crise econômica nesse período (1968-1974), embora a crise mundial já estivesse florescendo. O sucateamento da SUDENE provocou um declínio na capacidade de intervenção estatal na região, dentro dos parâmetros pensados por Furtado para o GTDN (1997). A escassez de recursos implicou em restri- ção à concessão de subsídios, por parte da SUDENE, para os

projetos de desenvolvimento, tenham sido eles industriais ou não. Evidentemente, determinados setores vistos como estratégicos e setores – ou localidades – cuja influência política apresenta-se elevada foram privilegiados com os poucos recursos do artigo 34/18 no pós-1970.

Retornando aos censos industriais, pois o cadastro industrial da Paraíba não traz informações acerca do valor da produção industrial, pode-se ratificar a afirmação de que a estrutura industrial campinense modifica-se continuamente por meio da intervenção pública e privada, fortalecendo ramos dinâmicos da indústria no município. Essa intervenção pública ocorreu por meio dos organismos de fomento e incentivo à industrialização; a privada deu-se com a consolidação de inves- timentos industriais de caráter dinâmico em Campina Grande. Quando se considera o valor da produção como determinan- te da estrutura industrial, constata-se Campina Grande como um centro produtor têxtil, pois essa indústria respondia por, aproxi- madamente, 50% do valor total da produção, em 1960. A indústria química apresentava uma participação de 21,1% no valor da produção, seguida pela de produtos alimentares, que respondia por 12,5%, e pela de couros, peles e similares, com 4,8% do valor da produção. As demais indústrias apresentavam participações muito pequenas, inferiores a 4% desse valor. Essas quatro indús- trias respondiam por mais de 88% do valor da produção industrial do município e, como se pode ver, apenas uma indústria dinâmica estava presente entre as quatro maiores, embora representasse um quinto de todo o valor produzido pela indústria campinense.

No decorrer da década de 1960, houve transformações significativas na participação dessas indústrias na produção, pois a indústria têxtil perdeu posição, não representando mais a metade da produção, mas apenas 26,9%, em 1970. As indústrias

metalúrgicas, de produtos alimentares e de química tinham as seguintes participações: 17,9%, 14% e 12,9%, respectivamente. Como indicam os dados da Tabela 3.6, as indústrias metalúrgicas e químicas ampliaram suas participações no produto industrial campinense. Esses ramos viriam transformar o perfil do Parque Industrial campinense. O crescimento das indústrias metalúrgi- ca e química em Campina Grande ocorreu dentro desse contexto de incentivos fiscais e financeiros concedidos pela SUDENE, cuja intenção era não apenas reerguer as indústrias tradicionais, mas também incentivar as indústrias dinâmicas.

Entre 1970 e 1980, ocorreram mais modificações na estru- tura industrial, diversificando-a ainda mais. Entre elas, torna-se importante ressaltar o crescimento da participação da indústria de produtos alimentares (37,1%); o declínio do setor têxtil (26,1%); o rápido crescimento da indústria de produtos minerais não metáli- cos – que, de uma participação de 7,6%, passou para 14,5% do valor da produção industrial – e o declínio da participação da indústria metalúrgica que, de uma participação de 17,9%, passou para 3,9%.

Das considerações acima, deve-se concluir que, no período, ocorreram substanciais modificações na estrutura industrial e no espaço urbano-industrial campinense, que implicaram cres- cimento do número de estabelecimentos e emprego industrial existentes no município. O declínio relativo das atividades indus- triais tradicionais inseriu-se no processo de integração industrial ocorrido a partir da década de 1960, quando os organismos de desenvolvimento econômico fomentaram, crescentemente, a integração regional.

Em 1980, encontram-se as mesmas quatro indústrias na formação do emprego industrial, alterando-se as partici- pações de cada uma. A indústria têxtil (17,1%) e a metalúrgica (8,8) perderam posições, enquanto as indústrias de produtos

alimentares (13,8%) e de produtos minerais não metálicos (13,0%) ganharam posições na formação do emprego industrial. Um aspecto que deve ser ressaltado é o caráter diversificado que assume a estrutura industrial campinense a partir de 1960. A cada década diversificava-se mais essa estrutura, possibili- tando uma maior absorção de trabalhadores no setor.

3.6 Indústria, emprego e crise em