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URBANO-INDUSTRIAL CAMPINENSE – 1960/

SUBSETORES DE ATIVIDADE ECONÔMICA

N. EMP OPER EMP OPER EMP OPER.

3.6 Indústria, emprego e crise em Campina Grande –

3.6.2 A crise e a indústria de Campina Grande

Nesse contexto de crise econômica, a indústria campinen- se também apresenta desempenho negativo. Para se entender as especificidades da crise no município, é necessário, antes, compreender que quatro fatores básicos influenciaram consis- tentemente na consolidação dessa situação. O primeiro foi a crise econômica que se generalizou no sistema capitalista mundial a partir da segunda metade da década de 1970. A elevação das taxas de juros internacionais provocou abrupto crescimento da dívida brasileira, implicando a “necessária” alocação dos recursos antes destinados à manutenção dos investimentos públicos – como também dos subsídios ao investimento privado, tão caracterís- ticos da década de 1970 –, para o pagamento da dívida.

O segundo fator constituiu-se da reforma tributária, já mencionada anteriormente. O novo sistema tributário surgido com a reforma concentrou os recursos públicos no âmbito da União, diminuindo as possibilidades de implementação de políticas municipais de infraestrutura socioeconômica que mantivessem as indústrias no município. O declínio dos incen- tivos fiscais e financeiros da SUDENE apresenta-se como uma consequência do segundo fator.

Como os capitais industriais que se instalaram em Campina Grande e no Nordeste visavam ao aproveitamento dos incentivos fiscais e financeiros concedidos pela SUDENE,42 a subsequente

diminuição desses incentivos implicou retirada destes – ou de parte destes – capitais do locus de implantação. Assim, a possível existência de uma maior quantidade de projetos aprovados não implicaria inexistência da crise, pois os fatores que a provocaram fogem à simples existência de mais ou menos capital aplicado.

Tal fato, que se apresenta como o terceiro fator provocou um substancial declínio no número de indústrias em Campina Grande, mas não é o elemento essencial para a explicação desse declínio. Apenas uma conjunção básica de fatores econômicos é que permite compreender a crise que se estabeleceu não apenas na atividade industrial, mas no conjunto da economia campinense. Procurar explicar a crise da economia campinense com fundamentação em apenas um fator apresenta-se como uma simplificação das causas, que não possibilita construir a noção real da amplitude e implicações da crise.

42“Estudos já realizados, entre os quais o de Tânia Barcelar, haviam posto em séria

dúvida o papel dos baixos salários como fator de atração. Na prática, as novas atividades do ciclo da recente expansão pagam baixos salários, o que só aumenta a lucratividade das empresas e deprime os salários, piorando a distribuição da renda, sem que tenha efeito na atração locacional. De fato, a variável sobredeterminante é

Lima (1996, p. 80), de forma reducionista, apresenta como o principal fator para a explicação da crise na indústria campi- nense “a quantidade de projetos aprovados pela SUDENE, para o Município, que fica aquém das expectativas...”. Isso é verificável, mas não implica que a insuficiência de projetos aprovados seja o principal fator da crise na indústria campinense. Pelo contrá- rio, o declínio ocorrido na quantidade de projetos aprovados é muito mais uma consequência da crise que se generalizou no Brasil do que causa desta.

O quarto fator – expansão das estradas e desenvolvimen- to dos transportes e comunicações – favoreceu a compra e a venda de mercadorias entre os mais diversos e distantes centros consumidores e produtores. A integração comercial e produtiva do Estado e da nação favoreceu as cidades do interior do estado a adquirir mercadorias da capital ou de outros centros produ- tores com os mesmos preços adquiridos em Campina Grande.

O que se pretende demonstrar com a conjunção dos fatores supramencionada é que a crise da economia campinense é consequência das vicissitudes sociais, econômicas e políticas que se instalam no Brasil nos anos 1970. Se a crise manifesta-se claramente no setor industrial, tal situação não acontece com o setor terciário, que apresentava indícios de crise apenas no subsetor comercial, enquanto os demais subsetores atenuavam o declínio geral da economia campinense por meio da manuten- ção do nível de emprego e renda. Campina Grande apresentou, assim, uma “vocação” para a prestação de serviços – Educação, Saúde etc. – que atenuou os efeitos perversos do declínio do emprego, seja no comércio ou na indústria, nos respectivos períodos de crise destes setores de atividade (PEREIRA, 1998).

TABELA 3.9 – Número de estabelecimentos e de operários nos subse-

tores de atividade econômica do município de Campina Grande – PB.

SUBSETORES DE ATIVIDADE

ECONÔMICA

1980

Estabelecimentos % Operários % Média**

Extração de minerais 4 1,0 40 0,5 10,0 Prod. Minerais Não

Metálicos 79 20,2 1093 14,0 13,8 Metalúrgica 39 10,0 740 9,5 19,0 Mecânica 14 3,6 295 3,8 21,1 Material elétrico e de comunicações 4 1,0 118 1,5 29,5 Const. de Material de Transporte. 5 1,3 78 1,0 15,6 Madeira 22 5,6 202 2,6 9,2 Mobiliário 28 7,2 241 3,1 8,6 Papel e papelão 2 0,5 *153 2,0 76.5 Borracha 4 1,0 263 3,4 65,8 Couros, Peles e Prod.

Similares 8 2,0 374 4,8 46,8 Química, Farm. e veterinária 9 2,3 186 2,4 20,7 Ind. de perfumaria, sabões

e velas 4 1,0 51 0,7 12,8 Indústria de materiais

plásticos 8 2,0 361 4,6 45,1 Têxtil 24 6,1 1443 18,4 60,1 Vest., Calç. e Art. de

Tecidos 19 4,9 589 7,5 31,0 Produtos Alimentares 91 23,3 1116 14,3 12,3 Bebidas 2 0,5 *120 1,4 60.0 Editorial e Gráfica 19 4,9 262 3,3 13,8 Diversos 6 1,5 99 1,3 16,5 TOTAL 391 100,0 7824 100,0 20,0

*O Censo não informa o quantum de operários da indústria do papel e papelão, nem da de bebidas. Informa somente o montante das duas indústrias, que foi dividido levando em consideração a proporção apresentada por essas indús- trias nos Dados do Cadastro Industrial da FIEP para o ano de 1979. Não foram considerados 11 estabelecimentos com 50 operários, relacionados às unidades administrativas das indústrias, constante no Censo de 1980.

**Média de operários por estabelecimentos. Fonte: IBGE. Censo industrial de 1980.

O censo de 1980 ainda não revela a totalidade do impacto da crise que se generalizou no início dessa década. No entanto, os dados da Tabela 3.9 evidenciam que a indústria têxtil conti- nuou sendo importante na geração do emprego, respondendo por 18.4% do emprego na indústria, seguida de perto pelos segmentos produtores de bens alimentícios (14.3%) e de minerais não metáli- cos (14%). Esses três segmentos respondiam por 46,7% do emprego industrial no município. Quanto ao número de estabelecimentos, os de produtos alimentares (23.3%), de produtos minerais não metálicos (20.2%) e o de metalurgia (10.0%) respondiam por 53,5% dos estabelecimentos. Essas três indústrias apresentam baixos níveis médios de operários por estabelecimento.

Tomando-se o consumo de energia elétrica (Tabela 3.10) como uma proxy do nível de produção da indústria leva a crer que a crise capitalista mundial, com seus reveses no Brasil e no Nordeste, atinge Campina Grande a partir do ano 1977, quando o consumo industrial de energia elétrica apresenta declínio, somente retornando aos níveis de 1976 em 1985. O PIB brasileiro já apresentava declínio nas taxas de crescimento desde 1974, reflexo da crise do petróleo e da opção pelo crescimento com endividamento realizado pelos governos militares. Nos anos 1980, o setor industrial reduziu seu consumo de energia paula- tinamente até o ano de 1983, quando enseja, a partir do ano seguinte, uma retomada do consumo. No entanto, ao fim da década, o consumo industrial apresentou crescimento de 10%, aproximadamente, em relação ao ano de 1976.

Na Tabela 3.10, pode-se ter uma visão clara da evolução do consumo de energia elétrica do município de Campina Grande. O consumo industrial de energia apresenta declínio nos anos de 1977 a 1984. Os anos de 1981, 1982 e 1983 apresentam-se como os de menor consumo de energia elétrica do período, devido à depressão nos níveis de produção e de emprego no respectivo setor.

TABELA 3.10 – Consumo KWH por classe no município de Campina

Grande, no período de 1976/94. 1976 = 100.