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O estado e a intervenção urbano-industrial no contexto da reestruturação produtiva

A REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA DO CAPITAL NO BRASIL

2.5 O estado e a intervenção urbano-industrial no contexto da reestruturação produtiva

O Estado brasileiro continua sendo de fundamental importância para o desenvolvimento do país. Entre os anos 1930 e 1980, atuou de forma insofismável no processo de indus- trialização e desenvolvimento do Brasil. O governo populista de Getúlio Vargas, favorecido indiretamente por toda a crise mundial, buscou implementar um desenvolvimento industrial de caráter nacionalista, promovendo, no país, uma série de inovações que abrangeu a criação de ministérios, institutos e conselhos federais para as mais diversas finalidades, como também uma nova política de industrialização, fundamenta- da na substituição de importações. Com a “revolução de 1930”, consolidaram-se as transformações que se processavam no interior da economia e da sociedade brasileiras. A industria- lização, baseada na indústria nacional, passou a ser o objetivo fundamental do novo governo. O governo Vargas fortaleceu os privilégios da região Centro-sul, com o intuito de desen- volvê-la crescentemente e, a partir dessa região, desenvolver as demais (OLIVEIRA, 1981). O desenvolvimento industrial do Centro-sul e a expansão do sistema capitalista como um todo foram garantidos pela atuação do Estado, por meio da criação da infraestrutura básica para a implantação da indústria, como também de órgãos que garantissem o seu pleno estabelecimento.

No afã de industrializar plenamente o país, o governo federal investiu vultosos recursos em infraestrutura e na produção de insumos básicos. Como o capital internacional encontrava-se restringido em suas inversões externas, e como o empresariado nacional não tinha capital e nem interesse para assumir os empreendimentos econômicos necessários para a intensificação da industrialização, o Estado passou a direcionar os investimentos privados, por meio de estímulos à produção, da proteção dos salários e com a provisão da infraes- trutura (energia, transportes, comunicações) e da produção de matérias-primas básicas (ferro e aço, petróleo, petroquímica). O governo federal também intermediava, conciliava e arbitrava os conflitos entre o capital e o trabalho (empresários e operá- rios). Essa forte presença autoritária e paternalista do Estado atingiu contorno nitidamente social, quando foi promulgada a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), no início da década de 1940 (PEREIRA, 1994).

No fim dos anos 1940 e, mais propriamente, no início dos anos 1950, intensifica-se a segunda fase do processo de substituição de importações25, a produção de bens de consumo

durável cresce abruptamente, exigindo dos agentes econômicos maior volume de capital, tecnologia, mão-de-obra especiali- zada, produção em escala e capacidade gerencial. No período pós-1955, o capital estrangeiro penetrou vigorosamente no Brasil, investindo, principalmente, na indústria pesada dos bens de consumo duráveis. O governo Kubitschek efetivou a reelaboração das relações entre o Estado e a economia, por meio do seu Plano de Metas, que pretendia avançar 50 anos em 5, no desenvolvimento do Brasil. No governo de JK, a questão

das desigualdades regionais vem à tona devido aos crescen- tes conflitos sociais ocorridos, principalmente no Nordeste. Esses conflitos ameaçavam a ordem vigente do capitalismo em expansão no Brasil (IANNI, 1977).

O Estado capitalista no Brasil apresentou, desde os anos 1930, um padrão nitidamente desenvolvimentista, principal- mente pela intenção em promover a integração do mercado nacional por meio da diminuição das desigualdades regio- nais existentes. O golpe militar de 1964 se constituiu em um obstáculo ao desenvolvimento econômico em bases democrá- tico-participativas. No entanto, o governo militar continuou a estimular a integração nacional, não mais fundada nas propostas regionais, mas em planos nacionais. Evidentemente, os primeiros planos econômicos dos militares se voltaram para o controle da inflação que se constituía como causa da estag- nação econômica por que passava a economia brasileira na primeira metade da década de 1960. O Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG), de características ortodoxas, que preco- nizava o combate à inflação, principalmente pela redução do déficit público, alcançou relativo resultado anti-inflacionário. Os planos que se seguiram – Plano Nacional de Desenvolvimento I e II – garantiram um significativo crescimento econômico, que ficou conhecido como “milagre econômico”. No entanto, esse milagre teve custos elevados, dos quais o endividamento externo é um dos principais.

Historicamente, a intervenção estatal na economia contribuiu para a concentração do capital no Centro-sul do Brasil, em particular em São Paulo. Esse processo de concen- tração foi relativamente amenizado a partir dos anos 1960. No entanto, esse arrefecimento da polarização (AZZONI, 1986) ocorreu por pouco tempo. Nos anos 1980, os pesquisadores já

discutiram nova polarização ou reconcentração no Centro-sul do país (DINIZ, 2000). Essa nova polarização, reconcentração ou desenvolvimento poligonal (DINIZ, 1993) ocorreu concomitan- temente ao processo de reestruturação produtiva retardatária em relação ao mesmo processo ocorrido nos E.U.A. e na Europa.

Considerando esse contexto de intervenção estatal, reestruturação produtiva e repolarização ou reconcentração do capital no Centro-sul, destacam-se três momentos ou fases distintas da intervenção do Estado no espaço urbano-industrial. O primeiro se constitui na intervenção pré-reestruturação, com desconcentração do capital e relocalização do mesmo, sob a influência direta do Estado nos anos 1970. O segundo momento, nos anos 1980, consiste na fase de transição, na qual o Estado diminuiu significativamente sua intervenção direta e produtiva no espaço, ao mesmo tempo em que as empresas ensaiam as primeiras tentativas de reestruturação no bojo de uma crise do capital, que tem como dimensão mais perceptível a crise do endividamento externo e os reflexos do segundo choque do petróleo. A terceira fase ou momento acontece quando o Estado, pressionado por sua crise fiscal e pelas instituições credoras internacionais, abstém-se de uma ação mais direta e incisiva no espaço urbano-industrial, enquanto procura implementar polí- ticas de cunho neoliberal frente à reestruturação espontânea e forçada, realizada pelas empresas brasileiras nos anos 1990.

2.5.1 Intervenção Estatal