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Capítulo 1: o problema e o método

1.3 Crise da presença

A noção de realidade condenda4 em De Martino proporciona uma conjuntura específica para o aparecimento de crises. Viver em um mundo incerto e tomar consciência da fragilidade de sua presença leva o homem a questões para as quais pode não haver resposta e tal vulnerabilidade o deixa suscetível a crises existenciais. A noção de presença dopensador italiano vem do Dasein de Heidegger, e também das leituras de psiquiatria, chamadas por De Martino de “ciências da mente”, em Il Mondo Magico (2004 [1948]).

Uma participação efêmera na história ameaçada pelo perene e misterioso devir atiça o sujeito a questionar-se e, em alguns casos, desesperar-se diante do risco de não mais ser-no-mundo. Nesses casos identificam-se os indícios da crise que pode resultar numa perda ou alteração temporária da consciência.

De Martino procura investigar a fragilidade psíquica que essa situação gera no sujeito. Deslocar-se do olhar sociológico e se munir de fontes das ciências da mente, como o autor defende, pode resultar em uma interpretação mais rica das crises coletivas (De Martino, 2004). Para fazer um retrato coletivo de uma crise que se resolve em um horizonte meta-histórico comum, podemos compreender, de forma interessada e

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abreviada, a gênese das crises individuais que se encontraram e se resolverão nas técnicas sociais. Para isso, mais adiante, apresentarei as aproximações entre o postulado demartiniano e a “Eficácia Simbólica” levistraussiana. Por meio do exorcismo do “poder do negativo”, conforme o autor italiano descreve, a sociedade garante a presença atuante na história.

A crise da presença, conforme define o autor, é uma incerteza existencial de estar no mundo, de fazer parte da história, de estar inserido no curso dos acontecimentos e ter participação neles. O ser em crise é alguém que põe em cheque sua presença, alguém que está vulnerável a perdê-la no mundo e perder-se de si mesmo desse modo.

A relação do sujeito em crise com seu espaço e seu tempo são adversas no sentido em que ele não pode viver o aqui e o agora, pois perde a relação com o passado e com o futuro. O futuro se torna ameaça e o passado se perde em sua mente em processos psíquicos de fragilidade.

Em um artigo de 1956, intitulado “Crisi della presenza e reintegrazione religiosa”, De Martino já anunciava o argumento que defenderei aqui de que a depressão é um sintoma desta crise existencial que ele chamou de crise da presença.

"Da mesma forma, a depressão melancólica, com os seus sentimentos de culpa e monstruosas abjeção, contém uma forma inadequada de defesa interpretativa, que se manifesta precisamente estes sentimentos. Esta experiência é, certamente, fundada em uma impotência radical do ser-aí, mas tão pouco aberto a valores e história que às vezes pode assumir a forma de um ciclo naturalista, isto é, uma oscilação periódica entre depressão e mania (o chamado maníaco - psicose depressiva). O caso limite de defesa inadequada é o bloqueado vontade de estupor catatônico quando todos os conteúdos possíveis tornar-se perigoso e cada momento se torna perigoso para a presença. Em seguida, tem-se a reação patológica do bloco psíquico, ou a tentativa espasmódica de fazer-se prisioneiro de um conteúdo particular. Para manter esta prisão, todas as mudanças impostas do exterior são rejeitadas até o ponto de exaustão física, como em catalepsia, ou repetidamente espelhado, como em ecolalia ou eco-mimetismo” (De Martino, 2012:436-437)

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Tal argumentação nos permite a, talvez ousada, tarefa de atualizar a crise da presença para a sociedade contemporânea. Tarefa que o próprio autor iniciou no livro Furore,

Simbolo, Valore de 1962 e em La Fine del Mondo”, compilado de rascunhos publicado

após sua morte, em 1977, no qual ele analisa os apocalipses culturais. No inicio de sua obra, no entanto, De Martino, atribui esta crise, sobretudo a padrões de atraso de desenvolvimento em relação ao mundo moderno. Em “Sud e Magia”, de 1959, o autor caracteriza a crise na Lucania, região extremamente pobre do sul da itália, como devida à precariedade de bens e condições básicas de vida, o que ele chamou de “regime arcaico de existência” (De Martino, 1982:78). Neste mesmo texto sobre a magia no sul da Itália, De Martino define de forma mais elaborada o conceito de “crise da presença”. Para ele, a vida de um indivíduo na região da Lucania é marcada desde seu nascimento até a morte por fatos negativos, como a preocupação de sua mãe com a mortalidade infantil e suas experiências prévias com abortos espontâneos, por exemplo, que ele sintetiza na poderosa expressão “poder do negativo”. A partir da história da região e o drama existencial ali presente por todas as dificuldades de ordem socio-econômica, De Martino identifica a relação entre a historia daquela sociedade e a fragilidade da presença.

"Mais conclusivo torna-se o discurso analítico quando tentamos trazer o significado psicológico de quanto indicamos como “poder do negativo” no regime existencial lucano. Agora, este significado psicológico destaca um negativo mais grave do que a falta de um bem particular: destaca o risco da mesma presença individual se perder como o centro de decisão e escolha, e naufrague em uma negação que afeta a própria possibilidade de qualquer comportamento cultural" (De Martino, 1982:79)

Defensor de que a literatura psicanalítica poderia ajudar na interpretação das crises culturalmente apropriadas pelas técnicas de resgate e proteção da presença que são, ao mesmo tempo, individuais e coletivas, De Martino faz essa defesa ainda em Il Mondo

Magico, quando afirma que as ciências da mente nos fornecem as chaves para a

compreensão desses fenômenos. Essa bibliografia se faz presente em toda a obra demartiniana, na qual o autor recorre em diversos momentos a Freud, mas também a Jung (De Martino, 1977).

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A psicanálise para De Martino é uma importante ferramenta para compreender a crise, não a cura. O argumento demartiniano defende a ideia de se apoiar em uma literatura psicanalítica para compreender a crise e os diversos estados psíquicos dos quais o rito se apropria para promover a cura. Nesse sentido, a psicanálise ajuda a compreender a relação dialógica que os ritos mantêm com a crise, conferindo sentido a ela. Essa literatura não explica o rito, mas ajuda a compreender a “doença” para qual o simbolismo mítico ritual constitui a cura.

A busca de soluções mágicas é, para o autor, o reflexo da instabilidade da vida na região gerada pela falta de recursos e conexões históricas consistentes, como pertencer de fato a um Estado-Nação. No horizonte mágico, a fragilidade daquele povo ganha sentido encontra proteção contra o risco de não-ser-no-mundo.

"Em um regime de existência em que a força do negativo afeta o próprio centro de positividade cultural, isto é, a presença enquanto energia operacional, mantém valor e função o uso da potência técnica do homem, não no sentido profano de produzir os bens materiais econômicos, ou os instrumentos materiais para um melhor controle da natureza, mas no sentido de defesa do bem fundamental que é a própria condição de participação, por mais estreita que seja, na vida cultural" (De Martino, 1982:85)

A magia é, então, para De Martino uma técnica que protege a presença, criando ritualmente condições de participação na vida sociocultural. O sujeito que está em vias de perder essas capacidades – de se colocar socialmente – está em crise e ele mesmo, ou algum de seus próximos procura a magia como forma de solução do apuro. Nesse sentido, a presença, como já comentei anteriormente é coletivamente retomada. A magia não tem por finalidade eliminar o risco do mundo, mas fortalecer a presença e dar condições ao homem de ser-no-mundo, ainda que este mundo esteja em risco. Nesse caso, os riscos seguem representando riscos. Esses perigos, no entanto, são suportados pela presença mediante sua recuperação.

"Plano realístico e plano mágico da técnica não entram em contradição subjetiva um com outro porque a magia não tem exatamente como objetivo, como a técnica profana, a supressão deste ou daquele mal, mas a proteção da presença contra o risco de a crise existencial frente à manifestação do negativo" (De Martino, 1982:85)

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A crise existencial provoca pelo risco do devir pede uma técnica resolutiva que dê conta de alocar o devir num plano meta-histórico, para que ele se integre a uma sequência tradicional de fatos “sagrados”. Desse modo, o devir histórico deixa de ser uma ameaça desconhecida e torna-se uma ameaça conhecida e, portanto, passível de ser controlada. É a de-historificação:

"Em primeiro lugar, o plano funda um horizonte representativo estável e tradicionalizado no qual a variedade de riscos de uma possível crise individual encontra o seu momento da parada, de configuração, de unificação e de reintegração cultural. Ao mesmo tempo, o plano meta-histórico funciona como lugar de "de-historificação" do devir, isto é, como um lugar no qual, por meio da interação de modelos operacionais, pode ser recorrentemente reabsorvida a proliferação histórica do acontecimento, e aqui amputado sua negatividade atual e possível" (De Martino, 1982:85-86)

De Martino chama a possibilidade de estar na história como se aí não estivesse de de-historificação. Por meio da repetição ritualística de um modelo de crise e solução do tempo mítico, o sujeito e o grupo conseguem restabelecer-se enquanto presença no mundo em um regime protegido, para usar o termo demartiniano.

“Nessas culturas, a simbologia religiosa permite, ocasional ou institucionalmente, a de-historificação do devir, instaurando um regime protegido em que é possível "estar na história como se aí não se estivesse". Neste tempo, como que suspenso e sacralmente protegido, a execução do rito reatualiza os tempos míticos dos primórdios em que tudo foi decidido. À perda da presença, isto é, à alienação do ser, que o autor chama de "de-historificação irrelativa", contrapõe-se uma "de-historificação institucional", fixada numa ordem meta-histórica (mito), com a qual entra-se em contato através de uma ordem meta-histórica de comportamentos (rito)” (Pompa, 1998: 195)

Na repetição do modelo mítico, a presença é replasmada na medida em que a crise se torna história, ou seja, o sujeito vê na repetição ritual do mito sua crise já resolvida. A de-historificação não é a suspensão da historicidade (Pompa, 1998), mas a atuação histórica do mito em um regime protegido em que se pode passar da crise à cura.

Mancini observa que ao tomar a religião como dispositivo técnico – tema que será abordado no capítulo 2 - entende-se como o rito “reprograma” sus objetos (Mancini,

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2008:29). Esta reprogramação, como sugere Mancini, permite o sujeito passar de um estado a outro, da doença à saúde, de um regime de expressão a outro.

“Em suma, a técnica da “de-historificação mítico-ritual”, que está no núcleo da vida mágico-religiosa, se apresenta como uma aplicação específica e institucionalizada d a utilização desta faculdade que o psiquismo humano tem de funcionar sob diferentes registros da consciência e, consequentemente, de

dissociar voluntariamente a unidade do eu” (Mancini, 2008:30)

A presença em crise está relacionada à incerteza, mais que à insegurança. Incerteza no sentido de que a certeza está mais ligada ao devir que a segurança, já que a presença entre em colapso diante do risco potencial também e não apenas do risco real. A possibilidade do risco, a ideia de uma ameaça é suficiente para colocar a mente (e o corpo) em um estado de crise.

O plano meta-histórico permite então ao sujeito recuperar a presença em desordem e dar sentido à crise. As formas precárias de vida ganham então um novo sentido, que pode ser o mesmo de modo recuperado. Resta-nos aqui relembrar a reflexão sobre as formas de vida no contexto urbano e sua precariedade. No momento ritualístico, que De Martino chama de “regime protegido”, o sujeito encontra a possibilidade de viver sua crise, performatizando-a, e seu resgate em um modo de vida temporário asilado.

Esse estado de crise se manifesta, principalmente, de maneira física. De Martino ilustra diversos casos de perda ou dificuldade no controle dos movimentos, choro descontrolado, silêncios, entre outras formas corporais de expressão da crise.

"Estar-aí no mundo, ou seja, manter-se como presença individual na sociedade e na história, significa agir como potencial de decisão e escolha de acordo com os valores, operando e re-operando constantemente a nunca definitiva separação da mera vitalidade natural, e alcançando a vida cultural: a perda deste poder, o enfraquecimento da capacidade interior para exercê-la constituem o risco radical que, com relação à presença empenhada sem sucesso em resistir, se configura com a experiência de ser agido por [essere-agito-da], onde o ser agido envolve a totalidade da personalidade e da força operante que a funda e a mantém” (De Martino, 1982: 87-88)

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A crise se caracteriza por uma perda total ou parcial da capacidade de ação individual e voluntária do sujeito. A pessoa em crise sente que o mundo age nela e não mais ela no mundo, então passa a ser uma não-presença ou uma semipresença passiva, no sentido em que não tem total controle de suas vontades e de suas ações corporais, respondendo a estímulos externos.

"Na raiz da crise radical da presença encontra-se a incapacidade de colocar a vida (il Vitale) em relação dialética com o ethos e logos, de modo que a vida, neste contexo não-dialético, deixa de ser uma vida e uma paixão vital - que conduz à civilização e à história – configurando-se como mero "sofrimento", como a impulsividade, a representação parasitária, culpa inexorável, e assim por diante. Este foi, se não observado, pelo menos vislumbrado por alguns representantes da psiquiatria moderna" (De Martino,2012:437)

Especialmente em suas obras mais maduras, como Furore, Simbolo, Valore e La Fine

del Mondo – esta última, uma coletânea póstuma de rascunhos – a compreensão dos

fenômenos mágico religiosos, para além das interpretações sociológicas tradicionais, com base em textos psicanalíticos são mais presentes.

Em Furore, Simbolo, Valore, o autor analisa um fenômeno sueco da década de 1960, em que jovens se reuniam para noites de fúria coletiva que culminavam em atos de violência. De Martino realiza a análise pela chave da falta de sentido da existência e o risco de não-ser no mundo, como vinha desenvolvendo ao longo de sua obra. Os ataques de violência coletiva, ou “o retorno ao caos”, como ele os chama, são performances recorrentes nas sociedades arcaicas e do mundo antigo como forma de dehistorificação do devir. Ao reproduzir o comportamento de um tempo mítico em que o caos reinava e a partir dele nasceu a ordem, o mundo ordenado, os indivíduos envolvidos conseguem resgatar a ordem, resgatar a presença. Para De Martino, expressar a violência contida e descarregar uma certa frustração nesses atos, era o correspondente não institucionalizado de rituais como os saturnalia romanos, por exemplo. De Martino recorre ainda a Freud, no que diz respeito ao que chamou de “instinto de morte”, uma tendência a acabar com a existência em momentos de crise.

"Este perigo é a angustiante sensação de ser tomado pela nostalgia do não-humano, é o desejo de deixar apagar a luz da consciência vigilante e de destruir o que, no homem e em torno do homem, testemunha em favor da humanidade e

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da história. Somente após a Primeira Guerra Mundial, e em conexão com as experiências psicológicas obtidas nesta primeira grande explosão de agressão no mundo moderno, Freud teorizou um instinto de morte, tanto no sentido de uma compulsão à repetição de um episódio traumático passado (como aconteceu na psicose traumática de guerra em que o paciente tendia a repetir a cena terrível com que tinha sido traumatizado), quanto no sentido de um impulso de aniquilação voltado contra si mesmo, e, finalmente como uma verdadeira agressão ao mundo exterior. Em certos episódios da história da vida familiar, a inclinação para a destruição pode ser encorajada pela atitude hostil dos pais, pela morte destes, por desmame traumático e várias frustrações relacionadas com a vida: mas as diversas ocasiões históricas agem como tais apenas enquanto o risco da angústia da história ameaça, de dentro, o esforço moral de cada edificação cultural. " (De Martino, 1962:227)

Este artigo, já da fase mais madura do pesquisador, reflete uma preocupação desta pesquisa que é transportar a análise construída em um ambiente rural, isolado, para o contexto urbano e desenvolvido. A análise dos ataques de fúria dos jovens suecos, de Estocolmo, capital daquele país, é um precedente relevante para validar a possibilidade de reconhecer a crise da presença na cidade.

Segundo o autor, a civilização tem por papel controlar aquilo que Freud chamou de “instinto de morte” e De Martino de “crise da presença”. A vida na cidade coloca o sujeito em constante risco, como demonstraremos ao longo deste texto, e este tem a tendência a suprimir sua presença, a perder o protagonismo de suas decisões para o mundo. Quando a atividade do mundo exterior - e cabe aqui apenas lembrar que não estamos falando apenas daquela natureza clássica, mas estamos falando das cidades, do mundo controlado baseado em dispositivos de segurança, como mostra Foucault, por exemplo – se desencontra da atividade do sujeito, há uma tendência de retorno ao caos, ou seja, de retorno a um estado de incompletude. Esse estado de crise não seria um retorno a um estágio comum de um “homem primitivo”, mas uma perda de controles, controles que são adquiridos na história e ao longo dela.

"A etnologia e a história das religiões confirmar amplamente a tese de que uma das funções fundamentais da civilização consiste no controle e na resolução de que Freud chamou de "instinto de morte", isto é, a abdicação da pessoa como o

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centro de decisão e escolha segundo valores, a tendência para aniquilar a existência do que existe, a tentação cega de subversão e caos, a nostalgia do nada" (De Martino, Ibidem).

De Martino concentra neste trecho o cerne do que venho argumentando: a sociedade usa de técnicas para controlar o risco perene do homem de perder-se. Por isso, a literatura psicanalítica deve ser incorporada pela antropologia, como já tem sido feito por alguns autores, para dar conta de compreender o complexo emaranhado que compõe a vida humana. A fragilidade psíquica se reflete em cada época por expressões distintas, historicamente definidas. As técnicas e os mitos atualizam-se para proteger e resgatar a presença do sujeito em cada tempo.

Naturalmente não sou o primeiro a assumir a empresa de utilizar os conceitos forjados por De Martino na análise de outros fenômenos religiosos. Como exemplo, posso citar o trabalho de George Saunders, com os pentecostais italianos. Saunders demonstra um especial interesse pela crise da presença.

A atualização da crise da presença para o contexto urbano vem sendo tralhada por Saunders amplamente. A noção de “ser absorvido pelo mundo” nas grandes cidades e perder o controle sobre sua própria existência é um ponto de partida fundamental para sua análise das conversões pentecostais. Ao registrar a história de vida dos “convertidos”, Saunders busca nas falas os elementos que lhe permitem identificar a crise da presença e investigar como as igrejas pentecostais atuam no sentido do resgate da presença. Sua noção de história é especialmente interessante para a condução deste texto, já que privilegia a atuação do indivíduo em sua construção.

“A crise de presença, além disso, implica a possível perda de um lugar na história, já que a história é o trabalho de pensar, de agir, de sentir e, talvez, acima de tudo, "distinguir-se" como seres humanos. A capacidade de distinguir as categorias e os conteúdos da própria consciência é o alicerce de uma interação dinâmica com o mundo, e a dialética entre "presença no mundo" e "mundo em si" reflete sempre (e determina) a posição do indivíduo com respeito a uma história que se desdobra” (SAUNDERS, 1995:332)

Saunders observa ainda algo que venho argumentando ao longo deste texto. A perda da presença está relacionada a uma falta da capacidade em distinguir natureza e cultura, no

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modo clássico de entendimento dessas categorias. A presença para De Martino é o diálogo entre natureza e cultura, por isso dedicarei aqui algumas páginas à questão do diálogo do homem com o mundo/natureza.

Para prosseguir com minha análise sobre como o candomblé de São Paulo pode ser interpretado como uma técnica resolutiva e protetora da crise da presença no contexto urbano contemporâneo, seguindo a perspectiva demartiniana de compreender o fenômeno social coletivo considerando a influência das fragilidades psíquicas no