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IV – Métodos de Recolha e Análise de Dados em Estudos Narrativos

4. Critérios na Cotação das Narrativas e Métrica Usada

O material de cotação das narrativas, no que se refere à estrutura, tem subjacente um determinado constructo de estrutura narrativa e de evolução da mesma, para o 1º ciclo do ensino básico, já anteriormente apresentados.

Descreveremos, depois, as medidas consideradas, numa perspetiva de métrica holística e numa representação específica para os elementos da estrutura narrativa.

Critérios na Cotação das Narrativas

Com vista a uma descrição dos critérios estabelecidos para análise das produções escritas dos alunos, foi elaborado um manual para cotação das narrativas que os clarifica. O manual (anexo 4) é constituído por um conjunto de normas para a classificação de duas dimensões da história, a coerência e a coesão do texto narrativo. Aponta, também, os critérios para os elementos de produtividade estudados: número total de frases e número total de palavras. Indicações detalhadas que orientam a cotação das narrativas e clarificam casuística no procedimento de classificação podem ser consultadas no manual referido e em anexo a este trabalho.

53 Considerando a elevada percentagem de acordo inter-juízes obtida, não foi calculado o coeficiente de Kappa (Cohen, 1960), o mais frequentemente usado quando a classificação envolve variáveis nominais.

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Métrica das medidas usadas

Foi encontrada uma medida global de desempenho narrativo para cada aluno, quanto à estrutura, com base nos resultados obtidos nas três narrativas escritas pelos participantes, em três condições de eliciação diferentes (livro sem texto, imagem e história livre). Como refere Shiro (2003), os alunos apresentam desempenhos diversos na sua competência para narrar em função de condições intrínsecas e extrínsecas ao processo narrativo, entre as quais se encontram as condições de eliciação do texto. Assim, um indicador de competência global (Miller, Gillam, & Peña, 2001; Peña, Gillam, Malek, & Ruiz- Felter, 2006) representa com mais realidade a competência narrativa de cada indivíduo. Na conceção do mesmo autor, subjacente à medida holística deverá estar mais do que uma tarefa narrativa para melhor se avaliar a competência para narrar, face ao impacte que têm outros fatores relacionados com a tarefa. A obtenção do score global, pretensamente representativo da proficiência de cada aluno, para cada elemento da estrutura narrativa, foi obtida em função do número de vezes que o elemento é referenciado nas produções narrativas apreciadas, baseando-se, para cada produção narrativa, em medidas de presença ou ausência; por tal, as variáveis que representam os doze elementos da estrutura narrativa, numa primeira métrica, são dicotómicas.

Como se observa na tabela 4, só numa segunda métrica, numa medida global de desempenho por cada observação, os doze elementos da estrutura narrativa assumem o estatuto de variáveis proporcionais ou de razão para os eixos da narrativa (Martins, 2011), uma vez que um ou mais eixos podem ter uma notação de zero, e intervalares para o score global, tendo em conta que é forçoso que ocorra qualquer elemento para termos texto narrativo. Segue-se a tabela (Tabela 4) que operacionaliza a notação das medidas usadas para a estrutura.

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Tabela 4. Medidas da estrutura da narrativa: eixos, elementos e índice de preenchimento.

Medidas Coerência Narrativa

Eixos Elementos Pontuação

Elementos Eixos Eixo Orientação Personagem 0, 1, 2, 3 0 a 9

Espaço 0, 1, 2, 3

Tempo 0, 1, 2, 3

Eixo Estrema Início 0, 1, 2, 3 0 a 9

Introdução 0, 1, 2, 3

Finalização 0, 1, 2, 3

Eixo Ação Problema 0, 1, 2, 3 0 a 9

Tentativa 0, 1, 2, 3

Resolução 0, 1, 2, 3

Eixo Cooperação Cara. Personagem 0, 1, 2, 3 0 a 9 Cara. Espaço 0, 1, 2, 3

Resposta Interna 0, 1, 2, 3

Índice de Preenchimento =

[((b+1xa+1)/2 + (b+1xa+1)/2 + (b+1xa+1)/2 + (b+1xa+1)/2) x 100]/31

OU

[((EO+1xEE+1)/2 + (EE+1xEA+1)/2 + (EA+1xEC+1)/2 + (EC+1xEO+1)/2) x 100]/31 Legenda. Cara. = Caracterização; b = base; a = altura; EO = eixo orientação; EE = eixo estrema; EA = eixo ação; EC = eixo cooperação

Ainda numa lógica de medida de cada narrativa per se temos:

a) A cada elemento de cada eixo pode ser atribuída uma ponderação de zero a três, de acordo com a sua presença ou ausência, no conjunto das três narrativas escritas por cada aluno. A lógica que presidiu a esta ponderação levou à forma de ponderar os eixos, ou seja, a soma das notações obtidas nos três elementos de cada eixo, perfaz a pontuação

123 total do eixo até um máximo de nove (valor que será dividido por três para se encontrar um valor médio do eixo, apenas quando o eixo é considerado como medida para o índice de preenchimento; quando é estudado per se usa-se a medida de zero a nove), sendo que a ausência de elementos num determinado eixo pontua zero;

b) os quatro eixos formam os eixos de um polígono regular quadrangular – um quadrado que designamos por quadrado narrativo;

c) a divisão da superfície do quadrado em eixos origina quatro triângulos retângulos. Os lados de cada triângulo, no seu ângulo reto, são eixos da estrutura da narrativa; assim, a medida destes lados corresponde à medida dos eixos que representam. A área de cada triângulo [(bxa)/2] corresponde a uma das quatro partes que formam a superfície do quadrado narrativo. A soma das áreas dos quatro triângulos perfaz a área da superfície narrativa, ou a superfície do quadrado narrativo;

d) vejamos qual seria a área da superfície narrativa de um texto escrito considerado completo. Numa narrativa completa cada eixo (avaliação de zero a três quando é usado na medida do quadrado, por se ter dividido o valor original do eixo por três de forma a obter um valor médio) mede até três, idealmente cada triângulo deveria ter uma superfície de quatro e meio [(3x3)/2=4.5]. Porém, os alunos podem ter (e têm) a notação de zero, num dos eixos. Nesta situação, o resultado obtido pela fórmula não representaria a superfície efetiva dos elementos produzidos pelos alunos, pois, ao multiplicar um eixo com zero por outro e dividindo por dois, a área daí resultante é zero, o que altera a realidade do desempenho do aluno que na realidade não foi nulo;

e) para garantir que a superfície de um dos triângulos que constitui o quadrado narrativo (figura 4) não será anulada por um eixo que obtenha uma pontuação zero, optou-se por somar sempre um (uma constante) ao resultado de cada eixo. Deste modo um eixo zero passa a ser um e assim sucessivamente até um valor máximo de 4. A soma da constante à notação original do eixo é usada apenas para efeito da determinação das superfícies e, também, do índice de preenchimento do quadrado

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narrativo. Para analisar os eixos, a notação usada é a notação de origem e acima estabelecida;

f) assim, uma pequena superfície interior do quadrado narrativo (de zero até ao valor de um e com a área de um centímetro quadrado) é uma superfície de não ocorrência de elementos estruturais dos eixos correspondentes (figura 3);

g) agora, o quadrado narrativo com uma superfície completamente preenchida (com índice total de preenchimento) é formado por quatro eixos cada um com uma pontuação de quatro, ou seja o equivalente à mais válida ocorrência dos elementos que constituem o eixo. Isto perfaz uma superfície total de 31 centímetros quadrados. Se cada ocorrência média dos elementos da estrutura for representada no eixo com um centímetro teremos, então, quatro triângulos retângulos, cuja área respetiva é de 7.75cm2. Somadas as áreas dos triângulos perfaz-se um total de 32cm2, subtraindo-se o quadrado interior que indica a não ocorrência, com uma área de 1cm2, ficamos com uma superfície de preenchimento total de 31cm2. Para obtermos o índice de preenchimento do quadrado narrativo fazemos uma regra de três simples, o que resulta na fórmula indicada na tabela 4.

Relativamente à dimensão da coesão narrativa, como já dissemos, o texto foi dividido em orações (c – units) que foram classificadas, numa perspetiva intrafrásica, em três grupos principais de orações: as orações simples (ou frases) e as orações complexas de coordenação e de subordinação que resultam de uma classificação mais específica organizada em onze tipos, de acordo com o estabelecido na tabela abaixo tabela abaixo54.

54 Informação detalhada (acerca da coesão e produtividade) que justifica opções e define categorias encontra-se, em anexo 4, no manual de cotação dos textos narrativos.

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Tabela 5. Medidas da coesão da narrativa: frases complexas. FRASES COMPLEXAS

Relações de coordenação intrafrásicas Relações de subordinação intrafrásicas

Rel aç õ es de s imp les jus tap os iç ão Rel aç õ es de ap o s iç ão A s s ind é ti c as Sindéticas Substantivas (completivas e relativas sem antecedente expresso) Adverbiais (causais, finais, temporais, concessivas, condicionais, consecutiva, comparativa, de infinitivo, gerúndio e particípio) Adjetivas (relativas explicativas e relativas restritivas) Copu lat iv as Di s ju nti v as A dv ers ati v as Conc lus iv as E x pl ic ati v as

As medidas de produtividade contam o número de palavras e de frases contidas nos textos, de acordo com critérios específicos e para o efeito definidos (anexo 4).

Para efeitos de análise, nas medidas de coesão e de produtividade, foram sempre usados resultados médios por observação.

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V

– Estudo da Qualidade do Modelo

Teórico Hipotético: Estrutura da