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Portuguesa no 1º ciclo do Ensino Básico

3. Protótipo da Estrutura Narrativa: o Quadrado Narrativo Foi, num ensaio de compromisso entre o que o texto requer, o que a

3.1. Elementos da Estrutura Narrativa e sua Organização

Como já dissemos, os elementos da estrutura do texto narrativo podem ser divididos em dois ramos:

(i) os componentes da estrutura da história constituídos pelo espaço, informação sobre personagens, relações causais e ordem temporal dos acontecimentos;

(ii) a estrutura episódica que integra o meio da história, a ação propriamente dita respeitante ao início do acontecimento, à resposta interna, ao plano, à tentativa, à consequência e à reação/finalização.

Estes dois grandes grupos sintetizam as propostas sobre a coerência na narrativa e podem, em nosso entender, ser organizados à luz de quatro eixos, por nós designados de orientação, estrema, ação e cooperação.

Um olhar ainda mais refletido percebe que o primeiro grupo, formado por dois eixos, respeitante aos “componentes da história”, envolve “os que” (as personagens) a protagonizam e “o que” (os contextos, referentes ao espaço e ao tempo ou contextos temporais da narrativa) a protagoniza – encerram estes

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elementos o eixo de orientação, por orientar o leitor ou ouvinte relativamente aos contextos e protagonistas da história. Complementarmente, estes componentes da história, nos momentos mais descritivos do texto narrativo, servem um aprofundamento40 da mesma (pela caracterização das personagens, bem como pela resposta interna das mesmas – os seus pensamentos e sentimentos –, e pela caracterização do espaço), tecendo o material estrutural, implicado no eixo de cooperação, por cooperar com toda a história no sentido de a enriquecer e melhorar na sua coerência.

O segundo grupo, igualmente formado por dois eixos, respeitante à “estrutura episódica”, envolve todos os elementos sequenciais da história desde o seu início à sua conclusão (o início que abre a história e a introdução que a apresenta ao leitor ou ouvinte, bem como a sua finalização que encerra o que a história pretende transmitir) – organizando o eixo de estrema, por estabelecer os elementos que abrem e fecham a história. Entre o início e o seu desfecho, a história apresenta um enredo ou ação (que parte de um problema, perante o qual as personagens geram tentativas para que aquele seja ultrapassado até chegar-se à sua resolução41), a que habitualmente chamam o desenvolvimento da história, por nós indicado como eixo de ação, pois trata-se da trama que sustenta a narrativa e que vai despoletar um desfecho que encerra o que a história pretende transmitir.

Assim, esta proposta, configurada num modelo hipotético para análise da estrutura da narrativa, servindo o primeiro ciclo do ensino básico poderá ter de ser reformulada para outros ciclos de ensino, uma vez que, depois de se aprender a narrar, há várias estéticas de texto a dominar por serem

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À luz dos modelos de aprofundamento da história - “depth narrative” - mencionados no capítulo anterior.

41 Os elementos estruturais problema, tentativa e resolução podem surgir no singular ou plural e nas mais diversas combinações quanto ao número (um problema para várias tentativas e várias ou uma resolução; um problema para uma tentativa e uma ou várias resoluções; várias resoluções para um problema e uma tentativa…). O mesmo pode acontecer com os restantes elementos, à exceção do início e da finalização que são claros marcadores do abrir e fechar da história.

101 idiossincráticas e ligadas à escrita propriamente dita e à sua criatividade42. Em síntese, com a apresentação de elementos agregados em subgrupos, pretendeu-se uma incorporação mais holística e coerente, de natureza concetual, dos elementos do enredo e dos seus contextos de ocorrência (personagens, espaço, tempo…) para obter uma medida global da narrativa, ou um score da qualidade narrativa43 (e.g., McCabe, Bliss, Barra, & Bennett, 2008; Peterson & McCabe, 1983). Este processo de incorporação e agregação não foi construído em detrimento da particularização dos elementos (pois cada elemento continua a ter a sua identidade), mas como uma supraorganização narrativa. Vejamos, na figura abaixo, os elementos considerados na nossa proposta, a sua incorporação em eixos, de modo a cooperarem para um todo da estrutura da narrativa. A representação do processo de construção (tabela 2 e figura 3), percebe que os elementos se agregam por terem alguma identidade comum (eixos), mas não perdem a sua identidade (elementos), pois colaboram individualmente e em interação, para a formação do quadrado narrativo (narrativa).

Tabela 2. Representação da estrutura narrativa: elementos, eixos e quadrado narrativo.

Elementos: - Personagem, - Espaço, - Tempo. Elementos: - Início, - Introdução, - Finalização. Elementos: - Problema, - Tentativa, - Resolução. Elementos: - Caract. do espaço, - Caract.da personagem, - Resposta Interna. Componentes da história: A- eixo orientação Componentes da história: + B – eixo estrema Estrutura episódica: C – eixo ação Estrutura episódica: + D – eixo cooperação

Quadrado Narrativo - representa a estrutura do protótipo narrativo.

42 Temos, como exemplos, a escrita literária que vai sendo progressivamente aprendida, a alteração completa em combinações imensas de elementos estruturais, a originalidade e criatividade na abordagem de conteúdos e a capacidade retórica que, na fase adulta, está diretamente vinculada à produtividade discursiva. Por outro lado, em contraponto, para a educação pré-escolar, em níveis muito precoces, poderia fazer sentido considerar as ações justapostas, desprovidas de causalidade.

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Figura 3. Sistema proposto para o protótipo narrativo: elementos, eixos e quadrado da

narrativa.

Legenda. Elementos dos diferentes eixos - personagens, espaço e tempo (eixo de orientação = A); início, introdução e finalização (eixo de estrema =B); problema, tentativas e resolução (eixo de ação = C); caracterização das personagens, caracterização do espaço e resposta interna (eixo de cooperação = D).

O sistema proposto defende uma organização entre componentes da história (os elementos formados pelos eixos de orientação e cooperação) e elementos da estrutura episódica (os elementos formados pelos eixos de ação e estrema); organizando coerentemente um olhar mais holístico dos elementos estruturais das histórias dos alunos, sem perder de vista o que está previsto no currículo, quanto ao ensino e aprendizagem da estrutura do texto de tipo narrativo e o que os estudos revelam sobre o desenvolvimento ou a competência para narrar.