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O método multiatributo implementado por VFT não é recente e tem um histórico de suas aplicações. Pesquisada a literatura, observou-se que o método vem sendo aplicado por decisores cientes do seu próprio senso de valor ou com opinião formada a respeitos dos valores intrínsecos à solução. Normalmente esse decisor é o demandante do processo de decisão, quer seja por visualizar um problema (e não ter todos os elementos claros para a

decisão e busca um meio de elucidá-los), quer seja por estar pressionado pelos stakeholders (busca uma solução de compromisso), agindo no papel de estadista.

Mesmo quando este decisor aplica a técnica com abrangência, numa consulta ampla à população para traçar uma política ou determinar um campo de ação, ele tem claro todas as implicações das preferências postas. O diferencial desta tese é que o método está sendo aplicado em condições distintas, em que o pretenso decisor ainda não se deu conta da possibilidade de haver um método estruturado para isso, e o senso de valor é obtido de especialistas renomados e não de stakeholders próximos a ele. A principal contribuição, portanto, está na possibilidade de se obter de forma expedita uma referência para a decisão, baseada nos principais formadores de opinião sobre o assunto, capaz de provocar insigths para que a melhor decisão.

No caso aqui tratado, a demanda por planos de tratamento de RSU, bem como por conseqüentes decisões, vem de um problema real acompanhado de uma imposição legal, a recentemente votada lei de saneamento, após anos de debate no Congresso Nacional. A Lei, no entanto, delineia de maneira genérica o conteúdo desse plano, sem oferecer uma metodologia para a sua consecução. Do ponto de vista prático, esta é a proposição desta tese. A resolução da questão, no entanto, traz do ponto de vista acadêmico, a oportunidade de se sublimar o processo de caráter prático e de adequá-lo a questões mais gerais, que são tratadas por técnicas de system analysis, oferecendo um modelo para delinear políticas públicas.

As dificuldades para se construir este modelo não foram poucas. As primeiras tentativas de validação dos questionários aplicados se depararam com a visão fragmentada das pessoas sobre o tema, que não conseguiram reconhecer a questão do valor embutida em cada questionamento. Isto fez aumentar a responsabilidade, pois os stakeholders precisavam ter, além de seus princípios bem definidos, uma visão completa do problema.

Fez-se um pré-teste do questionário de captação de valor com três pesquisadores, o primeiro um engenheiro – pesquisador doutor em processos ambientalmente corretos de geração de energia; o segundo um geólogo – pesquisador doutor em tecnologias de remediação ambiental, e a terceira uma socióloga – pesquisadora em processos de coletas seletivas e inclusão social. Os três pesquisadores não tinham opinião formada sobre as dez variáveis, e não preencheram o questionário até o seu final.

O questionário foi então refeito a partir dessas contribuições, ressaltando a ótica do gestor público, e foi necessário um esforço adicional para se encontrar as pessoas que possuíam um conjunto de valores, preferencialmente contraditórios uns aos outros, que pudesse ser expresso, ao responderem principalmente o questionário fechado, para que fosse possível, na seqüencia, um tratamento matemático adequado.

A aplicação do questionário aos stakeholders partiu de duas premissas:

• Colocá-los como o centro do processo em desenvolvimento, e a correta coleta de suas opiniões era condição determinante para a eficácia do método proposto;

• Como conseqüência da primeira premissa, era fundamental a compreensão dos trade- offs envolvidos. Na captura de suas escolhas, expressão de seus modelos mentais, seria construído um modelo de referência para a gestão pública.

Tendo em vista essas premissas, os seguintes cuidados foram tomados na aplicação do questionário:

• Comentar sobre os propósitos gerais da pesquisa, e solicitar aos respondentes a que se esforçassem para se colocar na posição de gestores públicos, porém sem desistir de seus valores pessoais que deveriam ser captados. Inicialmente houve um processo de socialização, de maneira que seus valores pudessem ser explicitados, consolidando idéias para o preenchimento posterior do questionário fechado;

• Oferecer de início aos respondentes o quadro geral de comportamento das variáveis, para que eles pudessem mentalmente efetuar uma classificação prévia, estudar os trade- offs que consideravam mais importantes e, finalmente, iniciar suas declarações de valor;

• Os procedimentos possibilitaram uma atitude reflexiva dos respondentes, dois quais três deles pediram alguns minutos para sedimentar esse processo. Eles sabiam que estariam defendendo um ponto de vista, que numa situação futura poderia servir de parâmetro de decisão aos inúmeros gestores públicos.

6 PESQUISA DE CAMPO

Neste capítulo são apresentados os resultados da pesquisa de campo, de caráter qualitativo, obtidos por meio de entrevistas semi-estruturadas realizadas com pessoas – e entidades representativas – formadoras de opinião, stakeholders envolvidos no processo de tomada de decisão sobre os resíduos sólidos urbanos. As entrevistas foram realizadas entre janeiro de 2007 e abril de 2007, individualmente, nos escritórios dos entrevistados, na medida em que havia disponibilidade de agenda desses respondentes.

A amostra intencional é composta de seis membros distribuídos por um representante de cada associação setorial – ABELPRE e ABETRE, um representante do CEMPRE, um representante da TSL Ambiental, um especialista em auditoria e validação de requisitos ambientais em plantas de tratamento de RSU, e de uma professora da Faculdade de Saúde Pública da USP. Com essa amostra pretendeu-se cobrir o espectro de pensamentos que permeia o assunto do tratamento de resíduos sólidos no Brasil.