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A recente Lei no 11.445, de 05/01/2007, prevê que a prestação de serviços públicos de saneamento básico deverá ser descrita num plano específico, que abrangerá, no mínimo:

• diagnóstico da situação e de seus impactos nas condições de vida, utilizando sistema de indicadores sanitários, epidemiológicos, ambientais e socioeconômicos e apontando as causas das deficiências detectadas;

• objetivos e metas a curto, médio e longo prazos para a universalização, admitidas soluções graduais e progressivas, observando a compatibilidade com os demais planos setoriais;

• programas, projetos e ações necessárias para atingir os objetivos e as metas, de modo compatível com os respectivos planos plurianuais e com outros planos governamentais correlatos, identificando possíveis fontes de financiamento;

• ações para emergências e contingências.

A Lei ainda define as diretrizes para os serviços públicos de saneamento básico e Política Nacional de Saneamento Básico (PNS), considerando como manejo de resíduos sólidos:

• coleta, transbordo e transporte dos resíduos relacionados à limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos, contemplando atividades de infra-estrutura e instalações operacionais de coleta, transporte, transbordo, tratamento e destino final do lixo doméstico e do lixo originário da varrição e limpeza de logradouros e vias públicas;

• triagem para fins de reuso ou reciclagem, de tratamento, inclusive por compostagem, e de disposição final;

• varrição, capina e poda de árvores em vias e logradouros públicos e outros eventuais serviços pertinentes à limpeza pública urbana.

A lei também dispõe sobre normas gerais de contratação de consórcios públicos, entre municípios, para fins de tratamento de resíduos sólidos urbanos, conforme definido na Lei nº 11.107, de 06/04/2005. Complementarmente fica instituído o Sistema Nacional de Informações em Saneamento (SNIS), com os objetivos de:

• coletar e sistematizar dados relativos às condições da prestação dos serviços públicos de saneamento básico;

• disponibilizar estatísticas, indicadores e outras informações relevantes para a caracterização da demanda e da oferta de serviços públicos de saneamento básico;

• permitir e facilitar o monitoramento e avaliação da eficiência e da eficácia da prestação dos serviços de saneamento básico.

Dados do portal do Ministério das Cidades (2006) apontam que os serviços de gerenciamento de resíduos são prestados exclusivamente pelas prefeituras em 88% dos municípios; por prefeituras e empresas privadas em 11%; e exclusivamente por empresas contratadas em pouco mais de 1% dos municípios. As empresas privadas concentram sua atuação nos grandes e médios municípios, especialmente nos serviços de coleta, resultando em 45 empresas responsáveis pela coleta de 30% do lixo gerado no país.

Como pode se observar, a atividade de coleta e tratamento de resíduos urbanos no Brasil, quando não executada pela própria prefeitura, tende a ser exercida por um pequeno número que empresas, interessadas nas cidades médias e grandes. Isso pode ser conseqüência da necessidade de grande aporte de capital para constituição da infra-estrutura e contínua renovação de frotas e equipamentos específicos, longe do alcance das pequenas empresas.

3 GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS

No Brasil, para se classificar os resíduos sólidos, adota-se a norma NBR 10004 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (2004), que segue o critério dos riscos potenciais ao meio ambiente, dividindo-os em:

• Classe I – perigosos - abrange os resíduos perigosos, ou seja, que apresentam risco à saúde pública e ao meio ambiente, ou uma das seguintes características: inflamabilidade, corrosividade, toxidade, reatividade e patogenicidade. São exemplos de lixo classe I, as baterias e produtos químicos que geram um forte impacto sobre o meio ambiente;

• Classe II – não-perigosos. Esses resíduos se dividem ainda em:

– Classe II A – Não inertes – Aqueles que não se enquadram nas classificações de resíduos classe I – Perigosos ou de Resíduos classe II B – Inertes. Os resíduos classe II A – não inertes podem ter propriedades, tais como: biodegradabilidade, combustibilidade, ou solubilidade em água.

– Classe II B – Inertes – Quaisquer resíduos que, quando amostrados de uma forma representativa, e submetidos a um contato dinâmico e estático com água destiladas ou desionisada, à temperatura ambiente, não tiverem nenhum de seus constituintes solubilizados a concentração superiores ao padrão de potabilidade de água, excetuando-se aspecto, cor, turbidez, dureza e sabor.

Existe ainda o resíduo de proveniente da construção civil e da demolição (RCD), normalmente sobras de construções ou entulho de demolições. Em muitos municípios a quantidade de resíduos de construção e demolição ultrapassa em volume os de classe II, em virtude das constantes obras novas ou de reforma das edificações. Esses resíduos, no entanto, têm baixo nível de contaminação, pouca parcela orgânica, com baixa emissão de metano, e são facilmente recicláveis, não se constituindo em preocupação central desta pesquisa.

A Resolução no 307 de 2002 do CONAMA, Conselho Nacional do Meio Ambiente (2002), apoiando-se na Convenção de Basiléia considera que alguns resíduos provenientes da

construção civil são perigosos e merecem tratamento especial, classificando-os como perigosos:

Classe "D": são resíduos perigosos oriundos do processo de construção, tais como tintas, solventes, óleos e outros, ou aqueles contaminados, ou prejudiciais à saúde oriundos de demolições, reformas e reparos de clínicas radiológicas, instalações industriais, e outros, bem como telhas e demais objetos e materiais que contenham amianto ou outros produtos nocivos à saúde.

O gerenciamento de resíduos sólidos refere-se a aspectos tecnológicos e operacionais, envolvendo fatores administrativos, gerenciais, econômicos, ambientais e de desempenho como produtividade e qualidade e relaciona-se à prevenção, redução, segregação, reutilização, acondicionamento, coleta, transporte, tratamento, recuperação de energia e destinação final de resíduos sólidos (SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO, 1999).

O conceito de Sistema Integrado de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (SIGRS) propõe destinações ao resíduo sólido urbano, conforme pode ser visto no Quadro 2.

Quadro 2 – Destinações Recomendadas pelo SIGRS

DESTINAÇÃO DESCRIÇÃO

Reciclagem Aproveitamento dos restos de papéis, vidros, plásticos e metais que não estejam contaminados para servir como insumo na fabricação de novos materiais.

Compostagem Aproveitamento dos restos alimentares e componentes orgânicos (papéis, madeira, poda de jardins) para produção de adubo natural.

Recuperação Energética Forma de aproveitar os resíduos e reduzir seus impactos.

Aterro Sanitário Local de disposição final dos resíduos imprestáveis, com garantias sanitárias.

Fonte: United Nations Environment Protection Agency, 1998.

O potencial de aproveitamento energético dos resíduos sólidos é da ordem de 25 TWh no Brasil, cerca de 8% do consumo de energia elétrica total do país (OLIVEIRA; ROSA, 2002). Os autores consideram que se pratica hoje no Brasil uma dispendiosa e ineficaz gestão de

cerca de 20 milhões de toneladas anuais de resíduos sólidos urbanos com alto poder calorífico, sem o seu aproveitamento.

Estudo para o Compromisso Empresarial para Reciclagem (CEMPRE), realizado pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas, apresentado por D’Almeida e Vilhena (2000) confirma o desperdício de material no lixo urbano, com alta quantidade de papel, vidro, plástico e metais que são descartados (35% da composição total). O reaproveitamento por triagem e reciclagem desses materiais traria uma economia energética e um ganho ambiental significativo. Ainda segundo esses autores, o lixo em média no Brasil apresenta a seguinte composição:

• 3% de plástico;

• 3% de vidro;

• 4% de metais;

• 25% de papel;

• 65% de matéria orgânica.

O Quadro 3 apresenta dados sobre a atuação da iniciativa privada no tratamento de resíduos sólidos no Brasil, para ambos os setores, municipal e privado.

Quadro 3 – Principais Números do Setor de Tratamento de Resíduos no Brasil - 2005

Fonte: Associação Brasileira de Empresas de Tratamento de Resíduos, 2006.

Unidades receptoras de resíduos 112 unidades privadas em operação

Tratamento de Resíduos

Industriais 3,3 milhões de toneladas

Municipais 4,8 milhões de toneladas

Total 8,1 milhões de toneladas

Receita

Tratamento de Resíduos R$ 1,0 bilhão

Outros Serviços Ambientais R$ 0,5 bilhão

Total R$ 1,5 bilhão

Clientes 15 mil clientes ativos

Empregos 14,4 mil empregos diretos

O Quadro 4 apresenta as distinções de abordagem do tratamento do resíduo nos âmbitos público e privado.

Quadro 4 – Diferença de Abordagem dos Resíduos no Setor Público e Privado - 2005

Fonte: Associação Brasileira de Empresas de Tratamento de Resíduos, 2006.

O Quadro 5 apresenta dados sobre atuação das empresas privadas receptoras de resíduos para tratamento no Brasil.

Quadro 5 – Unidades Receptoras de Resíduos Operadas por Empresas Privadas no Brasil

Fonte: Associação Brasileira de Empresas de Tratamento de Resíduos, 2006. RESÍDUO DO SETOR PÚBLICO

(resíduos municipais)

RESÍDUO DO SETOR PRIVADO (resíduos industriais)

Serviço Público Essencial Não é Serviço Público

Obrigação do Poder Público Municipal Obrigação do Gerador

Contratante não é o gerador (munícipes), é o município (a prefeitura)

Contratante é o gerador (empresas)

Envolve interesses públicos diretos: usuários, saúde pública, meio ambiente

Envolve interesses privados diretos e interesses públicos indiretamente Investimentos públicos, eventualmente privados

(concessões)

Investimentos 100% privados

Contratos multilaterais, envolvendo agentes públicos diversos e empresas

Contratos bilaterais, entre agentes privados

Foco na atividade: serviço de coleta, tratamento e disposição Foco nos resultados das atividades: proteção ambiental

Padrão de qualidade individualizado, direto por cada município e seu orçamento

Padrão de qualidade geral, ditado pelo mercado (há bons e há ruins)

Risco ambiental é público, da sociedade

Unidades Receptoras de Resíduos – Empresas Privadas

Tecnologia Unidades Existentes

Aterros para Resíduos Classe II-A 37

Aterros para Resíduos Classe I 16

Cimenteiras licenciadas para co-processamento 30

Unidades de Blendagem para co-processamento 9

Incineradores Industriais 12

Outras Tecnologias 8