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A ABRELPE afirma que preocupações ambientais e aquecimento global chegam ao mercado, de maneira que as empresas têm que dar resultado, senão morrem. Todos estão atentos ao fato, porém se a solução for economicamente desequilibrada pode comprometer a empresa. Quem consegue fazer isso é governo. Alemanha e França têm uma visão diferente por outro caldo de cultura e pano de fundo. Pouca área disponível, contaminação decorrente de duas guerras, uma situação bem diferente da encontrada hoje no Brasil.

A ABETRE considera relevante a proteção ambiental, independente da opção por uma ou outra forma de tratamento, uma vez que os resíduos são em grande parte nocivos. Quando se fala em reciclagem, têm grande apelo socioeconômico, no entanto nem sempre é adequado. O que deveria nortear a escolha seria a busca da eficácia ambiental, no entanto nem todos cumprem esse ideal. A grande questão da política pública seria assegurar o cumprimento desse procedimento por todos.

ABETRE considera que o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) já dá os princípios gerais do que pode ou não ser feito. As lacunas estão na implementação pelas empresas. Existem dúvidas quanto à importar pneus e baterias para reciclagem, mas em geral as regras estão claras. Considera existir três tipos de empresas:

a) Negligentes – as empresas que não obedecem a legislação, despreocupadas das questões ambientais, trabalhistas, etc.;

b) Cautelosas – as empresas que não descumprem a legislação, ao menos formalmente, há uma fachada legal;

c) Responsáveis – as empresas que não só seguem a legislação, mas muitas vezes estão à frente dela.

Considera haver um problema de conduta. Quando se arrocha a legislação, o efeito é sobre quem já a cumpre; e acaba por excluir ainda mais quem não a cumpre. O negligente e o cauteloso acabam por ganhar uma vantagem competitiva, pois não assumem os custos que o outro, o responsável, com ou sem legislação, já assume.

Comenta um estudo da Consultoria McKinsey sobre a informalidade/ilegalidade das empresas no Brasil. Afirma já ter alertado ao CONAMA que estão apertando o lado errado. Auto- regulação e campanhas de informação poderiam surtir mais efeito do que instituição de mais normas restritivas. Deveria haver mais mecanismos de indução. Considera que na Europa o Estado está presente na iniciativa privada. O triângulo sociedade, Estado e iniciativa privada é mais bem integrado. Considera que no Brasil não há essa coesão, com certo distanciamento das ações da iniciativa privada em relação ao governo. Considera ainda o modelo americano menos integrado do que o modelo europeu, e o modelo brasileiro muito menos integrado. Lembra que o Japão começou a resolver o problema de desmatamento ainda em 1800, e que no caso da emissão atmosférica a emissão de hoje não aparece de imediato, enquanto o resíduo fica exposto. Jogou, fica no lugar para sempre, o resíduo é mais evidente. Considera então que a missão é universalizar as práticas adequadas. Utilizar melhor os instrumentos econômicos que mudam os caminhos competitivos. Sem mexer no cenário, é difícil mudar a decisão do comprador, que vai contratar a solução mais barata, e não a mais adequada.

A ABETRE comenta o estudo da PriceWaterhouse Coopers (2006) que aponta que ações de comando/controle que já não funcionam mais. Deve se repetir o movimento que já aconteceu na área de segurança do trabalho e na área da qualidade. A discussão se qualidade custa mais caro ou não já foi superada. Os grandes investidores institucionais já têm essa preocupação. Isso tem que penetrar na cadeia. As indústrias automobilísticas e químicas têm isso claro. Têm certificações. Algumas cadeias têm uma situação privilegiada em que o poder de negociação impõe regras. Aponta o exemplo das granjas de porcos que desenvolveram um

programa de incineração de dejetos sob pressão dos grandes compradores/frigoríficos, como a Sadia. O problema não é tecnológico, econômico ou social, e sim de conduta. Têm que alinhar os negócios sob a perspectiva de uma conduta. Esse é o grande desafio. As tecnologias são várias, mas a questão é estabelecer uma linha de conduta.

A ABETRE considera que o setor se organizou por iniciativa própria. Subiu o padrão competitivo, com a incorporação deste custo. Tem que subir o padrão para todo o segmento de uma única vez. O primeiro não terá vantagem competitiva. Pode ter desvantagens. Se a cadeia inteira subir de padrão a partir de uma meta definida, todos os segmentos acabam por atender. Cada empresa acaba por se antecipar, pois há metas e recompensas. Apenas baixar leis não funciona. O ideal é que as empresas mudem de patamar juntas. A discussão muda a perspectiva do problema. A questão não é baixar lei, e o ministério público pressionar. Tem que mudar a consciência das empresas sobre o problema, promovendo uma elevação conjunta da percepção das empresas sobre o problema ambiental na cadeia produtiva.

O CEMPRE considera que no Brasil a coleta seletiva de secos é da ordem de 18%, sendo 80% pelas mãos dos catadores. Em termos de política pública, os países europeus têm mais disponibilidade. Uma prefeitura no Brasil tem poucos recursos para implantar um aterro controlado, não consegue sair do estágio do lixão, portanto não dá para esperar que o Estado venha sozinho a resolver esse problema. Ressalta a importância do modelo brasileiro de coleta seletiva, com ganhos sociais e economia energética. Quando se organiza a coleta seletiva na cidade, acabam por passar primeiro os sucateiros pegando grandes volumes, depois os autônomos e por fim o catador. Quando a prefeitura chega com a coleta seletiva, há pouco a recolher. Considera que a coleta seletiva tem que ser mais bem organizada. A cooperativa normalmente é parceira da prefeitura e busca bairros aonde a prefeitura ainda não chegou. Em São José dos Campos, por exemplo, tem um lixo rico, e os sucateiros de outras cidades vão para lá buscar matéria-prima. Esse é o mundo real. A cooperativa seria o caminho de minimizar o problema, desde que fosse legalizada. O CEMPRE apóia várias cooperativas com folhetos educativos, prensas e outros equipamentos. A prefeitura tem a responsabilidade e deve estar participando, mas a cooperativa vem no sentido de descentralizar as ações.

O especialista em regulação ambiental afirma que um dos problemas dos empreendedores, que atuam na área de incineração, é não ter garantia do retorno após investir em suas plantas, visto que poucos geradores de resíduos cumprem totalmente a legislação, preferindo a

disposição irregular, a custo muito mais baixo. (Cita o caso de um empreendedor que implantou um aterro industrial e até hoje tem dificuldades em receber materiais continuamente para manter seu negócio operacional e rentável).