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O CEMPRE, quanto à questão da reciclagem, cita que se têm bons modelos na Itália, na Alemanha, na Finlândia, mas que no Brasil é diferente, pois a infra-estrutura é muito mais cara, em função das nossas dimensões territoriais. Dentre as principais diferenças, ressalta:

• as dimensões do país e custos de logística;

• o envolvimento/participação da população;

• a capacidade da população de absorver custos.

Continuando afirma que a Alemanha pode gastar 4 bilhões de euros por ano num programa de coleta seletiva de embalagens. No Brasil a atual carga tributária impede que se imponha mais custo à sociedade. São situações diferentes no Brasil, Europa, China e EUA. Ressalta que o modelo brasileiro de reciclagem já decolou, e que se tem que trabalhar agora o volume. Acredita na parceria entre prefeitura e cooperativa de catadores. O catador tem sido inserido socialmente, por esse modelo. Em Salto, onde o IPT tem participação, essa parceria funciona muito bem. A prefeitura busca parcerias como o setor empresarial, investe em máquinas e equipamentos, auxilia na compra de material, promove a venda direta para indústria de plástico e ajuda na organização. Considera que a atividade dos catadores já deixou de ser uma atividade marginal.

O CEMPRE apresenta alguns dados sobre coleta, reciclagem e volume no Brasil, referentes ao ano de 2005:

• 5,8 milhões de toneladas de lixo urbano no ano coletados;

• 11% em média desse volume é reciclado no Brasil, fora o que é exportado;

Considera que outros números são imprecisos, pois o lixo que é coletado na cidade, nem sempre é reciclado nela. Lembra que os números que se divulgam em torno de 2% de efetividade da coleta em São Paulo e Curitiba seriam os números referentes aos materiais desviados do aterro, sem considerar os catadores informais que se antecipam e fazem a coleta preventivamente à chegada da coleta oficial. O que é coletado em São Paulo pode ser reciclado em Mauá, São Paulo é gerador, mas não reciclador de resíduos. Tem empresa de Santa Catarina que importa embalagem PET do Maranhão. Pode-se afirmar que o programa da prefeitura de SP coleta 2%, mas não se pode dizer que este é o índice de efetividade da reciclagem do município.

A ABRELPE considera a coleta única, sem coleta seletiva, a solução mais barata a ser praticada pelas prefeituras. Quando se faz coleta seletiva, ou pré-seleção tentando tirar produtos para reciclar, já se está avançando. Ressalta que não se deve misturar o resíduo domiciliar com o industrial, em hipótese alguma. Se há essa mistura, é responsabilidade do gerador do resíduo, pois o resíduo de linha de produção é muito diferente do resíduo doméstico, logo requer tratamento diferente. Eventualmente pode haver a co-disposição, mas o sistema receptor deve estar corretamente preparado para isso.

A ABRELPE afirma que em Curitiba, onde a coleta seletiva é modelo, consegue-se de 1% a 2% de segregação. O sistema executado pela CAVO, empresa pertencente ao Grupo Camargo Corrêa, sua afiliada há doze anos, é eficiente, e o processo de urbanismo controla os carrinheiros e catadores, diferentemente de São Paulo (SP) ou Porto Alegre (RS), onde eles contribuem para o caos urbano. Considera o sistema único de coleta mais eficiente e possibilita promover um processo de segregação posterior, pois se recolhe o todo e posteriormente efetua-se a triagem, separando o reciclável do lixo comum. É um sistema caro, porém ainda mais barato que os potes coloridos de pré-separação. Afirma que em seguida deve-se separar o lixo perigoso doméstico como bateria, spray, pilhas, etc. E num outro momento, pode se trabalhar o lixo numa linha de compostagem.

A ABRELPE revela preocupação com os processos usuais de coleta seletiva. Cita Calderoni e avalia que a proposta de lixo zero é algo “romântico”, embora algumas cidades importantes no mundo proponham esse conceito. Acredita que no futuro será o cidadão tornar-se-á o responsável por seu lixo, o que já acontece em algumas cidades dos EUA, onde se escolhe a freqüência de coleta e a quantidade que será recolhida, pagando por isso de maneira

individualizada. Não vê bons resultados na coleta seletiva genérica como se pratica no Brasil. Acaba por sair caro para o município e com resultado questionável. Não é contra essa prática, mas a considera não economicamente eficiente. Elogia um sistema adotado na Itália onde há receptáculos públicos para garrafas gerenciados pelo próprio interessado/reciclador, que promove a coleta e vai buscar diretamente o seu insumo.

A ABETRE não tem a reciclagem como foco, embora reconheça que é uma atividade importante no setor. Recicla-se para ganhar dinheiro ou promover a questão ambiental. Trata- se de redução de volume e não da periculosidade, pois não se recicla o que é contaminante, foco principal da ABETRE. Considera ser uma solução importante para alumínio, papel e papelão. Afirma que desde que se trabalha o ferro se faz reciclagem, portanto não é nenhuma novidade, é uma questão operacional, mas não concorda em eternizar os catadores. Questiona quem deve pagar para coletar, se a prefeitura, a indústria beneficiada ou o consumidor. Conclui dizendo que tem que se deve negociar esse pagamento. É uma negociação política, uma vez que a indústria acaba por ganhar à custa da miséria do catador, que apenas subsiste. Considera que pode ser uma etapa intermediária para atenuar a miséria, mas não pode ser política pública ou o objetivo de um país.

A TSL Ambiental considera a coleta seletiva insipiente nos municípios e os custos de separação, para gerar RDF, por exemplo, elevados. A planta que opera em Piracicaba, para tratar as embalagens da Tetrapak, tem um processo amplo de separação para se obter um insumo de qualidade. O material que chega à planta é separado e limpo várias vezes antes do processamento. A coleta é cara, cerca de 50% do custo total do projeto, e a separação não é perfeita. No Brasil os processos de separação geram oportunidades de emprego de baixa renda para uma parcela da população despreparada. Considera que, após a coleta seletiva, o material usualmente enviado para a compostagem pode estar contaminado, portanto não recomenda a solução em larga escala. Em relação à geração de RDF, a TSL Ambiental ainda afirma que há a necessidade de se analisar o projeto, e que tudo depende do que se pretende fazer depois. Quanto maior a necessidade de separação, mais caro se torna o processo. Lembra também que há separação mecânica, que é muito inferior do que a humana. Na Europa combinam-se os dois processos, e ainda assim se usa separação porque resultado é positivo. O custo pode chegar a 1.000 euros por tonelada, para coleta/separação, e mesmo assim se pratica.

O especialista em regulação lembra que mesmo na Europa existem processos avançados para a separação da parte seca da parte úmida, em que o gerador do resíduo deve pagar pelo tratamento da parte úmida que requer complemento energético. Pela parte sólida não há tarifação, visto que advirão receitas, após o processo de reciclagem, pela venda de materiais. Após esse processo de separação, ou secagem, resultam 16% de umidade no lixo da Baviera estado da Alemanha, por exemplo, contra 60% a 70% do lixo médio brasileiro. Em relação à separação, opina que, se feita depois do recolhimento, pode se tornar muito cara. Técnicas de separação mecânica por peneiramento são aplicáveis, porém conseguem separar apenas 10% do resíduo disposto, bastante abaixo dos 30% possíveis. O processo começa com um fosso de recepção, seguido de uma correia transportadora, onde pontas afiadas rompem os plásticos e embalagens. Em seguida uma peneira rotativa faz a revolução obtendo-se latas, plásticos e vidros, que são desviados para reciclagem. Finalmente considera a coleta seletiva uma boa solução para pequenos municípios, abaixo de 100 mil habitantes, onde o envolvimento da comunidade pela preservação ambiental é maior e as comunidades de catadores são bem organizadas, o que não se dá nos grandes municípios. Isso pode ser complementado com a compostagem para a parte orgânica dos resíduos.

A professora considera os processos de separação fundamentais para ganhar eficiência com relação aos subprodutos que se queira gerar. Uma boa separação vai gerar uma cerâmica de melhor qualidade ao final do processo de tratamento a plasma, por exemplo. Ao se misturar tudo, o controle fica mais difícil e os custos de equipamentos maiores. Ao separar resíduo perigoso do não-perigoso, acaba por baratear o processo, pois se tem que despender menos recursos com sistemas de controle. Quanto à coleta seletiva, considera que a eficiência é difícil de ser obtida na prática, pois têm variáveis como a educação das pessoas, a conscientização e a mudança de hábitos. No nível teórico, considera esse processo como o futuro, no entanto, atualmente ainda difícil de se praticar.