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A ABRELPE acredita que os sistemas de incineração são igualmente eficazes às demais soluções, ressaltando que se trata, no entanto, de um investimento injustificado para tratamento de RSU. Diz que uma prefeitura que na prática, se preocupa mais com questões de saúde e educação, tem dificuldade em investir altos valores na solução de um único problema, embora importante, como o do lixo. Considera que os incineradores podem se justificar na Europa onde, desde as duas guerras mundiais do século passado, o solo está contaminado e a área para disposição é menor em relação ao Brasil ou os EUA. Além disso, os países da Europa, como França e Alemanha, investem pesadamente nestas soluções. Há uma ação organizada de estado para se reduzir os aterros, diferentemente do Brasil. Sem esse apoio de estado, a proposta de incineradores é economicamente inviável.

A ABETRE considera que o custo de incineração pode chegar a R$ 2 mil/t dependendo da composição e da periculosidade do resíduo. Em alguns casos não se pode fazer o co- processamento, por exemplo, no caso dos resíduos clorados, porque são nocivos ao cimento, e

apenas a presença de 1% de cloro já impediria o co-processamento. As cinzas resultantes vão para os aterros de classe I se perigosas; ou de classe II, se inertizadas. Considera ainda há a necessidade do tratamento dos efluentes, uma torta com conteúdo de metais pesados, que também vão para o aterro. Ressalta que, com o uso de qualquer das tecnologias, se consegue controlar o lado perigoso do resíduo, mas afirma que no caso dos incineradores industriais no Brasil a capacidade de processamento existente é muito menor do que na Europa, em média dez vezes menor. Expõe que na França uma única unidade processa 200 mil t/ano de resíduos, na Bélgica 1 milhão de t/ano.

As tecnologias de incineração têm custos elevados, sendo o primeiro fator impeditivo de crescimento desse processo no Brasil. Além disso, afirma existir reações contra incineração. Se a indústria pode chamar um caminhoneiro que leva o resíduo para 500 km à frente, ao invés de pagar 2 mil reais/t para processar corretamente, não há dúvida nenhuma do que fazer. Quem manda seu resíduo para incinerar revela uma consciência ambiental diferenciada. Muitos municípios não têm legislação ambiental própria e recebem os resíduos indiscriminadamente, sem noção da gravidade do problema.

O CEMPRE tem uma visão que a incineração deve ser parte da gestão integrada à geração de energia. Comenta que infelizmente não se tem no Brasil uma planta do tipo waste-to-energy (WTE) para resíduo urbano. Tem-se a incineração industrial com consumo de energia, visando inertizar o resíduo, sem a visão de integração. O CEMPRE conhece o conceito de WTE, uma vez que já foi oferecido à prefeitura de São Paulo, mas considera que não há a tecnologia para uso imediato. Também conhece o projeto Usina Verde da UFRJ, mas em sua opinião há a necessidade de uma avaliação de engenharia bem detalhada.

A TSL Ambiental considera que o sistema de tratamento a ser escolhido depende da quantidade e qualidade do resíduo a ser tratado e dos processos a serem empregados. A incineração da forma antiga seria inaceitável nos dias atuais, mas já existem sistemas de incineração de boa eficiência. Considera o tratamento da quantidade e variedade de gases resultantes um problema que exige um alto investimento. A parte sólida resultante principalmente na forma de cinzas também pede tratamento adicional para a sua inertização. Não vê como um problema a necessidade de se queimar combustíveis fósseis, óleo diesel ou gás liquefeito de petróleo (GLP), para aumentar o poder calorífico e viabilizar a queima do resíduo, quando este tem baixo poder calorífico. Considera que mesmo a tecnologia do

plasma térmico, se o resíduo tiver baixo poder calorífico, necessitará de complemento energético, consumindo mais eletricidade. Vê como vantagem da planta de incineração a possibilidade de estar localizada em qualquer ponto geográfico, sem necessidade de estar ligada à rede elétrica (se não tiver a pretensão de entregar energia elétrica à rede).

A TSL Ambiental considera difícil no incinerador o tratamento de gases, em virtude de sua quantidade e variedade. Quanto à diversidade do resíduo na entrada, com presença de metais pesados, também considera que não há diferença em relação às outras tecnologias. Entende que o incinerador não é tecnologia de má qualidade quando se quer gerar energia. A incineração pode resultar em de 1% a 10% de cinzas, que podem ser posteriormente tratadas pelo plasma. Aponta que a empresa Europlasma, instalada na França, faz uso desse recurso muito bem, com uma planta em operação desde 1994. Cita que há uma segunda planta em construção para tratar as cinzas do incinerador de Bordeaux e vizinhança. Considera que a combinação de processos de plasma térmico com o incinerador pode ser vantajosa, dependendo do que se pretende, uma vez que oferece bastante energia. Se não houver essa preocupação, o incinerador pode estar isolado, enquanto que a planta de plasma tem que estar conectada à rede elétrica. O incinerador pode ser colocado no meio de uma cimenteira, se houver contaminação da área o dano será localizado. Aponta que já existe uma unidade de incineração no norte da Itália, na divisa com a Suíça, com capacidade de processamento de 700 t/d, que faz vitrificação da cinza do incinerador. Não considera a tecnologia de incineração da UFRJ totalmente nova, pois a alta temperatura (1500º) permite a vitrificação.

Considera ainda que nos incineradores podem ocorrer emissões de muitos gases não- combustíveis, que não geram energia, e que necessitam de tratamento, pois ainda carregam partículas que precisam ser removidas. A Petrobras, no tratamento da borra de petróleo, já está vitrificando a parcela inorgânica após a incineração, para facilitar a retirada dessas partículas. Porém ressalta que tratar gases do incinerador em área urbana é complicado, diferentemente da parte sólida que não teria problema.

O especialista em regulação ambiental ressalta que há diferenças significativas em se incinerar resíduo sólido urbano no Brasil e na Europa. A principal diferença está no nível de umidade do resíduo, muito mais baixo na Europa, onde a incineração é praticada em larga escala. Em sendo o resíduo brasileiro muito mais úmido, a sua incineração requer mais combustível, em virtude do menor poder calorífico, dificultando a implantação da tecnologia

no Brasil, pois o consumo de mais combustível é na forma de diesel ou GLP, ambos de origem fóssil. Tem a percepção que uma tonelada de RSU incinerada no Brasil atualmente deve sair por mais de R$ 300, pelo baixo poder calorífico, associado ao investimento necessário, para o processamento de gases, e pelo controle ambiental imposto pelas normas brasileiras.

A professora, falando da questão da saúde pública, ressalta que não se pode aceitar nos dias de hoje uma tecnologia superada, que não atenda aos requisitos mínimos de saúde pública, condenando os antigos sistemas de incineração. As soluções exigem atualmente controle ambiental estrito, que atendam no Estado de São Paulo as regras impostas pela CETESB. Ressalta que a necessidade do tratamento do gás é tão importante, que já não o separa mais do sistema de incineração. Afirma que em seus orçamentos, o valor é composto de duas parcelas, uma referente ao custo da câmara de queima do incinerador e outra referente à câmara de limpeza do gás. No seu entender, essas câmaras são inseparáveis, e o valor da câmara de limpeza de gás pode ser igual ou superior ao da câmara de queima. Os impactos dos incineradores são, portanto, de emissão de gases e também de geração de escória do forno, que pode ser reaproveitada na indústria, lembrando que pode haver presença de metais pesados. Parte destes metais volatiliza, mas parte fica presente nas cinzas, gerando resíduo de classe I que necessitará de tratamento. Quando se trata de saúde pública, deve-se pensar em quais são os efeitos à saúde. Considera que, no caso da incineração, mesmo que se implante a melhor tecnologia disponível, há risco ambiental. Por exemplo, no caso de furar um filtro de manga, ou de faltar energia num precipitador, pode ocorrer uma emissão nociva, prejudicando o entorno. Lembra que, mesmo com os sistemas de prevenção bastante avançados e intertravados pelos computadores no caso de acidente, essa preocupação em caso de falha deve estar presente no projeto dos sistemas. No caso de o sistema parar, o que estiver queimando na câmara, ainda continuará por algum período, e possibilitará a emissão nociva.