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5 JORGE AMADO NO SUB-SISTEMA DA LITERATURA TRADUZIDA POLONÊS: ANÁLISE MICRO-ESTRUTURAL

5.1 A ONOMÁSTICA E A CULINÁRIA

5.1.2 A culinária

As traduções que compõem o corpus dessa pesquisa trazem uma abundância de termos culturalmente marcados por costumes alimentares, representados nos romances de Jorge Amado. Com exceção de O mundo da paz, todos os textos traduzidos para o polonês fazem referência, em especial, aos itens da culinária baiana, às bebidas alcoólicas e ao fumo. A análise dos procedimentos tradutórios empregados pelas traduções polonesas permite algumas conclusões.

As traduções tendem a aproximar o leitor polonês às referências da culinária baiana por meio da descrição ou explicitação, como demonstram os exemplos.

Cacau Página

Zupa z wątroby, żołądka, i innych wnętrzności bydlęcych. 27 TA A sopa de fígado, de estômago e de outras vísceras bovinas. Versão Br

Sarapatel. 17 TF

Suor Página

Naczynia z akarażie, sałatką rybną i gliniany garnek z marynowanymi

strączkami pieprzu. 154 TA

Os recipientes com acarajé, salada de peixe e uma panela de barro com a conserva de vagens de pimenta.

Versão Br Acarajés e as moquecas de aratu, junto à cuia de barro que levava o

molho de pimenta.

39 TF

Jubiabá Página

Pasztet z manioku. 266 TA

Pastel de mandioca. Versão Br

Beiju. 239 TF

Os subterrâneos da liberdade Página

Liście tytoniu splecione na kształt powroza. v.1;192 TA As folhas de tabaco trançadas em forma de corda. Versão Br

Fumo de corda. v.1;226 TF

Gabriela cravo e canela Página

z ostrymi przyprawami i oliwą, różne gatunki ryb.

Croquetes de peixe, camarões enfeitados com ovos mexidos, massa de feijão batido com pimenta e azeite doce, peixes variados.

Versão Br Acarajés, abarás, bolinhos de bacalhau, frigideiras. 198 TF

Tereza Batista cansada de guerra Página

Garnek z feijonem, suszonym mięsem, dynią, maniokiem, inhami i

pętem kiełbasy. 179 TA

Uma panela com feijão, carne seca, abóbora, mandioca, inhame e uma porção de lingüiça.

Versão Br A panela com feijão, carne seca, abóbora, aipim, inhame, um naco

de lingüiça.

139 TF

Dona Flor e seus dois maridos Página

Smażone pulpety z dorsza, krokiety, różne słodycze i bakalie. 10 TA Bolinhos fritos de bacalhau, croquetes, doces variados, castanhas e

frutas secas.

Versão Br Bolinhos de bacalhau, frigideira, croquetes em geral, doces variados,

frutas secas.

12 TF

Em grande parte, as traduções evitam a transferência dos estrangeirismos para o texto, recorrendo à aproximação dos hábitos alimentares por meio da descrição. Neste sentido, a primeira ocorrência do termo “acarajé” na tradução de Suor, sem que se ofereça sua explicação, elucida-se pelo fato de que o Suor vem como o segundo texto na edição conjunta com Cacau que, por sua vez, já explicou o termo mencionado. As explicações sobre as comidas típicas dão-se por meio da indicação de ingredientes e do modo de preparo. No caso dos ingredientes desconhecidos no mercado polonês, a tradução introduz o estrangeirismo sem explicá-lo, como demonstra o exemplo do termo “inhame” no texto polonês de Tereza Batista cansada de guerra. Quando o modo de preparo diverge dos hábitos da cozinha polonesa, a tradução adiciona, explica, explicita, omite e recria as particularidades da culinária baiana.

Evitando transferir os estrangeirismos, as traduções utilizam-se dos procedimentos acima citados com o propósito de causar o estranhamento no leitor polonês e, desta maneira, tornar exótica a culinária baiana.

As traduções recorrem, também, à explicação por meio das notas de rodapé ou das notas no fim do texto, como mostram os exemplos.

ABC de Castro Alves Página

Canjika*. 18 TA

Canjica. 40 TF

O cavaleiro da esperança Página

Mariscos*. 13 TA

*Moluscos comestíveis. Versão Br

Marisco. 7 TF

Os pastores da noite Página

Fiżon*. 56 TA

*Nome de feijão preto polonizado pelos emigrantes. Versão Br

Feijão. 48 TF

Na tradução de ABC de Castro Alves os estrangeirismos estão marcados por asteriscos e explicados por meio de notas no fim do texto. Todas as outras traduções oferecem a explicação dos estrangeirismos marcados com asteriscos na nota de rodapé. A tradução de Os pastores da noite oferece o termo fiżon para traduzir a palavra “feijão”. A tradução recorre ao costume lingüístico dos emigrantes poloneses que vivem no Brasil, um procedimento já mencionado no quarto capítulo dessa pesquisa.

O termo “cachaça” entra nos textos das traduções polonesas por meio de transferência com explicação na nota de rodapé, com exceção do texto polonês de Terras do sem fim, como indicado no exemplo.

Mar morto Página

Cachaça.* 7 TA

*Vodka de cana de açúcar. Versão Br

Cachaça. 8 TF

Terras do sem fim Página

Butelka rumu. 99 TA

Uma garrafa de rum. Versão Br

Uma garrafa de cachaça. 97 TF

Explicado como “vodka de cana de açúcar”, o termo “cachaça“ aparece como o estrangeirismo mais freqüente nos textos de traduções que compõem o corpus da pesquisa. A única exceção encontra-se na tradução de Terras do sem fim, onde, no texto da tradução, uma garrafa de cachaça traduz-se pela garrafa de rum. Optando pela bebida conhecida do público leitor, mas, assim mesmo, exótica e pouco disponível no mercado, a tradutora de Terras do sem fim colabora com a representação dos costumes alimentares dos brasileiros como dessemelhantes.

Tratando-se da tradução dos termos marcados pelas especificidades da culinária baiana, tão distante dos hábitos alimentares do leitor polonês, a adoção dos procedimentos tradutórios descritos nos parágrafos anteriores ressalta a distância entre as culturas e apresenta o texto como exótico. O uso pela tradutora de Dona Flor e seus dois maridos do termo de origem árabe bakalie (frutas secas, sementes e castanhas importadas), embora já aceito pelo dicionário polonês, reforça a tendência pela estrangeirização da tradução.

Ainda que utilizem uma variedade de procedimentos na tradução de termos culturalmente marcados pelos universos onomástico e culinário, os textos das traduções que compõem o corpus da pesquisa demonstram uma clara tendência para a apresentação da cultura brasileira como fortemente adventícia. Os tópicos menos comprometidos com a ideologia vigente, o onomástico e a culinária, tendem para a estrangeirização, promovendo o exótico no polissistema cultural da Polônia. As normas, que regem a tradução dos tópicos mais comprometidos com a ideologia, serão analisadas nos itens subseqüentes.

5.2 A MORAL

O regime comunista elabora os padrões comportamentais para a sociedade polonesa nos primeiros anos após da tomada de poder, como menciona o segundo capítulo dessa pesquisa. A moral comunista que dita os tabus, mas que também cria os valores positivos, transfere para o campo da arte a discussão sobre o etos do homem novo. Com sua função educacional, a literatura constitui um espaço privilegiado para esse debate.

5.2.1 A sexualidade

Os resultados da análise do corpus da pesquisa permitem a constatação de que as traduções polonesas das obras de Jorge Amado sofrem forte influência por parte dos ditames da moral em vigor. A primeira questão moral que chama atenção nos textos traduzidos é o discurso sobre a sexualidade do menor de idade, como demonstram os exemplos a seguir.

Cacau Página Jako osiemnastoletni chłopiec zakochałem się w pewnej blondynce. 25 TA [omissão] Com dezoito anos apaixonei-me por uma loura. Versão Br Paixão que tive aos 14 anos por uma rameira gasta e sifilítica

com a qual iniciei minha vida sexual. Amor, aos dezoito, por uma loura.

14 TF

Jubiabá Página

A kiedy będziesz na czworakach, zawołaj mnie, to ci przyprawię ogon. Matce przypraw ogon!

41 TA