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2.4. P ERSPECTIVAS S OBRE C ULTURA

2.4.3. Principais abordagens sobre cultura

2.4.3.2. Cultura segundo Hofstede

De acordo com Hofstede (1980; 1984), cultura pode ser definida como a programação coletiva da mente que distingue os membros de uma categoria de pessoas dos membros de outra categoria. Por “categoria de pessoas” entende-se qualquer grupo que possui características mentais homogêneas em algum nível, como uma nação, uma região geográfica, um grupo étnico, homens ou mulheres (culturas de gênero), pessoas velhas ou jovens (culturas de gerações), uma classe social, uma profissão ou ocupação (cultura ocupacional), um tipo de negócio, uma família, ou mesmo uma organização ou parte dela (cultura organizacional).

Partindo dessa classificação, o autor identifica três níveis de cultura: o universal, de elementos que são compartilhados pela maioria dos seres humanos; o coletivo, que é compartilhado por um conjunto de pessoas (a cultura organizacional é um exemplo); e o individual, que é único e exclusivo para cada indivíduo. Uma pessoa está, a cada momento, submetida a um conjunto de culturas dos diferentes níveis. Ela sempre carrega consigo sua

cultura individual, mas tem que absorver e integrar elementos culturais distintos no nível coletivo: ela tem que conciliar a cultura de seu país com a cultura da organização onde trabalha, e assim por diante. As diferenças entre as culturas ocorrem em diversas dimensões (HOFSTEDE, 1980; 1984).

Ao longo das décadas de 60 e 70, foi realizada uma das maiores pesquisas de campo relacionadas com valores culturais já empreendidas. Essa pesquisa envolveu a aplicação de mais de cento e dezesseis mil questionários tratando de valores culturais para funcionários da IBM espalhados em mais de 40 países. A partir deles, foi elaborado um grande banco de dados que permitiu todo tipo de comparações e análises nas mais diversas dimensões (HOPPE, 1990). A partir desse banco de dados, uma análise fatorial ecológica, ou seja, levando em consideração as médias dos fatores nos diferentes países, resultou na identificação de três fatores que influenciavam o pensamento humano, das organizações e das instituições: a “masculinidade versus feminilidade”, o “controle da incerteza” e um terceiro fator que, por questões teóricas, foi quebrado em dois – a “distância do poder” e o “individualismo versos coletivismo” (HOFSTEDE, 1980; 1984).

Posteriormente, um novo questionário de valores culturais foi elaborado, com objetivo de evitar qualquer viés ocidental nas medições encontradas. Ele foi construído com o auxílio de pesquisadores orientais, e aplicado em vinte e três países com características orientais, incluindo a China, além de outros países que constavam de pesquisas regionais (BOND et al., 1987; HOFSTEDE, 1991). Da mesma forma que anteriormente, uma análise fatorial ecológica foi realizada sobre os dados, novamente identificando quatro fatores de influência. Os três primeiros eram equivalentes aos encontrados na pesquisa anterior: a “distância ao poder” de Hofstede é equivalente a “disciplina moral” de Bond; o “individualismoversus coletivismo” de Hofstede se compara com a “integração” de Bond; e a “masculinidadeversus feminilidade” de Hofstede é igual a “human heartedness” (compaixão ou bondade) de Bond (BOND; HOFSTEDE, 1989; HOFSTEDE, 1991). O quarto fator, no entanto, era completamente distinto.

A este fator distinto Bond deu o nome de “dinamismo confuciano”. Confuciano, pois todos os valores relacionados com ele aparentam ser oriundos dos ensinamentos de Confúcio. Diferente dos fatores que possuem equivalência, que podem ser encontrados tanto na cultura ocidental quanto na oriental, os fatores que não possuem equivalência são exclusivos de cada

cultura. O “controle da incerteza” está intimamente relacionado com a preocupação ocidental com a busca pela verdade, enquanto o “dinamismo confuciano” está relacionado com a preocupação oriental com a busca pela virtude (HOFSTEDE, 1991). Em uma tentativa de combinar este fator com os quatro apresentados anteriormente, foi dado a ele o nome de “orientação de longo prazo versus orientação de curto prazo”, dado que, em um extremo, o “dinamismo confuciano” leva a uma orientação dinâmica para o futuro, enquanto que no outro, leva a uma orientação estática para o passado ou presente (BOND; HOFSTEDE, 1989; HOFSTEDE, 1991).

As cinco dimensões podem então ser descritas da seguinte forma (HOFSTEDE 1980; 1984 e 1991; 1997):

Distância do Poder: Essa dimensão mede até que ponto os membros menos poderosos da

sociedade e das instituições aceitam ou esperam que o poder seja dividido de forma igual/desigual. Ela pode ser definida como a medida de até que ponto os membros menos poderosos das instituições e organizações dentro de um país têm expectativas de que o poder seja distribuído de forma desigual. Em sociedades onde a distância do poder é grande, não existe a expectativa de que todas as pessoas sejam iguais. Culturas oriundas destas sociedades possuem uma distribuição desigual de poder nas instituições e nas organizações, e são caracterizadas por uma hierarquia de privilégios. Culturas com baixa distância de poder, por outro lado, valorizam relações horizontais, em que todos estão no mesmo patamar. Nesse contexto, um cargo “superior” não tem conotação de status, sendo até mesmo rejeitado, o que faz com que a quantidade de pessoas “superioras” às demais seja reduzida.

Evitar a Incerteza: Esta dimensão demonstra até que ponto os membros de uma cultura

se sentem ameaçados pela incerteza e por situações desconhecidas, retratando a tolerância da sociedade com relação a incerteza e a ambiguidade. Está relacionada diretamente com o que é percebido por um determinado grupo de pessoas como a “verdade”. Um índice mais alto de “evitar a incerteza” reflete uma sociedade que tenta o máximo possível evitar incertezas através de leis e regras rígidas e medidas de segurança. Culturas com um baixo índice de “evitar a incerteza”, por outro lado, são mais tolerantes, e aceitam melhor críticas e novidades. Indivíduos em uma cultura deste tipo são geralmente mais frios com relação à expressão de sentimentos.

Individualismo versus Coletivismo: Culturas com um foco individualista acreditam que

as ligações e os relacionamentos entre os indivíduos são fracos e menos importantes, e o foco está na pessoa. Sociedades individualistas são aquelas onde “cada um cuida do seu”. Quando o foco é coletivista, por outro lado, existe um foco forte nos relacionamentos e nas redes de relacionamento, formando grupos coesos – inclusive o familiar – que protegem o indivíduo em troca de lealdade.

Masculinidade versus Feminilidade: Esta dimensão está relacionada com os estereótipos

culturais acerca dos gêneros masculino e feminino, onde os papéis pode gênero são claramente definidos. Supõe-se que os homens sejam assertivos, duros e focados no sucesso material, por exemplo, enquanto que as mulheres sejam modestas, ternas e mais preocupadas com a qualidade de vida. Dessa forma, nas sociedades masculinas, as pessoas serão socializadas para a assertividade, ambição e competição, o que levará as organizações a enfatizarem os resultados e recompensarem as pessoas de acordo com o seu desempenho. Por outro lado, em sociedades femininas, em que a modéstia e a solidariedade são enfatizadas, as pessoas nas organizações serão recompensadas de acordo com as necessidades.

Orientação de Longo Prazo versus Orientação de Curto Prazo (Dinamismo Confuciano): Culturas com orientação de longo prazo têm uma perspectiva de longo

prazo em relação à vida. Determinação, trabalho duro e apego às responsabilidades são traços desta orientação, e tradições e rituais não são elementos frequentes. Culturas de orientação de curto prazo têm foco no presente, buscando sempre os resultados mais imediatos. Indivíduos em culturas deste tipo não são guiados por objetivos futuros, mas sim pelo desejo de mostrar estabilidade e prosperidade pessoal, o que faz com que as tradições e os rituais sejam bastante utilizados.

Através do mapeamento dessas dimensões, Hofstede, junto à Bond em alguns casos, sugere que esses valores impactariam os pensamentos e ações humanas, moldando, assim, a cultura em seus diversos níveis.