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O modelo de internacionalização segundo o Empreendedorismo

2.2. U M APROFUNDAMENTO DAS ABORDAGENS COMPORTAMENTAIS DE

2.2.3. Empreendedorismo Internacional

2.2.3.1. O modelo de internacionalização segundo o Empreendedorismo

O Empreendedorismo Internacional, apesar de ser uma corrente de estudos relativamente nova, já é considerado uma das principais direções futuras de pesquisa sobre negócios internacionais, empreendedorismo e gerenciamento estratégico (YOUNG; DIMITRATOS; DANA, 2003). Assim como a abordagem de Networks, essa corrente integra a escola nórdica de negócios internacionais (HILAL; HEMAI, 2003). Apesar do estudo teórico deste fenômeno ser recente, ele já vem ocorrendo no cenário mundial há diversos anos (ETEMAD, 2004).

A perspectiva do Empreendedorismo Internacional propõe que os indivíduos que participam do processo de internacionalização despontam como os fatores mais importantes na escolha do modo de internacionalização das empresas (ANDERSSON, 2000). Em outras palavras, o papel do empreendedor individual é fundamental no processo de

internacionalização da firma (HILAL; HEMAI, 2003). Uma vez que cada indivíduo é distinto, e que duas pessoas inseridas em um mesmo ambiente podem ter visões diferentes sobre a internacionalização, esse processo não pode ser abordado através de um modelo fixo, como ocorre na teoria de Uppsala (ANDERSSON, 2000).

O indivíduo empreendedor deve possuir cinco qualidades principais: a habilidade de perceber diferentes oportunidades, a vontade de agir e desenvolver essas novas oportunidades, a percepção sua visão pessoal pode ser melhor do que os resultados de cálculos racionais, a aptidão necessária para convencer outros a investirem em seus projetos, e, finalmente, um senso de timing adequado (ANDERSSON, 2000).

O empreendedor, portanto, não é apenas um tomador de decisões críticas em um processo maior do que ele, mas sim um indivíduo que realiza ações empreendedoras. A consequência direta disso é que o cargo ou a posição que esse empreendedor ocupa dentro da empresa não importa (MCDOUGALL; OVIATT, 2000). Qualquer funcionário, gestor, diretor ou dono de empresa pode aparecer como um foco de empreendedorismo dentro da firma.

O indivíduo retratado pela perspectiva do Empreendedorismo Internacional, apesar de compartilhar características com qualquer outro empreendedor, tem ao menos uma diferença clara: eles sempre estão em posições estratégicas dentro da organização, ocupando cargosonde são capazes de implementar sua visão. Com base nisso, e na classificação de Schumpeter (1934), é possível se distinguir três tipos de empreendedores: os técnicos, os de marketing, e os estruturais (ANDERSSON, 2000).

O empreendedor técnico é aquele cujo foco está nos processos produtivos, nas fontes de matéria prima e nas novas tecnologias. Para este empreendedor, a participação no mercado internacional não é um objetivo central, mas ele faz com que os novos produtos e tecnologias de sua empresa sejam conhecidos internacionalmente através de sua rede de relacionamentos. Sua escolha dos mercados a serem abordados é realizada de forma racional, considerando a demanda de cada país, e seus métodos favoritos de internacionalização são a exportação e o licenciamento, que requerem menos recursos que operações diretas (ANDERSSON, 2000).

O empreendedor de marketing é focado na conquista de novos mercados, no crescimento da empresa e, consequentemente, no lançamento de novos produtos ou na

adaptação dos produtos existentes às necessidades de novos mercados. Esse empreendedor normalmente tem uma personalidade que o leva a pensar grande, perseguindo a noção de conquista mundial, e, portanto, enxerga a internacionalização como parte natural do processo de crescimento da firma. Seu método de atuação no exterior é o de grandes investimentos, com a construção de plantas de produção ou a aquisição de empresas para obter uma rápida penetração no mercado desejado (ANDERSSON, 2000).

O empreendedor estrutural tem um foco sistêmico, na estruturação e no direcionamento geral da empresa, sem se preocupar com as atividades operacionais ou rotineiras. Para este empreendedor, a internacionalização deve ser enxergada como parte de um todo maior que é a estratégia geral da firma, e não como uma meta isolada. Ele só escolheria um mercado internacional para atuar caso este mercado representasse uma boa perspectiva quando comparado com outras oportunidades, e seu método de atuação é através das fusões e aquisições com objetivo de enfraquecer a concorrência (ANDERSSON, 2000).

O empreendedor pode também ser enxergado como um indivíduo diferenciado, que possui a capacidade de enxergar o potencial de lucros em oportunidades de combinação de recursos que outras pessoas não são capazes de ver. Ele então utiliza essa visão para desenvolver estratégias que resultam em lucros mais rápidos (ALDRICH; ZIMMER, 1986). Esta visão é alinhada com as principais linhas de estudo sobre Empreendedorismo Internacional existentes hoje: o estudo dos impactos das políticas públicas sobre a exportação de pequenas empresas; o estudo dos empreendedores e das atividades empreendedoras nos diferentes países; e o estudo comparativo de pequenas empresas exportadoras e não- exportadoras.

Oviatt e McDougall (1994) propuseram um arcabouço teórico para combinar as teorias econômicas da internacionalização, mais tradicionais, com essa visão do empreendedor e com as linhas de pesquisa apresentadas. Esse arcabouço, retratado na figura 7, enxerga novos empreendimentos internacionais como um tipo especial de empresa multinacional. Esse tipo de empresa difere das organizações tradicionais em minimizar o uso da internalização de investimentos – devido à escassez de recursos que é comum a novas organizações – e em maximizar a utilização de estruturas alternativas de governança – como redes de negócios – como pontes para novas transações.

Figura 7. Elementos necessários e suficientes para novos negócios (new ventures) sustentáveis

Fonte: Oviatt e McDougall (1994)

Complementando esta visão, Knight (2000), coloca que a orientação empreendedora deve ocupar uma posição anterior à definição de estratégias ou táticas, sendo, portanto, o elemento inicial do desempenho de uma empresa em um contexto globalizado. O empreendedorismo é, portanto, uma orientação chave para as empresas que precisam lidar com forças relacionadas com a globalização (DIB, 2008). Empresas mais orientadas a empreender parecem ser mais inclinadas a alavancar estratégias de marketing para novos produtos e para ambientes complexos. A figura 8 ilustra estas correlações.

Figura 8. Relações hipotéticas entre os construtos do estudo de Knight

Fonte: Knight (2000)

Levando em consideração a importância do reconhecimento de oportunidades na perspectiva empreendedora, o Empreendedorismo Internacional, em definições mais recentes, pode ser definido como “a descoberta, aprovação, avaliação e exploração de oportunidades para criar bens e serviços futuros” (OVIATT; MCDOUGALL, 2005).

As redes de negócios desempenham um papel central nessa perspectiva, auxiliando os empreendedores a identificar oportunidades internacionais, a estabelecer sua credibilidade em novos mercados, e a criar alianças estratégicas ou outras alianças cooperativas. Elas são, portanto, as principais originadoras de oportunidades para os empreendedores internacionais (OVIATT; MCDOUGALL, 2005).

O Empreendedorismo Internacional possui, portanto, uma grande interdependência com a abordagem de Networks. Assim, a compreensão das duas teorias, e das interações

existentes entre elas, é fundamental para o estudo de um fenômeno recente que vem ganhando cada vez mais relevância: as empresas Born Globals, que serão abordadas em seguida.

2.2.3.2. Críticas ao modelo

A principal crítica ao modelo do Empreendedorismo Internacional é o fato desta teoria ser relativamente recente. Isto implicaria em inferir queela ainda se encontra nas fases iniciais de desenvolvimento, com muitos elementos ainda não clarificados, tais comosua abrangência e correlação com outras teorias (YOUNG; DIMITRATOS; DANA, 2003; BAKER; GEDAJLOVIC; LUBATKIN, 2005; DIMITRATOS; JONES, 2005; JONES; COVIELLO, 2005; MITGWE, 2006). Embora possa ser considerado um ponto de encontro de todas as teorias de negócios internacionais, das abordagens econômicas às comportamentais (MITGWE, 2006), o escopo completo da área do Empreendedorismo Internacional ainda se encontra indefinido (ACS; DANA; JONES, 2003).

Outra crítica importante é sobre a escassez de estudos sobre o comportamento empreendedor dentro de firmas estabelecidas (NALDI, 2008). Em particular, existe uma falta de pesquisas sobre “Empreendedorismo Internacional corporativo” (international corporate

entrepreneurship), o conjunto de atividades que uma firma executa para identificar, avaliar,

selecionar e perseguir oportunidades fora do seu mercado doméstico (ZAHRA et al, 2005).

Outra crítica igualmente relacionada aos estudos diz respeito à falta de integração entre estudos acerca do empreendedorismo versus negócios internacionais. Essa dissincronia tem sido o maior obstáculo para um total entendimento da natureza e do processo do Empreendedorismo Internacional. Assim, a necessidade em desenvolver uma interligação entre os diversos temas complementares à teoria – como, por exemplo, ressaltar a relação clara entre o processo de internacionalização e o empreendedorismo – é crucial para uma visão completa do tema (DALMORO, 2008).

Finalmente, o Empreendedorismo Internacional vem cada vez mais sendo colocado como uma parte do fenômeno “Born Globals”, ao invés de uma teoria isolada. O racional por trás dessa integração das teorias vem do fato de que esse tipo de empresa dominou os estágios iniciais do desenvolvimento do Empreendedorismo Internacional. Praticamente todas as empresas que participaram dos estágios iniciais do Empreendedorismo Internacional são caracterizadas como Born Globals. (RENNIE, 1993).