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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS E SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS

6.1. C ONSIDERAÇÕES F INAIS

Conforme colocado no capítulo 1, este estudo privilegiou as abordagens comportamentais da internacionalização às econômicas. Seu objetivo foi o de compreender e identificar nas empresas os fatores apontados pela literatura como influenciadores da decisão de se internacionalizar, da escolha dos mercados, e dos mecanismos de entrada nos mesmos. Tendo em vista as teorias apresentadas durante a revisão de literatura que amparou esta pesquisa, algumas inferências podem ser feitas.

Com relação ao processo de internacionalização, nenhuma das empresas apresentou comportamento similar ao inferido pela teoria de Uppsala, que propõe que a empresa, fugindo de um mercado doméstico já saturado, aumentaria a sua participação no mercado internacional a partir da crescente aquisição de conhecimento sobre o mercado em questão

(JOHANSON; VAHLNE, 1977; 1990). Cada uma das empresas abordadas apresentou um comportamento diferente de internacionalização. Parte delas assumiu acordo de parcerias, parte acordos de exportação, outras instauraram equipes de vendas no país estrangeiro, e outras ainda estabeleceram novas firmas no exterior.

Assim, mais do que o aumento gradual do comprometimento, observou-se a grande influência das redes e do indivíduo empreendedor nesse processo. Conforme dita a teoria das Perspectivas de Networks (JOHANSON; MATTSSON, 1988) o processo de internacionalização de uma empresa não vem necessariamente de sua interação com o mercado, mas é resultado de uma rede de relacionamentos mais complexa. Complementando essa lógica, aparece a teoria do Empreendedorismo Internacional, que afirma que o papel do empreendedor individual é fundamental no processo de internacionalização da firma (HILAL; HEMAIS, 2003). Esta pesquisa demonstrou que, no universo de empresas abordado, esses dois elementos foram chave para a internacionalização.

Praticamente todas as empresas da amostra tiveram a sua internacionalização iniciada por elementos da rede de negócios. O papel do empreendedor nesse momento de aceite também aparece como fundamental. É dele que vem a motivação e a aprovação para seguir adiante com a internacionalização do negócio. Daí a importância desses dois elementos nesse processo, bem como os diferentes resultados no que tange as formas de abordagem ao mercado estrangeiro. Vale, contudo, expor uma exceção: uma das empresas apresentou um comportamento diferente no que tange o uso das redes para a internacionalização. Com forte influência do indivíduo empreendedor, a empresa optou por promover a sua solução – direcionada tanto para a pessoa jurídica, quanto para a pessoa física – fazendo uso da publicidade online. Assim, a sua internacionalização parece não ter tido influência direta da rede, mas sim da publicidade adquirida.

Com vocação internacional desde o momento da fundação, essas empresas confirmam o dito pelo fenômeno Born Global, onde empresas já nascem voltadas para o mercado exterior graças ao processo de globalização. De especial importância são a homogeneização dos mercados, a facilidade de acesso a mercados internacionais e as recentes inovações tecnológicas nos campos de telecomunicações, transportes e microeletrônica (OVIATT; MCDOUGALL, 1994; SERVAIS, 1997). De acordo com os resultados obtidos através da pesquisa, a barreira do tamanho deixaria de existir e essas empresas florescem no mercado

global através de soluções, de certa forma, padronizadas (atendendo à um mercado homogêneo) e das inovações tecnológicas, que se mostram cruciais para o desenvolvimento do negócio. O uso de tecnologias como e-mail, Skype, “computação na nuvem”, dentre outras, permitiria principalmente a quebra de barreiras geográficas, colocando essas empresas em pé de igualdade com outras que possuem folego maior de investimento.

Barreiras culturais, por sua vez, não foram apontadas como problemas pelos entrevistados. Com a homogeinização dos mercados, os executivos não sentiram o impacto das diferenças culturais em suas vendas. Mesmo o idioma, que a primeira vista seria um limitador, não se mostrou um empecilho. Tendo o inglês como a lingua oficial entre países, nenhuma das empresas afirmou ter tido problemas. Vale lembrar que as empresas abordadas tinham relações internacionais apenas com países de cultura ocidental. É possível que, quando em contato com culturas orientais, barreiras culturais passem a existir. Vale lembrar também que o mercado de atuação dessas empresas (software) sofre de uma pesada influência norte- americana que torna essa tendência a utilização do inglês mais forte.

A grande barreira que apareceu então é a de natureza psíquica. Uma vez que o processo de internacionalização destas empresas está muito associado ao empreendedor individual, as distâncias percebidas pelo indivíduo apareceriam como fundamentais ao processo. Observou- se, contudo, que a experiência internacional do indivíduo está intimamente relacionada com a percepção dos riscos associados à internacionalização. Quanto maior o número de experiências internacionais, menores são as barreiras percebidas. Em contrapartida, em países menos usuais, por assim dizer, como Angola e Nigéria, muito pela falta de apoio das autoridades brasileiras em esclarecer processos, as distâncias percebidas passam a ser muito grandes, mostrando-se, para os entrevistados, um entrave ao negócio.

No que tange a cultura organizacional, a maioria das empresas abordadas não possui uma declaração formal com relação a sua cultura. Isso se deve tanto ao nível de informalidade das relações nestas empresas quanto ao seu próprio estágio de maturidade. É natural que empresas recém-formadas não tenham uma definição tão clara de sua cultura. Ainda assim, palavras como “inovação”, “criatividade”, “comprometimento” e “espírito de equipe” foram amplamente citadas como descritivas da cultura da organização.

Apesar de não possuir uma cultura organizacional plenamente articulada, para a grande maioria dos respondentes uma cultura organizacional forte influencia diretamente o sucesso da internacionalização. As duas primeiras palavras citadas, “inovação” e “criatividade”, estão relacionadas com o produto diferenciado que essas empresas tentam apresentar ao mercado. Elas ganharam espaço no cenário mundial frente à outras organizações exatamente por oferecerem soluções diferenciadas e únicas, seja em termos de produto ou de relação custo x benefício.

As palavras “comprometimento” e “espírito de equipe”, por sua vez, sugerem duas características importantes destas empresas: o comprometimento total com o cliente, com um acompanhamento próximo de todas as fases dos projetos e com entregas rápidas, que representam um “algo a mais” que grandes empresas não conseguem entregar pelo peso de sua estrutura; e a união da equipe interna da empresa, que permite que tudo isso seja feito. De fato, o tratamento da equipe como uma família esteve muito presente nas pesquisas. Para os respondentes, isso é peça fundamental não só para o sucesso da internacionalização, mas para o sucesso da própria empresa. Esse espírito de equipe seria chave para que se obtenha o comprometimento com a empresa que, por sua vez, seria chave para o comprometimento com o cliente.

Esses quatro termos utilizados para descrever a cultura organizacional dessas empresas tem relação direta com as principais características alocadas pelos respondentes para a cultura brasileira. O “peso das relações pessoais”; o “calor humano”; o “jeitinho”; a “informalidade”; a “valorização do que vem de fora”, a “criatividade” e a “burocracia” foram as características mais citadas como descritivas da cultura nacional. A inovação e a criatividade tão citadas para a cultura organizacional está relacionada com a criatividade apontada para a cultura brasileira. Por sua vez, o comprometimento e o espírito de equipe se correlacionam com as relações pessoais e o calor humano da cultura brasileira. Até mesmo a informalidade característica da cultura nacional pode ser tomada como um fomentador dessa união entre pessoas e do bom relacionamento entre elas. Ficam de fora, contudo, o jeitinho, a valorização do que vem de fora e a burocracia, características repudiadas pelos entrevistados.

Tanto a cultura organizacional quanto a cultura brasileira, apesar de afetarem o desempenho dessas empresas em mercados internacionais, de forma geral parecem não influenciar a decisão de internacionalizar, a escolha dos mercados e os modos de entrada.

Apenas dois aspectos relacionados à cultura brasileira tiveram algum impacto: a valorização do que vem de fora e a burocracia. A valorização do que vem de fora faria com que a obtenção de um “selo” internacional torne uma empresa mais atraentre no próprio mercado doméstico, e influencia, portanto a decisão de internacionalizar.

A burocracia, por sua vez, aparece influenciando o indivídio empreendedor na sua tomada de decisão. A burocracia exacerbaria as barreiras psíquicas à internacionalização trazendo mais complexidade e insegurança para o processo de internacionalização. Como essas são as principais barreiras associadas as Born Globals, a burocracia terminaria por afetar negativamente o processo de internacionalização. Com isso, pode-se dizer que essas duas particularidades da cultura brasileira são as únicas das mencionadas pelos respondentes que apresentam uma influência mais direta acerca do processo de internacionalização.