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I MPACTOS DA CULTURA BRASILEIRA : RELAÇÕES PESSOAIS , “ CALOR HUMANO , “ JEITINHO ”,

5. ANÁLISE DOS RESULTADOS

5.7. I MPACTOS DA CULTURA BRASILEIRA : RELAÇÕES PESSOAIS , “ CALOR HUMANO , “ JEITINHO ”,

BUROCRACIA

A cultura brasileira apareceu como grande influenciadora do comportamento de internacionalização dos empresários entrevistados. Das várias características associadas aos brasileiros, as que apareceram durante as entrevistas foram: o “peso das relações pessoais”; o “calor humano”; o “jeitinho”; a “informalidade”; a “valorização do que vem de fora”, a “criatividade” e a “burocracia”. Em muitos casos, essas características apareceram como tanto positivas quanto negativas, mas sempre afetando o processo.

As relações pessoais e seu peso apareceram fortemente em todas as investidas desses empresários. Todos os indivíduos entrevistados apresentaram grande facilidade de se relacionar com os outros, simplificando enormemente o início do processo nas suas empresas. A própria influência das redes de relacionamentos das empresas no processo de internacionalização pode ser uma evidência disso: os brasileiros souberam aproveitar a sua capacidade de realizar relacionamentos para alcançar seus objetivos internacionais.

“A cultura brasileira tem uma coisa do comprometimento, que, de certa forma, está relacionado com você ter um relacionamento

próximo. Isso significa que você consegue dar um serviço bastante diferenciado, muito diferente do que as pessoas estão acostumadas. Em país como os EUA, por exemplo, o pessoal está acostumado com um serviço mais impessoal, e aí, quando você chega com essa coisa brasileira da proximidade, é um grande diferencial.” (ENTREVISTADO 11)

“Você ter um bom relacionamento, sem competição, torna o ambiente mais leve, mais agradável, mais gostoso de você estar e viver. E é esse tipo de relacionamento que levamos para fora. As pessoas gostam de se sentir bem e os brasileiros sabem fazer isso.” (ENTREVISTADO 15)

O “calor humano” também acompanha as relações pessoais. Apesar de entenderem que outras culturas não operam da mesma forma, grande parte dos entrevistados afirmou que o jeito expansivo de ser do brasileiro foi chave para tecer relacionamentos e fechar contratos. Para muitos, mesmo culturas mais distantes ficam encantadas pelo jeito único do brasileiro de acolher a todos, fazendo-os se sentirem parte de um grupo. O calor humano nesse caso não é transmitido somente através de toques, mas principalmente através do demonstrado interesse pela vida pessoal do outro, onde perguntas sobre a família e passatempos de forma geral são feitas objetivando a aproximação do outro.

“O brasileiro tem essa coisa muito forte da proximidade e eu acho interessante, ajuda principalmente empresas como a nossa que estão no início da carreira.” (ENTREVISTADO 6)

“Um ponto extremamente positivoé a aquilo que eu chamo de “chegância”. Não é bem uma intimidade, mas é o vinculo que você consegue montar com as pessoas. Na terceira reunião entre as empresas, você já sabe tudo sobre as pessoas. Isso é uma coisa importante.” (ENTREVISTADO 8)

O “jeitinho” também aparece como característica marcante durante as entrevistas. Como mencionado anteriormente, em muitas sociedades há uma diferença clara entre o certo e o errado e uma forma intermediária é repudiada. No Brasil, no entanto, o caminho entre o “pode” e o “não pode” é chamado de “jeitinho”. É mais do que um modo de viver, é uma forma de sobreviver, uma reação sensível, inteligente e compassionada de relacionar o impessoal com o pessoal (DAMATTA, 1984). Boa parte dos entrevistados afirmou não adotar o “jeitinho”, mas disseram sofrer pelos que adotam, afirmando que essa postura de muitos brasileiros acaba por denegrir a imagem do país no exterior. Essa abordagemdá ao jeitinho uma conotação negativa, o que não ocorre na descrição de DaMatta (1984), onde o foco é mais amplo e implica em flexibilidade e uso das networks de relacionamento para contornar processos e entraves burocráticos.

“O ponto fraco da nossa culturaé o jeitinho. A nossa empresa não compartilha com essa cultura. Vai tocando, vai tocando, vai tocando e depois a coisa explode, entende?” (ENTREVISTADO 8)

“Tem sim um ponto fraco: o jeitinho brasileiro. Aquilo que é ético daquilo que é não ético é um pouco fluido no Brasil. E isso é reconhecido lá fora.” (ENTREVISTADO 9)

“Você tem uma coisa muito forte dentro da cultura brasileira que é a idéia do jeitinho, de você poder dar um jeitinho e consertar as coisas. Tem também aquela coisa de querer obter vantagem em tudo... acaba que no Brasil tem muita burocracia e, se você não é partidário do jeitinho, acaba perdendo oportunidades ou acaba que nem consegue se mexer.” (ENTREVISTADO 13)

A informalidade também mostrou-se bastante presente, tanto durante as relações profissionais, quanto no dia a dia das empresas. Ela aparece como uma facilitadora em ambas as situações, simplificando os processos devido a ausência de protocolos formais e trazendo para as empresas uma capacidade de resposta acelerada. A informalidade, no entanto, também

teria um viés negativo. A falta de preparo para reuniões de negócios é um exemplo dessa informalidade excessiva. Pensando muitas vezes que o relacionamento pessoal – o “calor humano” – bastaria para conduzir de forma positiva uma reunião internacional, o executivo brasileiro, na visão dos entrevistados, é pego desprevenido com perguntas diretas as quais ele não está preparado para responder. Perguntas práticas sobre desempenho da empresa e potencial de mercado futuro, por exemplo, acabam não respondidas por falta de preparo e de conhecimento.

“A informalidade às vezes ajuda bastante, mas pode atrapalhar bastante, principalmente quando você está fechando um contrato, discutindo etapas de cronogramas. Por outro lado, ela ajuda no contato, na forma como você vai abordar, na forma como você inicia a conversa, essa informalidade facilita essa aproximação.” (ENTREVISTADO 1)

“A informalidade, por um lado, dá ao brasileiro um jogo de cintura, uma flexibilidade muito grande, uma capacidade de adaptação à novas situações que é muito interessante. Ao mesmo tempo isso transmite uma falta de profissionalismo ou visão de causa. Então, essa é uma caracteristica que é muito marcante e ao mesmo tempo que ela é forte, ela é um pouco fraca.” (ENTREVISTADO 13)

Para a maioria dos entrevistados, a “valorização do que vem de fora” também é muito presente na cultura brasileira. Muitas das empresas entrevistadas, na verdade, afirmam que um dos objetivos do movimento de internacionalização é justamente o aumento da atratividade da empresa para o mercado doméstico. O preconceito acerca do que vem de dentro ainda seria muito forte, estando associado com a idéia de ser “vagabundo”, de má qualidade.

“Outro ponto que eu acho que acaba sendo um ponto fraco da cultura brasileira é essa sobrevalorização do que vem de fora que ainda existe dentro da cultura brasileira, principalmente quando se trata de tecnologia. (...) Muitas vezes as pessoas desconsideram soluções

nacionais que são extremamente interessantes e úteis em detrimento de uma coisa que veio de fora.” (ENTREVISTADO 13)

“Eu acho que o brasileiro tem sim uma resistência muito grande ao nacional, uma visão ainda muito admiradora do que é estrangeiro, mas o mercado está mudando.” (ENTREVISTADO 14)

“A gente acredita mais no produto estrangeiro do que no brasileiro. Aliás, o elogio que eu ouço com muita freqüência é “mas isso é feito aqui no Brasil?”(...) Eu vejo isso mudando hoje em dia, principalmente em função desse governo.” (ENTREVISTADO 15)

A criatividade também é por diversas vezes mencionada como uma das principais características associadas à cultura brasileira, e como uma grande facilitadora do processo de internacionalização. A capacidade de gerar soluções únicas, não só em termos de produtos, mas também para problemas do dia a dia dessas empresas, seria um diferencial frente à concorrencia de outras empresas e países.

“Eu acho que se tem uma diferença é essa nossa capacidade de criar, de inovar. Essa capacidade criativa de transformar uma coisa comum em uma coisa nova. Quando o brasileiro resolve fazer uma coisa e fazer bem, ele vai conseguir um excelente resultado” (ENTREVISTADO 9)

“Eu acho que a criatividade é um ponto fortíssimo da nossa cultura. Essa capacidade do brasileiro em dar soluçõesnovas e diferentes é incrível.” (ENTREVISTADO 10)

Por fim, a burocracia aparece como um grande problema enfrentado por todos os executivos, sejam eles brasileiros ou não-brasileiros, que fazem negócios dentro e fora do país. As regras excessivas e muitas vezes confusas dificultariam não só o processo de internacionalização, mas também a formalização do negócio enquanto empresa. Os altos impostos, que são de certa forma decorrentes da vasta burocracia governamental, reduziriam os níveis de investimento adotados pelas empresas no início de suas operações, fazendo com que a sua evolução seja mais lenta do que o ideal.

“Eu falei para o meu sócio canadense: “bom, hoje você teve uma lição importante do Brasil que é a chamada burocracia, ou seja, estão pedindo e ninguém sabe o porquê que estão pedindo, e entregar o pedido não vai levar nada a lugar nenhum...” (ENTREVISTADO 8)

“Um dos grandes problemas do Brasil é a burocracia e a empresa sofre por causa disso. Sofre porque um orçamento que poderia ser usado para treinamento, por exemplo, ou mesmo para contratar pessoal, está indo para pagar imposto. Funcionar é muito caro no Brasil.” (ENTREVISTADO 12)

Vale ainda uma última colocação: o Brasil, como muitos afirmaram, está “na moda”. Essa atração dos países estrangeiros pelo território nacional aparece como uma facilitadora da internacionalização dessas empresas. O que antes aparecia como uma barreira, hoje é visto com bons olhos por, segundo alguns entrevistados, praticamente todos os países do mundo. Segundo eles é um bom momento para ser brasileiro. Provavelmente até mesmo por conta disso toda a questão da informalidade e do calor humano, tão característicos do Brasil, seriam, até certo ponto, relevados por outras culturas.

“Hoje em dia impacta. Pegando o velho chavão do momento, o Brasil é a bola da vez. E você sente claramente que o que está direcionando todas essas relações é exatamente isso. A posição que o Brasil está

assumindo hoje está despertando o interesse de muita gente lá fora.” (ENTREVISTADO 1)

“Todo mundo fala do Brasil. Éum dos países do BRIC, emergente... eu acho que é um momento muito positivo. Se falássemos há 10 anos eu poderia ter outra imagem do Brasil, mas agora eu acho que a imagem estámuito boa.” (ENTREVISTADO 7)

“Hoje eu acho até que eu estou querendo colocar uma bandeirinha do Brasil em nosso software porque o Brasil está na moda. A vista do Brasil agora é outra.” (ENTREVISTADO 15)

CAPÍTULO 6

CONSIDERAÇÕES FINAIS E SUGESTÕES PARA

PESQUISAS FUTURAS