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As culturas que caracterizam as organizações, nomeadamente, as organizações escolares, detêm um papel fundamental, senão principal, na definição do perfil identitário dessas mesmas organizações. Deste modo, cada escola, com um espaço próprio e indivíduos específicos, desenvolve no seu interior, uma teia de culturas sui generis.

É situando o seu interesse em cada segmento específico desta teia de culturas que vários investigadores, alguns dos quais pertencentes ao panorama nacional, se debruçam sobre a análise das culturas profissionais dos docentes.

O trabalho mais reconhecido nesta área é o de Jorge Ávila de Lima, da Universidade dos Açores (ver Lima, J. A. 1992, 1997, 2000, 2002), que tem vindo ao longo dos anos, a estudar as relações sociais que se estabelecem entre os professores no contexto escolar. Na sua dissertação de mestrado (Lima, J.A., 1992) dedicou-se à análise das representações dos professores das escolas secundárias no âmbito das suas relações sociais com os seus colegas profissionais. Na sua tese de doutoramento (Lima, J. A., 1997) o investigador realizou um estudo comparativo das formas relacionais que se estabelecem entre colegas, observando dois departamentos curriculares de duas escolas secundárias e analisando o contexto profissional dos docentes como algo fragmentado e produtor de diversas culturas profissionais que se formam no todo escolar. É a partir

9 - Dedicam-se apenas à docência de uma área temática de conhecimento. Pode apresentar pouca atividade

micropolítica apesar de desenvolver processos formais e informais de coordenação do trabalho dos docentes e dos alunos. Estes departamentos têm uma maior probabilidade de apresentar uma cultura homogénea.

deste estudo que o Jorge Ávila de Lima desenvolve o seu livro As culturas

colaborativas das escolas: estruturas, processos e conteúdos (Lima, J. A., 2002), onde

descreve as formas culturais que os professores desenvolvem nas suas relações com os seus colegas em contexto laboral.

Da mesma forma, na área das culturas profissionais dos docentes, Telmo Caria, investigador da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, no seu vasto e diversificado leque de interesses e linhas de investigação, dedicou-se à análise das relações desenvolvidas em contextos profissionais diversos, incluindo o contexto profissional docente, nomeadamente no seu trabalho investigativo desenvolvido no âmbito do doutoramento em sociologia da educação, intitulado O uso do conhecimento em contexto de trabalho – Um Estudo etno-sociológico da cultura (ver Caria, 1997), onde, através de uma abordagem antropológica, o investigador observa e analisa as relações profissionais dos professores de uma escola do 2.º e 3.º Ciclos do Ensino Básico.

Ainda neste contexto, importa referenciar o trabalho desenvolvido por Neto-Mendes, da Universidade de Aveiro, que no âmbito da sua tese de doutoramento em ciências da educação analisou O trabalho dos professores e a organização da escola secundária (ver Neto-Mendes, 1999). Na sua investigação Neto-Mendes observa e estuda as culturas docentes através da díade organização escolar ↔ trabalho docente. Para tal, o investigador, recorre à tipologia de Hargreaves (1998) para analisar os modos específicos de trabalho dos docentes da escola secundária objeto do estudo. O mesmo autor tem desenvolvido outros trabalhos na área da cultura profissional docente e da sua identidade, tanto individualmente (ver Neto-Mendes 1996, 2004) como em colaboração com outros investigadores (ver Costa, Neto-Mendes & Sousa, 2001; Costa, Neto- Mendes & Ventura, 2008, Pardal et al, Maio-2011).

Esclarecendo o conceito de cultura profissional docente, ou “cultura do ensino” como a denomina Hargreaves (1998, p.185), este autor defende que se trata das “crenças, valores, hábitos e formas assumidas de fazer as coisas em comunidades de professores”. Para Sarmento (1994, p. 68) a cultura docente “é tudo o que resta e é posto em comum após se ter esquecido tudo aquilo que diferencia.”. É através da sua inserção na cultura profissional do contexto a que pertence que o professor constrói a sua identidade e se desenvolve profissionalmente.

Ávila de Lima (2002) argumenta que a classe docente é muito heterogénea e que não existem duas organizações escolares com população docente igual. Efetivamente, os docentes possuem características individuais únicas, pertencendo a níveis culturais e socioeconómicos diversos e interpretam a realidade que os envolve segundo o seu ponto de vista pessoal. Pertencem a grupos disciplinares com maior ou menor prestígio, aceitam os normativos do poder central com maior ou menor passividade, são mais ou menos participativos, etc. É perante tão vasta diversidade, que julgamos ser coerente concordar com Ávila de Lima (2002, p. 33 e 34), ao defender que se revela incorreto considerar que “a cultura dos professores possui mais uniformidades que pluralismo.” Neste contexto, é então fundamental considerar a cultura profissional docente como sendo um fenómeno social complexo que resulta das interações entre os profissionais da área educativa e que se revela através de diversos padrões de pensamento e ação.

A cultura profissional docente é, portanto, um objeto de estudo multíplice, que apresenta diversas nuances, (não apenas variáveis de escola para escola, mas também dentro de uma só escola) o que justifica o argumento de Ávila de Lima (2002, p.20) de que “as culturas dos professores deverão ser perspetivadas, não apenas em termos de conhecimento, de valores, de crenças ou de conceções, mas também de comportamentos e de práticas. Fazer e agir é culturalmente tão significativo como sentir e pensar.”

É nesta perspetiva analítica de dualidade, que Andy Hargreaves argumenta que a cultura profissional dos professores deve ser analisada tendo em consideração dois pontos essenciais: o conteúdo (valores, crenças, pressupostos assumidos) e a forma (padrões de relacionamento e de associação), sendo que segundo o mesmo autor “é através destas formas que os conteúdos das diferentes culturas são concretizados.” (Hargreaves 1998, pp. 186-187).

É tendo como ponto de partida esse pressuposto de que existem diversas culturas docentes com as suas características específicas que, tal como muitos outros investigadores, Andy Hargreaves, defende a existência de quatro formas gerais da cultura docente:

• Individualismo/isolamento • Balcanização

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