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Colegialidade artificial

Capítulo 4 – Apresentação e discussão dos resultados

4.2. Diversidade étnico-cultural do contexto educativo: uma análise descritiva

4.2.1. O reconhecimento da diversidade étnica e cultural

– Educação intercultural: a definição

Quando questionadas sobre o que entendem por educação intercultural, as educadoras entrevistadas centram-se essencialmente na expressão de respeito e de aceitação de outras culturas, com as suas diferenças e características, bem como na divulgação, nas práticas letivas, dessas culturas e das respetivas características, aproximando-se a sua definição do conceito de educação multicultural.

“Eu acho que é tentar conhecer as realidades, as vidas e os modos de vida de cada um. E não é dizer que aquele é que é bom e aquele é que é mau e assim, o que se deve fazer ou não se deve fazer […]. Por isso é tentar transmitir conhecimentos e aprender a viver no seu modo de vida e respeitar o dos outros.”F95

“Nós aqui tentamos respeitar sempre todas as culturas, não é? Ao respeitar já estamos… nós tentamos que dentro da diferença todos sejam, digamos, iguais… eles têm que estar em contacto com a diferença e olharem e verem que são diferentes… são todos diferentes mas ao mesmo tempo são todos seres humanos, somos todos iguais, temos todos os mesmo direitos… embora haja uma grande diversidade a todos os níveis, mas no fundo, nós somos todos pessoas, somos todos crianças, todos precisamos de comer… [Educação intercultural] É tentar realmente, fazer-lhes ver que só têm a ganhar ao perceberem essa diferença e ao viverem nessa diversidade.”A91 57

57 - Outras educadoras, ainda, manifestam-se no mesmo sentido: “Educação intercultural é educar tentando respeitar a

cultura de todos e mostrar também aos outros as culturas do nosso mundo. Que cada vez mais as pessoas se movimentam de uns países para os outros, há cada vez mais misturas de raças e de culturas entre as pessoas, nos próprios casamentos, na formação de famílias.”C132 e “É o respeito, que tem de fazer parte desta educação… a

Outras educadoras aproximam-se mais da definição do termo educação intercultural, na sua dinâmica interativa e multilateral de partilha e interdependência entre as várias culturas.

“É fazer com que todas as crianças se sintam bem dentro da escola e que sintam que a escola é para todas e para cada uma. Chamando pais de várias nacionalidades à sala, contar histórias tradicionais do seu país, partilhando tradições e conhecimentos. Trata- se da vivência de partilhas, no fundo.”E67

“É o respeito pelas várias culturas e, embora a cultura portuguesa seja a predominante, por estarmos em Portugal, não deixar de lado a riqueza das outras culturas, que podemos aproveitar e que são benéficas nas aprendizagens das crianças porque elas ao chegarem aqui não deixam de ser quem são, não deixam de ter outras influências culturais. Portanto, acima de tudo, é a partilha e a parceria… o aproveitar ao máximo o que cada um tem de mais rico.”I106 58

– População do agrupamento: uma breve caracterização

Em relação à visão geral que as educadoras do DCEP possuem sobre a população do agrupamento como um todo, as educadoras referiram as suas dificuldades académicas (C), o fraco interesse dos pais pela vida académica dos alunos (C e I) e as dificuldades dos alunos no domínio da língua portuguesa (I). Porém com muito mais frequência as entrevistadas falaram das características étnico-culturais, económicas e sociais dos alunos e das relações interpessoais. Grande parte das educadoras afirma apenas ter uma ideia exata das características dos alunos do seu próprio estabelecimento.59

Em relação às características étnico-culturais, a maioria das educadoras considera o agrupamento muito diversificado em função da nacionalidade de alunos ou de seus progenitores. 60

Por outro lado, as educadoras referem que, a nível do agrupamento, as características económico-sociais das famílias são igualmente diversas, apesar de, economicamente se

58 - A Educadora D, por exemplo, refere a mesma importância da partilha das características étnico-culturais: “É a

partilha, eu acho que é a partilha… daquilo que eles [estrangeiros] trazem da sua cultura e é a aceitação, aceitar os outros com aquilo que ele traz, a sua carga genética e cultural.”D91

59 As educadoras afirmam, neste contexto que: “[…] de um modo geral, é-me difícil definir a população das outras

escolas do agrupamento.”A70; “[…] não sei [acerca das características da população do agrupamento]… não sei, do

geral não sei…”G60; “[…] mas não tenho muita ideia [das características dos alunos do agrupamento]…”E46

60 - As educadoras mencionam que “São alunos com origens muito diversas, de várias nacionalidades e embora

alguns tenham nacionalidade portuguesa os pais…e em muitos casos, até os pais tenham nacionalidade portuguesa, existem muitas crianças descendentes de estrangeiros.”I75 Outras educadoras partilham a mesma perspetiva, pois

consideram que “[…] são tão diversificados [os alunos do agrupamento] … de tantas culturas tão diferentes!... acho que é das zonas onde já trabalhei que têm maior variedade cultural, as origens das famílias. Muçulmanos, há imensos!”F67; “É uma população muito diversificada culturalmente.”H63 No entanto uma das educadoras argumenta de

forma oposta e, do seu ponto de vista, “[…] na sua maioria [os alunos] são portugueses.” D68 e não se observa uma

acentuada diversidade cultural , pois “Quase que não se percebe… não se percebe essa heterogeneidade, essa

verificar um elevado número de famílias carenciadas. A este respeito, a Educadora A sustenta que sabe “[…] que [a população do agrupamento] é uma população muito diversificada, socialmente e economicamente, apesar de economicamente pertencerem mais às classes baixas.”A71 e a Educadora H diz que o agrupamento “[…] tem muitas famílias carenciadas, algumas mais favorecidas embora eu pense que… tem mais população carenciada e… uma camada média baixa, talvez seja aquilo que o caracteriza mais…”H6461

Além destes aspetos relativos à composição social e cultural, as educadoras referem, igualmente, as relações interpessoais desenvolvidas na população do agrupamento. Várias educadoras referem que se trata de um agrupamento onde, na escola do 2.º e 3.º Ciclo, os problemas relacionais entre alunos e entre estes e os adultos da escola sede ocorrem com alguma frequência.62

– Caracterização da população do estabelecimento/grupo

No que concerne as características do estabelecimento onde desenvolvem a sua prática profissional, as educadoras demonstram possuir um conhecimento mais concreto acerca dos alunos. Neste domínio as entrevistadas falam das características económico-sociais dos seus alunos (A, B, C e J), dos interesses do seu grupo (C, D, e I), do desinteresse dos pais pela vida escolar das crianças (B) e da caracterização etária dos alunos (A, C, D, E, G, H)63. No entanto, a maioria das educadoras centra-se na descrição das características étnico-culturais dos alunos, nas questões da língua e da comunicação, e nos comportamentos dos alunos.

Em relação à descrição das características étnico-culturais da população discente, várias educadoras referem que se verifica a existência de diversas origens: “Aqui neste bairro […] há muitas crianças indianas, paquistanesas […] há crianças de vários níveis e várias

61 - Também outras educadoras argumentam no mesmo sentido afirmando que “São crianças de um nível

sociocultural médio-baixo.”E43 e outra assegura que pode “[…] dizer que são crianças de uma classe média baixa em

relação ao estrato social…”D67

62 - É neste sentido que se manifesta, por exemplo a Educadora E ao dizer: “Mas são crianças que, quanto mais a sua

faixa etária é maior, mais difícil se torna lidar com elas. Por exemplo, no agrupamento é chamada a polícia muitas vezes.”E45. No entanto, é referido pela Educadora C que tem havido, nos últimos anos, por parte da direção do

agrupamento um trabalho intensivo com o objetivo de diminuir esses problemas: “Acho que [os alunos] se dão bem…mas há mais conflitos dentro da escola do 2.º e 3.º Ciclos, apesar de… assim, de há quatro anos para cá, houve um trabalho muito intensivo por parte da direção e até com ajuda de todos os professores e da Escola Segura… houve muitos conflitos e rixas lá em baixo entre os alunos e houver muitas suspensões também…”C95

63 - Apesar de haver um elevado número de educadoras a referirem este aspeto, consideramos que o mesmo é pouco

culturas…”J63 64.No entanto, outras educadoras argumentam igualmente que apesar das famílias terem origem noutros países, a maioria das crianças que frequentam o JI já nasceram em Portugal e possuem, portanto, nacionalidade portuguesa.65

As docentes consideram, por isso, que muitas vezes as origens das crianças já não têm influência no seu modo de ser e de estar. A este respeito, duas das educadoras afirmam que “se bem que, […] eu não me apercebo que haja assim uma grande diferença…não têm assim tão enraizado a cultura dos pais…”A86 e “também há alguma diversidade a nível cultural […] não tem grande reflexo na forma de estar das crianças, de se relacionarem, mas também há alguma diversidade. Temos crianças com origens culturais e… e de naturalidade, de nacionalidade muito diversa.”H71 66

Em relação à língua e à comunicação, as educadoras não mantêm uma posição unânime. Na maioria das salas existem algumas crianças com dificuldades de expressão na língua portuguesa, noutras salas a língua não constitui problema.

“A nível de linguagem há problemas, as crianças… as meninas, meninas de ascendência estrangeira… têm muita dificuldade de se exprimir em língua portuguesa. Não sei se por… insegurança, se porque dominam mal a língua.”H72 67

“Depois a nível de linguagem, apesar das suas várias origens, falam todos português.”A75 68

Por último, nesta categoria, as entrevistadas referem os comportamentos dos alunos. Sendo que algumas das turmas têm problemas de comportamento, por vezes porque apenas um dos pais reside em Portugal. Estes problemas não parecem estar diretamente

64 - Neste sentido, duas das educadoras afirmam que “São crianças também de origens muito diferentes”I80, «Com

várias origens, várias culturas, tenho os africanos, o indiano que é muçulmano e a mãe já veio falar do “Hide” que é o Natal dele, que foi em outubro…temos os africanos que também falam… falam às vezes das coisas dos pais, mas mais as coisas da alimentação porque os costumes deles já estão enraizados em Portugal porque os pais já cá vivem também há algum tempo, o Natal deles por exemplo é o Natal português, os aniversários são…o que é, é que gostam muito de dançar o kuduro e essas coisas assim, são miúdos assim, que têm o bichinho africano lá dentro.» C104 65 - É nesse sentido que vão as afirmações de duas das educadoras: “Eles nem são bem de outros países, são os pais

que são, porque eles já nasceram cá.”C115, “[…] são todos portugueses [os alunos], já nasceram cá…só tenho alguns

do Brasil, da Guiné e ainda uma mãe que é da Rússia.”D72

66 - Da mesma forma se manifesta outra das educadoras: “Aqui por exemplo no… aqui no JI as crianças apesar de

terem… dos pais serem de origem… doutros países, não é? Eles já nasceram…. a maior parte nasceu cá, portanto já não há essa… essa diferença, não há esse choque de cultura e tudo isso, agora do resto eu não sei…”G61

67 - Outras educadoras confirmam estes problemas de língua e comunicação, tanto em relação às crianças como aos

pais “[…] em duas situações a língua é um entrave para a participação e para a compreensão do que lhes é pedido, ou até na própria situação pedagógica em si… Noto que há algumas consequências no não dominar bem…”I81; «[…] a

nível da nacionalidade, estou muito atenta… porque eu tenho mães, por exemplo que não são portuguesas, são romenas, que não conseguem perceber o português e como eu mando trabalhos de casa mais ou menos de quinze em quinze dias, às vezes dá buraco… eu tento mandar com símbolos e tudo, para facilitar, mas às vezes elas chegam cá furiosas a dizer “Professora, eu já disse que eu não saber falar português!”, mas eu não vou deixar de mandar para essas crianças porque elas próprias adoram fazer os trabalhos que mando… elas muitas vezes têm que se socorrer de uma vizinha que saiba ler e faça a tradução…»B77

68 - A Educadora C também argumenta não ter problemas de língua e de comunicação na sua sala “[Os alunos C110

relacionados com as origens étnico-culturais das crianças, muito pelo contrário, algumas das educadoras referem que as crianças demonstram grande aceitação às novidades e às diferenças.

“Mas influência ao nível da socialização, a nível de convívio, de partilha entre pares, de trabalho de grupo, não… são um grupo muito… que gosta de apoiar. Eles acabam por aceitar muito bem as diferenças, acho que eles têm… aceitam muito bem o facto de terem colegas de diferentes origens, acho que eles até acham interessante. Eu tive no meu grupo entrada de crianças durante muito tempo, o meu grupo só ficou completo em novembro e todas as crianças foram muito bem acolhidas independentemente das suas características físicas ou do seu estrato social ou das dificuldades possam ter.”I82 69

– Valorização da existência da diversidade cultural: benefícios e possibilidades

Questionadas sobre os benefícios e possibilidades da existência de diversidade cultural no seu contexto escolar, as educadoras apresentam uma valorização positiva da mesma (C, E, F, G), salientam a possibilidade de poderem diversificar as temáticas e conteúdos trabalhados na sala de aula (B, E, I), falam da rapidez com que as crianças desta faixa etária aprendem uma nova língua (D e J) e, mais frequentemente, referem a possibilidade que este tipo de contexto oferece às crianças de viverem e compreenderem a diversidade. Em relação a este último aspeto as docentes entrevistadas são unânimes ao referirem que a diversidade da população escolar traz riqueza e possibilita que as crianças vivam realidades que não são as suas. A Educadora D argumenta nesse sentido dizendo:

“Eu acho que só se podem ver aspetos positivos desse trabalho de partilha entre culturas. É positivo perceber que há pessoas diferentes que pensam e que sentem de forma diferente sobre certas coisas, sobre certos assuntos. Que têm perspetivas e formas de pensar diferentes e que isso não interfere na forma das crianças se relacionarem entre si… penso que é a mensagem principal.”D9370

69 - Outra educadora partilha a este respeito que “Nesta escola não tenho… eu acho que é uma escola que funciona

muito razoavelmente e em que a população é muito… em que há um bom relacionamento entre os miúdos, não, isso não, não há conflitos.”H67, “[…] o grupo relaciona-se bem […] há uma grande sensibilidade relativamente a crianças

com necessidades educativas especiais, há uma grande… solidariedade, é uma coisa que tem vindo a ser muito trabalhada e eles traduzem isso nas atitudes e nos comportamentos.”H74

70 - Outras educadoras manifestam-se no mesmo sentido: “Eu acho que é positivo para todos ter diferenças de

culturas, para já porque conseguimos perceber o modo de estar de cada um e conseguimos transmitir e aprofundar e que todos venham a conhecer outros modos de vida e maneiras de estar diferentes, acho que é um aspeto bastante positivo para todos, vai enriquecer os conhecimentos de qualquer um deles.”F78, “São coisas que embora não seja a

realidade pessoal de cada um, existem e ao saberem que têm alguém perto que tem essa realidade, para eles faz-lhes muito mais sentido, já não é uma coisa que se vê nos livros. Porque eles têm aquele amigo que é assim, têm aquele amigo que vivia ali e a eles faz-lhes muito mais sentido e é muito mais fácil depois a nível de aquisições, quando a realidade é tão próxima.”I110; “Positivos são muitos. É, é… o perceber, que as diferenças existem e é aprender a lidar

com as diferenças e… e aprender a respeitar essas diferenças… não numa perspetiva tolerante mas de aceitação e de saber lidar com elas.”H75; “É positiva para todos… negativa não! Todos ficam a perceber que aquele é chinês, de onde

– Valorização da existência da diversidade cultural: prejuízos e constrangimentos No que concerne a aspetos negativos, a Educadora A referiu as situações de conflitos (apesar de não confirmarem se estas situações estarão relacionadas com a diversidade étnico-cultural) e a Educadora J focou as dificuldades relacionadas com as especificidades de cada religião. Três educadoras (C, D e F) consideram, ainda, que não existem aspetos negativos na diversidade étnico-cultural que caracteriza o seu contexto educativo. Por fim, e com grande incidência, as educadoras referem as dificuldades da língua e da comunicação, mais exatamente em situações onde o desconhecimento da língua portuguesa dificulta a comunicação, quer com as crianças quer com as famílias. É neste sentido que se manifesta, por exemplo, a Educadora B:

“A parte negativa poderá ser eu às vezes não conseguir chegar à família e à própria criança.”B84 e “Só por causa da língua, porque eles depois rapidamente chegam onde os outros chegam e às vezes ultrapassam os outros. O problema acho que é ali a parte do compreender e digerir lá dentro, porque depois ao explorar, às vezes exploram muito melhor.”B93 71

– O reconhecimento da diversidade étnica e cultural: uma síntese

Partindo da análise das respostas das docentes entrevistadas, consideramos que estas veem a diversidade étnico-cultural que caracteriza o agrupamento de escolas onde lecionam como uma característica positiva do mesmo, que enriquece e beneficia o desenvolvimento pessoal de cada uma das crianças.

Em relação ao conceito de Educação Intercultural, o grupo de docentes entrevistado divide-se. Por um lado, há educadoras que demonstram entender a essência de partilha e interação inerente ao conceito, por outro, há as que ficam pelo que se entende por Educação Multicultural, que se centra na aceitação e no respeito pelas diversas origens do tecido social da população escolar.

Sobressai-nos, ainda, a ideia de que as educadoras do DCEP consideram que conhecem bem os alunos do seu estabelecimento/grupo, mas pensam que não conhecem os alunos

71 - Outras duas educadoras referem o mesmo tipo de dificuldade: “A nível da comunicação sem dúvida, depois a

aprendizagem da leitura e da escrita vai ter com certeza. Principalmente da leitura, não é? E essa é uma grande preocupação que tenho com estas meninas… porque elas vão para a escola para o ano. Pelo menos duas delas vão e… e é uma preocupação que está sempre latente, porque isso vai dificultar-lhes a aprendizagem no domínio da… principalmente da leitura e da escrita, não é?”H84, “Por outro lado, na minha sala tenho menos casos, mas temos

situações em que os pais não percebem absolutamente nada do que lhes dizemos, têm dificuldade com o português e em perceber e isso acaba por ser um constrangimento muito grande.”I100

do agrupamento em geral, ou sentem-se pouco preparadas para tal. No entanto, confrontando a sua caracterização da população do agrupamento com os dados descritos no PE do mesmo, parece-nos claro que o saber que possuem acerca da mesma não se encontra de todo desfasado da realidade: o agrupamento situa-se numa zona economica e socialmente complicada, com muitas famílias economicamente carenciadas. Por outro lado, o índice de diversidade étnico-cultural da área urbana que o agrupamento abrange é elevado.Outra das características da escola sede do agrupamento cooperante do nosso estudo são as situações de conflito, essencialmente entre alunos (in PE do Agrupamento de Escolas Arco-Íris – ver ponto da descrição do contexto do estudo).

Em relação ao seu grupo especificamente, a maioria das educadoras descrevem-no como muito heterogéneo, a nível económico e cultural, mas mais frequentemente referem-se à idade das crianças quando falam dessa heterogeneidade. De facto, várias educadoras consideram que as crianças do seu grupo, sendo descendentes de pais imigrantes mas já nascidos em Portugal, estão perfeitamente aculturados, não sendo evidente qualquer diferença no modo de estar das mesmas que se possa relacionar diretamente com as origens das suas famílias, dando a entender que centram pouca atenção e exploram de forma pouco ativa a diversidade étnico-cultural da sua sala. O único aspeto negativo que, de forma significativa, as docentes apontam em relação à diversidade de etnias e culturas do seu contexto profissional é o facto de algumas crianças e famílias não dominarem a língua portuguesa, o que prejudica as possibilidades de comunicação e, de algum modo, a aquisição de competências destas crianças.

Concluímos que, as educadoras apresentam uma atitude de valorização e interesse pela diversidade dos alunos. Parece-nos no entanto que esta valorização tem limites que não permitem o desenvolvimento de uma educação intercultural. O mais frequente é as educadoras considerarem que a diversidade dos seus alunos não afeta o seu modo de estar, de ser e de avaliar o meio que as rodeia, até porque, por nascimento, são crianças portuguesas. Deixam, deste modo, de lado a ideia de que o principal educador de uma criança é a sua família mais próxima (geralmente, pais e avós) e estes possuem origens culturais não portuguesas. Fica assim limitada a riqueza das dinâmicas que tal diversidade poderia proporcionar.