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As respostas que encontramos através da nossa investigação possibilitaram-nos tirar algumas conclusões merecedoras de destaque, bem como encontrar algumas similaridades entre as dinâmicas e as racionalidades dos docentes que connosco colaboraram e estudos de outros atores.

Em relação às características culturais das relações profissionais dos docentes dentro do departamento, o nosso estudo levou-nos a concluir que no DCEP as educadoras apresentam fortes traços da cultura balcanizada, ainda que não na forma pura que Hargreaves (1998) apresenta. As docentes demostram estabelecer uma intensa relação profissional dentro de cada um dos estabelecimentos, trabalhando em conjunto, tanto nas tomadas de decisão, como nas questões de organização do seu JI e no planeamento de atividades educativas conjuntas (apesar de, num dos estabelecimentos essa relação ser, claramente, mais intensa que nos outros dois). O desenvolvimento desta forma cultural prende-se com dois fatores: espaço e tempo. Por um lado, está o facto das educadoras se encontrarem em 3 diferentes edifícios espalhados pela área de abrangência dos departamento, o que leva as educadoras de diferentes JI a encontrarem- se poucas vezes de forma informal. Por outro lado, a subcarga de tarefas par ao pouco tempo não-letivo que têm leva a que dediquem pouco tempo a trabalho conjunto ao nível do departamento, optando por desenvolver outras tarefas, tanto a nível individual como ao nível de JI.

No que concerne às características culturais das relações profissionais desenvolvidas entre o DCEP e os demais departamentos, concluímos que o mesmo cenário se apresenta, porém, de forma inequívoca. As educadoras entrevistas demonstram uma forte vinculação ao seu departamento e assumem que os docentes dos demais departamentos desconhecem e subvalorizam o seu trabalho, bem como apresentam pouco interesse em desenvolver trabalho conjunto com o DCEP. Quando este trabalho é de algum modo desenvolvido (essencialmente com o 1.º Ciclo) as suas opiniões e opções são poucas vezes levadas em consideração.

Estas conclusões vão ao encontro do que concluiu Ávila de Lima (2002) no seu estudo sobre as relações profissionais dos docentes. No nosso estudo, as redes profissionais, dentro e fora do departamento, encontram-se fragmentadas. E se por um lado, não foi possível identificar situações de docentes a trabalhar isoladamente, ficou-nos claro, no entanto, que as relações profissionais se desenvolvem em pequenos grupos de docentes, 3 mais exatamente, um por cada estabelecimento.

Percebemos ainda que os resultados do nosso estudo vão ao encontro do que afirma o mesmo autor (2002, p.13), por não nos ser possível encontrar características específicas de uma única cultura profissional. No caso do nosso estudo a cultura profissional predominante é a balcanizada, porém, o departamento possui diversos traços pertencentes à cultura colaborativa, denotando-se um claro interesse por parte das docentes em evoluir para esta última forma cultural, em especial em relação ao trabalho interdepartamental, que consideram ser muito insuficiente e desadequado.

Quanto ao modo como as docentes do DCEP interpretam a diversidade étnico-cultural que caracteriza o seu contexto profissional, podemos concluir que as educadoras apresentam uma visão positiva acerca da mesma, demonstrando conhecer as características étnico-culturais da população do Agrupamento de escolas do Bosque, mas mais detalhadamente, dos alunos do seu JI.

Apesar de descreverem a população do agrupamento, em geral, através de vários traços negativos (nomeadamente em relação às suas dificuldades e carências, económicas, sociais e relacionais), no contexto restrito da sua sala, as educadoras veem a diversidade como algo positivo que enriquece o seu contexto profissional, permitindo o desenvolvimento de projetos e atividades de forma mais contextualizada e real para as crianças.

Vários são, assim, os benefícios e possibilidades que vêm nessa diversidade, sendo a questão da língua o aspeto negativo que mais vezes referem. O facto de as crianças não dominarem a língua portuguesa é apontado como um possível condicionante da aprendizagem das mesmas. Este é, aliás, o aspeto que mais frequentemente leva as educadoras a desenvolverem uma pedagogia diferenciada, com o objetivo de possibilitar às crianças não falantes da língua portuguesa igualdade de sucesso na aprendizagem. No que se refere às lógicas de ação subjacentes à prática profissional dos docentes do DCEP em relação à diversidade cultural que o caracteriza, foi-nos possível chegar à

conclusão de que divergindo ligeiramente nas suas práticas profissionais, as educadoras orientam a sua ação segundo ou uma lógica multicultural ou uma lógica intercultural, apresentando sempre uma atitude que valoriza e promove a aceitação e respeito pelas diferenças individuais de cada aluno. Foi-nos assim possível, à semelhança de Fontoura (2005), identificar uma multiplicidade de lógicas de ação que justificam as formas dos educadores lidarem com a diversidade étnica e cultural (ver quadro 13).

Quanto à análise global da ação organizada das educadoras, cruzando os dados recolhidos no âmbito das formas da cultura docente e no âmbito da orientação das lógicas de ação das educadoras perante a diversidade étnico-cultural, foi-nos possível concluir que, sendo que as educadoras se organizam e planeiam o seu trabalho essencialmente em pequenos grupos, apresentando uma cultura de departamento fragmentada, tendo em conta cada um dos JI, também as dinâmicas que desenvolvem com o objetivo de promover a diversidade étnico-cultural são planificadas e realizadas ao nível da estrutura do estabelecimento.

Não obstante, podemos ainda concluir que, existem igualmente, ao nível individual de cada sala, atividades tendo em consideração a origem dos alunos do grupo especificamente.

Segundo nos é dado a concluir através da informação recolhida junto das entrevistadas, as relações profissionais entre os docentes do DCEP e, entre os docentes do Agrupamento de Escolas do Bosque em geral, estão longe de poderem expressar uma cultura colaborativa. Os docentes não desenvolvem trabalho conjunto frequente, com o desenvolvimento de projetos comuns e as educadoras consideram que existem poucas condições para que este tipo de cultura se construa. A postura da liderança do agrupamento, pouco incentiva a um trabalho que exija mais planeamento e reflexão conjunto. As dinâmicas de ação organizada, dentro e fora do departamento, são pouco significativas e, torna-se óbvio que no que se refere à diversidade étnico-cultural do contexto social do agrupamento o mesmo acontece. Nos documentos orientadores do agrupamento apenas por uma vez se faz menção, sem qualquer tipo de especificidade, à necessidade de promover o sucesso escolar e a inclusão social, não sendo possível recolher qualquer informação acerca das dinâmicas desenvolvidas tendo em consideração a diversidade étnico-cultural dos alunos.