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Colegialidade artificial

Capítulo 3 – Metodologia de investigação

3.2. Paradigma de referência e estratégia da investigação

A investigação da qual aqui se apresenta o relatório, parte da visão do paradigma interpretativista (Burrell & Morgan, 1979), optando por encontrar explicações sobre a realidade, compreendendo simultaneamente que a natureza da realidade social está ao nível da experiência subjetiva dos indivíduos. No nosso estudo procede-se à interpretação, na realidade escolar, das lógicas e dinâmicas de ação organizada que estão subjacentes ao desenvolvimento de culturas docentes que, sendo mais individualistas ou mais colaborativas, tendem (ou não) a valorizar e a promover a diversidade étnico-cultural existente no DCEP, considerando os membros deste departamento e a sua construção da realidade.

Neste sentido, recorre-se a uma abordagem qualitativa, que é aquela que, na nossa opinião, se enquadra mais adequadamente aos objetivos do desenvolvimento de investigação em educação. Concordamos com Hargreaves (1998, p.205) ao afirmar que

“A pesquisa qualitativa pode levantar questões importantes, mesmo que desconfortáveis, relativas aos pressupostos mais profundos e aos propósitos e percepções assumidos geralmente como dados pelas organizações, podendo funcionar como um tribunal de recurso para as heresias organizacionais, um fórum que lhes dedica uma atenção mais profunda.”

Segundo Bogdan e Biklen (1994), através da pesquisa qualitativa é possível compreender as experiências dos sujeitos sob investigação e o modo como estes interpretam estas experiências e como estruturam o contexto social onde se inserem. Importa assim, na abordagem qualitativa, conhecer a perspetiva do sujeito e a sua relação com a realidade e com os fenómenos que estão a ser investigados. Fernandes (1991, p.3) defende que «o foco da investigação qualitativa é a compreensão mais profunda dos problemas, é investigar o que “está por trás” de certos comportamentos, atitudes ou convicções.». Também, neste sentido, Flick (2005, p. 60) defende que a investigação qualitativa “não está apenas interessada na vertente exterior dos grupos, pretende compreender, tanto quanto possível, as ideias que orientam as ações”. Desta

forma, consegue-se através deste tipo de abordagem, recolher informações que de outro modo seria difícil.

No entanto, compreendemos, ainda na linha de Fernandes (1991, p. 4), que este tipo de investigação, apesar de bastante adequada no âmbito da pesquisa em educação, apresenta algumas limitações, tais como a dificuldade do investigador manter a objetividade, sendo que para tal necessita de colocar de lado as suas convicções e as suas crenças. Por outro lado, durante o período em que, necessariamente, o investigador e a população participante na investigação estão juntos, pode suceder que os sujeitos entendam as expetativas do investigador e se deixem influenciar por elas.

Pode ainda ocorrer, segundo o ponto de vista de Flick (2005, p.61), que o investigador se tenha de debater com problemas de gestão de proximidade/distanciamento com o grupo de participantes, com questões relacionadas com políticas de pouca abertura ou transparência da organização estudada, ou ainda com dificuldades na negociação de expetativas e de interesses do investigador e da população sob estudo, assim como com as finalidades do próprio estudo. No nosso caso, estas dificuldades não se verificaram. Apesar de termos tido algum contacto anterior mais superficial com uma das educadoras e um pouco mais profundo com outra delas, durante todo o desenvolvimento do estudo todos os contactos foram feitos num clima relacional aberto e positivo. Aliás, as participantes no nosso estudo manifestaram-se, desde o primeiro momento, muito interessadas e disponíveis para colaborar com a proposta que apresentamos.14

Por outro lado, a nossa investigação, sendo um estudo de caso, segue a estratégia de estudo que vai de acordo com o postulado por Bassey (1999) e citado por Natércio Afonso (2005, p. 70-71):

“Um estudo de caso em educação é uma pesquisa empírica conduzida numa situação circunscrita de espaço e de tempo, ou seja, é singular, centrada em facetas interessantes de uma actividade, programa, instituição ou sistema, em contextos naturais e respeitando as pessoas, com o objectivo de fundamentar juízos e decisões dos prácticos, dos decisores políticos ou dos teóricos que trabalham com esse objectivo, possibilitando a exploração de aspetos relevantes, a formulação e verificação de explicações plausíveis sobre o que se encontrou, a construção de argumentos ou narrativas válidas, ou a sua relacionação com temas da literatura científica de referência.”

14 - No que se refere ao processo de envolvimento do agrupamento estudado, importa dizer que este ocorreu a partir

de uma reunião com a diretora, no final do mês de outubro de 2012, onde esta nos deu autorização formal para desenvolvermos o estudo com o DCEP (Anexo 1). Durante o mês de novembro, realizou-se uma reunião, igualmente formal, com todas as educadoras do departamento, onde lhes foi explicado o tema do nosso estudo e na qual todas as educadoras demonstraram interesse em participar.

Não sendo, de todo, objetivo desta investigação procurar respostas que se possam generalizar pelas demais organizações escolares, ou intervir ou alterar o contexto ou os fenómenos investigados, o nosso estudo vai ao encontro ao defendido por Ponte (1994, p. 1) “Um estudo de caso é caracterizado como incidindo numa entidade bem definida […] visa conhecer em profundidade o seu “como” e os seus “porquês”, fazendo justiça à sua unidade e identidade próprias.”.

É, portanto, objetivo da investigação, compreender detalhadamente e em profundidade, recorrendo a várias fontes de informação, a realidade daquele DCEP, procurando explorá-lo, compreendê-lo e descrevê-lo de forma pormenorizada, percebendo as lógicas e os processos nele desenvolvidos pelos seus atores.

Deste modo, no presente estudo, incidimos o nosso trabalho sobre as docentes dos Jardins de Infância (JI) de um agrupamento de escolas da área metropolitana da cidade de Lisboa, que se caracteriza pela elevada taxa de alunos imigrantes (ou descendentes de imigrantes), onde a diversidade étnica e cultural é uma das suas características de maior relevância.