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Curitiba no novo milênio

No documento DOUTORADO EM SERVIÇO SOCIAL São Paulo 2009 (páginas 144-148)

CAPITULO III CONTEXTO SOCIO HISTÓRICO DA ATENÇÃO À SAÚDE NO

3.9 ANOS 2000: CONTEXTO DE CRISE SOCIOECONÔMICA

3.9.2 Curitiba no novo milênio

Anos 2000- Primeiro Distrito Sanitário na Estratégia Saúde da Família

Brasil- Bairro Novo Região Sul de Curitiba. Contou com o idealismo e práxis de gestores da SMS, cuja distritalização foi coordenada pelo dentista Antonio D. Silveira.

A organização dos processos de sentido e de significação que aparecem e se organizam de diferentes formas e em diferentes níveis do sujeito e na personalidade, assim como nos

diferentes espaços sociais em que o sujeito atua. GONZÁLEZ REY 1999 p.108

Um ano Antes!

O modo de ver o mundo, as apreciações de ordem moral e valorativa, os diferentes comportamentos sociais e mesmo as posturas corporais são assim produtos de uma herança

144 Com base nos problemas de ocupação do solo urbano e expansão desordenada de moradias em regiões de fundo de vale ou áreas de preservação ambiental, na gestão Taniguchi foi promulgada a Lei 9.800, de 03 de janeiro de 2000, “dispõe sobre o zoneamento, uso e ocupação do solo no município de Curitiba e dá outras providências.” Essa lei divide o território do município em zonas e setores e estabelece critérios e parâmetros de uso e ocupação do solo com o objetivo de orientar o crescimento da cidade de forma mais ordenada e ambientalmente equilibrada.

O novo Plano Diretor de Curitiba, aprovado em 2000, implementa as características do plano aprovado em 1965. Entre outros aspectos, “a construção de uma cidade mais humana em que a estruturação urbana do território garanta um desenvolvimento sustentável e integrado e onde os projetos e ações da prefeitura de Curitiba sejam solidários com toda a metrópole” (Ipucc, 2000). E ainda são reforçadas as metas de integração das políticas setoriais, não apenas com intervenções urbanísticas mas também com inovações tecnológicas de impacto econômico-produtivo. De outra forma, busca-se a melhoria na infra-estrutura urbana, demarcando as características socioculturais comunitárias das diferentes regiões da cidade.

Compreende-se, inclusive por sujeitos da gestão pública e segmentos da população organizada, que já não é possível administrar as questões relacionadas às demandas sociais que se apresentam em Curitiba sem a participação dos demais municípios da região metropolitana. Considerando o aumento populacional das últimas décadas e o grau de interdependência entre os municípios, apresentam-se diferentes demandas de infra-estrutura urbana que devem ser trabalhadas buscando resoluções compartilhadas entre os gestores municipais de Curitiba e sua Região Metropolitana. Na política de saúde, um dos maiores problemas enfrentados é o processo migratório entre as regiões dentro e fora dos limites de cada uma das cidades, comprometendo a capacidade de vigilância à saúde de pacientes em situação de vulnerabilidade e risco.

A Lei Federal 10.257, de 10 de julho de 2001, o Estatuto da Cidade, estabelece o fundamento constitucional do desenvolvimento urbano das cidades brasileiras. A atual Lei de Zoneamento e Uso do Solo Urbano em Curitiba tem sofrido críticas por não apontar a operacionalização da integração metropolitana. O conceito de metropolização envolve a capacidade de integrar o desenvolvimento da capital e dos municípios da Região Metropolitana, resgatando a função social das cidades no conjunto integrado das necessidades dos diferentes segmentos da população, a exemplo do que é descrito no capítulo IV, Da Gestão Democrática da Cidade:

145 Art. 43. Para garantir a gestão democrática da cidade, deverão ser utilizados, entre outros, os seguintes instrumentos: I - órgãos colegiados de política urbana, nos níveis nacional, estadual e municipal; II - debates, audiências e consultas públicas; III - conferências sobre assuntos de interesse urbano, nos níveis nacional, estadual e municipal; IV - iniciativa popular de projeto de lei e de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano.

Art. 44. No âmbito municipal, a gestão orçamentária participativa de que trata a alínea f do inciso III do art. 4 desta Lei incluirá a realização de debates, audiências e consultas públicas sobre as propostas do plano plurianual, da lei de diretrizes orçamentárias e do orçamento anual, como condição obrigatória para sua aprovação pela Câmara Municipal.

Art. 45. Os organismos gestores das regiões metropolitanas e aglomerações urbanas incluirão obrigatória e significativa participação da população e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade, de modo a garantir o controle direto de suas atividades e o pleno exercício da cidadania.

Assim, apresenta-se um novo e ampliado cenário de discussão política do Plano Diretor do município, demonstrando que ele não apresenta uma total autonomia em relação aos interesses particulares ou específicos, como nas décadas anteriores. Ou seja, cada município deve estruturar o Plano Diretor considerando as bases de um território de gestão que existe em um ecossistema biológico e social interdependente. Portanto, um plano diretor de desenvolvimento municipal será pautado pelo princípio da função social da propriedade e da cidade, acima de interesses econômicos de classes sociais mais privilegiadas ou segmentos corporativos que estejam em conflito com princípios da democracia.

À persistência e à complexidade dos problemas urbanos somam-se conflitos determinados pela metropolização da capital paranaense. Nestas últimas décadas, o planejamento urbano restrito ao âmbito municipal e marcado pela continuidade de estratégias tecnicistas e normativas não deu conta da origem e da dimensão dos problemas sociais hoje disseminados sobre uma base territorial ampliada - a Região Metropolitana de Curitiba, com suas relações de dependência e seus conflitos sociais.

Como em outras capitais brasileiras, o processo de urbanização da Região Metropolitana de Curitiba se caracterizou pela expansão populacional nos municípios limítrofes e as dificuldades de infra-estrutura e de políticas públicas alocadas. Uma das causas disso é a incipiência e a baixa qualificação da gestão político-administrativa de municípios específicos, como também a falta de organização popular para reivindicar direitos de cidadania.

Assim, Curitiba é marcada pelos resultados da expansão industrial, o crescimento desordenado e o aumento do número de moradias nas áreas de ocupação irregular, principalmente nas regiões periféricas do município, o que foi desencadeado nas décadas de 1980 e 90. Aliado a esse processo, há um significativo crescimento da maioria dos municípios

146 da Região Metropolitana, acentuando a densidade populacional nas áreas de conurbação, fenômeno característico que gera a dependência da infra-estrutura de serviços públicos alocados na capital, onde existe maior aporte tecnológico e, consequentemente, condições de resolução da demanda.

De outra forma, o desenvolvimento de uma gestão qualificada política e tecnicamente se apresentaria aliada a um sistema de produção econômica inclusivo, bem como à participação comunitária construída com autonomia institucional, possibilitando uma interlocução reivindicatória junto à administração pública para melhorias de infra-estrutura nos municípios da Região Metropolitana.

Como outras regiões metropolitanas do Brasil, Curitiba e sua Região Metropolitana enfrentam um desordenado processo de ocupação de solo, aumento do número de favelas, crescimento da violência e da criminalidade, principalmente ligada ao tráfico de drogas. Entre outras, tais condições determinam o quadro de morbidade e mortalidade, características da urbanização e da globalização das cidades:

Pelo menos 169,7 mil pessoas moram em favelas na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), significando 6,13% de uma população estimada em 2,7 milhões. Somente na capital paranaense são 148 mil, ocupando 57 mil domicílios precários, também chamados de aglomerados subnormais, que significam, de acordo com definição do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), “conjunto constituído por, no mínimo, 51 unidades habitacionais (barracas, casas...) ocupando ou tendo ocupado, até período recente, terrenos de propriedade alheia (pública ou particular) dispostos, em geral, de forma desordenada e densa, e carente, em sua maioria, de serviços públicos essenciais. Este indicador é um dos principais termômetros para conhecimento da condição de vida da população, que é medida, conforme critérios internacionais adotados e recomendados a partir de 2000 pela Organização das Nações Unidas (ONU), através de outros quatro itens: acesso à água potável, saneamento básico, durabilidade da habitação e superpopulação. Tais indicadores estão sendo agrupados e analisados pelo Observatório Regional Base de Indicadores de Sustentabilidade Metropolitano de Curitiba (Orbis MC) - um programa ligado à ONU e implantado em 2004 mediante parceria entre a Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) e Instituto Paraná Desenvolvimento (IPD) -, para serem disponibilizados e servirem à formulação de políticas públicas e ações sociais voltadas à melhoria no nível de qualidade de vida. (ORBIS MC, 2006)

Curitiba e Região Metropolitana compreendem 26 municípios, em uma área de 15.418,543 quilômetros quadrados, população de 3.172.357 habitantes (IBGE, 2007), densidade populacional de 205,7 habitantes por quilômetro quadrado e IDH médio de 0,824 (Pnud, 2000), índice considerado elevado em relação à maioria das regiões brasileiras. Apenas Curitiba apresenta uma população de 1.828.092 habitantes (IBGE, 2007) e IDH médio de 0,856 (Pnud 2000), enquanto outros municípios estão abaixo, como Doutor Ulysses (IDH de

147 0,627), Adrianópolis (IDH de 0,686) e Tunas do Paraná (IDH de 0,686). Dessa forma, demonstram-se as diferenças socioeconômicas entre os municípios da Região Metropolitana e a realidade contraditória de todos os municípios que possuem segmentos populacionais não incluídos na produção e no consumo de bens e serviços.

Em alguns municípios da Região Metropolitana, a falta ou a má qualidade da infra- estrutura de serviços de atenção primária à saúde constituem as causas da migração da população desses municípios, cuja porta de entrada está nas casas de familiares residentes em Curitiba. E pelo sistema integrado de leitos hospitalares da Região Metropolitana o Sistema Integrado de Serviços de Saúde de Curitiba (Siss Curitiba) tem viabilizado o internamento de pacientes pelas dificuldades de vagas, geralmente em patologias de médio e baixo aporte tecnológico.

No documento DOUTORADO EM SERVIÇO SOCIAL São Paulo 2009 (páginas 144-148)