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CAPÍTULO 2: DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL

2.1. SÍNTESE INTRODUTÓRIA

2.2.4. D ESAFIOS E DIMENSÕES DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Mediante a tomada de conhecimento da estratégia de desenvolvimento sustentável, da cissiparidade da A21 em documentos dissipados para o lugar, pode-se assentir que a consciencialização ambiental adquiriu, na sociedade, proporções maiores. Impõe-se, de certa forma, ao sistema societal mundial responder mais prontamente a tarefa de apresentar soluções práticas e plausíveis no que se refere a se relacionar melhor com o mundo natural. O que não deixa de ser um desafio, visto que a sociedade deve buscar, em um difícil contexto teórico e prático, as respostas que tenham capacidade efetiva e o equilíbrio entre as suas ações e a preservação indefectível do ambiente onde vive. Por conseguinte, as dimensões do desenvolvimento sustentável caminham por rumos que desafiam qualquer noção de sustentabilidade e abrange todas as áreas do conhecimento, pelo desenvolvimento e crescimento, produção e consumo local. Portanto, contextualizar os desafios e dimensões do desenvolvimento sustentável

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deixa de ser uma tarefa fácil, porque os mesmos representam vários aspetos da sustentabilidade em conjunto. Fundamentalmente interliga o que é para ser desenvolvido no âmbito ecossocioeconómico do espaço/território, i.e., absorve os aspetos de sustentabilidade ecológica, social, económica, espacial e cultural (cf. Tabela 1, p. 45, anteriormente apresentado). Envolve maior consciência ambiental da sociedade e cinge todos os campos económicos, políticos e sociais.

Os desafios e as dimensões do desenvolvimento sustentável dilatam-se com um conjunto de fatores que inclui o i) desenvolvimento tecnológico e a expansão industrial; ii) o crescimento demográfico e a construção de infraestrutura; iii) o consumo exacerbado de recursos naturais e o impacto direto sobre a sustentabilidade ambiental (Berkes, 1996 e Jara, 2001). Tais fatores, entre outros, na dimensão do desenvolvimento sustentável, são determinantes para rutura, comumente apontados como crises, que se configuram de ordem económica, social e ambiental. Entende-se, numa visão sistémica, que esse desafio se funde ao processo de geração de inovação social e isto nos permite ver o homo faber como um agente transformador do mundo a partir da conscientização de produzir e consumir de modo sustentável (Arocena, 2006). Portanto, o universo do homo faber é composto pelos desafios e dimensões do desenvolvimento sustentável. Há, nesse sentido uma mudança de paradigma embasada em algumas palavras de ordem, e.g., complexidade, visão sistémica, recursividade, criatividade, inovação social, interdisciplinaridade, transversalidade. Neste contexto, a dimensão do desenvolvimento sustentável pode compreender ações oriundas do processo de criatividade, geração de novos produtos e serviços para atender as necessidades de sustentabilidade local (Boiser, 2004 e 2006). Além disso pode-se mensurar o impacto dessa inovação social pelo percurso do desenvolvimento e a sustentabilidade local, i.e., o impacto no tecido societal a partir do momento que esta inovação interage com o meio, empenhada em efetivar as suas potencialidades, ou não (Moulaert et al., 2010).

No pensamento de Veiga (2005) a dimensão do desenvolvimento sustentável frui maior compreensão de transversalidade que possibilita ver o desenvolvimento além da visão ortodoxa. Faz interface com as diversas áreas do conhecimento como foram

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sintetizadas no modelo de Sadler e Jacobs43 (cf. Figura 7, mais à frente), i.e, o desenvolvimento integrado por um conjunto de ações. Neste contexto o pensamento de Veiga (2005) está assente com o estudo de Dalal-Clayton e Bass (2002). Para estes autores a dimensão do desenvolvimento sustentável inclui o próprio desafio quando o mesmo se reporta aos objetivos sociais, económicos e ambientais, porquanto eles devem ser complementares e interdependentes no processo de desenvolvimento. Ainda neste âmbito, os autores Strange e Bayley (2008) expressam a mesma opinião. Em comum esses autores creem que o desenvolvimento sustentável exige alterações de política e coerência com tecido societal nos diversos setores que promovem qualidade de vida à sociedade.

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Os autores Peter Jacobs e Barry Sadler publicaram “Développement durable et évaluation

environnementale, perspectives de planification d’un avenir commun; Conseil canadien de la recherche sur l’évaluation environnementale, em 1990. Neste estudo os autores desenvolvem um novo modelo de

avaliação ambiental que se sustenta no conceito de desenvolvimento sustentável como marco de análise das políticas dos investimentos para o desenvolvimento. Neste ínterim os autores analisam o desenvolvimento sustentável como um conjunto de metas procedentes de sistemas de valores e de noções de políticas, que se unem definindo seus objetivos e determinando o campo de aplicação do desenvolvimento sustentável (Giesta, 2005: 18).

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2 Ações de desenvolvimento económico

3 Ações de desenvolvimento e preservação ambiental

4 Ações de parcerias, cooperação, associação, redes sociabilidade 5 Desenvolvimento local agente inovador

6 Desenvolvimento local parcial Políticas de DLS Valores culturais 1 2 3 4 5 6 6 5 6 5 6 Local Nacional Global Valores sociais 5 5 5 4 4 4 4 3 3 3 1 1 1 1 2 2 2 2 3

Figura 7. Modelo Transversal do Desenvolvimento Sustentável

Fonte: Elaboração própria a partir de Sadler e Jacobs (1990) e de Dalal-Clayton e Bass (2002)

Ao se propor analisar o desenvolvimento sustentável a partir de um conjunto de alvos, o modelo de Sadler e Jacobs firma-se na teoria dos conjuntos. Além dos desafios comuns, já listados anteriormente, percebe-se, nessa Figura, mais um desafio do desenvolvimento sustentável: o local como meio inovador. A base de sustentabilidade do desenvolvimento deve interagir com o meio, agente inovador, habitat do homo faber, e essa interação deve gerar atividades que suporte o tecido social local, ao mesmo tempo que o induz ao desenvolvimento local sustentável. Neste cenário deve-se considerar o emalhar criativo e inovador dos setores público, privado e do terceiro setor interagir em políticas de desenvolvimento local sustentável, o afluir da rede de sociabilidade. Para Capra (2007), esse afluir é a configuração de um novo paradigma que concebe o mundo como um todo integrado.

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Diante dos desafios do desenvolvimento sustentável, pressupõe-se a pertinência de ser levar em consideração as decisões atuais das políticas de desenvolvimento local sustentável e o seu impacto nas gerações vindouras. Além de que, no contexto ambiental e qualidade de vida, não se deve ignorar o poder e a utilidade das ações de desenvolvimento ecossocioeconómico – ações 1, 2, 3, 4 (cf. Figura 7) – e sua integração para o desenvolvimento sustentável. Mais ainda, deve-se associar a todas as políticas de desenvolvimento sustentável os valores sociais e culturais do local. Caso isto não ocorra, o desenvolvimento será de modo parcial44 (cf. Figura 7), conforme explicam os autores Dalal-Clayton e Bass (2002).

Como se sabe, a abordagem do desenvolvimento sustentável revela um mundo cada vez menos internacional e cada vez mais uma realidade global (Leis, 2004), refletindo a multiplicidade dos desafios enfrentados pelos atores governamentais (Flipo, 2007). Para Leis (2004) o arrazoado público legitima esta nova ordem ao fazer constante referência ao desenvolvimento mundial, mercado global, comércio mundial, empresas transnacionais, população global, poluição global etc.. Conquanto as ações para o desenvolvimento sustentável são um desafio universal, muitas respostas concretas só podem ser definidas no terreno local e, daí a importância do local diante do global.

O desafio do desenvolvimento sustentável revela uma dimensão biocêntrica onde se reconhece a interconexão de todos os fenómenos da natureza e do impacto das ações do sistema societal sobre o mundo natural (Capra, 2002). Discreteia-se, a partir do pensamento de Fritjof Capra, fazer uma prospeção do sistema societal distinto do humanismo individualista que coloca o homem no centro do universo. Neste sentido, o desafio do desenvolvimento sustentável propala que o sistema societal pode, “em vez de buscar o que extrair da natureza, aprender a partir dela” (Capra, 2002:230). Aprender a partir dela (da natureza) sobressai o papel do homo faber numa visão sistémica e a relevância do local como agente inovador. Desse modo, a preponderância de agir

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Dala-Clayton e Bass explicam que para se ter um desenvolvimento sustentável é preciso incluir necessariamente as questões ambientais, económicas e sociais. Neste aspeto, Ignacy Sachs (2007) fortalece esta posição quando cria o termo ecossocioeconomia – sendo assim, decidimos usar o termo ecossocioeconomia para toda uma visão ampla e sólida do desenvolvimento sustentável.

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coletivamente para a experimentação social articula ideias de sustentabilidade com experiências concretas. Sob o ângulo do conjunto sistémico (cf. Figura 7), os desafios do desenvolvimento sustentável adquirem menor proporção e, a dimensão desse dilata- se, de modo que o sistema societal se compromete com a sustentabilidade local. Conquanto, o sistema societal tenha individuado diversos conceitos de base, e.g., a rede, os ciclos, o fluxo, o equilíbrio dinâmico, e mesmo o desenvolvimento, (Capra, 2002). Mas em realidade, os sistemas comportam outros sistemas, (em analogia com a estrutura dos fractais), e neste contexto, junto ao sistema societal, podemos encontrar a diversidade e/ou flexibilidade, ou seja, o meio figurando como agente inovador. É justamente num sistema de diversidade e/ou flexibilidade que outro modo de organização desempenha, no local, um papel diferenciado daquele que é o mainstream, daí a pertinência das OTS e o seu impacto ecossocioeconómico no tecido societal.

Os desafios do desenvolvimento sustentável consistem em desfazer os impedimentos de consciência da dimensão do estado do mundo. Na ideia que aqui se manifesta é voltar-se para o conceito de desenvolvimento sustentável e analisá-lo em termos de desafios e dimensões (cf. Tabela 4, mais a frente). Neste sentido, pode-se perceber dois pontos essenciais. Primeiro é o reconhecimento de que a economia mesmo que cresça independente, não resolve os problemas ecossocioeconómico no local. Segundo, é necessário haver um crescimento interligado aos aspetos económicos, sociais e ambientais, caso contrário, o desenvolvimento local é insustentável. Em suma, alguns estudos perspetivam um ponto equidistante dos dogmas professados tanto pelos idealistas que vislumbravam o crescimento a todo custo, quanto pelos grupos ambientais fundamentalistas (Sachs, 2007; Hulse, 2008).

Nesse sentido o desafio do desenvolvimento sustentável caracteriza-se por um crescimento alternativo, ético e ecológico tutelando o ambiente e o tecido societal, uma vez que todas as ações que induzem o crescimento se interagem. As ações delineadas na Figura 7 esboçam a ideia de sistemas que comportam outros sistemas. Portanto, as ações podem fruir proposta de inovação social enquanto fomento as políticas de desenvolvimento local sustentável, seio de um crescimento alternativo. Esta análise parte dos seguintes pontos: primeiro, os objetivos ecossocioeconómicos do desenvolvimento sustentável são emalhados e suas ações se sobrepõem com vários

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DIMENSÃO COMPONENTES OBJETIVO

Sustentabilidade social

•Criação de postos de trabalho digno. •Melhor qualificação profissional. •Melhor condição de vida.

Redução das desigualdades sociais

Sustentabilidade económica

•Fluxo permanente de investimentos públicos e privados (estes últimos com especial destaque para o cooperativismo).

•Manejo eficiente dos recursos.

•Absorção pela empresa dos custos ambientais.

•Endogeneização – contar com as suas próprias forças (meio inovador).

Aumento da produção e da riqueza social local, sem dependência externa.

Sustentabilidade ecológica

•Produzir respeitando os ciclos ecológicos dos ecossistemas. •Prudência no uso de recursos não renováveis.

•Prioridade à produção de biomassa e à industrialização de insumos naturais renováveis. •Redução da intensidade energética e conservação de energia.

•Tecnologias e processos produtivos de baixo índice de resíduos. •Cuidados ambientais.

Qualidade do meio ambiente e preservação das fontes de recursos energéticos e naturais para as próximas gerações

Sustentabilidade espacial ou geográfica

•Descentralização espacial – de atividade, de população. •Desconcentração – democratização local e regional do poder. •Relação urbano/rural equilibrada (benefícios centrípetos).

Evitar excesso de aglomerações

Sustentabilidade cultural •Soluções adaptadas a cada ecossistema. •Respeito à formação cultural comunitária.

Evitar conflitos culturais com potencial regressivo

setores do tecido societal. Segundo, as ações e resultados desses objetivos comportam- se de modo integrado, em conjunto (cf. Figura 7), favorecendo o progresso do local como meio, agente inovador. Terceiro, o conjunto de ações, mediante a visão sistémica do desenvolvimento sustentável, favorece um novo comportamento de organização económica amparado em sistemas de rede de sociabilidade, e.g., as OTS.

No decurso do tempo Sachs publica diversos trabalhos (Sachs, 1996, 2000a, 2008) em que analisa os desafios e as dimensões do desenvolvimento sustentável com base nas cinco dimensões de sustentabilidade (cf. Tabela 1, exposto anteriormente). Este autor defende a tese de que face aos desafios colocados pela crise ecossocioeconómica (Sachs, 2009), será impossível estagnar o crescimento enquanto permanecerem o desequilíbrio social no local e entre as nações. Os seus estudos (Sachs (1993, 200b, 2004, 2008) revelam dois pontos cruciais que se interligam neste momento de crise. Se por um lado, travar o crescimento local sentencia à morte dos atores situado na base da pirâmide social, por outro a persistência de um viés economicista na planificação do desenvolvimento tende a acentuar ainda mais os dramas ecossocioeconómicos do nosso tempo. Foi com base nas publicações desse autor que se elaborou o Tabela 4 (a seguir). Nessa Tabela expõe-se, em ideia síntese, as dimensões e caracteriza-se as componentes referente aos desafios que consubstanciam os objetivos do desenvolvimento sustentável.

Tabela 4. Dimensões e desafios do desenvolvimento sustentável.

Fonte: Adaptado de Sachs (2008: 181-183)

Ao se analisar o Tabela 4 (supra) o desafio impende o tecido societal perceber que a natureza não é externa a ele mas, sim, uma das suas forças, e ele (tecido societal)

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é apenas um fio na teia da vida, um elemento natural que se comporta como um sistema dentro de outro sistema (Capra, 1996; 2002). A complexidade deste pensamento contrapõe o cartesianismo no olhar o mundo sob outro prisma em que se descortina a realidade como inconclusa, irresoluta, instável e incompleta e o tecido societal urdido pelo emaranhado de interconexões que se estabelecem entre tudo e o Todo. Nesta perspetiva, tendo como pano de fundo a Tabela 4, manifesta-se, no tecido societal, o homo faber como ator primaz para o decurso da inovação social comprometida com o desenvolvimento sustentável (Sachs, 2007) “sua história é associada àquilo que está ao seu redor” (Moscovici, 2002: 269), como o ambiente ecossocioeconómico. Pode-se dizer que ocorreu um amadurecimento entre o discurso e a prática dos temas socioeconómicos e ambientais, mas um relacionamento dicotómico entre o homem (sua cultura, sua razão, sua técnica) e a natureza que ainda permeia nossas práticas atuais. Desde que o homo faber sentiu como são ténues os laços que o une à natureza, passou a ser reflexivo e participativo, no sentido de que é afetado e corresponsável pelos riscos gerados localmente (Moscovici, 2002).

Outro desafio diz respeito a propagação do conceito seminal de desenvolvimento sustentável que na opinião de Sachs (1993, 2000b) e de Dowbor (2001), seguiu as primeiras iniciativas apontadas para a promoção de um desenvolvimento alternativo local. Entende-se que se está diante não só de um desafio, desenvolvimento alternativo; mas também de uma dimensão, local. Do ponto de vista de Friedmann (1992) a conceção de desenvolvimento alternativo vai além do status quo do discurso do desenvolvimento económico. Trata-se da retificação do desequilíbrio social existente na economia. O desenvolvimento alternativo é inevitavelmente centrado na política de reivindicação para o desenvolvimento local. Neste sentido, pode ser a voz intelectual dos excluídos tentando apresentar, na agenda do DLS, as suas reivindicações como uma resposta aos poderes hegemónicos que os oprimem, ou seja, o exercício da democracia direta. Por outro lado, o desenvolvimento alternativo pode ser visto como uma forma diferente, uma maneira criativa de construir o DLS. Assim, o desenvolvimento endógeno brota do seio do tecido social local, na definição da visão soberana do futuro, em cooperação com organizações pública, privadas e OTS que se predispõem a compartilhar os seus problemas e as suas aspirações.

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Essa discussão em torno do desafio reporta novamente para o conceito de desenvolvimento sustentável em que aborda, em seu âmago, um estilo de desenvolvimento paradigmático, volvido para um novo enfoque participativo de planeamento e gestão. Mas, como se anotou anteriormente, segundo Carvalho Ferreira (1994), deveria propender para a democracia direta tanto para o planeamento quanto para a gestão de políticas de DLS. Nas palavras desse autor todo o conjunto de atores é peça-chave no processo de DLS e merece um ambiente de gestão direta onde cada indivíduo é administrador do seu conhecimento, do espaço/território em que vive, da organização em que trabalha.

Este modo de ver o desenvolvimento sustentável, como um desenvolvimento alternativo defendido por Friedmann (1992), norteou um conjunto interdependente de postulados éticos. Em princípio os relativos ao atendimento das necessidades humanas (Sen, 2003) fundamentais, à promoção da autoconfiança do tecido social e a conscientização da prudência ecológica (Sachs, 1986b, 1996).

A explicação de Dalal-Clayton e Bass (2002) alude que o desafio e a dimensão do desenvolvimento sustentável expressam em sua base a ética de equidade de gerações e a dimensão temporal. Nestes termos observa-se que o desafio integra a esfera do desenvolvimento sustentável quando abrange a dimensão económica e social. Isto porque as necessidades, em particular as necessidades essenciais relativas a pobreza do mundo, são de prioridade absoluta consubstanciada pela ideia de limitações de crescimento impostas pelo avanço das tecnologias e da organização social (Sen, 2003). Ambos pontos, económico e sociais, abordam sobre as expectativas que se fundem tanto para a geração atual como para as vindouras no âmbito da questão do bem-estar local que se propaga em escala global. Este facto deve-se porquê o descompromisso de sustentabilidade coloca em risco as necessidades futuras, e como consequência, os modelos de organização da sociedade local podem deixar de existir (Sen, 2000, 2003).

Outro desafio vislumbrado por Dalal-Clayton e Bass (2002) refere-se a sociedade local para que seja mais precavida nas suas atitudes comportamentais, o que implica um processo de educação ambiental. Para Capra (2004) este desafio estende-se além da educação ambiental e volta-se à alfabetizar o tecido societal para um perfil

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ecológico. Os casos concretos da análise de Capra (2004) revelam que o objetivo da alfabetização ecológica prevê a condição de nutrir a sociedade com o sentimento de afinidade para com o mundo natural, ou seja, despertar o compromisso de desenvolvimento sustentável no tecido societal.

O grande desafio de nosso tempo é criar e manter comunidades sustentáveis, concebidas de maneira que suas formas de vida, negócios, economias, estruturas físicas e tecnologias não interfiram na habilidade inerente da natureza de sustentar a vida. O primeiro passo nessa direção é o que chamo de ‘alfabetização ecológica’, a habilidade de entender os princípios básicos da ecologia e viver com eles. Se compreendermos os padrões de relacionamento que tornam os ecossistemas capazes de sustentar a vida, também entenderemos as muitas formas, padrões e processos que nossa civilização ignorou e interferiu neles. Assim, percebemos que essas interferências são as causas fundamentais dos atuais problemas do mundo. Nas próximas décadas, a sobrevivência da humanidade dependerá da nossa alfabetização ecológica que deve se tornar uma competência essencial para políticos, líderes empresariais e profissionais em todos os níveis – do ensino primário e secundário até o ensino médio e superior, assim como na formação e treinamento contínuo de profissionais (Capra, 2009:32).

Portanto, as ações do sistema societal devem incidir num conjunto de ações sistémicas, atentas não só na lógica de curto prazo, mas também com o olhar para o futuro, já que a resolução de muitos problemas ecossocioeconómicos locais ocorre a longo prazo. Importa dizer que não se está a abordar questões de limites absolutos em termos de desafios e dimensões. Mas em limitações imposta pelo progresso tecnológico e da organização social no uso dos recursos ambientais e pela capacidade da Terra para absorver os efeitos das atividades humanas. No local, a capacidade do homo faber, em contextos organizacionais, pode aliar-se ao progresso tecnológico e favorecer o desenvolvimento com a inovação social em que esta pode dar lugar a um novo modelo de crescimento económico ajustado às políticas de DLS.

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Assim, o cerne dos desafios e dimensões do desenvolvimento sustentável se define em termos de sustentabilidade no todo, como se regista os principais marcos no cenário atual (cf. Figura 6:37, Cronologia do Desenvolvimento Sustentável). Estes desafios e dimensões são plasmados junto as organizações, pela implementação da responsabilidade social coletiva; mas também por uma nova performance económica social e ambiental no sistema societal global, como já se discorreu até aqui. As interpretações podem variar, mas necessita-se compartilhar certas características gerais e, portanto, fluir a partir de um consenso sobre o conceito básico do desenvolvimento sustentável e por uma estrutura ampla e estratégica para o alcançar. Instila-se uma réstia ao se observar, perante uma visão ampliada, a evolução dos atores no terreno e a