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CAPÍTULO 2: DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL

2.5. A IMPORTÂNCIA DO LOCAL DIANTE DO GLOBAL

O local é o espaço de realizações concretas onde se efetiva todo e qualquer processo de reprodução da riqueza das nações. É na demarcação de um espaço/território que se observa os resultados desse processo, seja do ponto de vista de seus efeitos positivos, seja, em particular, de seus efeitos negativos. Para Giddens (1992: 59), a globalização não é o progresso de uma cultura global, mas a evolução de novas texturas de experiência social no tempo e no espaço que conduz a transformação da vida quotidiana no local.

Para Boisier (2006), o local aparece como elemento constitutivo de identidade. Tanto as ações individuais quanto as ações coletivas existem através de vivências de territorialidade múltiplas. Assim, a ações quotidianas do ator social, no local, têm consequências globais, como também, o que acontece no nível global interfere no dia-a- dia do ator social. Nesse sentido, Boisier e Giddens reconhecem que o local não só representa um espaço físico, é também onde se desenvolve práticas de sociabilidade, possibilitando o encontro entre atores sociais. Pode-se dizer que a experimentação se tornou mais articulada com a globalização, provocando efeitos sobre as tradições locais.

[…] a intensificação das relações sociais em escala mundial liga localidades distantes de tal maneira que acontecimentos locais são modelados por eventos ocorrendo a muitas milhas de distância e vice-versa. (…) A transformação local é tanto uma parte da globalização quanto a extensão central das conexões sociais através do tempo e do espaço (Giddens, 1991: 60).

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A globalização transformou o comportamento da sociedade. No local afetou a vida do ator social ao criar uma nova agenda para o mundo através do impacto das Tecnologias de Comunicação e Informação (TIC) (Boisier, 2006). Mas dentro deste determinismo, o progresso da TIC faz parte de um conjunto mais amplo de inovações que permitiram avanços na produtividade (Reis, 2001), no crescimento económico e ao comércio internacional reduzindo as distâncias. Ademais, a globalização financeira ainda foi mais rápida que a comercial e a produtiva, a ponto de se vivenciar uma época de hegemonia do financeiro global (Reis, 2003) sobre a situação real no local. Paradoxalmente, para o ator social, em termos de desafios económicos e de inclusão social, o mundo tornou-se maior e mais complexo.

A globalização busca estruturar uma nova ordem mundial, um fenómeno caraterizado por um único espaço de comércio e transações e por múltiplos territórios de produção. Evidentemente este fenómeno constrange todo o tecido social (pessoas, organizações e instituições) a entrar num jogo competitivo de elevada complexidade, no qual só sobrevive os atores com maior capacidade de conhecimento, criatividade, inovação e flexibilidade profissional (Boisier, 2008). Com efeito, a globalização não se refere somente a grandes sistemas, mas, também, a modificação da vida local. Para Giddens (1991) a globalização não gera, necessariamente, um mundo mais unificado, pelo contrário, ela o fragmenta pela mutação do tempo, do espaço, da experiência local, por um complexo conjunto de transformações das condições básicas da vida social.

Nesse contexto, em similaridade, Carvalho Ferreira (2002b) e Ignacy Sachs (2006), apontam quatro fenómenos, que parcialmente se sobrepõem no âmbito local. Primeiro, os autores denotam uma crescente perceção de problemas mundiais que afetam toda a sociedade civil, seja ela em países desenvolvidos ou não, em especial as perversões do desemprego, da precariedade dos contratos de trabalho e da pobreza. Segundo, a degradação do meio ambiente e as mudanças climáticas causadas pelas emissões de gases geradores do efeito estufa. Terceiro, o antagonismo do crescimento económico centrado na lógica mundial cujos objetivos se identificam com as tendências de dominação de organizações transnacionais. Por último, a exclusão social sob a ótica de um fenómeno mundial – as pandemias – e.g., SIDA, o narcotráfico e o terrorismo que atingem diretamente o local causando-lhe danos sociais irreparáveis.

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O argumento de Carvalho Ferreira e Sachs pode ser interpretado do seguinte modo: a globalização delineia uma matriz quadrada composta por movimentos e consequências. Os movimentos revelam as mudanças provocadas pela tecnologia e pela hegemonia do capitalismo. As consequências apontam os problemas desde as abrangências sociais, ambientais e de segurança, até os efeitos das repercussões em termos de atitudes e outras ações contra a globalização. Para todos esses fenómenos mencionados, o local é uma parte daquilo que se tem como objetivo de atingir mundialmente, mesmo que as dimensões ecossocioeconómicas sejam distintas. O desafio recai para o homo faber que deve trabalhar para encontrar, nessa equação, o equilíbrio do conjunto que forma a condição de sustentabilidade económica, social e ambiental em abrangência global.

Para Castells e Borja (2001) e Castells (2002) a transformação estrutural da economia internacional está associada a rede nacional e transnacional produtiva com a extensão da lógica industrial e empresarial a todos os setores da economia. Acrescentando-se a esse cenário, a evolução da especialização do trabalho, a flexibilidade profissional no interior da organização e às mudanças em suas estratégias de expansão e competitividade (Leborgne e Lipietz,1990; Kovács, 2005). Pode-se dizer que todos esses fenómenos interferem, de modo negativo, diretamente no desenvolvimento local sustentável. Na opinião aqui evidenciada, os autores chamam a atenção para o fato de que, a globalização promove maior mobilidade dos fatores de produção e a integração entre os diversos setores económicos em nível nacional e internacional. O que se quer dizer que a ideia de flexibilidade do trabalho consente a variação do emprego, dos salários, dos horários e do local de trabalho, e este conjunto de fatores implica uma forte variável de competitividade para as organizações (Kovács, 2006). Neste sentido, pode-se delinear o processo da globalização e o seu impacto no local em três etapas, como elaborado no Tabela 5, a seguir.

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Período Caraterísticas

1870 a 1913

Grande mobilidade de capital e de mão de obra

Apogeu comercial, fundamentado mais em custos de transporte reduzidos do que no livre comércio. A Primeira Grande Guerra quebrou essa fase, dando posição a um período distinto pelo insucesso de refazer as tendências prévias na década de 1920 e pela notória contração do processo de globalização nos anos de 1930.

1945 a 1973

Nova etapa de integração mundial

Desenvolvimento de instituições internacionais de cooperação técnica financeira e comercial a seguir a Segunda Grande Guerra Mundial. Período em que se fomentou a expansão do comercio de manufaturados em países desenvolvidos. Além disso, perceberam-se, de modo global, novos modelos de organizações e limitações à mobilidade de capitais e mão de obra.

1970 – marco de inflexão: desintegração do regime de regulação macroeconómica estabelecido em 1944, em Bretton Woods, e primeira crise do petróleo. Estes dois fenómenos anteriores fomentaram o aumento da mobilidade de capitais privados e o fim da “idade de ouro” de crescimento dos países industrializados, atingindo diretamente o tecido produtivo local.

1975

Atual revolução tecnológica

Suas principais caraterísticas relacionam-se com a gradual generalização do livre comércio pela internacionalização dos capitais. As organizações se destacam pela crescente presença no cenário mundial de empresas transnacionais que passam a funcionar como sistemas internacionais de produção integrada, originando as organizações em rede. O mercado mundial tornou-se mais competitivo em virtude da difusão e inovação tecnológicas. O avanço das TIC acarretou a exigência de organizações mais enxutas e com maior produtividade. Neste cenário, o movimento da mão de obra foi restringido pela necessidade de maior qualificação profissional, e trouxe como consequência mudanças nos contratos de trabalho.

Tabela 5. O processo da globalização e o seu impacto no local

Fonte: elaborado pela autora a partir de Globalización y desarrollo (CEPAL, 2002:18-19)

É possível resumir que as grandes mudanças socioeconómicas contemporâneas contradizem os conceitos e as representações de organização e trabalho que foram construídas no princípio do século XX. Neste contexto, a globalização económica, paralela ao capital financeiro, afetou diretamente o ator social, suas relações de trabalho-capital e redesenhou uma nova divisão do trabalho. Alega Ilona Kovács que o impacto da globalização, no local, diz respeito as consequências da competição económica que embrenharam as organizações a mudanças radicas em termos de contrato de trabalho e a precariedade do, e no, trabalho. Sobre este ponto de vista a autora explana que “o aumento do desemprego e do emprego instável frequentemente precário constitui [para o local] uma das questões sociais mais importantes da época em que vivemos” (Kovács, 2005:11, friso nosso).

Nesse ínterim, algumas organizações no processo de revolução tecnológica passaram a ser virtuais e o trabalhador também. Na interpretação de Carvalho Ferreira (2006: 330), “é a socialização da informação e da comunicação no espaço-tempo confinado ao processo de trabalho”. Para Castells (2002), o profissional está ligado a uma rede TIC sob um contrato de mercado, e não sob um estatuto do trabalhador num contexto em que as grandes indústrias se movimentam rapidamente para a globalização e à integração de sistemas internacionais de produção. Este movimento, também

144 Tese de Doutoramento – Bernadete Bittencourt Pequenos produtores Contratação externa Unidade Fabril Organização Central Trabalho virtual Contratação externa Micros e pequenos negócios

Contratação externa

denominado – fábricas globais – reproduzem em escala mundial os processos de especialização e contratação externa de uma empresa no mercado local (Leborgne e Lipietz, 1990). Ilustra-se com a Figura 9, infra, a configuração das organizações em espaço/território diferentes, porém em rede, no contexto da globalização.

Figura 9. Configuração das organizações em rede no contexto da globalização

Fonte: Bernadete Bittencourt (2011: 91)

Para Carvalho Ferreira (2007b: 65) essa relação intrincada e alheada do trabalho social obstruído pelas novas tecnologias permite que o trabalho, na sua funcionalidade organizacional, se revele empiricamente numa multiplicidade de redes locais, regionais, nacionais e mundiais. Conclui o autor que, no local, este cenário de calamidade socioeconómica, resultado dessas ações recíprocas, conduziram uma rutura em relação às anteriores formas de interações transfronteiriças. Para além disso, segundo Castells e Borja (2001) o progresso tecnológico, nomeadamente da TIC, (re)organiza as empresas em formato de redes virtuais. Nesta lógica, diversos autores aqui citados são unânimes de que os avanços tecnológicos, junto a um enorme aparato competitivo, permitem entrelaçar as organizações em tempo real e a grande distância com o menor número de

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trabalhadores efetivos. Ademais, a liberalização das políticas de comércio exterior impulsiona à maior dispersão geográfica todas as funções empresariais. A disfunção da lógica desses avanços tecnológicos modifica a operação e o resultado dos processos que envolvem a produção, o poder e a cultura (Castells, 2002), formando uma nova composição social das sociedades. Por conseguinte, o setor produtivo, em especial as grandes indústrias, desvincula-se de se comprometer com inovações sociais atribuídas as políticas de DLS.

Depreende-se que a participação das indústrias multinacionais no desenvolvimento local não é um facto recente. O que adquiriu maior relevância após a Segunda Grande Guerra foi a estreita relação que existe entre o comércio internacional e o investimento estrangeiro direto, isto é de facto uma característica marcante da globalização. Ou seja, a passagem de uma economia predominantemente industrial para uma economia de serviços, por conseguinte a “diminuição dos grupos sociais ligados à indústria e o surgimento de novos estratos com relevo para a nova classe média” (Carvalho Ferreira et al., 1996: 387).

Arocena (1997) observa que as reflexões sobre a dimensão local diante do global se tornam mais ou menos importante de acordo com as perceções da sociedade contemporânea. Para uns o local não é um desafio de prioridade, mas antes pressupõe que as especificidades devem dar lugar ao progresso na racionalidade globalizante. Mas, para outros, a dimensão local pode aparecer como um elo privilegiado entre a racionalidade instrumental própria dos processos de desenvolvimento e a identidade local necessária para energizar esses processos. Além disso, a globalização gera uma lógica que tende a diminuir a autonomia, as crescentes interdependências, para aumentar a fragmentação das unidades territoriais, para a marginalização de algumas áreas. Questiona Arocena (1997:3) o por que de se discutir sobre o assunto DLS numa fase de evolução social tão fortemente marcado pela globalização? Reflete o autor que esta questão não pode ser explanada de um único modo, mas pode ser delineada em três situações onde o tema local coloca-se defronte a globalização.

A primeira situação, para o autor, assenta-se numa lógica de que a globalização é avassaladora. Diante disso, torna-se impossível qualquer crescimento ou evolução do

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DLS no âmbito do atual modo de acumulação de capital que se fundamenta nas TIC e outorga-lhe ferramentas necessárias numa dimensão económica transnacional, apostando na desterritorialização de capital. Nessa situação não há condições do tecido social organizar algum tipo de resistência ao domínio global.

Uma segunda situação identifica o local como uma alternativa para um processo negativamente conotado de globalização, o que representa uma espécie de revolução anti global que devolve ao tecido social o poder necessário para construir democracias genuínas. Essa situação é uma abordagem com fortes acentos ideológicos que concede a dimensão local todos os atributos positivo ameaçados pela globalização. Esta forma de colocar em relevo as virtudes do local alimenta uma dimensão movimentada por detrás de uma utopia integradora.

Delineia, então, Arocena (1997) uma terceira tendência. Essa baseia-se na análise de complexidade dos processos que caraterizam a sociedade contemporânea, tentando superar a antinomia global/local por um esforço de articulação no interior de uma tensão real. Situa-se, mais claramente, na atitude de técnico político e se expressa em termos de oportunidades e desafios. Está mais presente nas práticas de profissionais técnicos pressionados a apresentar resultados. Haveria, então, que ser colocado três maneiras de abordar a relação global/local: i) afirmando-se o carácter determinante do global sobre o local; ii) postulando-se o local como alternativa as mazelas da globalização; iii) destacando-se a articulação local/global dentro de uma compreensão complexa perante a sociedade contemporânea.

Analisando-se as situações delimitadas por José Arocena observa-se que os primeiros cenários são coerentes. No primeiro caso, se o local é determinante, se as novas formas de acumulação capitalista produzem desterritorialização, não tem por que buscar no local nenhum tipo de resposta, a esse nível não haverá mais reprodução das macro tendências. No segundo caso, frente a uma análise da globalização que mostra exclusão, marginalização, fragmentação, a resposta do local tem um conteúdo oposto a essas mazelas, generalizando condutas reativas e conflituais que buscam afirmar os perfis da sociedade mais justa e democrática. Ao se comparar a coerência dessas situações, a terceira tendência aparece como contraditória, de difícil compreensão

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levando a articular categorias que aparentemente são incompatíveis. No entanto, percebe-se que é realmente a situação que apresenta uma provável condição da importância do local diante do global.

Alega Vázquez Barquero (2000) que o DLS é uma interpretação que permite explicar a mecânica de acumulação de capital e um entorno de forte competência como a que carateriza a globalização. Nesse sentido, existe diferentes dinâmicas espaciais a nível global/local que interagem e reproduzem as novas articulações entre a mobilidade do global e o enraizamento local. Assim o local, longe de se ofuscar face à globalização, parece, pelo contrário, encontrar muitas razões para se afirmar e responder os desafios da globalização mediante ações que incidem sobre os fatores que determinam os processos de acumulação de capital, buscando, desse modo, um melhor caminho para o DLS.

A importância do local diante do local colmata-se na condição de que a globalização é um processo vinculado ao espaço/território. Esse fenómeno afeta as nações e os países, mas, sobretudo, a dinâmica económica e o ajuste produtivo que depende das decisões de investimento e localização dos atores económicos e dos fatores de atração de cada território. O processo de globalização, portanto, é uma questão que condiciona a dinâmica económica do local, das regiões que, por sua vez, vê-se afetado pelo comportamento dos atores locais (Vázquez Barquero, 2000).

Para Henry Teune (2005) o local tem duplo papel: ponto de globalização e de desenvolvimento ecossocioeconómico ao mesmo tempo que de resistência à mudança. Para o autor, esta dicotomia conduz não só a diversidade social e económica entre as regiões onde se observa, em algumas, o predomínio do que é global, e em outras o que é local. Dilucida Teune (2005) à coexistência, num mesmo espaço/território, de características distintas. Uma derivando do que é mundial, e.g., a implantação de indústrias multinacionais, a reestruturação e um novo planeamento urbano. Outras do local, em especial as organizações locais, como o caso das associações, das cooperativas, e a preservação da cultura do tecido produtivo regional.

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Para Fischer et al. (1999) a importância do local diante do global esta associada ao seu papel, a sua natureza e a sua propriedade de intervenção nos processos de globalização como um difusor de novas ideias, de inovação. Também Benko (2004:12) defende a importância do local, uma vez que, na aceção deste autor, as formas produtivas de organizações em rede de sociabilidade tornam as empresas mais dependentes do ambiente local, no meio em que estão situadas. Dilucida o autor que “a agregação das firmas que cooperam entre si e usam bens locais coletivos produzidos localmente, reforça a competitividade do conjunto da economia local” (Benko, 2004: 13). O desenvolvimento económico se produz como consequência da utilização do potencial excedente gerado localmente e da atração, eventual, de recursos externos, assim como a incorporação de economias externas ocultas nos processos produtivos. Para neutralizar, no local, as tendências a estagnação económica ativa os fatores determinantes dos processos de acumulação de capital, como a criatividade, e a difusão de inovações no sistema produtivo.

Neste contexto os setores económicos seja público, privado ou OTS, integram-se ao desenvolvimento local. Formam um modelo de DLS propício a determinada região, ou seja uma rede de economia local flexível com ligação ao mercado. O local apresenta- se como uma rede de sociabilidade descentralizada do espaço/território global, que integra instâncias simultâneas de controlo, de competitividade e de estratégias regionais (Benko et al., 1996; Storper, 1997). A importância do local pode ser constatada através do resultado de cooperações entre as empresas de diferentes setores – público, privado e das OTS, as quais podem fortalecer a economia local. Ademais o local pode disponibilizar bens e serviços, infraestruturas, escolas de formação, associações empresariais e também outros tipos de organizações especializadas consubstanciando os bens locais coletivos que contribuem para o fortalecimento competitivo das organizações. É nesse âmbito que é possível gerar a IS comprometida com as políticas de DLS, e a sua difusão pode mostrar mais do que a importância e a dimensão do local como ambiente inovador para o global.

Pode-se dizer que há, nesse contexto, uma emergência à geração de IS, em que essa inovação deve substanciar as políticas de DLS, não como um tratamento alopático que atende a doença em si própria, e sim, como a homeopatia que promove um

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tratamento holístico, que concebe a realidade como um todo. Lucubra-se aqui que durante séculos a sociedade trabalhou para elevar o progresso e tornar mais rápido o crescimento económico e tecnológico, em que se acreditava que através de seus efeitos de percolação, deveria, supostamente, assegurar prosperidade local. Por conseguinte, gradualmente, toda a força de trabalho do setor tradicional seria absorvida pela expansão do setor moderno, o que não aconteceu. Nessa aceção o local possui sua própria dinâmica e cultura socioeconómica e, portanto, o desenvolvimento não obedece a um determinismo de crescimento económico.

O ponto de vista que aqui se define é que, como reação, no despontar de uma sociedade civil global, tornou-se mais forte a importância da realidade local e do progresso do tecido societal para o DLS. Dito de outro modo, é em esfera local que a realidade do homo faber acontece invocando-o mundialmente à IS, em especial à inclusão social apropriada ao desenvolvimento sustentável. Nas palavras de Santos (2003) é a partir do local que a sociedade se movimenta formando elos com outros grupos similares do mundo em busca de inovações sociais. O desenvolvimento económico e a dinâmica produtiva dependem da introdução e difusão do conhecimento