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CAPÍTULO 2: DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL

2.1. SÍNTESE INTRODUTÓRIA

2.2.1. M OVIMENTO A MBIENTAL

O ponto de partida dos primeiros sinais de preocupação coletiva da humanidade para com a sustentabilidade do meio ambiente foi a Conferência sobre o Ambiente Humano realizada pela ONU em Estocolmo, em 1972. Naquela conferência fez-se um manifesto de preocupação pelo comportamento ambiental global. Entre outros documentos de manifesto, o que mais surpreendeu a comunidade internacional foi o Relatório do Clube de Roma, intitulado “Os Limites do Crescimento”9

. Sobre essa preocupação, o consenso resultou na criação do Programa Ambiental das Nações Unidas (UNEP)10. O objetivo principal da UNEP é analisar, a partir dos países desenvolvidos, o efeito que as suas atividades produtivas têm sobre os recursos naturais e o ambiente no nível mundial. Essa análise recai ao investigar tanto a sua ação direta como consumidores de todos os tipos de matérias-primas, quanto a sua ação indireta como emissores de todos os tipos de resíduos e elementos poluentes.

Demorou oito anos, até 1980, para que a semente lançada na Conferência de Estocolmo germinasse. A União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN)11, em 1980, reconheceu formalmente o conceito de uso sustentável na sua proposta intitulada “Estratégia Mundial de Conservação”. Neste contexto, o movimento ambiental defende a tese do compromisso de sustentabilidade do

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Sobre o Relatório Meadows: Em 1970 o Clube de Roma encomendou um estudo para a equipa do MIT formada por Donella H. Meadows, Dennis L. Meadows, Jorgen Randers e William W. Behrens III. Publicado em 1972, o relatório “Os Limites do Crescimento”, no original The Limits to Growth, asseverou que a Terra entraria em colapso no período máximo de cem anos. O relatório fez uma análise profunda, supranacional e transdisciplinar sobre o crescimento industrial, aumento da população, causas à desnutrição generalizada, esgotamento dos recursos naturais e degradação do meio ambiente. Como solução, entre outras coisas, propôs-se a elaboração de diretrizes para um planeamento que integrasse o desenvolvimento e a proteção ambiental, com um grande impasse: crescimento zero. A sugestão de que o crescimento populacional e o consumo de materiais deveriam ser reduzidos deliberadamente, causou indignação para a maioria dos economistas, juntamente com muitos empresários, políticos e defensores dos países em desenvolvimento. Ao longo dos anos, este livro foi muito criticado, e poucos entenderam a conclusão do estudo, deturpando-o nas suas afirmações, e mesmo admitindo-o como uma hipérbole malthusiana. Infelizmente pode-se constatar que nada do que tem acontecido nos últimos quarenta anos tem invalidado o que nos adverte sobre o ecodesenvolvimento nos estudos daqueles especialistas.

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United Nations Environment Programme. Tem por missão fornecer liderança e encorajar parcerias entre as nações e povos no cuidado com o meio ambiente, inspirando, informando e permitindo melhorar a sua qualidade de vida sem comprometer as gerações futuras. http://www.unep.org/

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International Union for Conservation of Nature. Tem por missão ajudar o mundo a encontrar soluções pragmáticas para o ambiente e para os desafios mais prementes do desenvolvimento –

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crescimento económico aliado ao desenvolvimento, ambos em equilíbrio com o ecossistema. Por conseguinte, o tecido societal12 depende da biosfera para perpetuar a vida. Mesmo assim, cada sociedade trabalha pela sobrevivência e pela prosperidade local. Contudo, dependente de recursos esgotáveis, como uma parte da atividade económica, desconsidera o impacto que causa sobre o meio ambiente, espaço/território em que vive os demais seres.

As sugestões e propostas feitas pelo movimento ambiental durante quinze anos – 1972/1987 – giravam exclusivamente em torno da ideia de proteger o meio ambiente. No entanto, um relatório traz à luz o que provavelmente foi transcendental para o futuro da humanidade: “Nosso Futuro Comum”, elaborado pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD), presidida por Gro Brundtland13. Pode- se dizer que esse foi um passo inovador dado por uma entidade oficial em termos de comprometimento no alargado âmbito do conceito de desenvolvimento sustentável. Mas o conceito não foi inventado pela CMMAD, como apontado por Berga (2005), a verdade é que, o Relatório transformou o termo em moda mundial. No Relatório o termo recebe a definição de que o desenvolvimento sustentável é “o desenvolvimento que possibilita atender as necessidades atuais sem comprometer a capacidade das gerações vindouras de satisfazer suas próprias necessidades” (WCED, 1987: 43). Neste contexto, permuta-se a ideia de sustentabilidade ambiental para outra que praticamente engloba, em geral, todas as faces da vida humana e se percebe a

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O termo tecido societal é usado para se referir aos aspetos sociais do local e não a sua estrutura física. Neste sentido, tecido societal refere-se à sociedade, sobretudo considerada do ponto de vista da sua estrutura, organização ou função; próprio da vida em sociedade. A expressão relaciona-se aos indivíduos e a coletividade em que se entrelaçam por uma ou mais relações sociais em sistema de redes de sociabilidades profundas em que se forma uma malha social, e esta malha interage com o lugar como um sistema vivo intricado no seu modo de proceder o desenvolvimento local.

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Gro Harlem Brundtland presidiu a Comissão Mundial Sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD). Esta comissão foi criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) com os seguintes objetivos principais: 1) reexaminar as questões críticas relativas ao meio ambiente e reformular as propostas realísticas para abordá-las; 2) propor novas formas de cooperação internacional na área do desenvolvimento sustentável de modo a orientar as políticas e ações no sentido de fazer as mudanças necessárias. Disseminar informações às populações, governos, empresas, OTS e demais organismos, uma maior compreensão dos problemas existentes sobre o meio ambiente, auxiliando-os e incentivando-os à uma atuação mais firme. Em 1987 a CMMAD recomendou a criação de uma nova declaração universal sobre a proteção ambiental e o desenvolvimento sustentável o Relatório Brundtland – "Nosso Futuro Comum". Tal documento apresentou a proposta de integrar a questão ambiental no desenvolvimento económico, surgindo não apenas um novo termo, mas uma nova forma de progredir o crescimento económico para o desenvolvimento sustentável.

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necessidade de focar temas que envolvem o meio ambiente e desenvolvimento de forma equilibrada e global.

Todavia, por mais que se tenha preocupações ecossocioeconómicas desde a publicação do Relatório, algumas sociedades ainda consomem os recursos finitos da Terra a um ritmo que provavelmente pouco sobrará para as gerações futuras (Sachs, 2007). Em maior número, outras sociedade em ambientes limiares consomem pouco e vivem sem qualidade de vida, na linha da fome, da miséria, da doença e da morte prematura, (Sen, 1998 e 2003). Apesar do progresso, ainda há elevadas falhas no que tange à ações eficazes e concretas que precisam ser corrigidas, i.e., uma resposta mais ponderada na relevância do progresso não depende da existência de limites, mas a natureza ou carácter desse ambiente limiar (Atkinson et al., 2007). Se os impactos gerados pela pobreza social e económica são nocivos para o ambiente (Sen, 2003), o modo equivocado com que se tem frequentemente buscado a prosperidade local é cognoscível para a aproximação de um ambiente limiar (UNEP, 2012). Estas lacunas, tão presente no cenário mundial, confirmam o depoimento da presidente da CMMAD, Gro Brundtland, quando publicou o relatório Nosso Futuro Comum.

Na década atual, verificou-se um retrocesso quanto às preocupações sociais. Os cientistas chamaram a atenção para

problemas urgentes e complexos ligados à própria

sobrevivência do homem: um planeta em processo de aquecimento, ameaças à camada de ozono, desertos que devoram terras de cultivo. (…) E, como parte do nosso ‘desenvolvimento’, armazenamos arsenais capazes de alterar os rumos que a evolução vem seguindo há milhões de anos e de criar um planeta que nossos ancestrais não reconheceriam” (Prefácio de Gro Brundtland, WCED, 1987:XIII).

A declaração de Gro Brundtland feita em 1987, na perspetiva que aqui se delineia, ainda é atual. Com efeito poder-se-ia publicá-la agora! Visto que é assente que a sociedade mundial necessita buscar ações práticas para sanar a crise ambiental (cf. Figura 6:37), bem como, o meio ambiente não existe como espaço desvinculado do tecido societal, mas, a cada dia os problemas tornam-se emergentes (UNEP, 2012).

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Neste contexto, a declaração de Gro Brundtland, quando ajuntada a Figura 6:37, sobressai os estudos publicados desde o movimento ambiental até a Rio+20, evento de âmbito mundial que ocorreu no Rio de janeiro, em 2012. Desse modo, diversos relatórios de estudo científico revelaram que a prosperidade do crescimento económico, conseguida por alguns países, é com frequência precária (UNEP, 2012).14 Tais práticas de desenvolvimento económico e social ainda estão sendo obtidas mediante atividades agrícolas, florestais e industriais que só trazem lucro e progresso local a curto prazo (Veiga, 2005c). Portanto, o fornecimento futuro de serviços dos ecossistemas está a ser comprometido pela implacável pressão humana sobre o meio ambiente.

O desgaste do meio ambiente foi com frequência considerado o resultado da crescente demanda de recursos escassos e da poluição causada pela melhoria do padrão de vida local, dos países relativamente ricos (Dalal-Clayton e Bass, 2009). Todavia, as dimensões do problema ecossocioeconómico deixa de ser localizado (Sachs, 2007), muitas das questões críticas de sobrevivência estão relacionadas com desenvolvimento desigual, pobreza, crescimento populacional, por conseguinte, as crises se interligam, não são crises isoladas (Flipo e Gaudillière, 2009).

Neste contexto, na análise de Bürgenmeier (2005), os princípios indissociáveis do conceito de desenvolvimento sustentável, como a irreversibilidade ou precaução, são ainda muitas vezes aplicado somente na esfera ambiental. O posicionamento da análise de Bürgenmeier (2005) pode responder a interpretação de Dalal-Clayton e Bass (2009) e Sachs (2007). Para Bata Bürgenmeier as políticas que implementam o desenvolvimento sustentável devem apresentar o seu papel como ferramentas para compreender as

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O Relatório da United Nations Environment Programme (UNEP) “21 Issues for the 21st Century” foi elaborado por mais de 20 distintos cientistas de todo o mundo e passou quase um ano em discussão e consulta com cerca de 400 cientistas e outros especialistas internacionais. Este documento teve como objetivo estabelecer um consenso internacional e gerar uma lista de prioridades das principais questões ambientais emergentes, no sentido de problemas de impacto global. São problemas reconhecidos pela comunidade científica como muito importante para o bem-estar do tecido societal, bem como para o ecossistema, mas que ainda não recebe a devida atenção da comunidade política. Os temas escolhidos foram denominados como "emergentes" com base em novidade, que pode ser o resultado de novos conhecimentos científicos; novos níveis ou taxas aceleradas de impacto; nível mais elevado de consciência local e global, e/ou novas formas de responder à questão ecossocioeconómica. Estas questões abrangem todos os principais temas ambientais globais incluindo a produção de alimentos e a segurança alimentar; cidades e uso das terras, biodiversidade, água doce e marinha, as alterações climáticas e questões de tecnologia, energia e resíduos (UNEP, 2012).

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questões económicas e sociais. Isto porque a deterioração de alguns ativos sociais ou até mesmo económicos são irreversíveis. Dito de outro modo, a existência de limites de irreversibilidade parece tão relevante no campo do desenvolvimento do tecido societal do que só no ambiente. Desse modo, as tendências adversas em alguns indicadores de desenvolvimento sustentável merecem uma análise mais aprofundada dos limiares de irreversibilidade.

O desenvolvimento sustentável, implementado como política ambiental visa melhorar o ambiente de vida para todos, mas designa vencedores e perdedores em termos de bem-estar e desenvolvimento socioeconómico. Portanto, interfere com questões de igualdade social (Bürgenmeier, 2005: 184).

Para Flipo e Gaudillière (2009), o movimento ambiental em tempos de agora dever-se-ia repensar as necessidades do desenvolvimento sustentável na vertente da decadência seletiva, desigualdade e relações Norte/Sul. As diversas crises que se interligam exige posicionamento estratégico do sistema societal para enfrentarem os cenários de crise verde. Mas, para os autores esta consciência corre o risco de parar a meio caminho.

Capitalismo verde, crescimento verde, keynesianismo verde e tecnologias limpas são todas confortáveis miragens para nos poupar o necessário desafio relacionado aos limites ecológicos de um planeta com recursos finitos (Flipo e Gaudillière, 2009:1).

De acordo as considerações de Flipo Gaudillière esses limites levam à questão das desigualdades sociais e ecológicas, mas também a mudanças nos padrões de produção, consumo e estilo de vida do tecido societal no local. No argumento de Oliveira et al. (2006) os efeitos físicos de toda ação produtiva, nomeadamente com o uso de novas tecnologias, reflete e prefigura profundos impactos sobre a biosfera a medida que a sociedade mundial investe em habitação, agricultura, transporte e indústria. Embora, nem toda sociedade seja pessimista e vislumbre um desenvolvimento

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sustentável mais promissor, grande parte do crescimento económico se faz à custa de matérias-primas de florestas, solos, mares e vias navegáveis (Strange e Bayley, 2008).

Neste contexto, Lopes, Sachs e Dowbor (2010) observam que as indústrias que mais dependem de recursos do meio ambiente e que mais poluem se multiplicam com grande rapidez nos países em desenvolvimento. Em especial pela falta de uma legislação ambiental rigorosa e pela mão de obra barata. Neste âmbito a inovação social e tecnológica é imprescindível para atender as necessidades do local, em especial para responder a exclusão produtiva.

Portanto, o movimento ambiental defende que há necessidade de se reorientar à tecnologia, o elo-chave entre seres humanos e a natureza (UNEP, 2012). Primeiro, a capacidade de inovação social e de inovação tecnológica precisa ser ampliada nos países em desenvolvimento, mas não só, a fim de que o local possa reagir de modo eficaz e eficiente aos desafios do desenvolvimento sustentável. Em seguida, a sociedade técnico- científica necessita reorientar o desenvolvimento tecnológico, de modo a permitir maior atenção aos fatores ambientais e a exclusão produtiva. Para Lopes, Sachs e Dowbor (2010), no local, o tecido societal convive com sérias deficiências em termos de equidade social e com ausência da capacitação técnico-científica. Além da falta de eficiência operacional em todos os campos de ação governamental, e, mesmo de credibilidade, junto a amplos segmentos da sociedade que se encontram em processo de exclusão produtiva (Dowbor, 2010).

O processo de inclusão produtiva dos quase dois terços de excluídos envolve uma outra lógica do emprego, formas múltiplas e diferenciadas de inserção na produção de bens e serviços. O resgate destas prioridades reais do planeta e da humanidade envolve por sua vez uma participação muito mais significativa do Estado, que com todas as suas fragilidades ainda constitui o melhor instrumento de coordenação de esforços sociais de que dispomos. Mas se trata de um Estado muito mais regulador do conjunto dos esforços da sociedade. É indispensável o resgate da visão sistêmica, da visão de longo prazo, e dos mecanismos de planeamento. Estamos falando, na

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realidade, da construção de uma outra cultura política (Lopes, Sachs e Dowbor, 2010:20).

Desse modo, no local, a exclusão produtiva pressiona ainda mais os recursos naturais à medida que um número maior de indivíduos se vê forçado a depender mais diretamente deles. Com efeito, “ao serem excluídas dos processos que usam modernização tecnológica mais avançada, as pessoas tentam sobreviver da maneira que podem” (Dowbor, 2010: 20). Neste sentido, o movimento ambiental interpreta o desenvolvimento sustentável na perspetiva sistémica, não existe desenvolvimento sustentável sem crescimento socioeconómico sustentável. O que Carvalho Ferreira (2011) esclarece que o movimento determina que há vínculos entre a economia global e a crise ecológica, social e económica oriunda do desequilíbrio do crescimento económico com o progresso tecnológico industrial. Contudo, apesar das anotações recentes, tais observações podem ser identificadas nos estudos publicados desde os anos sessenta (cf. Figura 6:37). Diversos autores, que dão iniciam ao movimento ambiental, e.g. Rachel Carson (1907 – 1964) e Garret Hardin (1915 – 2003), discutem a dicotomia crescimento económico/sustentabilidade ambiental15 que incide diretamente na qualidade de vida e no bem-estar da sociedade, tanto presente quanto futura.

A discussão em torno do crescimento socioeconómico e as interações do movimento ambiental, em perspetiva sistémica, afirma-se com o ecodesenvolvimento, e a sua propulsão mundial que deu início na Cimeira de Estocolmo16 e envolve diversos

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Rachel Carson publicou “Primavera Silenciosa” – no original Silent Spring (1962). Esta bióloga americana estabeleceu as primeiras conexões de ecossocioeconomia – meio ambiente, economia e bem- estar social. Carson chamou a atenção mundial sobre a degradação excessiva do meio ambiente e a diminuição acentuada de recursos naturais. Um dos resultados dos seus estudos, com a publicação desse livro, foi banir do mercado mundial, após 1972, o uso de pesticidas como o DDT na agricultura. A seguir, Garrett Hardin publicou “A Tragédia dos Bens Comuns” – The Tragedy of the Commons (1968). Hardin fez um ensaio sobre a armadilha socioeconómica que envolve conflitos entre interesses individuais e o bem comum no uso de recursos finitos. A metáfora usada por Hardin ilustra que o livre acesso, o uso e a procura irrestrita de um recurso finito, coloca em risco o recurso pela exploração desmedida.

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O conceito de ecodesenvolvimento foi colocado pelo Secretário da Cimeira de Estocolmo, Maurice Strong e, a partir de 1974, Ignacy Sachs teorizou-o e difundiu-o. Mas Ignacy Sachs não fez isto sozinho, segundo declaração do próprio autor (Sachs, 2008), ele formou uma rede de sociabilidade com as OTS e os organismos internacionais. Nesse ambiente de ebulição, em 1980, na Estratégia Mundial para a Conservação da Natureza, pela primeira vez o termo desenvolvimento sustentável foi usado expressando o sentido de desenvolvimento sustentável de modo transversal e multidisciplinar.

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agentes sociais. Para Sachs (2000b) o ecodesenvolvimento significa que, o local depende da interação de suas próprias forças, por isso ele é endógeno,

[…] e tem por objetivo dar respostas à problemática da harmonização das questões sociais e económicas do desenvolvimento com uma gestão ecologicamente prudente dos recursos e do meio (Sachs, 2000b:55).

Desde então o movimento ambiental a fim de dar respostas as questões socioeconómicas do desenvolvimento, sustenta-se, principalmente, por três agentes de interação:

a) O trabalho das principais organizações internacionais e, especialmente das Nações Unidas;

b) As reflexões teóricas sobre a dimensão ecológica do desenvolvimento;

c) A institucionalização do movimento ambientalista17.

A interação desses atores forma uma rede de sociabilidade18 na dimensão local/global cujos laços são estabelecidos entre o setor público, privado e o terceiro setor. Neste ínterim, as OTS, aliadas a sociedade civil19, mobilizam-se em busca de

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A institucionalização do movimento ambientalista reforça o papel das Organizações Não Governamentais (ONG). As ONG são organizações do terceiro setor que implementam ações socioambientais. Cada vez mais as ONGs são responsáveis por inúmeros programas de educação ambiental e preservação do ecossistema.

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Como tratado por Granovetter (2003, 2005), considera-se a rede de sociabilidade como um conjunto de elos entrelaçados por uma ou mais relações de interdependência entre pessoas e/ou organizações, em um demarcado contexto. Assim, entendemos as redes de sociabilidades como uma representação de estruturas sociais dinâmicas de menor custo à ação coletiva, em defesa dos seus próprios interesses, elevando a sua capacidade para controlar riscos.

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Usa-se a expressão “sociedade civil” para se referir ao espaço de ação coletiva de interesses e valores comuns. Em teoria, as suas formas institucionais são distintas daquelas do Estado, da família e do mercado, embora na prática, as fronteiras entre Estado, sociedade civil, família e mercado são muitas vezes complexas, desfocada e negociadas. A sociedade civil frequentemente enlaça uma diversidade de espaços, atores e formas institucionais, variando em seu grau de formalidade, autonomia e poder. O espaço de atuação da sociedade civil é frequentemente formado por uma gama muito variada de organizações, e.g., associações de desenvolvimento local, organizações não-governamentais, grupos comunitários, organizações de mulheres empreendedoras, associações de micro e pequenos empresários, movimentos sociais, associações de produtores rurais, etc.

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ações de curto prazo cujo intuito é o de atender a transgressão dos limites do crescimento material, mais dirigidas as questões ambientais e a equidade social no local.

Importa realçar que algumas OTS, desde o início do movimento ambiental, foram o eixo central da rede que consubstanciou e sedimentou o esclarecimento do conceito do desenvolvimento sustentável. A confluência destas OTS na esfera internacional gerou processos de planos e programas comprometidos com o desenvolvimento sustentável inovadores. Estes planos e programas focam a sua aplicação no espaço/território a fim de atender as necessidades sociais de todos tipos,