• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 2: DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL

2.6. SÍNTESE CONCLUSIVA DO CAP Í TULO

O desenvolvimento local endógeno pode ser sublinhado como o desenvolvimento integral em que se combina a gestão sustentável do meio ao progresso socioeconómico do espaço/território. Assim, o desenvolvimento local sustentável alicerça-se no tecido produtivo, sendo este tecido, composto por um conjunto variado de iniciativas de base local, em que seus elementos, os atores locais, de modo democrático e equitativo, buscam soluções para atender as necessidades ecossocioeconómicas do local. Destarte, a partir da análise bibliográfica sobre o desenvolvimento local sustentável, pode-se fundamentar uma definição com base em dez atributos apontados por Roque Amaro (2009: 111) a saber:

a) um processo de mudança, levando à melhoria do bem-estar e das condições de vida da população;

b) centrado numa comunidade territorial de pequena dimensão, definida pela existência (real ou potencial) de uma identidade comum, capaz de mobilizar solidariedade de ação (coletiva) e com pretensões a uma autonomia de afirmação do seu destino;

c) que tem como uma das suas motivações fundamentais a resposta a necessidades básicas da comunidade que estão por satisfazer;

d) a partir essencialmente da mobilização das capacidades locais;

e) o que implica a adotar metodologias participativas e de empoderamento da comunidade local (do ponto de vista individual e coletivo);

f) contando também com a contribuição de recursos exógenos, capazes de mobilizar e fertilizar os recursos endógenos (e não os substituir ou inibir);

152 Tese de Doutoramento – Bernadete Bittencourt

h) o que exige uma lógica de trabalho em parceria, ou seja, de articulação dos vários atores, protagonistas e instituições locais ou a trabalhar no local;

i) com impacto tendencial em toda comunidade;

j) segundo uma diversidade de processos, dinâmicas e resultados (Amaro, 2009: 111).

Nesse sentido, o local atua como agente inovador de desenvolvimento (Maillat et al., 2006) fundado sobre a solidariedade orgânica e sustentável, resultante da intervenção de forças do tecido social que evoluem em escala mais ampla que o local. Na verdade, a combinação do meio sustentável não vem naturalmente, mas é possível gerenciar as dinâmicas emergentes do tecido social com a proteção ambiental no processo de gestão local (Sachs, 1986a), assim, tem-se estratégias de desenvolvimento (Sachs, 1986b, 1993), que resultarão em políticas de DLS. Às políticas de DLS, segundo Sen (1998), acrescenta-se, também, a conduta de solidariedade, de um desenvolvimento democrático, humano e social. Esta conduta tenta resolver os problemas mais emergentes, e.g., a fome, a exclusão, o desemprego; mas, também, apresentar respostas, mediante a inovação social, às necessidades da sociedade local, seja ela de excluídos ou não. Além disso, esse comportamento de solidariedade, ou mesmo de inovação social, fortalece todos os setores da sociedade, i.e., o setor público, o setor privado e o terceiro setor. Estas iniciativas contribuem, concomitantemente, para o progresso de desenvolvimento ecossocioeconómico local, resultado de um compromisso entre os atores sociais e o papel do Estado, do mercado e da sociedade civil organizada. Na ideia que aqui se delineia, supõe-se, a partir de então, um crescimento com equidade, proveniente da sinergia de diversos atores no nível do território, uma combinação positiva das dimensões ambiental, social e económica, considerando-se as reais condições de desenvolvimento local (Demoustier, 2006).

Afirma Lévesque (2004) que o desenvolvimento local e as OTS fazem parte de uma equação equilibrada. A economia local, composta por um conjunto de empresas de gestão coletiva, e o local, possuem elos fortes, indissociáveis. Porquanto as formas espaciais e territoriais constituem um dos fundamentos das lógicas de solidariedade, consubstanciada pela convergência de valores e de ações. Para Coraggio (2007c), essa

Tese de Doutoramento – Bernadete Bittencourt 153

condição, que assenta no novo paradigma de desenvolvimento, refere-se ao problema global de economia social, por conseguinte das OTS combinando a velha natureza de Charles Gide93 em sua versão moderna em termos de alternativa de desenvolvimento local. Aduz Amaro (2011) que, o novo paradigma de desenvolvimento se caracteriza por um carácter de inovação social em que a heterogeneidade do tecido societal funciona como um tipo ideal, quando incorporada numa dinâmica de cooperação económica diversificada e transversal.

Segundo Favreau (2004), as políticas de desenvolvimento local possuem uma abordagem consensual no sentido de agregar forças locais a fim de i) facilitar a resolução de problemas sociais através da autossuficiência económica, social e ambiental do local; ii) assistir as questões mais urgentes relacionadas com a falta de emprego, de infraestrutura económica e de serviços básicos através de intervenções fortemente territorializada; iii) apoiar o desenvolvimento organizacional do tecido produtivo (serviços ou produção de bens), associações, cooperativas e outras OTS em setores-chave da sociedade local (habitação, emprego, serviços sociais, meio ambiente); iv) trabalhar em sistema de parcerias e redes de sociabilidade onde os atores envolvidos estão ligados por compromisso com o DLS; v) construir estruturas autónomas a partir de um esforço local solidário combinando recursos humanos e financeiros híbridos, recursos públicos, mais a venda de bens e serviços no mercado. Grande parte desses elementos estão relacionados as OTS, nomeadamente às associações e as cooperativas, e esse seria o modelo desejado, mas ainda muito pouco realizado de desenvolvimento local sustentável contemporâneo.

93

As ideias de Charles Gide (1847 – 1932) em torno da estrutura cooperativa e da solidariedade são respeitadas até hoje e segue nomeando-o como uma referência comum. Após o socialismo utópico e as experiências locais, dentro de uma visão mais ampla e social, Gide analisou a criação de uma economia social. Essa visão ainda mantem o carácter da voluntariedade, de solidariedade e de uma economia de trabalho caracterizada pelo associativismo e pelo cooperativismo (http://www.charlesgide.fr/). Aprofundamos este assunto no Capítulo 3, a seguir, nomeadamente nos itens 3.4.1. e 3.4.2. do respetivo Capítulo.

Tese de Doutoramento – Bernadete Bittencourt 155

Capítulo 3. Terceiro Setor

Tese de Doutoramento – Bernadete Bittencourt 157

3.1. SÍNTESEINTRODUTÓRIA

Nesse capítulo revisa-se a bibliografia sobre o terceiro setor. Para esta investigação, a abordagem que se efetua sobre o terceiro setor foge do prisma que normalmente é analisado a respeito deste assunto, em especial quanto as organizações que dele fazem parte. Essa opção relativa ao termo terceiro setor deve-se ao facto, nomeadamente a pertinácia às classificações e o contínuo movimento das fronteiras deste setor. Assim, de modo mais amplo, a designação escolhida por terceiro setor refere-se a um conjunto de empresas fora da esfera pública e privada, que apoia e/ou produz bens e serviços cujo excedente é reinvestido na organização e na autossuficiência de seus membros. Este conjunto de empresas, em sistema de gestão coletiva, é composto por associações e cooperativas que agregam e/ou apoiam, sobretudo, micros e pequenos empreendedores, produtores, artesãos, etc. e podem, pois, gerar inovação social e, ainda, estão comprometidas com o DLS. Na verdade, ocorre que em cada lugar o terceiro setor pode significar coisas diferentes, designando, ao mesmo tempo, organizações que não são públicas e nem privadas, portanto, um terceiro setor (Defourny e Pestoff, 2008). Diante desse facto, permite-se uma linguagem comum que ultrapassa a complexidade de significados. Além disso, conforme explana Ferreira (2000: 5), o uso do termo terceiro setor é a opção da maioria dos autores da associação internacional de investigadores desta área, a International Society for Third Sector Research (ISTR).

Para realizar esta articulação sobre o DLS e o terceiro setor, ou de Organizações do Terceiro Setor (OTS), analisa-se, primeiramente, as raízes do terceiro setor, prevalecendo uma abordagem histórico-cultural. Busca-se com isso conhecer melhor a origem deste setor e como tornou-se fenómeno mundial de organizações nos moldes de associações e cooperativas. Nesse âmbito observa-se que o terceiro setor recebe variadas denominações e possui uma classificação quanto ao tipo de organização que nele se conjuga, portanto, com base nesse facto, faz-se uma clarificação dos conceitos. Tem-se deste modo, os principais enfoques conceituais sobre o terceiro setor e as organizações que dele fazem parte no contexto do desenvolvimento local sustentável. Este campo de estudo foi distendido até as OTS, nomeadamente sobre o associativismo e cooperativismo, enquanto espaço de inovação social e a sua inteiração com o

158 Tese de Doutoramento – Bernadete Bittencourt Terceiro Sector A raízes do terceiro sector

Organizações do terceiro sector OTS inovadoras Desenvolvimento do terceiro sector

desenvolvimento local sustentável. Finaliza-se o Capítulo com uma síntese conclusiva em que se observa, a partir dessa revisão bibliográfica, ser possível circunscrever as novas formas de organização inovadora propícias à gestão coletiva no contexto das OTS.

Figura 10. Configuração síntese do capítulo 3

Tese de Doutoramento – Bernadete Bittencourt 159