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CAPÍTULO 2: DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL

2.4. D ESENVOLVIMENTO LOCAL INTEGRADO AO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

2.4.1. U M NOVO PARADIGMA DE DESENVOLVIMENTO

Estudos que conduziram a conceção de um novo paradigma de desenvolvimento revelam que o local passou a ser percebido com relativa importância na estruturação das atividades produtivas. Aduz Santos (2001:137) que, embora vários autores apresentem análises diferentes quanto ao papel que o local desempenha na presente economia global, a sua intervenção no melhoramento da qualidade de vida e na qualidade do ambiente parece cada vez mais inquestionável. Nesse contexto, Castells e Vilaseca (2007) anotam que o local se tornou, por via das dinâmicas endógenas produtivas e dos seus recursos institucionais, o agente decisivo do atual desenvolvimento como processo de transformação da estrutura social.

Para Veiga (2002) o novo paradigma de desenvolvimento firmou-se após a era dos anos dourados (1948-1973) e o seu conceito evoluiu com o avanço de investigações científicas sobre as dinâmicas socioeconómicas de algumas localidades que se distinguiram no cenário internacional. Neste contexto, as investigações de Swinburgn, Goga & Murphy (2006), entre outros especialistas, sublinham que na década de setenta alguns países foram atingidos pela crise do padrão de crescimento. A crise do modelo dominante, e a introdução de profundas reestruturações, no entendimento de Amaro (1991), constituiu o estímulo para a alteração completa das formas de pensar o desenvolvimento e conduziu alterações significativas nas atividades produtivas. Essa crise levou o local a experimentar outras opções de reestruturação industrial que convergiu para a ideia central de promover o desenvolvimento local (Benko e Lipietz, 1994).

O progresso desses estudos trouxe novas perspetivas às discussões sobre o fiasco das políticas de desenvolvimento e distingue-se pela tónica do debate sobre o desenvolvimento que defende um tratamento diferenciado às zonas afetadas pela crise económica e degradação ambiental, (Vázquez Barquero, 1988; Vachon e Coallier, 1993). A evolução desses estudos teve grande impacto nas formas de repensar o problema local, assim corroboraram para o conceito de crescimento económico em equilíbrio com o desenvolvimento sustentável, vetor para o desenvolvimento local sustentável (Vachon, 1991). Destarte, esse novo conceito de desenvolvimento preconiza

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a revisão do modelo economicista atual e fundamenta o seu modo de ser na descentralização das decisões, no estímulo à participação do sistema societal e na definição dos rumos económico e social do local ao qual pertencem (Arocena, 2001).

Portanto, o novo paradigma de desenvolvimento embate com o modo dominante de desenvolvimento adensado no progresso tecnológico para atingir elevada produtividade industrial e rápida urbanização (Pecqueur, 2009). Nesse sentido, Coraggio (2003) é enfático ao afirmar que o modelo dominante de desenvolvimento gerou um processo destrutivo do tecido social local. Mesmo que o modelo tenha atendido a fatores importantes para o crescimento económico, não foi suficiente para promover, no espaço/território, o desenvolvimento local sustentável. Isto é, falhou na base do próprio crescimento quando não conseguiu o equilíbrio dos rendimentos per

capita, uma distribuição mais equitativa do emprego, ou mesmo o fomento de novas

atividades económicas (Coraggio 2002). Na expressão de Carvalho Ferreira (2011), um caos social ressaltado por seus efeitos perversos, i.e., degradação ambiental, concentração urbana, desemprego, pobreza, exclusão social, desertificação rural e o fracasso nas tentativas de reduzir as desigualdades socioeconómicas.

Para diversos autores, e.g., Vachon (1991), Amaro (1998), Coraggio (2005), o desenvolvimento local sustentável foi, portanto, uma reconstrução de política estratégica em períodos de destruição, um esforço de conciliar progresso com ordem socioeconómica. Esse novo paradigma não aponta diretamente as fragilidades regionais, tão pouco o incentivo financeiro para atrair a criação e atração de novas empresas em áreas menos favorecidas. Por conseguinte, tende em definir políticas claras e elevar a capacidade do lugar para gerar internamente as condições de transformação das suas estruturas produtivas (Coraggio, 2003).

Propõe-se com a Figura 8:117, mais à frente, um diagrama onde se anota, por intermédio das experiências muitas vezes recapituladas, o filiar do novo paradigma de desenvolvimento, em que se sobressai, a época presente, a teoria do DLS. Faz-se a leitura dessa Figura por indicação de vetores contínuos (influência direta) e vetores tracejados (influência indireta). Esses vetores têm a finalidade de apresentar quatro grandes blocos de teóricos e suas principais influências na teoria do desenvolvimento

Tese de Doutoramento – Bernadete Bittencourt 117 2010 2000 1990 1980 1970 1930 1940 1950 1960 1820 1890 1900 1910 1920 Marshall (1890) Princípios de Economia Von Thürnen (1826) O Estado Isolado Weber (1909): Teoria da Localização de Industrias Christaller (1933): Os Lugares Centrais Lösch (1940): A Ordem Espacial da Economia Isard (1956): Localização e Economia Espacial Piore e Sabel (1984): Distritos Industriais Perroux (1955): Pólos de Crescimento Keynes (1936): Teoria Geral Myrdal (1957): Causação

Circular e Acumulativa Hirschman (1958): Efeitos para a frente e para trás Schumpeter (1911): Desenvolvimento Económico

Dosi, Freeman et al. (1988): Evolucionistas Storper e Scott (1988): Organização Industrial GREMI: 1986 Meio Inovador Krugman (1991): Retornos Crescentes Sachs (1974): Ecodesenvolvimento Arocena (1988): Desenvolvimento Local Meister (1977):

Des. participativo Taylor e Stöhr (1979): Des. endógeno

Vachon (1991): Des. local Sustentável Sen (2001):

Des. como liberdade ecossocioeconomiaSachs (2007): Houée (2009): Des. humano e solidário Novo Paradigma de

Desenvolvimento

local (distinguindo-se pelas tonalidades preto/cinza e espessura do traço). Com os vetores contínuos, em preto acentuado, aponta-se o grupo de autores que perceberam um novo modelo de desenvolvimento sustentável, em que o local reflete o comportamento socioeconómico do tecido societal. Assim, a teoria do desenvolvimento local sustenta que a dinâmica do local é o centro do processo de desenvolvimento, agente inovador na criação de valor ecossocioeconómico e propaga-se da esfera local para o global (Pecqueur, 2009).

Figura 8. Diagrama da evolução do novo paradigma de desenvolvimento

Fonte: Elaboração própria com adaptação de Cavalcante (2008: 12) e de Martinelli et al., (2002: 19)

Ao se examinar a literatura que estrutura a Figura 8, supra, pode-se identificar o percurso de autores que explicam a dinâmica local aliada a diversas formas de organizações produtivas, ainda na origem dos estudos sobre o desenvolvimento. Destarte, o foco central de análise não era propriamente o desenvolvimento local, autores como e.g., Perroux, Myrdal e Hirschman esmerilavam as questões de

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concentração e de agrupamentos de produtividade económica e a determinação dos custos, os aspetos económicos e quantitativos de progresso.

Entre os trabalhos dos clássicos, e.g., a teoria keynesiana, descreveu a trajetória económica em âmbito nacional em um contexto de curto prazo. O estudo da escola neoclássica fundamentou-se em mecanismos momentâneos ajustados em função de variações de mercado (Louçã e Caldas, 2010). Pode-se dizer que a maioria da produção científica estava voltada para a área da economia regional e evoluiu para a um novo paradigma de desenvolvimento a partir do paradigma funcionalista, nomeadamente por Perroux (1955)65, Myrdal (1957)66 e Hirschman (1958), a partir da década de cinquenta. Esses investigadores exerceram influências relevantes nos conjuntos de teorias mais recentes como a dos distritos industriais, a do meio inovador, e a teoria do DLS cf. observa-se na Figura 8:117, exposta anteriormente.

Cavalcante (2008) esclarece que a primeira escola percorreu o período de 1920 – 1960 (cf. Figura 8:117), e foi composta por um conjunto de teorias denominadas por teoria clássica da localização. Tal escola, nas palavras desse autor, iniciou em 1826 com os trabalhos de Johann Heinrich von Thünen e evoluiu com os estudos de Alfred Weber (1909), Walter Christaller (1933) e Augute Lösch (1940). Em 1956 Walter Isard67 sistematizou os estudos desenvolvidos até então e formulou uma nova área de investigação a qual denominou de ciência regional.68 A produção científica desses especialistas centrou-se nos estudos que determinam a localização e a organização espacial das atividades económicas, e na identificação dos fatores quantitativos de crescimento regional. Todavia, para Krugman (1991, 1998) a teoria dos clássicos foi

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Sobre Perroux, ver mais detalhes: Perroux, F., Friedmann, J. & Tinbergen, J., (1975). A planificação e os polos de desenvolvimento. Porto: Rés. Coleção Cadernos de Teoria e Conhecimento, nº 6.

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Para mais detalhes ver Myrdal, G., (1958). Economic theory and under-developed regions. London: Gerald Duckworth, ou Myrdal, G., (1968). Teoria Econômica e Regiões Subdesenvolvidas. Rio de Janeiro: Saga.

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Isard consolidou o nome de ciência regional como um novo campo de investigação no tempo em que estava no MIT, e em 1954 criou o Regional Science Association. A seguir, em 1956, ainda no MIT, Isard criou e dirigiu o departamento de Ciência Regional. Além disso, trabalhou rapidamente para tornar a ciência regional amplamente reconhecida através da publicação de três importantes livros: Location and

Space Economy (1956), Industrial Complex Analysis and Regional Development (1959) e Methods of Regional Analysis (1960).

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Uma revisão com detalhes encontra-se, e.g., em Fugita, Krugman e Vanables (2000) e Cavalcante (2008).

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insuficiente ao tentar explicar o processo de localização e endogeneização regional. O limite deu-se em razão da metodologia usada que os impedia de apreender a complexidade dos processos concretos e dinâmicos da concentração das atividades económicas sobre um determinado local (Krugman, 1998: 38-41).

Em rivalidade com a teoria clássica de localização, a partir dos anos cinquenta Perroux, Myrdal e Hirschman elucidaram os conceitos e as estratégias de desenvolvimento regional em que apontam algumas estruturas dinâmicas e de autossuficiência. Estas estruturas aparecem em consequência de externalidades decorrentes do agrupamento industrial. Para Krugman (1998: 49-50), Alfred Marshall é o pioneiro pelas ideias, ou pelo menos foi quem mais o fez.69 O autor completa o seu argumento ao anotar que Marshall assinalou três pontos que até hoje são fundamentais para o desenvolvimento regional, e que, no entendimento de Reis (1988), é pertinente ao desenvolvimento local. Destarte, para Reis (1988) essas condições dar-se-ão i) porque a condição do mercado local pode oferecer matéria-prima e/ou viabilizar a existência de fornecedores, ii) a oferta de mão de obra qualificada e a iii) a facilidade na troca de informações. Todavia, no entendimento de Aydalot (1979) essas condicionantes revelam que o desenvolvimento do espaço/território não se regula somente à capacidade atrativa para receber novas empresas, mas depende, sobretudo, da sua condição de meio inovador.

Na perspetiva de diversos autores o processo de desenvolvimento é cumulativo e histórico, adquirindo maior relevância no período pós II Guerra Mundial70 (Arocena, 1988b; Amaro, 1990a e Becattini, 2003). Neste contexto, Becattini (2004), defende que

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Mas a literatura aponta que Marshall teve uma influência indireta nas reflexões dos trabalhos dos funcionalistas. A maior influência, de modo direto e explícito, foi de Keynes e de Schumpeter, este último especialmente em Perroux, que chegou mesmo a publicar em 1965 “La pensée économique de Joseph

Schumpeter: les dynamiques du capitalisme”. 70

Após a Segunda Grande Guerra, na década de 1950, o mundo dividiu-se em dois grupos de países: os pobres e os ricos. O grupo composto por países ricos, formado pela maioria dos países da Europa Ocidental, o Canadá e os Estados Unidos. Habitantes dessas regiões viveram (e ainda vivem) em grande abundância e consumiu grande parte dos recursos do mundo. O outro grupo, América Latina, Ásia e África, era (e continua sendo tratado como) pobre, subdesenvolvido, e contém, desde àquela época, cerca de 75 por cento da população do mundo. Economistas, sociólogos, e formuladores de políticas governamentais, especialmente aqueles em países em desenvolvimento, começaram a procurar razões para explicar esta disparidade e maneiras de eliminá-la.

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tal facto deve-se, principalmente, pela força que o projeto de autodeterminação da sociedade europeia, naquela época, detinha em prol da estratégia de desenvolvimento orientada pela industrialização a partir do centro, e isto se transformou em um fenómeno mundial. Ainda nesse cenário, segundo Amaro (1990a), evoluíram alguns modelos e teorias associadas a todo um contexto socioeconómico e político de profundas mudanças, marcado por três distintos períodos. Primeiro, entre 1945 – 1960, denominado: fase de crescimento. Segundo, a década de setenta conhecida como o período de crise das organizações fordistas, mas, concomitantemente, o cenário mundial já marcava uma significativa reestruturação económica, social e ambiental. Na terceira fase regista-se a globalização, uma fase de inquietações e incertezas provocada pela revolução tecnológica e pelo novo formato geográfico do mercado mundial. Portanto, a primeira fase, a do crescimento económico, foi o ambiente de reflexão do paradigma funcionalista (Amaro, 1990a). Em sua essência os funcionalistas despertaram a atenção dos sistemas de planeamento conduzindo os seus estudos a um novo processo de desenvolvimento fundamentado no local.71

Essa análise se confirma pelos estudos de Perroux, Myrdal e Hirschman, assentando em um conjunto restrito de indústrias propulsoras – polos de crescimento, causação circular cumulativa e de efeitos para frente e para atrás, respetivamente.72 A teoria de polo de crescimento mudou a expressão de unidade económica dominante para o de unidade motriz. Em que esta unidade estaria inserida em um determinado local facultado a gerar efeitos de encadeamento sobre outros conjuntos definidos no espaço económico e geográfico (Perroux et al., 1975). Nesse sentido, o polo de crescimento não é uma unidade económica isolada, mas sim uma unidade económica integrada ao local em que forma uma rede por onde se propaga os fluxos económicos.

Essa teoria consubstancia-se no dinamismo das indústrias motrizes e no seu efeito de dispersão cujo processo de evolução se alastra às áreas evolventes. A unidade motriz conduz a economia local incumbindo-se pela introdução de inovações que

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Segundo Amaro (2009:110) a denominação de funcionalistas deu-se porque as suas teorias estavam assentes no princípio das funções centrais a desempenhar por cada centro urbano no espaço geográfico à sua volta, inspirados na lógica funcionalista dos processos de desenvolvimento.

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dinamiza a produtividade de outros setores e possibilita, inclusive, fomentar a geração de novas atividades complementares. Por conseguinte, o polo de desenvolvimento seria um núcleo a partir do qual se disseminariam custos decrescentes ou produtividades crescentes. Na expressão de Perroux (1975), o centro de um local de produtividades ou rendimentos crescentes. Diante disso, François Perroux vislumbrava uma rede concentrada no poder de grandes empresas inovadoras, e não na força de inovação surgida da relação de sociabilidade entre as empresas de um determinado local, independente de seu tamanho. Todavia este desenvolvimento seria induzido pelo governo, um importante agente coordenador e incentivador do processo figurando o desenvolvimento de cima para baixo.

Para Hirschman (1961)73 e Myrdal (1968)74 a teoria de Perroux fomentou novas teorias de desenvolvimento, mesmo apresentando aspetos negativos superiores aos positivos. O grande contributo dos estudos de Hirschman e Myrdal refere-se aos fatores de natureza não económica na explicação dos processos de desenvolvimento e crescimento regional. A teoria de Myrdal aponta que os sistemas económicos e sociais não propendem para um equilíbrio, mas sim ao acumular ciclos de fatores positivos e negativos. A defesa de Myrdal firmou-se no princípio de que a preferência do local e o desenvolvimento económico se explicam pela mobilidade espacial do capital. Ademais, Myrdal (1968: 42) asseverou que só com a prévia igualdade das regiões em relação aos bens e fatores de produção, seria possível conduzir o local ao desenvolvimento, uma vez que isso resultaria na mobilidade espacial dos capitais.

Já Hirschman difere de Perroux porque, na opinião do primeiro, a desigualdade do desenvolvimento em um dado espaço/território, sustentada pelos efeitos propulsores e efeitos de retorno, são consequências da oferta pelas áreas centrais de lucro, serviços e produtos. Nesse sentido, os efeitos para frente e para atrás, seriam em decorrência da implantação de indústrias motrizes numa região em função do seu movimento estratégico relacionado a sua evolução tecnológica, atração de mão de obra qualificada e

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A primeira publicação da teoria de Albert Otto Hirschman foi em 1958 – the estrategy of economic

development. 74

Em 1957 Gunnar Myrdal apresenta a sua teoria publicando economic theory and under-developed

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competitividade. Para Hirschman esta situação contribuiu para elevar o desequilíbrio socioeconómico entre as regiões porque promove efeitos nocivos para o desenvolvimento [local]. Assim, a solução para se atingir o desenvolvimento [local] consiste na procura de “pressões e processos de incentivo que farão eclodir e movimentar o maior número possível de recursos escassos, tais como capital e atividade empreendedora” (Hirschman, 1961:23).

Em suma o paradigma funcionalista teve como marco a difusão espacial do desenvolvimento. As características mais dominantes na teoria de Perroux, Myrdal e Hirschmann assinalam quatro momentos relativos ao desenvolvimento. No primeiro, o crescimento económico surge de uma área geográfica específica, distribuído de forma desigual com desequilíbrios territoriais. No segundo, pode ser estimulado em determinados setores da atividade económica. No terceiro, o desenvolvimento ascende amparado por organizações mais dinâmicas e com maiores avanços em tecnologia que pode impulsionar outros setores e regiões. No quarto, o desenvolvimento pode ser por meio de organizações em modelos de aglomeração e reequilibrado com políticas económicas.

A classe funcionalista defende as políticas regionais de cima para baixo e que o desenvolvimento é um processo concomitante com o crescimento económico. Além disso, que as organizações em sistemas de polos promovem rápido crescimento económico redistribuindo-se espacialmente do centro para a periferia. Neste contexto, sobre os funcionalistas, Amaro anota que …

[…] o desenvolvimento estaria hierarquicamente dependente das grandes metas macroeconómicas e do crescimento global. Apareceria como consequência desse processo mais geral, onde todas as componentes seriam consideradas no seu devido tempo sem grandes contradições. Seria o resultado de um processo de suposta uniformização das condições de modernização e crescimento económico (Amaro, 1993: 11).

Os estudos de Perroux, Myrdal e Hirschman incidiram nos trabalhos e nas discussões dos especialistas do paradigma territorialista. Especialmente pelas teorias de

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desenvolvimento regional com o foco nos agentes de aglomeração e mais a influência de Marshall e Schumpeter (cf. Figura 8:117). A classe de especialistas, denominados de territorialistas, tem os trabalhos mais próximos do DLS, indiretamente as diversas análises dessa linha teórica partem dos distritos industriais (cf. Figura 8:117). Para Vachon (2001) esse fato deve-se em decorrência do paradigma que surge com a crise dos anos setenta75 conduzindo a sociedade a um despertar de consciência coletiva em que se aspira um desenvolvimento endógeno, na busca de soluções mais próximas dos seus problemas locais e ambientais.

Para Pecqueur (2009) uma nova filosofia de desenvolvimento flui com ensejo a partir dos anos setenta. Esse cenário de crise muda as formas de pensar o desenvolvimento. A necessidade de um novo conjunto de perspetivas para os problemas de desenvolvimento, altera não só o conceito, mas a definição de um desenvolvimento social e humano que aborda novas áreas de vida e ação. Traz à baila uma discussão que introduz novos modos de organização dos atores em escala local. De fato, as mudanças sucedidas a partir dessa década, ensejam a configuração de uma nova matriz de relações espaço/território e de acumulação de capital.

Na evolução do pensamento de Pecqueur (1996; 2000) o território é uma conquista, um fato que se configura em unidade socioeconómica, tais como distritos, ambientes inovadores ou sistemas locais de produção, o local não se contrapõe ao global, mas sim complementa-o. Corroborando a análise de Pecqueur, Santos refere que a importância da teoria dos territorialista vem a sedimentar que …

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Em vários contextos fazemos referência aos anos setenta e a crise socioeconómica que a partir dessa década se instala em diversos níveis da sociedade provocando mudanças em todas as áreas de desenvolvimento. Segundo Carvalho Ferreira (1998, 2002b, 2004) a partir da década de setenta generaliza-se uma mudança de paradigma económico, social, cultural e ambiental expresso em ações coletivas impelindo a crise do Estado-providência e com isto a transformação radical da sociedade vigente. Ao analisar o aparecimento de várias iniciativas da sociedade civil, Santos (2002b), no contexto da crise do Estado providência, depreende esta situação como um manifesto da comunidade perante o papel preponderante do Estado e do mercado. Em seus diversos estudos Carvalho Ferreira (2005, 2006, 2007a) anota que, delimitado ao espaço europeu, existam poucas associações e quase todas com as ações limitadas e demarcadas no contexto local ou nacional. Ainda assim, esse movimento dá ensejo para que mais OTS surjam e atuem em objetivos prementes, nomeadamente nos setores do trabalho e emprego, meio ambiente, assistência à pobreza e à exclusão social, mas especialmente em ações de promoção de novos modelos de organizações coletivas, e.g., as cooperativas.

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O território passa a ser um agente de transformação e não um suporte de recursos e das atividades económicas definidas mundialmente. (…) as regiões possuem uma identidade própria e uma autonomia que lhes permite lançar iniciativas, (…) promoverem o seu próprio (…) desenvolvimento, assim como das empresas e do tecido produtivo local (Santos, 2001:144).

Na interpretação de Hadjmichalis (1994) e Tödtling (1994) os territorialista percebem o local por várias dimensões. Primeiro a dimensão de local, na condição de substrato físico e simbólico delimitado como expressão de espaço de interações. Segundo a dimensão de espaço, quando abordado sob a condição de meio de interações