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Da Autorização de Residência

No documento Lei de Migração Comentada (páginas 122-134)

Art. 29. O asilado não poderá sair do País sem prévia autorização do Governo brasileiro.

Parágrafo único. A inobservância do disposto neste artigo impor-tará na renúncia ao asilo e impedirá o reingresso nessa condição.

O Estado brasileiro só poderá oferecer proteção ao beneficiá-rio de asilo no territóbeneficiá-rio sobre o qual exerce a sua soberania.

Assim, o asilado que deixa o território brasileiro abandona a proteção conferida pelo status de asilado, pois no território de outro Estado soberano não há como o Brasil lhe garantir qualquer prote-ção, assim infere-se que houve renúncia ao asilo por parte de quem saia do país sem prévia autorização do governo brasileiro.

Seção IV

b) tratamento de saúde;

c) acolhida humanitária;

d) estudo;

e) trabalho;

f) férias-trabalho;

g) prática de atividade religiosa ou serviço voluntário;

h) realização de investimento ou de atividade com relevância econômica, social, científica, tecnológica ou cultural;

i) reunião familiar;

II - a pessoa:

a) seja beneficiária de tratado em matéria de residência e livre circulação;

b) seja detentora de oferta de trabalho;

c) já tenha possuído a nacionalidade brasileira e não deseje ou não reúna os requisitos para readquiri-la;

d) (VETADO);

e) seja beneficiária de refúgio, de asilo ou de proteção ao apá-trida;

f) seja menor nacional de outro país ou apátrida, desacompa-nhado ou abandonado, que se encontre nas fronteiras brasilei-ras ou em território nacional;

g) tenha sido vítima de tráfico de pessoas, de trabalho escravo ou de violação de direito agravada por sua condição migrató-ria;

h) esteja em liberdade provisória ou em cumprimento de pena no Brasil;

III - outras hipóteses definidas em regulamento.

§ 1o Não se concederá a autorização de residência a pessoa condenada criminalmente no Brasil ou no exterior por senten-ça transitada em julgado, desde que a conduta esteja tipificada na legislação penal brasileira, ressalvados os casos em que:

I - a conduta caracterize infração de menor potencial ofensivo;

II - (VETADO); ou

III - a pessoa se enquadre nas hipóteses previstas nas alíneas

“b”, “c” e “i” do inciso I e na alínea “a” do inciso II do caput deste artigo.

§ 2o O disposto no § 1o não obsta progressão de regime de cumprimento de pena, nos termos da Lei no 7.210, de 11 de julho de 1984, ficando a pessoa autorizada a trabalhar quando assim exigido pelo novo regime de cumprimento de pena.

§ 3o Nos procedimentos conducentes ao cancelamento de au-torização de residência e no recurso contra a negativa de con-cessão de autorização de residência devem ser respeitados o contraditório e a ampla defesa.

O dispositivo traz as diversas hipóteses que permitem a autori-zação de residência ao imigrante que pretenda se estabelecer no

Bra-sil, temporária ou definitivamente, para residir, trabalhar, estudar ou tratar da saúde.

A autorização de residência se dá por meio de registro, que ocorre, segundo o art. 62 do Decreto nº 9.199, de 20 de novembro de 2017 com a “inserção de dados em sistema próprio da Polícia Federal, mediante a identificação civil por dados biográficos e biométricos”

(BRASIL, 2017, n. p.).

Algumas importantes hipóteses de autorização de residência, como a de acolhida humanitária, não foram regulamentadas devida-mente pelo Decreto nº 9.199/2017 e, assim, “ o decreto impossibilita que a lei seja aplicada em sua totalidade, reduzindo sua efetivação e mantendo o caráter conservador que sempre acompanhou a temática imigratória no Brasil” (DUPAS, 2018, p. 15).

Tal omissão levou à impetração de mandado de injunção no Supremo Tribunal Federal, que não apreciou o mérito por lhe faltar competência para apreciar mandado de injunção quando a norma re-gulamentadora couber a Ministro de Estado:

MANDADO DE INJUNÇÃO. IMIGRANTE. RE-SIDÊNCIA. ACOLHIDA HUMANITÁRIA. LEI 13.445/2017. DECRETO 9.199/2017. AUSÊNCIA DE NORMA ESTABELECENDO OS REQUISITOS PARA CONCESSÃO DA AUTORIZAÇÃO DE RESIDÊNCIA. OMISSÃO APONTADA A MINIS-TROS DE ESTADO. INCOMPETÊNCIA DO SU-PREMO TRIBUNAL FEDERAL PARA JULGAR ORIGINARIAMENTE O FEITO. ART. 102, I, “Q”, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. MANDA-DO DE INJUNÇÃO NÃO CONHECIMANDA-DO. Decisão:

Trata-se de mandado de injunção impetrado por Ou-mar Sylla contra omissão imputada aos Ministros de

Estado da Justiça, das Relações Exteriores e do Tra-balho, na regulamentação da norma prevista no art. 145, § 1º, do Decreto 9.199/2017.

[... ]

O impetrante sustenta, em síntese, omissão dos Mi-nistros de Estado da Justiça, das Relações Exteriores e do Trabalho na regulamentação da norma previs-ta no art. 145, § 1º, do Decreto 9.199/2017. Ocorre, no entanto, que, à luz do disposto no art. 102, I, “q”, da Constituição da República, falece competência ao Supremo Tribunal Federal para apreciar mandado de injunção quando a omissão na edição da norma re-gulamentadora for imputada a Ministros de Estado (BRASIL, 2018, n. p.).

Outro exemplo é a autorização de residência para prática de atividades religiosas, em que o Decreto nº 9.199, de 20 de novembro de 2017, em seu art. 149,não fixa os requisitos, condições e prazos, mas apenas estabelece, que tal regulamentação ficará a cargo de uma resolução do Conselho Nacional de Imigração.

Assim, algumas das importantes hipóteses de autorização de residência ainda dependem de uma regulamentação da regulamen-tação, i.e., ato do Ministério das Relações Exteriores sozinho, ou em conjunto com outros Ministérios envolvidos na aplicação da política migratória, para que sejam fixados os critérios de autorização de resi-dência e o dispositivo da Lei venha a ter efetividade.

É mister destacar que em 2002 foi assinado o Acordo sobre Residência para Nacionais os Estados Partes do Mercado Comum do Sul — MERCOSUL, Bolívia e Chile. No Brasil, o Acordo foi promul-gado pelo Decreto 6.964, de 29 de setembro de 2009, o que garante

aos imigrantes dos Estados-Parte um regime migratório distinto e mais favorável em relação aos imigrantes provenientes dos demais Estados. Este acordo de residência representa a verdadeira consoli-dação de um regime de liberdade de circulação de pessoas no bloco (LOPES, 2013).

O Acordo reconhece o direito à residência e ao trabalho nos Estados-Partes sem outro pré-requisito além da nacionalidade. As-sim, cumpridas as condições do art. 4º — passaporte válido, certidão de nascimento e certidão negativa de antecedentes penais — os ci-dadãos dos Estados-Parte podem requerer a concessão de residência temporária por até dois anos e antes de expirar o prazo, poderão re-querer a residência permanente.

Art. 3140. Os prazos e o procedimento da autorização de residên-cia de que trata o art. 30 serão dispostos em regulamento, obser-vado o disposto nesta Lei.

§ 1o Será facilitada a autorização de residência nas hipóteses das alíneas “a” e “e” do inciso I do art. 30 desta Lei, devendo a deli-beração sobre a autorização ocorrer em prazo não superior a 60 (sessenta) dias, a contar de sua solicitação.

§ 2o Nova autorização de residência poderá ser concedida, nos termos do art. 30, mediante requerimento.

§ 3o O requerimento de nova autorização de residência após o vencimento do prazo da autorização anterior implicará aplicação da sanção prevista no inciso II do art. 109.

40 Não há dispositivo correspondente na Lei n. 6.815, de 19 de agosto de 1980, que define a situação jurídica do estrangeiro no Brasil (“Estatuto do Estrangeiro”).

§ 4o O solicitante de refúgio, de asilo ou de proteção ao apátrida fará jus a autorização provisória de residência até a obtenção de resposta ao seu pedido.

§ 5o Poderá ser concedida autorização de residência independen-temente da situação migratória.

O dispositivo estabelece que o regulamento — feito pelo De-creto nº 9.199, de 20 de novembro de 2017 — deverá fixar os procedi-mentos e estabelecer prazos para as autorizações de residência.

O §1o estabelece um trâmite preferencial aos requerimentos de autorização de residência que tenham por finalidade “pesquisa, en-sino ou extensão acadêmica” e “trabalho”. Nestes casos, a deliberação sobre a autorização deverá ocorrer em prazo não superior a 60 dias, a contar de sua solicitação, a autorização de residência por acolhi-da humanitária, que envolve situação de calamiacolhi-dade e crise, não foi contemplada com o trâmite sumário previsto no §1o do dispositivo.

O pedido de autorização de residência, tal como prevê o § 2o , não exclui a possibilidade de que seja feito um novo pedido, mediante requerimento. Tal requerimento, todavia, deve ser feito dentro do prazo da autorização de residência anterior, sob pena de o imigrante arcar com a sanção prevista no art. 109, II, da Lei, que prevê a aplica-ção de multa por dia de excesso e deportaaplica-ção, caso não regularize sua situação migratória.

O solicitante de refúgio, asilo ou apátrida tem direito a uma au-torização de residência provisória até que seu pedido tenha uma res-posta. A autorização é de suma importância para que estas pessoas, em situação de grande vulnerabilidade, possam começar, sem demora, a reconstrução de suas vidas no Brasil. Harmoniza-se a nova Lei de

Mi-gração, assim, com a Lei 9.474/1997, o “Estatuto do Refugiado” que, em seu capítulo II, já previa a autorização de residência provisória:

Outra provisão importante consistia no direito de trabalhar no país ainda na condição de solicitante de refúgio, antes da decisão final sobre o reconhecimen-to do estatureconhecimen-to de refugiado. Tanreconhecimen-to o solicitante como os membros de sua família têm permissão de residên-cia provisória no país, recebendo documentos provi-sórios de identidade após a propositura do pedido de refúgio (MOREIRA, 2018, p. 85-98.

O § 5o, por fim, traz uma importante novidade ao permitir que a autorização de residência possa ser concedida independen-temente da situação migratória, coadunando-se com o princípio, previsto no art. 3º, V, da Lei, de “promoção de entrada regular e de regularização documental”.

Tal dispositivo é um avanço pois a legislação anterior, a Lei 6.815/1980, em seu art. 38 veda a regularização do imigrante em si-tuação irregular: “Art. 38. É vedada a legalização da estada de clan-destino e de irregular, e a transformação em permanente, dos vistos de trânsito, de turista, temporário (artigo 13, itens I a IV e VI) e de cortesia” (BRASIL, 1980, n. p.).

Art. 32. Poderão ser cobradas taxas pela autorização de residência.

Dispositivo correspondente na Lei n. 6.815, de 19 de agosto de 1980, que define a situação jurídica do estrangeiro no Brasil (“Estatu-to do Estrangeiro”):

Art. 131. Fica aprovada a Tabela de Emolumentos Consulares e Taxas que integra esta Lei.

O dispositivo estabelece a legalidade da cobrança de taxas pela autorização de residência. Não há, assim, obrigação de gratuidade para a que seja emitida a autorização de residência.

De acordo com o anexo do Decreto 9.199, de 20 de novembro de 2017, o processamento e avaliação de pedidos de autorização de residência terá o valor de R$ 168,13.

Uma importante inovação trazida pela Lei 13.445/2017 foi a previsão, como direito, em seu art. 4º, XII, da isenção de taxas aos hipossuficientes econômicos, mediante declaração.

Art. 3341. Regulamento disporá sobre a perda e o cancelamento da autorização de residência em razão de fraude ou de ocultação de condição impeditiva de concessão de visto, de ingresso ou de permanência no País, observado procedimento administrativo que garanta o contraditório e a ampla defesa.

O regulamento (Decreto 9.199, de 20 de novembro de 2017) dispõe sobre a perda e cancelamento da autorização de residência nas hipóteses de fraude ou ocultação de condição impeditiva em seus arts.

137 a 141.

IV - residente fronteiriço: pessoa nacional de país limítrofe ou apátrida que conserva a sua residência habitual em município fronteiriço de país vizinho;

41 Não há dispositivo correspondente na Lei n. 6.815, de 19 de agosto de 1980, que define a situação jurídica do estrangeiro no Brasil (“Estatuto do Estrangeiro”).

A perda, nesta hipótese, se dará por meio de procedimento ad-ministrativo no qual devem ser observados os princípios do contradi-tório e ampla defesa. Da decisão denegatória o imigrante poderá impe-trar recurso no prazo de dez dias.

O regulamento, todavia, não regulamenta como serão os pro-cedimentos administrativos, o que ficará a cargo, de acordo com o art. 141 do Decreto 9.199, de 20 de novembro de 2017, de um futuro ato conjunto dos Ministros de Estado da Justiça e Segurança Pública e do Trabalho.

Art. 3442. Poderá ser negada autorização de residência com fundamento nas hipóteses previstas nos incisos I, II, III, IV e IX do art. 45.

O dispositivo ao remeter ao art. 45 da mesma Lei alude que al-guns dos motivos que podem impedir uma pessoa de ingressar no Bra-sil, poderão também ser usados como fundamento para negativa da autorização de residência. São eles: o imigrante ter sido expulso do país e os efeitos da expulsão ainda vigorem; o imigrante ter sido condenado ou esteja respondendo a processo por terrorismo ou por algum dos crimes definidos pelo Estatuto de Roma e punidos pelo Tribunal Penal Internacional (genocídio, crime contra a humanidade, crime de guerra ou agressão); o imigrante estar respondendo ou ter sido condenado em outro país por crime doloso passível de extradição; o imigrante ter seu nome em lista, por ordem judicial, de restrições ou por compromisso

42 Não há dispositivo correspondente na Lei n. 6.815, de 19 de agosto de 1980, que define a situação jurídica do estrangeiro no Brasil (“Estatuto do Estrangeiro”).

assumido pelo Brasil frente a algum órgão internacional e; tenha prati-cado ato contrário aos princípios e objetivos da constituição.

Art. 35. A posse ou a propriedade de bem no Brasil não confere o direito de obter visto ou autorização de residência em território nacional, sem prejuízo do disposto sobre visto para realização de investimento.

Dispositivo correspondente na Lei n. 6.815, de 19 de agosto de 1980, que define a situação jurídica do estrangeiro no Brasil (“Estatu-to do Estrangeiro”):

Art. 6º A posse ou a propriedade de bens no Brasil não confere ao estrangeiro o direito de obter visto de qualquer natureza, ou autorização de permanência no território nacional.

De acordo com o dispositivo em comento, a mera posse ou propriedade de bens em território brasileiro não confere direito de obter visto ou residência. O visto e a autorização de residência estão, assim, pela lei brasileira, condicionados às condições pessoais do so-licitante e não à posse de bens.

Art. 36. O visto de visita ou de cortesia poderá ser transformado em autorização de residência, mediante requerimento e registro, desde que satisfeitos os requisitos previstos em regulamento

Dispositivo correspondente na Lei n. 6.815, de 19 de agosto de 1980, que define a situação jurídica do estrangeiro no Brasil (“Estatu-to do Estrangeiro”):

Art. 34. Ao estrangeiro que tenha entrado na condição de turista, temporário ou asilado e aos titulares de visto de cortesia, oficial ou diplomático, poderá ser concedida a prorrogação do prazo de estada no Brasil.

O Art 124 do Decreto nº 9.199, de 20 de novembro de 2017 regulamenta a transformação do visto de visita ou de cortesia em autorização de residência, prevista na Nova Lei de Migração, o que deverá ser feito mediante requerimento e registro.

Estabelece o Art. 124 que o visto de visita ou de cortesia po-derá ser transformado em autorização de residência por meio de re-querimento, devendo o requerente comprovar a condição migratória de visitante ou de titular de visto de cortesia e o atendimento aos requisitos exigidos para a concessão de autorização de residência.

Segundo o § 2o do Art. 124 a decisão de transformação caberá à autoridade competente para avaliar a hipótese de autorização de residência pretendida.

Seção V

No documento Lei de Migração Comentada (páginas 122-134)