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Do Visto Temporário

No documento Lei de Migração Comentada (páginas 85-95)

Subseção IV

§ 1o O visto temporário para pesquisa, ensino ou extensão aca-dêmica poderá ser concedido ao imigrante com ou sem vínculo empregatício com a instituição de pesquisa ou de ensino brasilei-ra, exigida, na hipótese de vínculo, a comprovação de formação superior compatível ou equivalente reconhecimento científico.

§ 2o O visto temporário para tratamento de saúde poderá ser con-cedido ao imigrante e a seu acompanhante, desde que o imigrante comprove possuir meios de subsistência suficientes.

§ 3o O visto temporário para acolhida humanitária poderá ser concedido ao apátrida ou ao nacional de qualquer país em situa-ção de grave ou iminente instabilidade institucional, de conflito armado, de calamidade de grande proporção, de desastre am-biental ou de grave violação de direitos humanos ou de direito internacional humanitário, ou em outras hipóteses, na forma de regulamento.

§ 4o O visto temporário para estudo poderá ser concedido ao imi-grante que pretenda vir ao Brasil para frequentar curso regular ou realizar estágio ou intercâmbio de estudo ou de pesquisa.

§ 5o Observadas as hipóteses previstas em regulamento, o visto temporário para trabalho poderá ser concedido ao imigrante que venha exercer atividade laboral, com ou sem vínculo empregatí-cio no Brasil, desde que comprove oferta de trabalho formalizada por pessoa jurídica em atividade no País, dispensada esta exigên-cia se o imigrante comprovar titulação em curso de ensino supe-rior ou equivalente.

§ 6o O visto temporário para férias-trabalho poderá ser conce-dido ao imigrante maior de 16 (dezesseis) anos que seja nacional de país que conceda idêntico benefício ao nacional brasileiro, em termos definidos por comunicação diplomática.

§ 7o Não se exigirá do marítimo que ingressar no Brasil em viagem de longo curso ou em cruzeiros marítimos pela costa brasileira o visto temporário de que trata a alínea “e” do inciso I do caput, bas-tando a apresentação da carteira internacional de marítimo, nos termos de regulamento.

§ 8o É reconhecida ao imigrante a quem se tenha concedido visto temporário para trabalho a possibilidade de modificação do local de exercício de sua atividade laboral.

§ 9o O visto para realização de investimento poderá ser concedido ao imigrante que aporte recursos em projeto com potencial para geração de empregos ou de renda no País.

§ 10. (VETADO).

Dispositivo correspondente na Lei n. 6.815, de 19 de agosto de 1980, que define a situação jurídica do estrangeiro no Brasil (“Estatu-to do Estrangeiro”):

Art. 13. O visto temporário poderá ser concedido ao estrangeiro que pretenda vir ao Brasil:

I - em viagem cultural ou em missão de estudos;

II - em viagem de negócios;

III - na condição de artista ou desportista;

IV - na condição de estudante;

V - na condição de cientista, pesquisador, professor, técnico ou profissional de outra categoria, sob regime de contrato ou

a serviço do governo brasileiro; (Redação dada pela Lei nº 13.243, de 2016)

VI - na condição de correspondente de jornal, revista, rádio, tele-visão ou agência noticiosa estrangeira.

VII - na condição de ministro de confissão religiosa ou membro de instituto de vida consagrada e de congregação ou ordem reli-giosa. (Incluído pela Lei nº 6.964, de 09/12/81)

VIII - na condição de beneficiário de bolsa vinculada a projeto de pesquisa, desenvolvimento e inovação concedida por órgão ou agência de fomento. (Incluído pela Lei nº 13.243, de 2016)

A Nova Lei de Migração mantém a modalidade de visto tem-porário e amplia o rol de finalidades, além de ser possível em casos de imigrantes que sejam beneficiários de tratado em matéria de vistos (inciso II) e outras hipóteses previstas em regulamento (inciso III).

Em relação à revogada lei, inova ao acrescentar as finalidades referentes ao tratamento de saúde, à acolhida humanitária, às férias--trabalho e à reunião familiar. Permanecendo os motivos de pesqui-sa, ensino ou extensão acadêmica, estudo, ambos se enquadravam na finalidade de estudante, além da prática de atividade religiosa ou ser-viço voluntário, atividades artísticas ou desportivas.

O visto temporário com finalidade de reunião familiar, previsto no inciso I, alínea “i”, é regulamentado por meio do art. 45 do decreto re-gulamentador. É uma novidade da lei de migração que permite a conces-são de visto por parentesco e outras possibilidades contidas no decreto.

Nota-se nos parágrafos as especificações de algumas finalida-des: visto temporário para pesquisa, ensino ou extensão acadêmica;

para tratamento de saúde, para acolhida humanitária, para estudo, para trabalho – com previsão de hipóteses trazidas no regulamento e, ainda, para férias-trabalho. Ou seja, referem-se às inovações em rela-ção ao revogado Estatuto. Assim, passaremos a analisar tais previsões e suas especificidades contidas na lei vigente.

Em relação ao visto temporário para pesquisa, ensino e ex-tensão com previsão no § 1o, há inovação, não é necessário que o imigrante tenha vínculo empregatício com a instituição receptora, porém, caso tenha vínculo, deve-se comprovar a formação superior compatível ou equivalente reconhecimento científico. Já o visto tem-porário para estudo, previsto no § 4o, trata sobre o imigrante que pretenda frequentar curso regular ou para realização de estágios ou intercâmbio de estudo e pesquisa. Anteriormente, ambas as possibi-lidades estavam enquadradas no visto para estudante para os casos com vínculo empregatício, tratava das situação de cientista, pesqui-sador, professor, técnico ou profissional de outra categoria.

O visto temporário para tratamento de saúde, de acordo com o § 2o , depende de que o imigrante comprove meios de subsistência e faz previsão de ser possível acompanhante para acompanhar o tra-tamento.

O § 3o trata sobre a possibilidade do visto temporário para a acolhida humanitária. Essa previsão é uma das principais inovações da Nova Lei de Migração e merece especial atenção por não se con-fundir refúgio. De acordo com a lei, a acolhida humanitária poderá ser concedida ao apátrida ou ao nacional de qualquer país em situa-ções de grave ou ameaça de instabilidade institucional, conflito ar-mado, calamidade, desastre ambiental ou grave violação de direitos humanos ou direito internacional humanitário e outras hipóteses previstas em regulamento.

A acolhida humanitária substituiu o visto humanitário que conferia a possibilidade de maneira precária, pois é previsto em reso-lução normativa, . Nesse sentido, Dupas (2017, n. p.) afirma:

A nova lei de migração faz previsão da acolhida hu-manitária, sendo agora então previsto em lei e não mais apenas em resolução normativa, aumentando as possibilidades de concessão de visto e afastando a precariedade.Trazer a acolhida humanitária como previsão legal é essencial para o reconhecimento do imigrante.

O Decreto regulamentador traz em seu art. 36 (BRASIL, 2017, n. p.):

Art. 36. O visto temporário para acolhida humanitá-ria poderá ser concedido ao apátrida ou ao nacional de qualquer país em situação de grave ou iminente instabilidade institucional, de conflito armado, de ca-lamidade de grande proporção, de desastre ambiental ou de grave violação de direitos humanos ou de direi-to internacional humanitário.

§ 1o Ato conjunto dos Ministros de Estado da Justiça e Segurança Pública, das Relações Exteriores e do Tra-balho definirá as condições, os prazos e os requisitos para a emissão do visto mencionado no caput para os nacionais ou os residentes de países ou regiões nele especificados.

§ 2o Ato conjunto dos Ministros de Estado da Justi-ça e SeguranJusti-ça Pública, das Relações Exteriores e do Trabalho poderá estabelecer instruções específicas para a realização de viagem ao exterior do portador do visto de que trata o caput.

§ 3o A possibilidade de livre exercício de atividade laboral será reconhecida ao imigrante a quem te-nha sido concedido o visto temporário de que trata o caput, nos termos da legislação vigente. (Grifos nossos).

a) o direito das gentes confia à apreciação de cada Estado determinar como se adquire e se perde a sua nacionalidade; b) nenhum Estado pode determinar as condições de aquisição e perda de uma nacionalidade estrangeira; c) a apreciação estatal, na determinação da matéria, acha-se limitada pelo Direito Internacio-nal; d) as limitações resultam dos tratados, do costu-me e dos princípios gerais de Direito, universalcostu-men- universalmen-te reconhecidos; e) uma declaração de nacionalidade feita por um Estado, no exercício de sua competência, tem efeitos jurídicos com relação aos demais Estados;

f) não o terá, porém, se a declaração transgredir os limites impostos pelo direito das gentes; g) os Esta-dos só podem conferir sua nacionalidade a pessoas que com eles tenham relação real e estreita, tais como a filiação e o nascimento, no seu território; h) a natu-ralização de um estrangeiro juridicamente capaz não poderá efetivar-se sem o seu consentimento; i) uma naturalização que não exija o consentimento dos in-teressados só é possível em

Depreende-se de tal artigo que ainda é necessário que seja re-gulamentado por “ato conjunto dos Ministros de Estado da Justiça e Segurança Pública, das Relações Exteriores e do Trabalho”, o que ainda não ocorreu, impossibilitando a sua aplicação. Outro artigo que regulamenta a acolhida humanitário é o art. 68, que trata do registro e identificação civil:

Art. 68. O registro de dados biográficos do imigrante ocorrerá por meio da apresentação do documento de viagem ou de outro documento de identificação acei-to nos termos estabelecidos em aacei-to do Ministro de Estado da Justiça e Segurança Pública. [...]

§ 2o O registro e a identificação civil das pessoas que tiveram a condição de refugiado ou de apátrida reconhecida, daquelas a quem foi concedido asilo ou daquelas beneficiadas com acolhida humanitária poderão ser realizados com a apresentação dos docu-mentos de que o imigrante dispuser. (Grifos nossos) (BRASIL, 2017, n. p.).

E ainda há regulamentação sobre a acolhida humanitária no Art. 312 que dispõe sobre as taxas e emolumentos:

Art. 312. Taxas e emolumentos consulares não serão cobrados pela concessão de vistos ou para a obtenção de documentos para regularização migratória aos in-tegrantes de grupos vulneráveis e aos indivíduos em condição de hipossuficiência econômica. [...]

§ 4o Para fins de isenção de taxas e emolumentos consulares para concessão de visto, as pessoas para as quais o visto temporário para acolhida humanitá-ria seja concedido serão consideradas pertencentes a grupos vulneráveis, nos termos estabelecidos em ato conjunto dos Ministros de Estado da Justiça e Segu-rança Pública, das Relações Exteriores e do Trabalho.

[...] (BRASIL, 2017, grifos nossos).

Logo, sem o ato conjunto dos Ministros de Estado da Justiça e Segurança Pública, das Relações Exteriores e do Trabalho, a acolhida humanitária não será efetivada no país pois carece de regulamentação.

Além disso, retoma a problemática de ter uma vasta legislação esparsa que dificulta e burocratiza a aplicação da legislação. Portanto, o decreto regulamentador não cumpre eficazmente a tarefa de regulamentar a acolhida humanitária, delegando para os Ministérios e, como isso não permite que relevante avanço seja aplicado em benefício do imigrante que se enquadra nessa modalidade de visto temporário.

A mesma falta de aplicabilidade devido ao decreto regulamen-tador ocorre em relação ao visto temporário para trabalho. De acor-do com o § 5o , poderá ser concediacor-do, observadas as hipóteses acor-do regulamento, o visto temporário para trabalho ao imigrante que ve-nha exercer atividade laboral, com ou sem vínculo empregatício, com comprovação de oferta de trabalho formalizada por pessoa jurídica.

Porém, a comprovação de oferta é dispensada em caso de comprova-ção de titulacomprova-ção em ensino superior ou equivalente. Indo contra a lei, o decreto faz previsão:

Art. 38. O visto temporário para trabalho poderá ser concedido ao imigrante que venha exercer atividade laboral com ou sem vínculo empregatício no País.

§ 1o O visto temporário para trabalho com vínculo empregatício será concedido por meio da compro-vação de oferta de trabalho no País, observado o seguinte:

I - a oferta de trabalho é caracterizada por meio de contrato individual de trabalho ou de contrato de prestação de serviços; [...] (Grifos nossos). (BRASIL, 2017, n. p.)

O Decreto regulamentador caracteriza oferta de trabalho como contrato de trabalho, ou seja, está em desacordo com a lei que

previu que fosse necessário somente a oferta de trabalho formalizada e não o contrato de trabalho ou contrato de prestação de serviços. A regulamentação reduz drasticamente a eficácia da lei que tem como objetivo facilitar os trâmites de entrada no país. Entender o termo oferta como contrato é impedir que tal previsão seja aplicada.

Ainda em relação ao visto temporário para trabalho, a segunda parte do § 5o prevê a não necessidade de apresentação de oferta de trabalho nos casos em que o imigrante tenha comprovado titulação em curso superior ou equivalência. Nesse sentido, dispõe o Decreto no art. 38 (BRASIL, 2017, n. p.):

§ 5o Será dispensada a oferta de trabalho de que trata o caput e considerada a comprovação de titulação em curso de ensino superior ou equivalente, na hipótese de capacidades profissionais estratégicas para o País, conforme disposto em ato conjunto dos Ministros de Estado da Justiça e Segurança Pública, das Relações Exteriores e do Trabalho, consultado o Conselho Na-cional de Imigração. (grifos nossos)

Fica evidenciado no decreto regulamentador o princípio base do Estatuto do Estrangeiro, que era norteado pelo utilitarismo eco-nômico. Ou seja, a entrada facilitada para os que comprovem ser mão-de-obra de interesse do Brasil, assim vejamos no Art. 38 (BRA-SIL, 2017, n. p.):

§ 6o Para fins de atração de mão de obra em áre-as estratégicáre-as para o desenvolvimento nacional ou com déficit de competências profissionais para o País, ato conjunto dos Ministros de Estado da Justi-ça e SeguranJusti-ça Pública, das Relações Exteriores e do Trabalho, consultado o Conselho Nacional de Imi-gração, estabelecerá condições simplificadas para a concessão de visto temporário para fins de trabalho.

(Grifos nossos)

O § 8o também trata sobre o visto temporário para trabalho e permite que o imigrante a modificação do local de exercício de sua atividade laboral. Entretanto, o Decreto regulamentador, em seu art.

38, dispõe, limitando a mudança para a mesma empresa ou grupo e devendo ainda ser comunicada ao Ministério do Trabalho:

[...] § 7o A possibilidade de modificação do local de exercício de atividade laboral, na mesma empresa ou no mesmo grupo econômico, será reconhecida ao imigrante a quem tenha sido concedido o visto tem-porário para trabalho, por meio de comunicação ao Ministério do Trabalho. (Grifos nossos) (BRASIL, 2017, n. p.).

Ou seja, como já mencionado anteriormente, o decreto regu-lamentador mantém o espírito do Estatuto do Estrangeiro e vai de encontro, chocando-se, com a Nova Lei de Migração.

Já o § 6o , do art. 14, que faz previsão do visto temporário, trata sobre a finalidade de férias-trabalho para imigrantes maiores de 16 (dezesseis) anos que seja de país que também conceda a mesma possibilidade ao nacional brasileiro. Um exemplo é o Programa Fé-rias-Trabalho entre a França e o Brasil que entrou em vigor em 1º de março de 2018.31

O § 7o, traz a não exigência de visto para o marítimo que in-gressar em território brasileiro, bastando apenas a apresentação da carteira internacional de marítimo, bastando a atuação como maríti-mo, segundo previsão do decreto.

O § 9o faz previsão sobre a concessão de visto ao imigrante que aportar recursos em projetos que gerem empregos ou renda no Brasil. O Decreto regulamentador dispõe sobre a modalidade:

31 Para mais informação consulte: https://br.ambafrance.org/Entrada-em-vigor-do--Programa-Ferias-Trabalho-entre-o-Brasil-e-a-Franca. Acesso em 02 nov de 2018.

Art. 43. O visto temporário poderá ser concedido ao imigrante administrador, gerente, diretor ou execu-tivo com poderes de gestão, que venha ao País para representar sociedade civil ou comercial, grupo ou conglomerado econômico que realize investimento externo em empresa estabelecida no País, com po-tencial para geração de empregos ou de renda no País (BRASIL, 2017, n. p.)

Tal modalidade também remete ao princípio do utilitarismo econômico, uma vez que favorece àqueles que a nação considera úteis para a economia. Vale ressaltar que o § 10 foi vetado por fazer previ-são a demais hipóteses de concesprevi-são de visto temporário por meio de decreto. Assim foi justificado o veto: não se afigura adequado e reco-mendável permitir-se que o relevante instituto do visto temporário possa ter novas hipóteses, além das definidas nesta lei, criadas por regulamento, com risco de discricionariedade indevida e com poten-cial de gerar insegurança jurídica. Destaca-se, novamente, a herança dos princípios do Estatuto do Estrangeiro, uma vez que tal veto é fundamentado na segurança nacional.

Subseção V

Dos Vistos Diplomático, Oficial

No documento Lei de Migração Comentada (páginas 85-95)