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Disposições Gerais

No documento Lei de Migração Comentada (páginas 72-80)

Em relação ao § 1o da Lei supramencionada, permanece o en-tendimento que tais documentos são de propriedade da União, ca-bendo apenas a posse direta e uso pelo seu titular, como constava no parágrafo único do Art. 54 do revogado Estatuto do Estrangeiro.

O Decreto nº 9.199, de 20 de novembro de 2017 que regula-menta a lei nº 13.445, de 24 de maio de 2017, faz previsão, conforme art. 5, § 2o da referida lei, das condições para a concessão dos docu-mentos de viagem.

SEÇÃO II

A Nova Lei de Migração mantém o entendimento de que o visto trata-se de documento que confere apenas a expectativa de en-trada em território brasileiro e traz a conceituação de visto. Nesse sentido, sobre a discricionariedade afirma Cahali (1983, p. 80):

A lei atribui, com exclusividade, ao Ministro da Jus-tiça, amplo poder discricionário para a verificação dessa inconveniência, não lhe impondo nenhuma obrigação jurídica de revelar as razões de Estado que teriam motivado a decisão administrativa, não se exi-me, isto sim, da obrigação moral de justificar o deci-sório, pelo menos perante opinião pública nacional e o Estado de origem do estrangeiro recusado.

Portanto, o visto confere apenas a expectativa de ingresso e aplica-se a todas as modalidades previstas na legislação vigente.

Art. 727. O visto será concedido por embaixadas, consulados-ge-rais, consulados, vice-consulados e, quando habilitados pelo ór-gão competente do Poder Executivo, por escritórios comerciais e de representação do Brasil no exterior.

Parágrafo único. Excepcionalmente, os vistos diplomático, oficial e de cortesia poderão ser concedidos no Brasil.

Logo, o Art. 7o da Lei de Migração traz, de maneira compilada e em um rol não taxativo, os órgãos competentes para concessão do visto. A competência para concessão do visto encontrava-se de ma-neira esparsa no Estatuto do Estrangeiro e em resoluções normativas que disciplinavam a matéria.

27 Não há artigo correspondente no Estatuto do Estrangeiro por trazer a previsão de maneira esparsa.

Art. 8. Poderão ser cobrados taxas e emolumentos consulares pelo processamento do visto.

Dispositivo correspondente na Lei n. 6.815, de 19 de agosto de 1980, que define a situação jurídica do estrangeiro no Brasil (“Estatu-to do Estrangeiro”):

Art. 2028. Pela concessão de visto cobrar-se-ão emolumentos consulares, ressalvados:

I - os regulados por acordos que concedam gratuidade;

II - os vistos de cortesia, oficial ou diplomático;

III - os vistos de trânsito, temporário ou de turista, se concedidos a titulares de passaporte diplomático ou de serviço.

Parágrafo único. A validade para a utilização de qualquer dos vistos é de 90 (noventa) dias, contados da data de sua concessão, podendo ser prorrogada pela autoridade consular uma só vez, por igual prazo, cobrando-se os emolumentos devidos, aplicando-se esta exigência somente a cidadãos de países onde seja verificada a limitação recíproca. (Redação dada pela Lei nº 12.134, de 2009).

A Lei de Migração mantém a previsão de cobrança de taxas e emolumentos para o processamento do visto. E, de acordo com o art. 13 do decreto regulamentador n. 9.199 de novembro de 2017, as

28 Não há um único artigo correspondente no Estatuto do Estrangeiro uma vez que a pre-visão de cobrança estava prevista de maneira esparsa, o art. 20 é um exemplo da prepre-visão de cobrança de taxas e emolumentos.

taxas e emolumentos consulares serão cobrados pelo processamento do visto, em conformidade com o disposto no Anexo à Lei nº 13.445, de 2017.

Art. 929. Regulamento disporá sobre:

I - requisitos de concessão de visto, bem como de sua simplifica-ção, inclusive por reciprocidade;

II - prazo de validade do visto e sua forma de contagem;

III - prazo máximo para a primeira entrada e para a estada do imigrante e do visitante no País;

IV - hipóteses e condições de dispensa recíproca ou unilateral de visto e de taxas e emolumentos consulares por seu processamen-to; e

V - solicitação e emissão de visto por meio eletrônico.

Parágrafo único. A simplificação e a dispensa recíproca de visto ou de cobrança de taxas e emolumentos consulares por seu pro-cessamento poderão ser definidas por comunicação diplomática.

De acordo com o art. 9o , o decreto deverá regulamentar toda a matéria referente ao visto. Nota-se que o decreto regulamentador mantém as previsões contidas no Estatuto do Estrangeiro, ou seja,

29 Assim como no Estatuto do Estrangeiro, a Nova Lei de Migração por se tratar de nor-mas programáticas, faz previsão de disciplinar e dar aplicabilidade à legislação por meio de decreto regulamentador. Normas de natureza programática detentoras são abstratas e imperfeitas, ou seja, normas que não apresentam todos os elementos necessários à carac-terização imediata do seu conteúdo.

há uma repetição do texto legal do revogado Estatuto para o decreto regulamentador, vejamos o art. 9, § 5o do Estatuto do Estrangeiro e o art. 20 do Decreto regulamentador, ambos tratam sobre a previ-são do Ministério das Relações Exteriores editarem norma sobre a simplificação de procedimentos e reciprocidade, conforme consta no inciso I do artigo ora comentado:

[...] § 5o O Ministério das Relações Exteriores po-derá editar normas visando a: (Incluído pela Lei nº 12.968, de 2014)

I – simplificação de procedimentos, por reciprocida-de ou por outros motivos que julgar pertinentes; (In-cluído pela Lei nº 12.968, de 2014) [...].30

Já o Decreto regulamentador traz, no artigo 24, que o Ministé-rio das Relações ExteMinisté-riores poderá editar normas sobre a simplifica-ção de procedimentos para concessão de visto, por reciprocidade de tratamento ou por outros motivos que julgar pertinentes.

E ainda, não sendo suficiente a regulamentação por meio de decreto, a regulamentação está sendo feita por meio de portarias in-terministeriais, como é o caso da portaria n. 7, de 13 de março de 2018 que dispõe sobre o visto temporário e a autorização de residên-cia para fins de estudo.

Tal procedimento vai contra o espírito da lei e mantém a pro-blemática de regulamentação por meio de legislação esparsa que era motivo de crítica em relação ao Estatuto do Estrangeiro por dificultar a sua aplicação. Além de, em muitos artigos, o decreto que regulamenta a lei atual, mostrar-se cópia do revogado Estatuto do Estrangeiro, man-tendo as burocracias existentes e que a lei objetivou reduzir.

30 BRASIL, op. cit.

Art. 10. Não se concederá visto:

I - a quem não preencher os requisitos para o tipo de visto plei-teado;

II - a quem comprovadamente ocultar condição impeditiva de concessão de visto ou de ingresso no País; ou

III - a menor de 18 (dezoito) anos desacompanhado ou sem rização de viagem por escrito dos responsáveis legais ou de auto-ridade competente.

Dispositivo correspondente na Lei n. 6.815, de 19 de agosto de 1980, que define a situação jurídica do estrangeiro no Brasil (“Estatu-to do Estrangeiro”):

Art. 7. Não se concederá visto ao estrangeiro:

I - menor de 18 (dezoito) anos, desacompanhado do responsável legal ou sem a sua autorização expressa;

II - considerado nocivo à ordem pública ou aos interesses na-cionais;

III - anteriormente expulso do País, salvo se a expulsão tiver sido revogada;

IV - condenado ou processado em outro país por crime doloso, passível de extradição segundo a lei brasileira; ou

V - que não satisfaça às condições de saúde estabelecidas pelo Mi-nistério da Saúde.

Inicialmente cabe ressaltar que as causas que possibilitam a não concessão já estavam previstas no Estatuto do Estrangeiro.

O inciso II do Estatuto fazia previsão a não concessão de visto a quem fosse considerado nocivo à ordem pública ou aos interesses nacionais. Tal previsão, de acordo com Faria (2015), demonstra os princípios norteadores da lei: segurança nacional e utilitarismo eco-nômico. Nesse sentido, sobre o Estatuto do Estrangeiro de 1980:

A normatização da entrada e integração dos mi-grantes tem como referência principal o Estatuto do Estrangeiro (Lei 8.615/80), de 1980, que reflete pre-ponderantemente a preocupação, vigente à época, com a defesa da segurança nacional e a consequen-te restrição à permanência de estrangeiros no Brasil (FARIA, 2015, n. p.).

Entretanto, algumas causas de não concessão do revogado ins-trumento legal, passam agora a serem tratadas como possibilidade de denegação, como será analisado no artigo a seguir. Ou seja, a uma flexibilização da legislação: o que era causa para não concessão passa a ser causa de possibilidade de denegação.

Art. 11. Poderá ser denegado visto a quem se enquadrar em pelo menos um dos casos de impedimento definidos nos incisos I, II, III, IV e IX do art. 45.

Parágrafo único. A pessoa que tiver visto brasileiro denegado será impedida de ingressar no País enquanto permanecerem as condi-ções que ensejaram a denegação.

Conforme comentado no artigo anterior, algumas causas de não concessão do visto contidas no art. 7 do Estatuto do Estrangeiro,

agora estão contidas como possibilidade de denegação. Dessa manei-ra, há equivalência entre os incisos do art. 45 da lei atual com os inci-sos do art. 7 do Estatuto. Assim vejamos o texto atual:

Art. 45. Poderá ser impedida de ingressar no País, após entrevista individual e mediante ato fundamen-tado, a pessoa:

I - anteriormente expulsa do País, enquanto os efeitos da expulsão vigorarem;

II - condenada ou respondendo a processo por ato de terrorismo ou por crime de genocídio, crime contra a humanidade, crime de guerra ou crime de agres-são, nos termos definidos pelo Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, de 1998, promulgado pelo Decreto no 4.388, de 25 de setembro de 2002;

III - condenada ou respondendo a processo em outro país por crime doloso passível de extradição segundo a lei brasileira;

IV - que tenha o nome incluído em lista de restrições por ordem judicial ou por compromisso assumido pelo Brasil perante organismo internacional; [...]

IX - que tenha praticado ato contrário aos princípios e objetivos dispostos na Constituição Federal.

[...] (BRASIL, 2017, n. p.)

E, vejamos a previsão no Estatuto do Estrangeiro:

II - considerado nocivo à ordem pública ou aos inte-resses nacionais;

III - anteriormente expulso do País, salvo se a expul-são tiver sido revogada;

IV - condenado ou processado em outro país por cri-me doloso, passível de extradição segundo a lei bra-sileira; ou

V - que não satisfaça às condições de saúde estabele-cidas pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 1980, n. p.) Logo, fica evidenciado que as possibilidades são mantidas, porém agora como possibilidade de serem denegados e não como recusa absoluta.

Observa-se que o inciso IX do Art. 45 da Lei de Migração traz que poderá ser denegado o visto a quem “tenha praticado ato contrá-rio aos princípios e objetivos dispostos na Constituição Federal”. Tal previsão é extremamente ampla e abarca a segurança nacional, que era o princípio mais relevante do revogado Estatuto e que possibilita assim, a denegação pelos mesmos motivos anteriormente previstos.

Subseção II

No documento Lei de Migração Comentada (páginas 72-80)