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Da Deportação

No documento Lei de Migração Comentada (páginas 158-163)

Seção III

Art. 51. Os procedimentos conducentes à deportação devem respeitar o contraditório e a ampla defesa e a garantia de recur-so com efeito suspensivo.

§ 1o A Defensoria Pública da União deverá ser notificada, pre-ferencialmente por meio eletrônico, para prestação de assis-tência ao deportando em todos os procedimentos administra-tivos de deportação.

§ 2o A ausência de manifestação da Defensoria Pública da União, desde que prévia e devidamente notificada, não impe-dirá a efetivação da medida de deportação.

Art. 52. Em se tratando de apátrida, o procedimento de de-portação dependerá de prévia autorização da autoridade com-petente.

Art. 53. Não se procederá à deportação se a medida configurar extradição não admitida pela legislação brasileira.

Dispositivo correspondente na Lei n. 6.815, de 19 de agosto de 1980, que define a situação jurídica do estrangeiro no Brasil (“Estatu-to do Estrangeiro”):

Art. 57. Nos casos de entrada ou estada irregular de estran-geiro, se este não se retirar voluntariamente do território na-cional no prazo fixado em Regulamento, será promovida sua deportação.

§ 1º Será igualmente deportado o estrangeiro que infringir o disposto nos artigos 21, § 2º, 24, 37, § 2º, 98 a 101, §§ 1º ou 2º do artigo 104 ou artigo 105.

§ 2º Desde que conveniente aos interesses nacionais, a depor-tação far-se-á independentemente da fixação do prazo de que trata o caput deste artigo.

Art. 58. A deportação consistirá na saída compulsória do es-trangeiro.

Parágrafo único. A deportação far-se-á para o país da nacio-nalidade ou de procedência do estrangeiro, ou para outro que consinta em recebê-lo.

Art. 59. Não sendo apurada a responsabilidade do transporta-dor pelas despesas com a retirada do estrangeiro, nem poden-do este ou terceiro por ela responder, serão as mesmas custea-das pelo Tesouro Nacional.

Art. 60. O estrangeiro poderá ser dispensado de quaisquer pe-nalidades relativas à entrada ou estada irregular no Brasil ou formalidade cujo cumprimento possa dificultar a deportação.

Art. 61. O estrangeiro, enquanto não se efetivar a deportação, poderá ser recolhido à prisão por ordem do Ministro da Justi-ça, pelo prazo de sessenta dias.

Parágrafo único. Sempre que não for possível, dentro do prazo previsto neste artigo, determinar-se a identidade do deportan-do ou obter-se deportan-documento de viagem para promover a sua re-tirada, a prisão poderá ser prorrogada por igual período, findo o qual será ele posto em liberdade, aplicando-se o disposto no artigo 73.

Art. 62. Não sendo exeqüível a deportação ou quando existi-rem indícios sérios de periculosidade ou indesejabilidade do estrangeiro, proceder-se-á à sua expulsão.

Art. 63. Não se procederá à deportação se implicar em extradi-ção inadmitida pela lei brasileira.

Art. 64. O deportado só poderá reingressar no território na-cional se ressarcir o Tesouro Nana-cional, com correção monetá-ria, das despesas com a sua deportação e efetuar, se for o caso, o pagamento da multa devida à época, também corrigida.

A deportação é um instrumento já existente no Estatuto do Estrangeiro de 1980, que foi confirmado pela nova Lei de Migração, entre os artigos 50 a 53. Trata-se do ato administrativo aplicado em desabono do estrangeiro que não apresentou os requisitos necessá-rios para o ingresso regular ou permanência no Estado brasileiro.

Diferente da repatriação, o ato da deportação é aplicado ao es-trangeiro por mero descumprimento ao expediente administrativo.

Isto é, quando o vício apontado pelo Poder Público é sanado pelo interessado, permite-se novamente a sua adentrada ou permanência no Estado brasileiro. Com isso, a deportação é percebida como uma prática atípica e não cabe a aplicação de qualquer outra penalidade (MAZZUOLI, 2010).

No processo administrativo de deportação, a Lei de Migração determinou que o estrangeiro deve ser notificado pessoalmente para que no prazo de 60 (sessenta dias), prorrogáveis pelo mesmo período, sane as lacunas apontadas pela Administração ou retire-se de forma voluntária do Brasil. Da mesma forma que ocorrido na repatriação, a DPU deve ser notificada sobre processamento da deportação.

Se ao fim do processo as irregularidades não forem reparadas pelo interessado, notifica-se a Polícia Federal para que execute a me-dida de deportação e retire o estrangeiro do Brasil, independente de inquérito ou autorização do Poder Judiciário.

A retirada compulsória pode acontecer para qualquer Estado, o Brasil não é obrigado a enviar o estrangeiro para local específico, podendo endereçá-lo ao Estado de origem, ao local de procedência ou a outro Estado que permita a entrada. Mas, nunca para região em que a vida ou liberdade esteja ameaçada, a deportação deve ser realizada de forma segura (art.7º, § 1º, Lei nº 9.474/97).

Em jurisprudência, o Tribunal Regional Federal da 5ª Região permitiu que um cidadão da Guiné-Bissau não fosse deportado, ape-sar de ter ultrapassado o prazo para renovação do seu visto estudan-til, permitiu-se a sua permanência no Brasil para evitar prejuízos fi-nanceiros e acadêmicos (TRF-5, 2017). Assim, viu-se que a aplicação da Lei nº 13.445/2017 se norteou por aspectos provenientes mais humanitários, pois uma vez percebida a situação delicada do estran-geiro, o Poder Judiciário aplica a Lei conforme a razoabilidade da situação apresentada.

Dessa forma, apesar da deportação ser uma medida de retirada compulsória do Estado brasileiro, realizada pela Polícia Federal, não se trata de uma penalização ao estrangeiro. Mas, cuida de uma medida realizada pela Administração Pública ao ser constatado pela autoridade fronteiriça que o indivíduo não dispõe de documentos suficientes ou do visto necessário para permanecer ou adentrar no Estado brasileiro.

As vistas da nova lei, a deportação passa a observar o caráter humanitário, vislumbrando a possibilidade de não ocorrer a depor-tação devido ao perigo que essa possa significar ao imigrante, como vimos na decisão supracitada.

O parágrafo segundo do artigo 50 ainda demonstra que as ir-regularidades apontadas não são motivos para reclusão de estrangei-ros, tão pouco para que estes sejam tratados de forma equivalente a criminosos.

A nova lei assegura em diferentes momentos que os direitos de ir e vir tão preciosos ao princípio internacional de Liberdade e Dignidade da Pessoa Humana.

Seção IV

No documento Lei de Migração Comentada (páginas 158-163)