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Do Residente Fronteiriço

No documento Lei de Migração Comentada (páginas 106-112)

CAPÍTULO III

DA CONDIÇÃO JURÍDICA DO MIGRANTE

atividade remunerada ou frequentar estabelecimento de en-sino naqueles municípios, será fornecido documento especial que o identifique e caracterize a sua condição, e, ainda, Cartei-ra de TCartei-rabalho e Previdência Social, quando for o caso.

A novel lei concede ao residente fronteiriço permissão para a realização de atos da vida civil, mediante requerimento. Essa permis-são ampliou o rol de direitos dos que requerem a documentação de fronteiriço, uma vez que no revogado Estatuto do Estrangeiro esses atos estavam limitados ao exercício de atividades remuneradas e a educação, somente, e ainda necessitavam de comprovação prévia.

Por sua peculiaridade de circular entre duas jurisdições nacio-nais (residem em um país, mas exercem algumas atividades da vida civil em outro, limítrofe), o fronteiriço goza de um regime jurídico especial.

Cristiane Maria Sbalqueiro Lopes (2009. p. 350.) destaca que:

“ao fronteiriço é atribuído um regime especial porque vivem em uma região de jurisdições divididas ou sobrepostas: uma zona de transi-ção entre duas realidades nacionais”. A residência em país próximo, todavia não ilide a responsabilidade do cumprimento das obrigações aduaneiras, conforme já se decidiu:

VEÍCULO MATRICULADO NO EXTERIOR.

MERCOSUL. DUPLO DOMICÍLIO. CIDADES PRÓXIMAS. FORMALIDADES ADUANEIRAS.

É infunda a pretensão de que o duplo domicílio, no Brasil e em outro país do MERCOSUL, em cidades próximas, garanta o direito de livre circula-ção no Brasil de veículo matriculado em ou-tro país do MERCOSUL, independentemente

do cumprimento das formalidades aduaneiras (TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO, 2016).

A Portaria nº 213, de 19 de julho de 2016 do Ministério da Integração Nacional, reconheceu a existência de 32 cidades-gêmeas, i.e., cidades de outras jurisdições nacionais contíguas a cidades bra-sileiras nos Estados do Acre, Amapá, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rondônia, Roraima, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Assim, ape-nas nestas 32 cidades será possível a emissão de documento de fron-teiriço. Mascarenhas e Thomé (2017, n. p.), observam que:

A condição exigida para que haja o trabalho fronteiriço acaba não permitindo que muitas regiões brasileiras vivenciem essa experiência.

Trata-se, dessa forma, de um tipo sui generis, especial, de trabalhador.

Destaca-se, neste sentido, a diferença de regime jurídico entre o imigrante e o fronteiriço: o imigrante, ao contrário do fronteiriço, não transita por duas jurisdições diariamente, ele vive no país com ânimo de permanência, sem preservar uma rotina de vida no outro de origem, ainda que com ele mantenha contato.

Art. 24. A autorização referida no caput do art. 23 indicará o Município fronteiriço no qual o residente estará autorizado a exercer os direitos a ele atribuídos por esta Lei.

§ 1o O residente fronteiriço detentor da autorização gozará das garantias e dos direitos assegurados pelo regime geral de migração desta Lei, conforme especificado em regulamento.

§ 2o O espaço geográfico de abrangência e de validade da au-torização será especificado no documento de residente fron-teiriço.

Dispositivo correspondente na Lei n. 6.815, de 19 de agosto de 1980, que define a situação jurídica do estrangeiro no Brasil (“Estatu-to do Estrangeiro”):

Art. 21. [...]

§ 1º Ao estrangeiro, referido neste artigo, que pretenda exer-cer atividade remunerada ou frequentar estabelecimento de ensino naqueles municípios, será fornecido documento espe-cial que o identifique e caracterize a sua condição, e, ainda, Carteira de Trabalho e Previdência Social, quando for o caso.

§ 2º Os documentos referidos no parágrafo anterior não confe-rem o direito de residência no Brasil, nem autorizam o afasta-mento dos limites territoriais daqueles municípios.

A autorização de residente fronteiriço indicará o Município fronteiriço no qual o residente estará autorizado a exercer as ativida-des da vida civil que a Lei lhe autoriza, i.e., ao contrário do imigrante o fronteiriço não tem liberdade de circulação pelo território nacio-nal, mas apenas na cidade brasileira contígua à sua.

De acordo com o art. 67, III, do Decreto nº 9.199, de 20 de novembro de 2017, que regulamenta a Lei 13.445/2017, o registro de fronteiriço deverá ser solicitado: “na unidade da Polícia Federal

em que haja atendimento a imigrantes do Município onde o residen-te fronresiden-teiriço preresiden-tenda exercer os direitos a ele atribuídos pela Lei no 13.445, de 2017” (BRASIL, 2017, n. p.).

Neste sentido, o trâmite burocrático fica a cargo de um órgão de segurança pública, o que pode gerar receio em muitos dos fron-teiriços que acabam por não procurar a polícia, e assim permanecem na condição de indocumentados, com medo de serem tratados como criminosos. De acordo com o art. 89 do Art. 89 do Decreto nº 9.199, de 20 de novembro de 2017, o fronteiriço para requerer seu registro deverá apresentar junto com o requerimento:

[...] I - documento de viagem ou carteira de identida-de expedida por órgão oficial identida-de iidentida-dentificação do país de nacionalidade do imigrante;

II - prova de residência habitual em Município fron-teiriço de país vizinho;

III - certidões de antecedentes criminais ou docu-mento equivalente emitido pela autoridade judicial competente de onde tenha residido nos últimos cin-co anos;

IV - declaração, sob as penas da lei, de ausência de antecedentes criminais em qualquer país nos últimos cinco anos; e

V - recolhimento da taxa de expedição de carteira de estrangeiro fronteiriço, de que trata o inciso V do caput do art. 2o da Lei Complementar no 89, de 18 de fevereiro de 1997 (BRASIL, 2017, n. p.).

A da autorização de residente fronteiriço lhes assegura as garantias e direitos previstos no regime geral de migração da Lei 13.445/2017. Dentre outros direitos, os mais relevantes no contexto das fronteiras são: o cumprimento de obrigações legais e contratuais

trabalhistas33; tolerância quanto ao uso do idioma por parte das auto-ridades brasileiras34 e igualdade de tratamento em relação ao acesso à justiça e tramitação de processos35.

Assim, o fronteiriço embora não residente faz jus aos direitos fundamentais previstos no texto constitucional e aos demais direitos previstos no sistema da Lei 13.445/2017.

Art. 2536. O documento de residente fronteiriço será cancelado, a qualquer tempo, se o titular:

I - tiver fraudado documento ou utilizado documento falso para obtê-lo;

II - obtiver outra condição migratória;

III - sofrer condenação penal; ou

IV - exercer direito fora dos limites previstos na autorização

O art. 25 prevê as hipóteses em que o documento de residente fronteiriço poderá ser cancelado. O dispositivo visa a assegurar a boa-fé (inciso I), ao não permitir que o fronteiriço realize fraude; um maior controle sobre os fluxos migratórios (inciso II), ao impedir que uma mesma pessoa detenha mais de uma condição migratória e; impedir que o status de fronteiriço sirva à prática de ilícitos penais art. III).

33 Art. 4º, XI da Lei 13.445/2017.

34 Art. 112 da Lei 13.445/2017.

35 Art. 26, II, da Lei 13.105/2015 (Código de Processo Civil).

36 Não há Dispositivo Correspondente na Lei n. 6.815, de 19 de agosto de 1980, que defi-ne a situação jurídica do estrangeiro no Brasil (“Estatuto do Estrangeiro”):

O inciso IV por sua vez é interpretado como a possibilidade de perda da autorização por exercício de atividade não autorizada pelo documento do fronteiriço, ou seja, quando ele extrapola os direitos que lhes são conferidos por sua documentação (atinentes às ativida-des que poderão ser exercidas e a localidade).

Seção II

Da Proteção do Apátrida e da Redução

No documento Lei de Migração Comentada (páginas 106-112)