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Do Asilado

No documento Lei de Migração Comentada (páginas 118-122)

resida regularmente facilitada, assim, esta proteção aos apátridas e a naturalização facilitada cumprem com o compromisso assumido pelo Brasil de prevenir e erradicar a apatridia, assumido pelo país por meio da Convenção da ONU sobre o Estatuto dos Apátridas (de 1954) e a Convenção da ONU para a Redução dos Casos de Apatridia (de 1961). Neste sentido registre-se que o dispositivo em comento da novel lei, embora recente, já serviu como instrumento para que fosse reconhecida administrativamente, pela primeira vez na história, pelo governo brasileiro a condição de apátridas de duas pessoas, o que ocorreu em 25 de junho de 2018 (AGÊNCIA BRASIL, 2018).

Seção III

Art. 28. O estrangeiro admitido no território nacional na con-dição de asilado político ficará sujeito, além dos deveres que lhe forem impostos pelo Direito Internacional, a cumprir as disposições da legislação vigente e as que o Governo brasileiro lhe fixar.

A concessão de asilo político é o princípio que rege o Brasil em suas relações internacionais (art. 4º, X, da Constituição Federal de 1988) e pode ser definido como a proteção concedida por um Es-tado ou sua legação diplomática a um estrangeiro que esteja sendo perseguido politicamente em seu Estado de origem. Pode-se definir o direito de asilo como:

Termo genérico com dois significados distintos: o direito de conceder asilo (um Estado pode conceder asilo no seu território a qualquer pessoa de acordo com poderes de decisão discricionários) e o direito de lhe ser concedido asilo quer vis-à-vis no Estado em cujo território o asilo é requerido, quer vis-à-vis no Estado de perseguição (ORGANIZAÇÃO INTER-NACIONAL PARA AS MIGRAÇÕES, [s. d.], p 19).

O asilo poderá ser territorial ou diplomático. O asilo terri-torial é concedido pelo Estado em seu próprio território. O asilo diplomático é concedido por um Estado no território de outo, em suas instalações diplomáticas ou acampamentos, navios e aeronaves militares, i.e., em territórios invioláveis, de acordo do com o Direito Internacional Público, dentro de outro Estado: “esses locais são, fic-ticiamente, partes do território que representam e, por isso, inviolá-veis” (DINIZ, 2008. p. 312). É um instituto peculiar à América Latina.

Sua concessão é ato discricionário do Estado, que tem o direi-to, não o dever, de conceder asilo, e que se apoia em um juízo

emi-nentemente político. Neste sentido já decidiu o Supremo Tribunal Federal que:

É válida a lei que reserva ao Poder Executivo – a quem incumbe, por atribuição constitucional, a com-petência para tomar decisões que tenham reflexos no plano das relações internacionais do Estado – o poder privativo de conceder asilo ou refúgio. A cir-cunstância de o prejuízo do processo advir de ato de um outro Poder – desde que compreendido na esfera de sua competência – não significa invasão da área do Poder Judiciário. Pedido de extradição não conhe-cido, extinto o processo, sem julgamento do mérito e determinada a soltura do extraditando. Caso em que de qualquer sorte, incidiria a proibição constitucional da extradição por crime políti-co, na qual se compreende a prática de even-tuais crimes contra a pessoa ou contra o patri-mônio no contexto de um fato de rebelião de motivação política (BRASIL, STF, 2007).

A regulamentação para a concessão do asilo, de que fala o pa-rágrafo único do dispositivo, é feita pelos arts. 108 a 118 do Decreto nº 9.199, de 20 de novembro de 2017.

Art. 2838. Não se concederá asilo a quem tenha cometido crime de genocídio, crime contra a humanidade, crime de guerra ou crime de agressão, nos termos do Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, de 1998, promulgado pelo Decreto no 4.388, de 25 de setembro de 2002.

a) o direito das gentes confia à apreciação de cada Estado determinar como se adquire e se perde a sua nacionalidade; b) nenhum Estado pode determinar as condições de aquisição e perda de uma nacionalidade estrangeira; c) a apreciação estatal, na determinação da matéria, acha-se limitada pelo Direito Internacio-nal; d) as limitações resultam dos tratados, do costu-me e dos princípios gerais de Direito, universalcostu-men- universalmen-te reconhecidos; e) uma declaração de nacionalidade feita por um Estado, no exercício de sua competência, tem efeitos jurídicos com relação aos demais Estados;

f) não o terá, porém, se a declaração transgredir os limites impostos pelo direito das gentes; g) os Esta-dos só podem conferir sua nacionalidade a pessoas que com eles tenham relação real e estreita, tais como a filiação e o nascimento, no seu território; h) a natu-ralização de um estrangeiro juridicamente capaz não poderá efetivar-se sem o seu consentimento; i) uma naturalização que não exija o consentimento dos in-teressados só é possível em

38 Não há dispositivo correspondente na Lei n. 6.815, de 19 de agosto de 1980, que define a situação jurídica do estrangeiro no Brasil (“Estatuto do Estrangeiro”).

O Estatuto de Roma, referido no dispositivo, criou o Tribunal Penal Internacional que tem competência para julgar, de forma sub-sidiária, os crimes mais graves que afetam a comunidade internacio-nal no seu conjunto, que são: o crime de genocídio; crimes contra a humanidade; crimes de guerra; crime de agressão. A adesão brasileira ao Tribunal Penal Internacional cumpre o mandamento constitucio-nal do art. 5º, § 4º, que dispõe que: “o Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado ade-são” (BRASIL, 1988, n. p.).

Os crimes previstos no Estatuto de Roma, por sua natureza e gravidade, e seu repúdio pela comunidade internacional, não pode-rão ser considerados como políticos e, assim, não poderá ser conferi-da a proteção do asilo político a quem os tiver cometido.

A vedação de asilo nas hipóteses de crimes julgados pelo Tri-bunal Penal Internacional, além de visarem a garantir que os crimi-nosos não se subtraiam à ação do Tribunal, visam a garantir a soli-dariedade internacional no combate a estes crimes que afetam a paz global e a comunidade internacional como um todo.

Art. 29. A saída do asilado do País sem prévia comunicação im-plica renúncia ao asilo.

Dispositivo correspondente na Lei n. 6.815, de 19 de agosto de 1980, que define a situação jurídica do estrangeiro no Brasil (“Estatu-to do Estrangeiro”):

Art. 29. O asilado não poderá sair do País sem prévia autorização do Governo brasileiro.

Parágrafo único. A inobservância do disposto neste artigo impor-tará na renúncia ao asilo e impedirá o reingresso nessa condição.

O Estado brasileiro só poderá oferecer proteção ao beneficiá-rio de asilo no territóbeneficiá-rio sobre o qual exerce a sua soberania.

Assim, o asilado que deixa o território brasileiro abandona a proteção conferida pelo status de asilado, pois no território de outro Estado soberano não há como o Brasil lhe garantir qualquer prote-ção, assim infere-se que houve renúncia ao asilo por parte de quem saia do país sem prévia autorização do governo brasileiro.

Seção IV

No documento Lei de Migração Comentada (páginas 118-122)