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Da Expulsão

No documento Lei de Migração Comentada (páginas 163-174)

A nova lei assegura em diferentes momentos que os direitos de ir e vir tão preciosos ao princípio internacional de Liberdade e Dignidade da Pessoa Humana.

Seção IV

pena, a suspensão condicional do processo, a comutação da pena ou a concessão de pena alternativa, de indulto coletivo ou individual, de anistia ou de quaisquer benefícios concedidos em igualdade de condições ao nacional brasileiro.

§ 4o O prazo de vigência da medida de impedimento vincula-da aos efeitos vincula-da expulsão será proporcional ao prazo total vincula-da pena aplicada e nunca será superior ao dobro de seu tempo.

Art. 55. Não se procederá à expulsão quando:

I - a medida configurar extradição inadmitida pela legislação brasileira;

II - o expulsando:

a) tiver filho brasileiro que esteja sob sua guarda ou dependên-cia econômica ou socioafetiva ou tiver pessoa brasileira sob sua tutela;

b) tiver cônjuge ou companheiro residente no Brasil, sem dis-criminação alguma, reconhecido judicial ou legalmente;

c) tiver ingressado no Brasil até os 12 (doze) anos de idade, residindo desde então no País;

d) for pessoa com mais de 70 (setenta) anos que resida no País há mais de 10 (dez) anos, considerados a gravidade e o funda-mento da expulsão; ou

e) (VETADO).

Art. 56. Regulamento definirá procedimentos para apresenta-ção e processamento de pedidos de suspensão e de revogaapresenta-ção dos efeitos das medidas de expulsão e de impedimento de in-gresso e permanência em território nacional.

Art. 57. Regulamento disporá sobre condições especiais de autorização de residência para viabilizar medidas de ressociali-zação a migrante e a visitante em cumprimento de penas apli-cadas ou executadas em território nacional.

Art. 58. No processo de expulsão serão garantidos o contradi-tório e a ampla defesa.

§ 1o A Defensoria Pública da União será notificada da instau-ração de processo de expulsão, se não houver defensor cons-tituído.

§ 2o Caberá pedido de reconsideração da decisão sobre a expul-são no prazo de 10 (dez) dias, a contar da notificação pessoal do expulsando.

Art. 59. Será considerada regular a situação migratória do ex-pulsando cujo processo esteja pendente de decisão, nas condi-ções previstas no art. 55.

Art. 60. A existência de processo de expulsão não impede a saída voluntária do expulsando do País.

Dispositivo correspondente na Lei n. 6.815, de 19 de agosto de 1980, que define a situação jurídica do estrangeiro no Brasil (“Estatu-to do Estrangeiro”):

Art. 65. É passível de expulsão o estrangeiro que, de qualquer forma, atentar contra a segurança nacional, a ordem política ou social, a tranquilidade ou moralidade pública e a economia popular, ou cujo procedimento o torne nocivo à conveniência e aos interesses nacionais.

Parágrafo único. É passível, também, de expulsão o estrangei-ro que:

a) praticar fraude a fim de obter a sua entrada ou permanência no Brasil;

b) havendo entrado no território nacional com infração à lei, dele não se retirar no prazo que lhe for determinado para fazê--lo, não sendo aconselhável a deportação;

c) entregar-se à vadiagem ou à mendicância; ou

d) desrespeitar proibição especialmente prevista em lei para estrangeiro.

Art. 66. Caberá exclusivamente ao Presidente da República re-solver sobre a conveniência e a oportunidade da expulsão ou de sua revogação.

Parágrafo único. A medida expulsória ou a sua revogação far--se-á por decreto.

Art. 67. Desde que conveniente ao interesse nacional, a expul-são do estrangeiro poderá efetivar-se, ainda que haja processo ou tenha ocorrido condenação.

Art. 68. Os órgãos do Ministério Público remeterão ao Mi-nistério da Justiça, de ofício, até trinta dias após o trânsito em julgado, cópia da sentença condenatória de estrangeiro autor de crime doloso ou de qualquer crime contra a segurança na-cional, a ordem política ou social, a economia popular, a mora-lidade ou a saúde pública, assim como da folha de antecedentes penais constantes dos autos.

Parágrafo único. O Ministro da Justiça, recebidos os documen-tos mencionados neste artigo, determinará a instauração de inquérito para a expulsão do estrangeiro.

Art. 69. O Ministro da Justiça, a qualquer tempo, poderá de-terminar a prisão, por 90 (noventa) dias, do estrangeiro sub-metido a processo de expulsão e, para concluir o inquérito ou assegurar a execução da medida, prorrogá-la por igual prazo.

Parágrafo único. Em caso de medida interposta junto ao Po-der Judiciário que suspenda, provisoriamente, a efetivação do ato expulsório, o prazo de prisão de que trata a parte final do caput deste artigo ficará interrompido, até a decisão definitiva do Tribunal a que estiver submetido o feito.

Art. 70. Compete ao Ministro da Justiça, de ofício ou acolhen-do solicitação fundamentada, determinar a instauração de in-quérito para a expulsão do estrangeiro.

Art. 71. Nos casos de infração contra a segurança nacional, a ordem política ou social e a economia popular, assim como nos casos de comércio, posse ou facilitação de uso indevido de substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica, ou de desrespeito à proibição especialmente pre-vista em lei para estrangeiro, o inquérito será sumário e não excederá o prazo de quinze dias, dentro do qual fica assegurado ao expulsando o direito de defesa.

Art. 72. Salvo as hipóteses previstas no artigo anterior, caberá pedido de reconsideração no prazo de 10 (dez) dias, a contar da publicação do decreto de expulsão, no Diário Oficial da União.

Art. 73. O estrangeiro, cuja prisão não se torne necessária, ou que tenha o prazo desta vencido, permanecerá em liberdade

vigiada, em lugar designado pelo Ministério da Justiça, e guardará as normas de comportamento que lhe forem estabelecidas.

Parágrafo único. Descumprida qualquer das normas fixadas de conformidade com o disposto neste artigo ou no seguinte, o Ministro da Justiça, a qualquer tempo, poderá determinar a prisão administrativa do estrangeiro, cujo prazo não excederá a 90 (noventa) dias.

Art. 74. O Ministro da Justiça poderá modificar, de ofício ou a pedido, as normas de conduta impostas ao estrangeiro e desig-nar outro lugar para a sua residência.

Art. 75. Não se procederá à expulsão:

I - se implicar extradição inadmitida pela lei brasileira; ou II - quando o estrangeiro tiver:

a) Cônjuge brasileiro do qual não esteja divorciado ou separa-do, de fato ou de direito, e desde que o casamento tenha sido celebrado há mais de 5 (cinco) anos; ou

b) filho brasileiro que, comprovadamente, esteja sob sua guar-da e dele depenguar-da economicamente.

§ 1º. não constituem impedimento à expulsão a adoção ou o reconhecimento de filho brasileiro supervenientes ao fato que o motivar.

§ 2º. Verificados o abandono do filho, o divórcio ou a sepa-ração, de fato ou de direito, a expulsão poderá efetivar-se a qualquer tempo.

A expulsão é uma medida de retirada compulsória, descrita en-tre os artigos 54 a 60 da Lei nº 13.445/2017, aplicada em situações consideradas mais graves, casos nos quais os estrangeiros cometem crimes no território nacional. Assim, descreveu o artigo 54, § 1º, in-ciso I e II:

A expulsão consiste em medida administrativa de re-tirada compulsória de migrante ou visitante do ter-ritório nacional, conjugada com o impedimento de reingresso por prazo determinado. § 1º Poderá dar causa à expulsão a condenação com sentença transi-tada em julgado relativa à prática de: I - crime de ge-nocídio, crime contra a humanidade, crime de guer-ra ou crime de agressão, nos termos definidos pelo Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, de 1998, promulgado pelo Decreto nº 4.388, de 25 de setembro de 2002; ou II - crime comum doloso passível de pena privativa de liberdade, consideradas a gravidade e as possibilidades de ressocialização em território nacional. (grifo nosso) (BRASIL, 2017, n. p.) Dessa maneira, a medida de expulsão é executada em des-crédito do estrangeiro que comete conduta tipificada e, por conse-guinte, incompatível com o ordenamento jurídico nacional. Como a autuação do estrangeiro diz respeito a uma grave violação, uma vez tratar-se de ilícito penal, aquele que é expulso não dispõe mais de permissão de voltar ou permanecer em território brasileiro. O pra-zo de restrição é definido pela autoridade que também determinou a expulsão, a duração do impedimento de reingresso e a suspensão/

revogação dos efeitos da expulsão (art. 54, § 2º, Lei nº 13.445/2017).

Nesse caso, da mesma forma como citado nas outras medidas de retirada compulsória, a DPU é notificada sobre a instauração do processo administrativo. Todavia, especificamente para a expulsão, a Defensoria Pública é notificada apenas se o estrangeiro não se

apre-senta com defensor constituído (art. 58, § 1º, Lei nº 13.445/2017).

Ainda, sempre garantido o direito ao Contraditório e a Ampla Defesa ao interessado (art. 58, caput, Lei nº 13.445/2017).

Devido à gravidade da medida de expulsão, uma vez o estran-geiro ser impedido de adentrar novamente no Brasil, a Lei de Mi-gração determinou algumas situações em que essa penalidade não pode ser aplicada. Por isso, indicou o artigo 55, inciso II da Lei nº 13.445/2017:

Não se procederá à expulsão quando: I - a medida configurar extradição inadmitida pela legislação bra-sileira; II - o expulsando: a) tiver filho brasileiro que esteja sob sua guarda ou dependência econômica ou socioafetiva ou tiver pessoa brasileira sob sua tutela;

b) tiver cônjuge ou companheiro residente no Bra-sil, sem discriminação alguma, reconhecido judicial ou legalmente; c) tiver ingressado no Brasil até os 12 (doze) anos de idade, residindo desde então no País;

d) for pessoa com mais de 70 (setenta) anos que re-sida no País há mais de 10 (dez) anos, considerados a gravidade e o fundamento da expulsão (BRASIL, 2017, n. p.).

Em jurisprudência recente, o Ministro Marco Aurélio, do Su-premo Tribunal Federal, confirmou o disposto no artigo supraci-tado. Liminarmente, suspendeu a expulsão de cidadão peruano que cumpriu pena por tráfico de drogas, em fundamentação o Ministro apontou que o estrangeiro tem uma filha brasileira, nascida após a portaria do Ministério da Justiça determinar a expulsão. Como a nova Lei de Migração revogou o Estatuto do Estrangeiro, o Ministro pôde aplicar a nova legislação e permitiu a permanência do peruano no Brasil (STF, 2017).

Diante do exposto, percebeu-se que a medida de retirada com-pulsória através da expulsão é uma tutela com consequências mais

drásticas. Devido a esse fato, a própria Lei amenizou a sua aplicação em situações nas quais o estrangeiro demonstra ter fortes ligações com a so-ciedade brasileira e, por isso, permite-se que permaneça no Brasil.

Diferente das medidas de retirada compulsória supracitadas, todas aplicadas ao estrangeiro presente em outro Estado, a pena de banimento é uma medida jurídica empregada em desfavor dos nacio-nais, retirando-os de maneira forçada do seu próprio Estado devido à prática de determinado ato no interior no território nacional. Com isso, o cidadão é impedido pela Administração de conviver em sua própria nação.

No Estado brasileiro, o art. 5º, inciso XLVII, alínea “d” deter-minou que “Não haverá penas: d) banimento”. Dessa maneira, por determinação constitucional, a pena de banimento não pode ser apli-cada aos brasileiros e, por conseguinte, não cabe a retirada de um nacional do Estado nacional. A grande inovação trazida pela Lei nº 13.445/2017, sem dúvida, foi a concepção humanitária dada aos estrangeiros que migram para o nosso Estado. Deixamos de lado uma visão de proteção nacional antiquada e abraçamos a visão contempo-rânea de cooperação entre os povos.

Diante disso, foi a presença da Defensoria Pública da União um dos instrumentos mais eficaz dessa nova lei. A presença da DPU assegura que direitos e deveres dos estrangeiros e de nosso Estado sejam amplamente discutidos e demonstrados de forma transparente como exige o Mundo Internacional.

REFERÊNCIAS

ACCIOLY, H.; SILVA, G. E. N.; CASELLA, P. B. Manual de Direito Internacional Público. São Paulo: Editora Saraiva, 2010.

ALTO COMISSARIADO DAS NAÇÕES UNIDADES PARA RE-FUGIADOS (ACNUR). Cartilha Para Solicitantes de Refúgio no Brasil.

Disponível em <http://www.acnur.org/t3/fileadmin/Documentos/

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BRASIL. Ministério da Justiça. Deportação e Repatriação. Disponível em <http://www.justica.gov.br/seus-direitos/migracoes/medidas--compulsorias/deportacao-e-repatriacao>. Acesso em jun. 2018.

BRASIL. Ministério da Justiça. Extradição. Disponível em <http://

www.justica.gov.br/seus-direitos/migracoes/cooperacao-interna-cional/extradicao>. Acesso em jun. 2018.

BRASIL. Polícia Federal. PF prende um argentino e impede a entrada de outros nove em Foz do Iguaçu. Disponível em <http://www.pf.gov.br/

agencia/noticias/2014/07/pf-prende-um-argentino-e-impede-en-trada-de-outros-nove-em-foz-do-iguacu>. Acesso em jun. 2018.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Supremo recebe pedido de detenção e entrega de atual presidente do Sudão. Disponível em: <http://www.

stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=111251>.

Acesso em jun. 2018.

FRAGA, Mirtô. O novo estatuto do estrangeiro comentado. Rio de Janei-ro: Editora Forense, 1985.

MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de Direito Internacional Públi-co. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010.

PIOVESAN, Flávia. Tratados Internacionais de Proteção dos Direitos Humanos: Jurisprudência do STF. Disponível em <http://www.egov.

ufsc.br/portal/sites/default/files/ anexos/16470-16471-1-PB.pdf>.

Acesso em jun. 2018.

TAVARES, André Ramos. Curso de Direito Constitucional. Editora Sa-raiva: São Paulo, 2014.

CAPÍTULO VI

DA OPÇÃO DE NACIONALIDADE

No documento Lei de Migração Comentada (páginas 163-174)