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1 DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO

6.3 DA UTILIZAÇÃO DO MANDADO DE SEGURANÇA PARA REFORMA

6.3.2 Da decisão que converte o agravo de instrumento em agravo

Mantendo a linha de raciocínio do até aqui exposto, das decisões que convertem o agravo retido em agravo de instrumento faz-se mister a aceitação do recurso de agravo regimental para reforma do decidido, tendo em vista a sua evidente inconstitucionalidade.

O sistema recursal nacional admite a revisão das decisões interlocutórias, exaradas pelos tribunais, por meio dos denominados agravo interno, previsto no artigo 557, §1º, do Código de Processo Civil e 39 da Lei nº 8.038/90, ou agravo regimental, previsto nos regimentos internos dos tribunais.

O artigo 557, §1º, do Código de Processo Civil é restritivo as decisões atípicas previstas no caput e § 1º-A, do mesmo dispositivo legal. Já o artigo 39, da Lei nº 8.038/90, trata da recorribilidade das decisões monocráticas no âmbito do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e Supremo Tribunal Federal (STF).288 A aplicação destes dispositivos à decisão do artigo 527, II, do Código de Processo Civil resultaria em uma interpretação extensiva, barrada pela taxatividade que é característica essencial dos recursos.

No entanto, é possível admitir-se a revisão, por meio do agravo regimental.

suscetível de causar à parte lesão grave e de difícil reparação. 4. Agravo regimental a que se nega provimento. (STJ, AgRg no REsp 714016 / RS, 6ª Turma, Relatora Alderita Ramos de Oliveira (Desembargadora Convocada do TJ/PE), julgado em 12/03/2013, publicado em 19/03/2013).

TRIBUTÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. DECISÃO LIMINAR PROFERIDA PELO RELATOR. IRRECORRIBILIDADE. AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. "A decisão do relator que defere ou infere o pedido de efeito suspensivo, no âmbito de agravo de instrumento, mercê da impossibilidade de sua revisão mediante a interposição de agravo previsto em regimento interno, porquanto sujeita apenas a pedido de reconsideração (parágrafo único do art. 527, do CPC), desafia a impetração de mandado de segurança, afastando, outrossim, a incidência da Súmula 267/STF" (RMS 25.949/BA, Rel. Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, DJe 23/3/10). 2. Agravo regimental não provido. (STJ, AgRg no AREsp 95401 / PR, 1ª Turma, Relator Arnaldo Esteves Lima, julgado em 21/06/2012, publicado em 02/08/2012)

288 O Código de Processo Civil traz em seu texto algumas outras hipóteses taxadas do, aqui

denominado, agravo interno. Elas se encontram nos artigos 120, parágrafo único; 532; e 545. Não se pode olvidar, outrossim, existirem outras disposições em leis esparsas mas nenhuma tratando do recurso de agravo interno de maneira recursal genérica para atacar decisões monocráticas de qualquer tribunal nacional.

Esta espécie processual, entretanto, sofre alguns embastes doutrinários que o afastam da natureza jurídica recursal.

Para estes doutrinadores, não é possível admitir a denominação de recurso ao agravo regimental, isto porque, quando confrontado com o próprio conceito de recurso, adotado pelo direito processual civil brasileiro, ele se afasta da obrigatória taxatividade.

Como se depreende do texto da carta magna em seu artigo 22, I: compete exclusivamente a União Federal legislar sobre processo. Já o artigo 96, I, a, da Constituição deferiu aos tribunais a competência para elaborar seus regimentos internos “dispondo sobre a competência e o funcionamento dos respectivos órgãos jurisdicionais e administrativos”; no entanto, ressalvou que tais disposições deverão submeter-se as normas de processo e as garantias das partes previstas constitucionalmente.

Em interpretação lógica e razoável destas disposições não é possível afirmar que o regimento interno poderia criar uma espécie recursal, porquanto assim procedendo estará, necessariamente, infringindo a taxatividade recursal exigida pelo Código de Processo Civil.

Sob este prisma, Araken de Assis289 apresenta esta figura como sucedâneo recursal, criado pelo Regimento Interno dos tribunais e, ali, regulamentado.

Flávio Chein Jorge290, no entanto, acredita que a taxatividade imposta pela norma processual civil, em relação ao agravo regimental, estaria observada pela previsão do recurso de agravo, no artigo 496, do Código de Processo Civil. Ora, o agravo regimental seria espécie do gênero agravo e suas normas procedimentais estariam previstas em regimento interno, em obediência a competência concorrente para legislar sobre procedimentos em matéria processual (art. 24, XI da Constituição Federal).

289 ASSIS, Araken. Introdução aos sucedâneos recursais. In Revista Jurídica. Volume 310. p.

32.

290 JORGE, Flavio Cheim. Teoria geral dos recursos cíveis. Rio de Janeiro: Forense. 2002. p.

Sendo assim, para ataque das decisões previstas no artigo 527, II, do Código de Processo Civil é necessário a adoção de uma das teorias para o alcance de conclusões coerente.

Ao se admitir ser o agravo regimental recurso, como defendido por Flávio Chein Jorge, reconhecendo a inconstitucionalidade do disposto no parágrafo único, do artigo 527, deve-se aceitar a impugnação da decisão que converte o agravo de instrumento em agravo retido, por meio de agravo regimental.

Já ao se admitir tratar-se de mero sucedâneo recursal, identifica-se uma “falha” no sistema processual que faz com que se deva admitir irrestritamente o mandado de segurança para impugnação da decisão.

É necessário, aqui, fazer a ressalva de que se partiu do pressuposto de que a disposição relativa à irrecorribilidade da decisão do relator, que converte o agravo de instrumento em agravo retido, é inconstitucional.

Em se admitindo a constitucionalidade do dispositivo não há porque aceitar a figura do mandado de segurança.

Mandado de segurança não serve para burlar o sistema recursal. Ele serve para ampliar eventuais estreitezas ou armadilhas do sistema recursal – é esta a doutrina do mandado de segurança contra ato judicial que deve ser aceita e observada – e o caso não é de estreiteza ou de estrangulamento do sistema recursal; o caso é, [...], de não cabimento do recurso nas hipóteses apontadas no parágrafo único do artigo 527, coisa bem diferente, entendida a irrecorribilidade contida no dispositivo de forma ampla que acabei de ressalvar.291

Em conclusão ao raciocínio, portanto, imbuído da prática forense que aceita deliberadamente o agravo regimental como recurso, propriamente, e, ainda, frente à inconstitucionalidade da irrecorribilidade da decisão do inciso II, do artigo 527, do Código de Processo Civil, é de se admitir que, nestas

291 BUENO, Cassio Scarpinella. A nova etapa da reforma do Código de Processo Civil. Comentários sistemáticos às Leis n. 11.187, de 19-10-2005, e 11.232, de 22-12-2005. Volume 1.São Paulo: Saraiva, 2006. p. 271.

hipóteses, a decisão proferida monocraticamente, pelo relator, seja impugnada por meio de agravo regimental.

6.3.3 Da decisão que concede ou nega efeito suspensivo ao