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1 DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO

5.2 DAS DECISÕES DO ARTIGO 557, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

A primeira remissão aos poderes do relator encontra-se na redação original do artigo 557, do Código de Processo Civil de 1973233. Seu texto autorizava a possibilidade de negativa de seguimento, quando manifesta a improcedência do agravo, pelo relator do recurso.234

233 Art. 557. Se o agravo for manifestamente improcedente, o relator poderá indeferi-lo por

despacho. Também por despacho poderá convertê-lo em diligência se estiver insuficientemente instruído. (...)

234 Alguns pontos podem ser destacados neste dispositivo: refere-se tão somente ao recurso de

agravo, não trata expressamente da inadmissibilidade do recurso pelo relator (embora valha mencionar que quem pode o mais pode o menos) e, por fim, a sua inutilização pelos operadores do direito submetidos à sua redação.

O Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, de 1980, também deferia ao relator poderes decisórios, inclusive quanto ao mérito. O artigo 21, deste Regimento, dispunha que “poderá o relator arquivar ou negar seguimento a pedido ou recurso manifestamente intempestivo, incabível ou improcedente e, ainda, quando contrariar a jurisprudência predominante do Tribunal ou for evidente sua incompetência.” Mais tarde, no ano de 1985, houve uma emenda a esta disposição regimental ampliando, ainda mais, os poderes do relator. Por meio de tal emenda, este poderia “em caso de manifesta divergência com a Súmula, prover, desde logo, o recurso extraordinário.”

Foi com o advento da Lei nº 8.038/90 (Lei dos Recursos), após a promulgação da Constituição Federal de 1988, que as decisões monocráticas pelo relator começaram a ganhar formas mais objetivas. O artigo 38, desta norma dispunha que “o relator, no Supremo Tribunal Federal ou no Superior Tribunal de Justiça, decidirá o pedido ou o recurso que haja perdido seu objeto, bem como negará seguimento a pedido ou recurso manifestamente intempestivo, incabível ou improcedente ou ainda, que, contrariar, nas questões predominantemente de direito, súmula do respectivo Tribunal”.

O Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça, de 1991, seguindo o já determinado na Lei nº 8.038/90 dispôs, expressamente, em seu artigo 34, ser atribuição do relator “negar seguimento a pedido ou recurso manifestamente intempestivo, incabível, improcedente, contrário à súmula do Tribunal, ou quando for evidente a incompetência deste.”

Como se pode verificar, os poderes do relator passam, desde então, a estar, estritamente relacionados a importância dos precedentes jurisprudenciais para nosso sistema jurídico. Este processo histórico culminará com a adoção das súmulas vinculantes, autorizadas pela Emenda Constitucional nº 45/2004 e, mais tarde, com a aceitação dos denominados incidente de recursos repetitivos, trazidos pela Lei nº 11.672/2008.

Foi, então, que em 1995, a Lei nº 9139/95 trouxe nova redação ao já citado artigo 557235, ampliando, ainda mais, as atribuições dos relatores para

235 Art. 557. O relator negará seguimento a recurso manifestamente inadmissível,

todos os recursos – vale aqui ressaltar, que a jurisprudência nacional, por meio da súmula 253, do Superior Tribunal de Justiça236, fixou o dever de aplicação desta conduta dos relatores não só quando estiverem à frente de um recurso, mas, também, de um reexame necessário (recurso de ofício) - por meio de lei e, ainda, obstruindo, de certa forma, a discricionariedade do juiz quanto à utilização ou não destes poderes.

Em outras palavras, todas as vezes que se estiver frente a um recurso manifestamente improcedente, deverá o juiz examinar seu mérito, negando-o seguimento.

Athos Gusmão Carneiro237 bem lembra que “o relator, em tais casos, não estará decidindo por “delegação” do colegiado a que pertence, mas sim exercendo poder jurisdicionado que lhe foi atribuído por lei.”

Por fim, a atribuição de poderes ao relator, teve seu ápice de ampliação, com a nova redação dada a este mesmo artigo 557238, em 1998, pela Lei nº 9756. Por meio deste artigo, agora deverá o relator não só negar seguimento aos recursos manifestamente improcedentes como, ainda, dar provimento àqueles que pretendam reforma de decisões em manifesto confronto com súmula ou jurisprudência dominante do respectivo tribunal, do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior.

De fato, ao lado das conhecidas críticas terminológicas do art. 557, o certo é que se outorgou, ao relator, enormes poderes. Inquestionavelmente a dicção do referido artigo permite que o relator exerça tanto o juízo de admissibilidade quanto o juízo de mérito dos recursos. Segundo o caput do art. 557, o relator poderá negar seguimento a recurso manifestamente inadmissível. Isso significa que caso o recurso não preencha

236 Súmula 253 do STJ:

“O art. 557 do CPC, que autoriza o relator a decidir o recurso, alcança o reexame necessário.”

237 CARNEIRO, Athos Gusmão. Recurso especial, agravos e agravo interno. Rio de Janeiro:

Forense, 2009. p. 288.

238 Art. 557. O relator negará seguimento a recurso manifestamente inadmissível,

improcedente, prejudicado ou em confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do respectivo tribunal, do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior.” § 1º - A. Se a decisão recorrida estiver em manifesto confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do respectivo tribunal, do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior, o relator poderá dar provimento ao recurso.(...)

quaisquer dos requisitos de admissibilidade, o relator poderá imediatamente julgá-lo sozinho, não o admitindo (conhecendo). Essa disposição já seria suficiente para regulamentar o exercício do juízo de admissibilidade isoladamente pelo relator, não havendo necessidade de se mencionar especificamente a respeito de recurso prejudicado, quando se sabe que este equivale à falta de interesse recursal superveniente.

Já quando se menciona recurso manifestamente improcedente, ou mesmo em recurso cuja tese está em contraste com súmula ou jurisprudência dominante, inequivocamente contempla-se a previsão exercício do juízo de mérito pelo relator, seja no sentido de negar (caput do art. 557) ou dar provimento ao recurso (§1º-A).239

Em consonância com o primado de que não é possível afastar do colegiado as decisões proferidas pelos tribunais, em sede de julgamento dos recursos, as disposições legais acima explicitadas, todas, tomaram o cuidado de prever a possibilidade de interposição de recurso do decidido para futura apreciação pelo órgão colegiado.

Desde a disposição da Lei nº 8.038/90 até a última redação do artigo 557, do Código de Processo Civil, previu-se a possibilidade do recurso de agravo da decisão do relator, denominada por este estudo de decisão atípica. O que a lei fez, neste momento, foi transformar em disposição legal expressa a possibilidade do agravo regimental, que já fazia parte dos dispositivos dos Regimentos Internos dos tribunais.240

239 JORGE, Flavio Cheim. Teoria geral dos recursos cíveis. São Paulo: Revista dos Tribunais,

2012. p. 100.

240 Artigo 317 do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal e artigo 258 do Regimento

Interno do Superior Tribunal de Justiça. Por meio de tais disposições seria possível a parte apresentar agravo regimental contra todas as decisões do relator que pudesse causar prejuízo à parte, inclusive a decisão que julgasse monocraticamente o recurso.

5.3 DA CONVERSÃO DO AGRAVO DE INSTRUMENTO EM AGRAVO