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DA DEMOCRATIZAÇÃO DO ESTADO À DEMOCRATIZAÇÃO DA

Vimos que as linhas mestras do elitismo democrático concebe o cidadão desde uma perspectiva reduzidíssima, e não espera dele algo além da confiança naqueles que o representarão nas distintas esferas políticas de uma nação. Para o elitismo democrático, o ativismo político está associado à figura dos representantes, e no máximo a grupos de interesses, os quais, uma vez eleitos, determinariam as políticas a serem implementadas, e governariam de acordo a regras constitucionais. Na perspectiva deste modelo, a apatia dos cidadãos em relação à vida politica de um município, ou mesmo de uma comunidade não causa surpresa e nem promove problemas maiores.

Mas, esta não parece ser a posição dos democratas participativos, que veem a apatia política como um sério problema, por isso promovem o engajamento máximo do cidadão, e pensam que “a representação e votação competitiva em eleições formais são vistas, no melhor dos casos, como males necessário que eles pretendem substituir, quando possível, por tomada de decisão pela discussão moldada pelo consenso” (Cunningham, 2009). O fato é que os democratas participativos pensam que a vida política vai além deste cenário participativo reduzido, onde a vida política é exercida de tempos em tempos.

Quiçá o modelo democrático liberal seja suficiente para pensar uma sociedade onde as relações de poder se dão apenas entre representantes e representados, ou governantes e governados. Mas tal como já mostrou Foucault, por exemplo, o poder se dá em redes e em esferas microssociais também. Isto significa que o modelo democrático liberal parece ter pouco alcance quando está em questão a mudança de relações de poder em escalas sociais como as da família, escola, mídia, prisões, relações com o meio ambiente, etc. Os democratas participativos pensam que o poder deve ser democratizado em todos aqueles espaços onde ocorrem assimetrias de poder, as quais não são exclusivas da relação que se estabelece entre os representantes e seus eleitores. Paras os democratas participativos, para além das esferas institucionais políticas do Estado, também estão aquelas esferas da

sociedade civil, campo de disputa de hegemonias e de projetos políticos, para pensarmos em linguagem gramsciana.

Nas palavras de Vitullo, os democratas participativos,

Ambicionam atividades mais comprometidas, aspiram a estabelecer a democracia direta em diversas esferas e atividades. Procuram maximizar as oportunidades de todos os cidadãos em intervir, por eles mesmos, na adoção das decisões que afetam suas vidas, e em todas as discussões e deliberações que levem à formulação e implementação de tais decisões. Enfatizam a necessidade de que as mulheres e homens que vivem em uma democracia participativa possam alcançar um forte sentido de compromisso, que adquiram a noção de fazer parte de um projeto comum, que sintam que têm contribuído à sua elaboração, que compartilhem objetivos e metas, que alcancem um espírito de identificação com seus pares, que sejam mais tolerantes e abertos aos desejos de seus semelhantes (Vitullo, 1999: 11). É o caso de Carole Pateman, que faz uma releitura de clássicos políticos como Rousseau e Mill na tentativa de mostrar que o modelo democrático representativo tem mais limites do que alcances.

Para Pateman, a principal função da participação na teoria da democracia participativa é educativa, no seu sentido mais amplo da palavra, “tanto no aspecto psicológico quanto no de aquisição de prática de habilidades e procedimentos democráticos […]. Quanto mais os indivíduos participam, melhor capacitados eles se tornam para fazê-lo” (Pateman: 1992: 61), de tal modo que um sistema democrático participativo, se auto sustentaria por meio do impacto educativo de tal processo. A autora argumenta que a socialização por meio da participação pode ocorrer em todas as áreas, de modo especial na indústria, já que as pessoas passam a maior parte de seu tempo e de suas vidas no trabalho. Participar na tomada das decisões nos locais de trabalho poderia ser uma forma de atualizar a democracia nos moldes pensado por Rosseau, pois uma maior participação política poderia

atenuar maiores desigualdades econômicas.

Podem as relações estabelecidas no campo das indústrias e grandes empresas, via de regra verticalizadas, serem democratizadas? Este não é um problema abordado por Schumpeter, por exemplo. De igual maneira não reflete sobre a premissa de que a igualdade social seja um elemento fundamental para o exercício e aprofundamento da democracia. Neste caso, fica a dúvida se na perspectiva de Schumpeter as desigualdades sociais têm alguma relação com o sistema democrático representativo.

Na perspectiva de Pateman, a teoria democrática participativa parte exatamente destas premissas ausentes no modelo democrático “realista” de Schumpeter. A crítica de Pateman aponta para o fato de que as teorias contemporâneas têm relegado o aspecto da socialização da participação presente nas teorias clássicas da democracia. Daí a ênfase dada pela autora ao estudo das relações políticas estabelecidas na esfera das indústrias modernas, sem contudo deixar de reconhecer a importância da participação em outras esferas como as da família, da escola, universidades, etc, embora, a autora reconheça que nem sempre é fácil fazer uma ligação entre a vida política local com os aspectos da política mais ampla, sobretudo, aquelas políticas de alcance nacional.

Hirst, por outro lado, ao analisar os limites da democracia representativa, parece propor uma alternativa viável para este problema de Pateman. Começa seu ensaio perguntando-se se a nova esquerda poderia suplantar a democracia representativa?

Na visão de Hirst, a esquerda poderá suplementá-la, mas não suplantá-la. Neste sentido, segundo Hirst, a esquerda estaria diante de dois problemas ao aceitar a democracia reduzida aos termos da representação: o primeiro, é o baixo nível de prestação de contas pelo governo e de influência popular no processo de tomada de decisão. Em segundo lugar, está aceitando também a disputa esporádica pelo poder. Diante de um quadro de eleitorados de massa e de domínio dos espaços políticos pelos grandes partidos, como propor maior democratização sem fazer uma crítica cabal da democracia representativa? (Hirst, 1992: 8). Como democratizar, tendo em vista os parâmetros estabelecidos pelo modelo democrático elitista?

e uma aposta na sociedade civil organizada. A primeira proposta está relacionada à ideia de cidadania, “que defende o fortalecimento da participação ativa em instituições políticas comuns, básicas, e a ampliação dos direitos sociais e políticos dos cidadãos”, com uma forte presença na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos. A segunda tendência estaria “mais marcadamente contrária ao Estado”, sobretudo presente na Europa do Leste (Hirst, 1992: 9).

Hirst aposta em novas estratégias para sanar as falhas da democracia representativa sem, contudo, negar suas instituições. Em primeiro lugar, pensa que “a representação corporativa dos interesses organizados” pode fortalecer a democracia, “no sentido de aumentar a influência popular sobre o governo”. Em segundo lugar, defende um Estado plural, no sentido de descentralizar seu aparato, possibilitando uma interpenetração entre este e a sociedade civil. E por último propõe um “socialismo associativo”, construído na sociedade civil, de forma não compulsória, tal como ocorreu em diversos países do leste europeu (Hirst, 1992: 13-16).

Se tomamos em conta a realidade e influência dos mercados globais, os grandes riscos ecológicos, a mercantilização da política, o papel dos meios de comunicação e sua influência nas esferas do Estado e da sociedade civil, se percebe que a proposta de Hirst tem um alcance limitado. Aliás, todos estes fatores antes sinalizados têm contribuído ao declive do modelo democrático representativo, pois “as instituições da representação política tem enfrentado a estes desafios com respostas obsoletas, triviais ou inexistentes, más explicações que no fim das contas, só tem conseguido apontar os sintomas e não as patologias” (Machuca Ortega, 2004: 155).

Por outro lado, Macpherson parece seguir uma linha realista da política, e parece concordar que é difícil de colocar em prática um modelo de participação direta, mesmo levando-se em conta o alto grau de desenvolvimento tecnológico, de modo que “nada podemos sem políticos eleitos” (1978: 101). O problema de fundo para Macpherson é como tornar responsáveis os políticos, e nenhuma tecnologia disponível poderia fazer isso. O problema não é de como uma democracia participativa deve atuar, mas de como podemos chegar a ela.

ocorre em função de uma sociedade onde reina desigualdades e antagonismos de consumidores e apropriadores. Portanto, o combate a baixos índices de participação requer: a) substituição da imagem do homem como consumidor; b) diminuição da atual desigualdade social e econômica, visto que desigualdade exige um sistema partidário não participativo. Macpherson aponta que não podemos conseguir mais participação democrática sem uma mudança prévia da desigualdade social e sua consciência, “mas não podemos conseguir as mudanças da desigualdade social e na consciência sem um aumento antes de participação democrática” (1978: 103).

Macpherson descreve um ciclo político vicioso difícil de romper, nos seguintes termos: desigualdades econômicas e sociais geram apatia política. A mitigação de tais desigualdades depende, por sua vez, da participação política. O autor propõe um modelo piramidal de participação, combinada com a representativa: "um sistema piramidal com democracia direta na base e democracia por delegação em cada nível depois dessa base". Para o autor, trata-se de um "sistema de delegação sequenciado para cima, com a organização de conselhos de cidades, de região, até o topo da pirâmide, com a organização de um conselho nacional”. (Macpherson, 1977: 110). Mas, o difícil é saber de que forma se implementaria um modelo desses, tendo em vista que o modelo soviético (de partido único) ruiu em toda a Europa.

Ao invés de diminuir, parece que o mal estar com as democracias representativas aumenta. Na perspectiva de Boaventura Santos, que também coloca a questão democrática em termos muito próximos daqueles de Hirst, o modelo hegemônico estaria entrando numa fase de “baixa intensidade”, depois de ter, aparentemente, vencido a batalha contra as concepções marxistas de democracia34. Para o autor, a

expansão global da democracia liberal coincidiu com uma grave crise desta, exatamente nos países centrais onde mais se tinha consolidado. Uma crise que ficou conhecida com a dupla patologia: “a patologia da participação, sobretudo em vista do aumento dramático do 34 “Se o liberalismo capitalista pretendeu expurgar a subjetividade e a cidadania do seu potencial emancipatório – com o consequente excesso de regulação, simbolizado nos países centrais, na democracia de massas-, o marxismo, ao contrário, procurou construir a emancipação à custa da subjetividade e da cidadania e, com isso, arriscou-se a sufragar o despotismo, o que veio de facto a acontecer” (Santos, 1995: 242-243).

abstencionismo; e a patologia da representação, o fato de os cidadãos se considerarem cada vez menos representados por aqueles que elegeram”. Por sua vez, segue o autor, estas concepções que se tornaram hegemônicas no interior da teoria democrática estão relacionadas à resposta dada a três questões: “a da relação entre procedimento e forma; a do papel da burocracia na vida democrática; e a da inevitabilidade da representação nas democracias de grande escala” (Santos, 2002: 42- 44)35.

Por outro lado, diz Boaventura, o contexto do pós guerra fria e do processo de globalização reabrirá o debate entre democracia representativa e democracia participativa, sobretudo “naqueles países nos quais existe maior diversidade étnica; entre aqueles grupos que tem maior dificuldade para ter os seus direitos reconhecidos; nos países nos quais a questão da diversidade de interesses se choca com o particularismo de elites econômicas” (Santos, 2002: 50). Entretanto, adverte Boaventura, as concepções contra hegemônicas não rompem totalmente com o procedimentalismo de Kelsen. Nesta perspectiva, para autores como Lefort, Castoriadis, Habermas, Lechner, Nun e Borón, a democracia “é uma gramática de organização da sociedade e da relação entre o Estado e a sociedade”, a qual daria ênfase “na criação de uma nova gramática social e cultural e o entendimento da inovação social articulada com a inovação institucional, isto é, com a procura de uma nova institucionalidade da democracia” (Santos, 2002: 51).

Neste sentido, democracia e história estariam imbricados, ampliando-se dessa forma, a esfera dos debates políticos para esferas não convencionais da democracia representativa. A proposta contra hegemônica de Boaventura reconhece a importância de um pensador como Habermas, por exemplo, para quem a política ocorre nas esferas públicas com base em processos racionais de discussão e deliberação. Assim, os atores dos movimentos sociais “estariam inseridos em movimentos pela ampliação do político, pela transformação de práticas dominantes, pelo aumento da cidadania e pela inserção na política de atores sociais excluídos (Santos, 2002: 53).

Para Boaventura, o movimento de democratização da democracia 35 Autores como Kelsen, Bobbio, Weber, Schumpeter e Dahl, são os mais destacados da lista que compõe esta corrente minimalista de democracia.

iniciado no sul da Europa na década de 1970 chegou à América Latina nos anos 1980, e trouxe como consequência três importantes questões: recolocou no debate democrático a questão da relação entre procedimento e participação social; instaurou um novo eidos, isto é, uma nova determinação política baseada na criatividade dos atores sociais; colocou o problema da relação entre representação e diversidade cultural e social (Santos, 2002: 54). Entretanto, a conclusão de Boaventura sobre os estudos de casos coordenados em várias países sobre experiências de democracia participativa não são tão otimistas assim, pois recomenda uma tese pelo fortalecimento da demo diversidade; outra para o fortalecimento da articulação contra hegemônica entre o local e o global; e outra ainda para a ampliação do experimentalismo democrático (Santos, 2002: 77-78). Isto demonstra, quiçá, o quão complexo é o tema da proposta de novos modelos democráticos não convencionais que tenham como objetivo o reconhecimento da diversidade cultural, da luta contra o racismo, o colonialismo, o sexismo e tantas formas de depredação do meio ambiente.

Por isso Boaventura pensa que a renovação da teoria democrática implique numa “articulação entre democracia representativa e democracia participativa. Para que tal articulação seja possível é, contudo, necessário que o campo do político seja radicalmente definido e ampliado” (Santos, 1995: 270-271). Este parece ser o objetivo também de Habermas, Nancy Fraser e Chantal Moufe ao refletirem sobre a democracia contemporânea.

Habermas, por exemplo, é a expressão da realização de um esforço intelectual, no sentido de propor uma alternativa aos modelos democráticos liberais e republicano. De um lado, o modelo liberal tem por objetivo intermediar a sociedade e o Estado. Nesta perspectiva, “a política tem a função de agregar interesses sociais e os impor ao aparato estatal; é essencialmente uma luta por posições que permitam dispor de poder administrativo, uma autorização para que se ocupem posições de poder” (Lubenow, 2010: 233). Por outro lado, o modelo republicano vai além dessa função mediadora do modelo liberal que procura conciliar interesses dos cidadãos em relação ao Estado. Segundo Lubenow, nesta perspectiva, a política não obedece aos procedimentos do mercado, “mas às estruturas de comunicação pública orientada pelo entendimento

mútuo, configuradas num espaço público. Por sua vez, esse viés, da auto-organização política da sociedade, “esta compreensão de política republicana opera com um conceito de sociedade direcionado contra o Estado”.

Nas fronteiras e limites da razão instrumental, traduzida em termos da forte presença do Estado e do mercado nos interstícios do mundo da vida, ergue-se uma razão discursiva ou intersubjetiva, disposta a descolonizá-la. Neste sentido, a proposta de democracia deliberativa ou procedimental de Habermas36 procura beber nas

vertentes do liberalismo e do republicanismo, “e os integra de uma maneira nova e distinta num conceito de procedimento ideal para deliberações e tomadas de decisão” (Lubenow, 2010: 234). Como uma bússola, a autoridade do melhor argumento deveria orientar os interlocutores dispostos a discutirem seus interesses nos espaços públicos disponíveis para isso. Para além de um processo restrito à agregação de opiniões, tal como ocorre nos processos eletivos da democracia liberal, a proposta da democracia deliberativa procura formar preferências e convicções37. Nas palavras de Habermas,

A chave da concepção procedimental de democracia consiste precisamente no fato de que o 36 Segundo Lígia Lüchmann (2002: 19), a democracia deliberativa “constitui-se como um modelo ou processo de deliberação política caracterizado por um conjunto de pressupostos teóricos normativos que incorporam a participação da sociedade civil na regulação da vida coletiva. Trata-se de um conceito que está fundamentalmente ancorado na ideia de que a legitimidade das decisões e ações políticas deriva da deliberação pública de coletividades de cidadãos livres e iguais. Constitui-se, portanto, em uma alternativa crítica às teorias 'realistas' da democracia que, a exemplo do “elitismo democrático”, enfatizam o caráter privado e instrumental da política”.

37 Em geral, esclarece Vitullo (1999: 58), todos os autores que podem ser classificados como deliberacionistas compartilham uma série de motivos que os impulsionam a aderir a tal perspectiva ou corrente. “Entre os mais importantes, podemos enumerar os seguintes: a discussão pública leva a moralizar as preferências, novas soluções e propostas surgem no curso do debate, os indivíduos descobrem informação que previamente não tinham, tornam-se mais informados, adquirem maior confiança e segurança em si mesmo, formam melhor suas opiniões e preferências, consolidam ou mudam suas opções de acordo com os argumentos que oferecem os outros participantes do debate, moderam suas posições para adequar-se aos desejos dos demais, todos os potencialmente afetados são escutados antes de ser tomada uma decisão, as preferências que não podem ser defendidas em forma pública tendem a ser excluídas e aumentam as possibilidades de descobrir e corrigir erros de raciocínio e erros fáticos no curso da discussão”.

processo democrático institucionaliza discursos e negociações com o auxílio de formas de comunicação às quais devem fundamentar a suposição de racionalidade para todos os resultados obtidos conforme o processo (Habermas: 1992: 368).

Depreende-se da citação de Habermas que a democracia deliberativa requer não só uma razão discursiva como ponto de partida do processo deliberativo, mas também que os interlocutores possam ter um espaço para a interlocução, neste caso, a esfera pública. Na perspectiva de uma teoria da democracia,

A esfera pública tem que reforçar a pressão exercida pelos problemas, ou seja, ela não pode limitar-se a percebê-los, e a identificá-los, devendo, além disso, tematizá-los, problematizá- los e dramatizá-los de modo convincente e eficaz, a ponto de serem assumidos e elaborados pelo complexo parlamentar (Habermas, 1992: 435). Na perspectiva de Habermas, a esfera pública constituiria essa “estrutura intermediária” que faz a mediação entre o Estado e o sistema político e os setores privados do mundo da vida.

Nancy Fraser, num texto curto, mas esclarecedor, intitulado

Repensando la esfera pública, quer fazer uma contribuição à crítica da

democracia atualmente existente. A autora parte do importante trabalho de Habermas sobre as transformações estruturais da esfera pública publicado em 1962. Diz a autora que o projeto de uma teoria crítica dos limites da democracia liberal mantém sua vigência, tendo em vista que vem sendo cada vez mais incentivado como modelo político para os países que emergem do sistema estatal de tipo socialista, para alguns países Latino-Americanos e para regimes de dominação racial na África do Sul.

A esfera pública definida por Habermas é um recurso conceitual que designa: a) a participação política por meio do diálogo; b) espaço onde se submete à análise os assuntos de ordem pública; c) espaço de

interação discursiva distinto do Estado, a partir do qual podem ser lançadas críticas ao próprio Estado; d) é um espaço do mudo da vida, não colonizado pela razão instrumental; e) é um conceito que permite fazer a distinção entre a esfera estatal, mercado e associação democrática. Fraser não coloca em dúvida o aporte teórico de Habermas para a teoria crítica, mas por outro lado, pensa que a teoria de Habermas não é totalmente satisfatória. Daí a necessidade, segundo a autora, de reconstruí-la para pensar os limites da democracia atualmente existente. Fraser tem consciência de que a teoria de Habermas trata da esfera pública burguesa ou liberal, e enquanto tal, já não é factível para atender as necessidades atuais de uma teoria crítica. Neste sentido, e para provar que a teoria de Habermas tem pouco alcance na atualidade, Fraser fará